As Duas Versões de Você escrita por RakBlack


Capítulo 19
Capítulo 18




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Lunie estava achando aquele dia bem esquisito. E não eram nem oito horas da manhã ainda.

Primeiro Raquel tinha saído saltitando sem nem ao menos tomar café naquela manhã, e nem tinha reclamado de acordar cedo para gravar o programa do qual estava fazendo parte. Depois faria questão de zoar a amiga sobre a ansiedade de encontrar o crush.

Mas as coisas não paravam por ali.

Letícia disse que elas teriam uma sessão de fotos casuais naquele dia, o que não estava anotado em lugar nenhum de sua agenda e, sabendo que a mais nova podia ter confundido os dias, mandou mensagem para a manager e recebeu a confirmação do compromisso.

Taoo e Lin não tinham dito nada no grupo dos trainees no WeChat.

Mu Ziyang não tinha respondido suas mensagens desde o dia anterior. E nem visualizado.

YueYue estava saindo do país para uma gravação de um comercial e ela só tinha ficado sabendo porque ainda curtia algumas contas de fãs no Weibo.

Em dado momento Lunie chegou a cogitar a ideia de se beliscar para ter certeza que não estava em algum sonho bizarro, mas não fez aquilo. Ling Chao estava respondendo suas mensagens normalmente, então aquele “sonho” não poderia ser tão ruim assim.

— ChaLi disse que temos ensaio e que a sessão é só de tarde, quando a Raquel chegar da gravação. Ah, e que vamos ter que ir pra outro lugar porque deu um problema na água lá do prédio da empresa.  – Lunie leu aquilo sem muito ânimo e Letícia apenas concordou, mais concentrada no celular do que em suas palavras. Respirou fundo e estava para tirar o aparelho das mãos da amiga, para ter sua atenção, quando ela o bloqueou rapidamente. Aquilo não era normal. – Pode me dizer o que tá acontecendo?

— O que? Não tá acontecendo nada.

Mesmo que a ponto de explodir, Lunie apenas respirou fundo e cruzou os braços, irritada. O que era aquilo, afinal.

— Vamos? – Letícia sorriu, animada e mostrou que ChaLi estava ligando para avisar que já as esperava para levar para o lugar onde teriam o ensaio naquele dia.

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Ter que passar no dormitório antes de seguir para o lugar da sessão de fotos tinha sido bem chato em sua opinião. Claro que preferia tomar banho e se arrumar em um lugar maior do que aqueles banheiros pequenos e de chuveiro com água fria – de preferência em um que ela pudesse demorar o tempo que precisasse e tivesse um espelho decente para poder se maquiar, de preferência -, mas ter que fazer aquilo porque a equipe de visagismo tinha trocado a roupa que ela usaria por duas roupas para a Raquel (que não servia em Lunie e nem era seu estilo) tinha sido, no mínimo, uma falta de profissionalismo tremenda.

Queria ter gritado, brigado, e descontado todo seu estresse nas pessoas que te passaram aquela informação, mas apenas respirou fundo e aceitou a ideia de ChaLi sobre usar suas próprias roupas. Ainda tinham dado a ideia de Bowen ir buscar as coisas para Lunie, porém não havia motivo dele ir sozinho e ela esperar, então foi com ele.

Sem um tempo limitado para se arrumar (Raquel ainda demoraria um tempo para chegar da gravação), escolheu a melhor roupa, tomou um banho relaxante e vestiu uma roupa incrível. Queria mostrar que, além de não ter engolido aquela história de terem trocado as roupas, ainda podia fazer um trabalho melhor do que aquelas pessoas.

— Wow, você tá muito bonita. – Bowen esperava na sala e sorriu para ela, entregando-lhe a bolsa que ela deixara jogada sobre o sofá. Ele era sempre bem atencioso. - Não fica nervosa. Às vezes as coisas saem um pouco do controle porque a empresa nunca teve tanto trainee ao mesmo tempo, isso sem contar o grupo, mas não é nada pessoal, posso te garantir. – Lunie concordou e suspirou, já bem mais calma.

— Obrigada. – a voz saiu mais firme do que ela imaginava e até conseguiu pensar que podia ser pior.

O caminho até o lugar das fotos estava sendo feito em completo silêncio por ambos. Lunie focada em não voltar a pensar coisas desagradáveis e o manager do ONER com os olhos e atenção na estrada.

Mas as coisas mudaram de figura quando Bowen estendeu a mão para o vão no painel do carro e exclamou, exasperado.

— Droga! – ele parou o carro no meio fio e coçou a cabeça, irritado. – Não acredito que deixei o celular na empresa! – ele olhou em todos os lados e se deu por vencido que aquilo era uma realidade. Lunie, na mesma hora, conferiu em sua bolsa se não tinha feito algo parecido, mas pôde respirar aliviada ao encontrar seu aparelho no meio de suas outras coisas. – Se nós passarmos lá, você pega pra mim antes de continuarmos nosso caminho? YueYue vai desembarcar e eu preciso passar as informações sobre o staff que vai encontrar com ele.

