Acceptance and Forgiveness escrita por KindestHuntress, Sra Mcgonagall Urquart


Capítulo 4
Everything I Could Do




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788160/chapter/4

Quando a professora acordou naquela manhã, seu primeiro ato foi abrir os olhos, tão certa do que encontraria que nem ao menos surpreendeu-se ao ver o papel de parede champanhe e o cheiro das famosas panquecas com cobertura secreta.

Minerva calmamente colocou-se de pé, calçando suas pantufas xadrez e vestindo o roupão. Caminhou silenciosamente até a cozinha, tão perfeita quanto ela recordava, encontrando um muito contente Elphinstone, cantarolando alguma canção desconhecida e alegremente despejando a mistura das panquecas que fazia em uma frigideira.

E ali, na porta da cozinha, Minerva ficou olhando seu marido, silenciosamente emocionada e ainda assim, rindo consigo mesma sobre a bagunça que ele conseguia fazer na cozinha inteira mesmo sozinho. Observou-o apoiar as mãos nos quadris enquanto pedia para que as panquecas ficassem gostosas para sua esposa, ao que ela não pôde deixar de cobrir a boca com as mãos para evitar uma risada.

A mulher aproximou-se dele no mais suave dos passos, assim, abraçando-o por trás. Sorriu docemente, aproveitando a calmaria das manhãs, decidida a protelar seu problema até quando não pudesse mais.

— Bom dia, minha querida! - Elphinstone cobriu as mãos da esposa com as suas por um segundo, virando-se logo depois para abraçá-la não antes de depositar um leve beijo nos lábios da professora.

E Minerva permaneceu abraçada a ele, desligada de qualquer pensamento que a fizesse relembrar do mistério em que se encontrava. Concentrou-se nos pequenos detalhes da situação, em uma tentativa de prender-se ao presente, como a loção pós-barba de seu marido, a maneira como o queixo dele mexia-se no topo de sua cabeça ao falar algo, mesmo abraçado a ela... O quão bom era estar em seus braços  outra vez.

Tão perdida em pensamentos que estava, Minerva só percebeu que ele estava fazendo alguma pergunta quando ele se afastou alguns centímetros, olhando para ela, sem contudo quebrar o abraço.

— O que você acha? - Ele perguntou sorridente como sempre, fazendo o coração de sua esposa esquentar.

— Eu... - Porém antes que a professora pudesse falar algo, o cheiro de algo queimando o lembrou da panqueca que estava fazendo. Rapidamente Elphinstone desligou o fogo, fazendo caretas ao ver que sua panqueca estava queimada.

— Fogo médio! - Resmungou, pegando sua varinha para lançar um evanesco em sua criação culinária desastrosa.

Minerva tentou segurar, mas riu ao ver o descontentamento do marido.

— Você ri, é isso? - Ele virou-se novamente para ela, as feições em um falso ultraje, com exceção do sorriso em seus lábios.

E a pegou nos braços, erguendo-a e girando-a como se fosse uma garotinha.

— Elphinstone! - Minerva exclamou surpresa, rindo um pouco mais.

Ele riu, colocando-a no chão. Sua idade não o permitiria fazer isso novamente por mais alguns segundos. Beijou-a mais uma vez, para então arrumar a mesa para o café da manhã.

— Mas o que você acha? - Perguntou novamente ao empilhar as panquecas, despejando sua famosa cobertura sobre elas.

— Sobre o quê? - Distraída, a professora pegou alguns utensílios do armário, como xícaras e talheres, ajudando-o a organizar a refeição.

— McFadden. Pediu-me para visitá-lo hoje. Precisa de ajuda com algumas plantas em sua estufa. Está me cobrando há tempos.

E então, como se atingida por um raio, Minerva esbarrou a xícara que estava em sua mão na mesa, estilhaçando-a, fazendo um corte feio em sua palma.

— Ah, não! - Largou o prato que tinha em sua outra mão e seguiu em direção à pia, lavar seus ferimentos.

— Minerva? - Elphinstone questionou, preocupado, correndo até ela.

À mera menção de McFadden, a vice diretora não pôde evitar assustar-se. Não poderia, em hipótese alguma, deixar que Elphinstone entrasse naquela estufa de novo. Ela sabia o que poderia acontecer, mas poderia salvá-lo se descobrisse uma maneira.

— Querido... - Minerva sussurrou, ainda apavorada, fitando o vazio. Ainda demorou dois segundos para dizer a primeira desculpa que lhe veio à mente, virando a cabeça para olhá-lo - Precisamos ir ao Ministério hoje.

— Precisamos? - Elphinstone a olhou confuso.

— Lembrei-me que perdi o prazo de atualização do meu registro de animaga. - Minerva a essa altura já não tinha um plano a seguir, mas o Ministério parecia um bom lugar para procurar informação - Você ainda tem contatos nos departamentos, poderia me ajudar?