Lunie concordou na mesma hora. Não seria o fim do mundo ajudar Bowen, que sempre era tão prestativo. Sem contar que, se algo acontecesse ao YueYue, ela sabia que Raquel nunca mais olharia em sua cara.

Eles seguiram até a empresa, que ficava em um caminho contrário para o que estavam indo antes e o manager se sentiu aliviado quando Lunie despendeu o cinto de segurança e disse que pegaria o aparelho rapidamente. Bowen falou qual era e que estava sobre a mesa da cozinha, então não teria erro.

Aquele dia estava mesmo esquisito.

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O primeiro pensamento que passou por sua cabeça foi de estranheza. Por um segundo se arrependeu por querer ser legal e entrar na empresa sozinha com a tarde já avançada, mesmo que tivesse certeza que o som que ouvia no andar de cima era dos funcionários trabalhando e não de fantasmas ou coisas do tipo.

Era só subir as escadas, pegar o celular de Bowen e voltar para o carro. Não era o fim do mundo.

Ela subiu rapidamente, nem mesmo pensando muito no perigo de tropeçar e se machucar, mas estancou quando seus pés pisaram no último degrau e ela pôde ver o que realmente estava acontecendo.

E naquele momento, mais do que no dia todo, ela pensou que realmente estava em um sonho.

A sala estava com uma iluminação diferente do que costumava ver diariamente e a decoração não parecia em nada com o que era normalmente. Contudo, nem teve tempo de apreciar de verdade quando sentiu dois pares de braços a abraçando por trás. Seu primeiro instinto foi se livrar e gritar de susto, mas a voz doce de Ling Chao a trouxe de volta para a calma, mesmo que seu coração continuasse a pular forte e rápido em seu peito.

— Gostou? – perguntou em seu ouvido e depois apoiou o queixo no ombro dela, que, apenas então, voltou sua atenção para sua volta.

A pintura que ele tinha usado para pedir desculpas estava na parede, mas não era a única. A sala parecia muito com um pequeno espaço de museu de arte, com quadros expostos pelas paredes com seus nomes e pequenas explicações sob cada um. O som que ouvira antes era de uma música retrô que não conseguiria lembrar o nome por nada no mundo naquele momento. E, para completar, o centro da sala parecia estar preparado para receber um jantar.

Se Lunie havia gostado? Ela não sabia nem o que dizer.

— Por que fez tudo isso?

— Acho que você merece um encontro decente, né? E como não posso te levar em nenhum dos lugares que você gosta, decidi trazê-los até você. – Ling Chao a soltou e deu a volta em seu corpo, parando de frente para si e estendendo a mão em sua direção. – Me acompanha em um passeio?

Lunie não conseguia conter o sorriso quando aceitou a mão e foi conduzida para a primeira pintura. Aquela que a deixara tão emotiva e fizera seu coração falhar.

— Eu acho que não te pedi desculpas pessoalmente ainda, não é? – a voz dele era suave, e seu olhar era calmo e combinava com o sorriso que adornava seus lábios. – Eu prometo ficar mais atento e pensar mais nas coisas que falo. – sincero e lindo. Lunie queria guardar aquela imagem pra sempre, ao mesmo tempo em que queria destruí-la beijando os lábios convidativos. Ling Chao parecia entender o que se passava em sua cabeça, pois riu e se inclinou para selar os lábios de ambos em um selinho demorado, mas sem pretensão de evoluir para algo a mais. – É... Eu acho que você me desculpa mesmo.

Lunie podia bater nele por ter aquela veia narcisista de vez em quando, mas só conseguiu sentir o rosto ficando corado.

Ling Chao era um bobo. E ela era ainda mais.

Eles se voltaram para o quadro, que era ainda mais bonito do que ela se lembrava das várias horas que tinha ficado admirando nas fotos do celular, e passaram a falar sobre arte, sobre cores, sobre desenhos... Eles passeavam lentamente de um quadro ao outro, observando detalhes, discutindo divertidamente sobre técnicas e, claro, vez ou outra deixando tudo de lado para se perderem nos olhos e nas bocas um do outro.

— Eu gostei desse quadro... Amo impressionismo. – Lunie se sentia protegida e amada quando era abraçada por trás com tanto carinho e cuidado. Queria ficar ali para sempre.

— Ele é intenso, né? Igual seu dia hoje. – Ling Chao riu, mas daquela vez pressionou os lábios no pescoço alheio para abafar o som. Lunie até brigaria, se a vibração da risada dele em sua pele não a deixasse tão perdida. – Eu pedi pra todo mundo te deixar no escuro e fazer as coisas serem estranhas, porque queria que sua experiência aqui fosse como ser parte de um quadro impressionista, com as nuances, luz, sombra, estresse e tudo mais que pudesse ser refletido quando eu te visse. E eu te vejo sendo perfeita, como um pintor impressionista vendo a mais perfeita paisagem a ser retratada. É uma pena que não posso eternizar a matiz de sentimentos que vi passando pelos seus olhos desde o momento que entrou aqui.

Se tinha algum jeito do Ling Chao ficar mais perfeito do que ele já era, Lunie desconhecia.

A luz da janela começava a ficar escassa e Lunie se deu conta do tanto de tempo que estavam ali.

— Nossa, as fotos. – ela se assustou e ficou confusa quando Ling Chao começou a rir. – O que?

— Foi tudo armação. Mu Ziyang pediu pra alguns amigos dele fingirem ser uma equipe, ChaLi jiejie ajudou também, confirmando a sessão e a aula em outro lugar. Ah, e claro, o Bowen não tá te esperando lá embaixo ainda. – naquele momento Lunie se deu conta que tinha se esquecido completamente de qual era seu objetivo quando subira até ali, algumas horas antes. – A Lê e os meninos me ajudaram a arrumar tudo aqui, e a JieJie ficou enrolando em algum lugar depois da gravação, pra você achar que teria bastante tempo pra se arrumar e... E essa foi uma ideia brilhante dela, porque você tá linda.

Sem saber se agradecia aos amigos ou se saia distribuindo broncas por deixarem-na no escuro e achando que as coisas iriam desandar, Lunie acabou deixando para decidir depois e apenas puxou Ling Chao pela camisa e selou seus lábios para agradecer os constantes elogios e toda aquela preparação.

Era o melhor encontro que poderia ter imaginado se tornando realidade.

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A música continuava a tocar, embalando o jantar fofo e recheado de comidas nada saudáveis que os dois tinham naquele momento. Bolinhos, pãezinhos doces e salgados, chocolate quente... Para tudo ficar ainda mais intimista, o chão estava coberto por um tapete felpudo e a mesa com as comidas era baixa para forçá-los a comer sentados no chão.

— Sabe... Eu tava nervoso de você acabar não gostando, mas parece que você tá feliz. – pela primeira vez desde o começo, Ling Chao parecia um tanto nervoso, o que deixou Lunie confusa. – Eu sei que esse não é o sonho de encontro de ninguém. Mas como somos idols, infelizmente não posso te levar para um museu de verdade ou fazer um piquenique no parque e te beijar na frente de todo mundo.

Foi a vez de Lunie rir dele, já que estava se sentindo nas nuvens com o que estavam vivendo ali. Fez questão de dizer aquilo, se expressando não apenas com palavras, mas com demonstrações de carinho também.

— Eu tô amando. Não sei nem como vou voltar pra realidade quando isso aqui acabar. – ela sabia que, por mais perfeito que aquilo estivesse, ainda precisaria voltar para o dormitório porque ela teria agenda no dia seguinte e Ling Chao precisava voltar para a faculdade (ele tinha contado como conseguiu aquele dia de folga apelando pelo coração romântico do professor de literatura).

Ling Chao pareceu lembrar de algo quando ela disse aquilo e se levantou, pedindo que ela fizesse o mesmo e levando-a para um espaço mais escuro de toda a “exposição”, onde tinha um quadro coberto.

— Então, antes que nosso encontro termine, quero fazer uma coisa que vai te fazer lembrar dele pra sempre, pode ser? – Lunie concordou e sentiu-o segurar sua mão e fazê-la tirar o pano do quadro.

Diferente dos outros quadros, aquele era interativo, com um tamanho um pouco maior que um tablet, mas a beleza da arte desenhada ali não diminuía por causa daquilo.

— Pode encostar. – ele a incentivou, vendo Lunie dar zoom e captar cada pequeno detalhe. Ela sentiu que ele se afastou um passo e imaginou que fosse para que ela pudesse ter mais liberdade, então não estranhou.

— Mas o que...? – a pergunta saiu incompleta quando, ao ampliar um dos lados da imagem, encontrou escrito bem pequeno “Olhe para trás” e, instintivamente, seguiu aquela ordem. Ficou chocada ao encontrar Ling Chao estendendo um pequeno cupcake com uma aliança sobre o glacê antes bem arrumado no pequeno bolinho.

— Quer namorar comigo?

O pedido que Lunie tinha esperado por todo o tempo em que era fã daquele homem em sua frente a fez perder a voz. Ela concordou com a cabeça, sem conseguir realmente responder. E Ling Chao não parecia realmente interessado em palavras, já que sumiu com o espaço entre os dois com um beijo profundo.

Lunie poderia chorar naquele momento, mas preferia que apenas a felicidade inundasse seu corpo e suas ações.

Deixaria pra chorar quando estivesse contando para as amigas e se gabando da aliança perfeita que adornaria seu dedo dali por diante, mas que naquele momento estava ainda no cupcake, em algum lugar do chão.

Não que um dos dois se preocupassem. Estavam felizes demais para se focar em detalhes.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Não? Me deixem saber!

Finalmente um capítulo só com esses dois em um momento fofinho kkkkkk

Vamos esperar que eles fiquem assim pra sempre, certo? Cansei das brigas deles u_u

Até o próximo ^^



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