A professora lançou um olhar suplicante, apertando a mão ferida para tentar estancar o sangue, enquanto o marido conjurava alguns itens de primeiros socorros. Qualquer pessoa que conhecesse minimamente Minerva McGonagall julgaria no mínimo estranho o fato da professora perder um prazo sequer, tanto que Elphinstone permanecia com as sobrancelhas franzidas ao enfaixar a mão de sua esposa. Não que pensasse que ela estava mentindo, apenas estava confuso.

— Bem, é claro que posso ajudar minha esposa. - Terminou a bandagem depositando um beijo leve na mão dela, voltando a olhá-la - Mas e quanto à Hogwarts?

McGonagall piscou algumas vezes, pensando em sua resposta.

— Bem, garanto que Albus irá compreender, afinal perdi o prazo devido àquela pilha interminável de relatórios para o Ministério que ele cultiva com tamanho zelo em sua mesa - O que não era exatamente uma mentira, e que Elphinstone relembrava bem de seus tempos de departamento. O bruxo era muito poderoso, porém inegavelmente displicente à papelada - Mandarei uma coruja após terminarmos de comer. Não se preocupe, ainda está cedo.

Elphinstone assentiu, retomando o bom humor, empertigando-se.

— E diga a ele que se tornar a ocupar tanto tempo de minha esposa novamente, terei eu mesmo que ensiná-lo burocracia. - Ameaçou ele, já rindo.

Exibindo um sorriso torto, Minerva forçou uma risada, ciente do peso em seu coração ao ter que mentir sobre suas reais intenções enquanto o observava retomar a organização da refeição. Naquele momento não soube dizer o que mais pesava na consciência: mentir ou contar a verdade. Mentir, por vê-lo acreditar cegamente em qualquer coisa que lhe contava; ou a sua verdade, sabendo que se dissesse suas intenções, Elphinstone no mínimo não acreditaria e ainda chamaria Poppy para medicá-la. Tudo que a bruxa menos queria no momento era ter de passar por tudo aquilo de novo.

Por conta disso, a mentira teria de ser suficiente. Por enquanto.

—-----------------------

Após terem um café da manhã relativamente calmo, a despeito do ferimento de Minerva, ambos tomaram suas penas à mão e redigiram cartas cancelando seus compromissos. McGonagall para Dumbledore, inventando outra mentira sobre alguma doença mágica que a levaria para St. Mungus (pedindo, por favor, que o professor que a substituísse não deixasse, em hipótese alguma, de seguir seu calendário e suas anotações, a fim de minimizar qualquer atraso em seu cronograma anual); e Elphinstone para seu amigo McFadden, demorando um pouco mais explanando sobre algumas ideias de como reorganizar as plantas problemáticas de sua estufa.

Enviaram as respectivas mensagens e trataram de vestir-se para a visita ao Ministério.

Minerva demorou um pouco mais fingindo organizar a papelada para a atualização cadastral, pensando consigo mesma como iria proceder ao chegar no local.

O efeito colateral da mentira. Ao mentir uma vez, mente-se mais duas, e mais três... Uma verdadeira, e feia, bola de neve.

No fim das contas, Minerva não conseguiu protelar por muito mais tempo. Em sua casa, tudo parecia no lugar, mesmo que até pouco tempo não estivesse morando lá, devido o que se lembrava ter acontecido há um ano...

A bruxa ainda não compreendia o que acontecia, porém sua famosa coragem Grifinória a impelia a continuar e desvendar o mistério. Faria tudo que pudesse para recuperar Elphinstone. Mantê-lo são e salvo. Bem ao seu lado.

Para tanto, apressou-se ao ver o horário e tratou de procurar o marido para seguirem até Londres.

— Querido? - Chamou, começando a ficar ansiosa com a falta se resposta.

Mas seu coração logo acalmou-se ao vê-lo sentado em sua poltrona na sala, tendo certo trabalho em amarrar seus sapatos. Apesar de tudo, Elphinstone já tinha certa idade e algumas tarefas já não eram tão fáceis como um dia foram.

— Precisa de ajuda, meu bem? - Ofereceu Minerva, preparando-se para ajoelhar-se e amarrar os sapatos de seu marido.

— Não há necessidade, minha querida. - Finalizando um nó um tanto frouxo em seus sapatos, ele levantou-se rapidamente, cambaleando levemente por conta disso - Só algumas problemáticas de um homem velho. Podemos ir? - E estendeu o braço, em um convite.

Minerva o olhou brevemente, como que o avaliando, por fim aceitando o braço e caminhando porta afora para aparatarem.

Tão logo chegaram no local, Minerva ficou levemente ansiosa, sem saber muito bem o que fazer para chegar ao departamento de Mistérios, onde tinha certeza que poderia encontrar a resposta.

— Querido? - A professora chamou, estancando os passos - Importa-se de acompanhar-me em um lugar primeiro?

Ao olhá-la, Elphinstone não parecia desconfiado, sequer parecia aborrecido com nada. Para o bem da verdade, parecia até contente em apenas segurar o braço da esposa, feliz pela mera presença de Minerva.

— Claro que não, meu amor. Sou um velho aposentado, mas nada me faria mais feliz do que tê-la em minha companhia. - E sorriu, um sorriso feliz.

E Minerva teve certeza que se não fosse rápida, estaria contando coisas loucas que a fariam perder tempo... E Elphinstone. Precisava apressar-se.

Começou a caminhar; a mente ágil pensando em respostas para perguntas que não foram feitas. Nunca fora ansiosa, mas também nunca acordara repetidas vezes com o marido morto, vivo. Arrepiou. Precisava encontrar a solução, consertar tudo que estava errado.

Caminharam, ela alheia ao caminho percorrido, ele cantarolando alegremente, com breves pausas para saudarem antigos colegas de trabalho.

Minerva hesitou por um momento diante da imponente porta do Departamento de Mistérios, incerta do que poderia encontrar sobre a situação. Porém, quando olhou para seu lado, para Elphinstone, suas incertezas pareciam infundadas, quando era claro que o quer que estivesse acontecendo, enquanto estivesse ao lado de seu marido, nada poderia dar errado.

— Um de meus alunos está interessado em aulas extras, comentei com Albus sobre precisarmos de um vira-tempo para auxiliá-lo. - Explicou a professora, a desculpa vindo automaticamente - Não devo demorar muito, meu bem.

Elphinstone assentiu sorridente e cruzou os braços para trás, caminhando casualmente enquanto observava uma das estantes com objetos excêntricos.

Minerva suspirou aliviada e tratou de ir em direção à recepção do departamento, informando que era professora de Hogwarts e precisava verificar a seção de mistérios de tempo, utilizando a mesma desculpa do vira-tempo para Hogwarts.

Pegou as informações da localização e colocou-se em movimento, tornando a ficar nervosa. Não sabia o que procurar, se teria alguma ideia ali ou teria que voltar à biblioteca, seja de Hogwarts ou do próprio Ministério.

— Deve ter sido algum feitiço de tempo, pois tenho lembranças do que já ocorreu, sem falhas de memória. - Falou para si mesma, como que pensando em voz alta.

Chegando na seção, observou alguns objetos antigos de magia datados de mais de três séculos, porém não achou que fossem relevantes, visto que pareciam até quebrados, apesar de estarem em caixas de vidro evidentemente enfeitiçadas por segurança.

Um artefato em especial chamou a atenção da professora, uma espécie de relógio de algibeira bem antigo, porém sua forma parecia que sofrera algum tipo de feitiço mal executado, visto que possuía tufos de cabelo saindo das bordas. O objeto parecia um bom caso para estudo, então McGonagall tomou a liberdade de conjurar pergaminho e pena e começou a ditar nomes de objetos que seriam um bom começo de pesquisa.

Como não poderia levar objetos do departamento, a professora quis ser o mais rápida possível e anotou somente o que poderia ter a ver com a situação, colocando sua lista no bolso do sobretudo, uma sensação de nervosismo começando a tomar conta de si. Pegou um vira-tempo qualquer do mostruário e rumou para a recepção, a fim de protocolar a retirada e parecer mais verossímil.

Terminado o procedimento, Minerva virou-se procurando Elphinstone, porém não o encontrou. Voltou para a recepção e perguntou para o jovem recepcionista se ele vira o homem que a acompanhava.

— Professora McGonagall, aquele senhor foi para a aquele lado. - E apontou o outro lado da sala, ao fundo, e retomou seus afazeres.

Minerva agradeceu e seguiu para o local apontado, sua mão em punho, forçando as unhas contra o curativo feito naquela manhã.

— Elphinstone? Querido? - Chamou, ansiosa, procurando-o entre as estantes do salão - Já terminei com o vira-tempo, já podemos ir.

No entanto, ao aproximar-se da parede ao final do último corredor, Minerva pôde ver que havia uma porta branca, idêntica a tantas outras no mesmo andar, mas que a fez hesitar mais uma vez.

Estava aberta e, conforme a professora chegava mais perto, uma brisa leve gélida passava por si, causando arrepios e muito mais preocupação.

— Elphinstone? - Tentou mais uma vez, a voz fraca, antecipando-se a algo trágico que não tinha certeza se havia acontecido.

— Querida! Estou aqui! - A voz risonha de Elphinstone respondeu, causando uma onda de alívio na mulher, alívio que a fez apressar o passo até quase estar correndo para encontrá-lo e simplesmente vê-lo.

Ao chegar na porta, Minerva viu seu marido sentado no chão em frente a uma estrutura parecida com um arco, com algo flutuando em cima, como se fosse um véu apesar da sala ser escura e o próprio ar fosse mais frio que se esperaria.

Elphinstone parecia estranhamente entretido, observando fixamente a estrutura com uma expressão curiosa, sem ter retornado o olhar para a esposa.

— Já podemos ir, querido, já está tudo certo com o vira-tempo. - Anunciou Minerva, tranquila de vê-lo bem.

— Trabalhei por muito tempo aqui e nunca tive a oportunidade de ver o Véu de perto. Sempre foi um objeto que gerava especulações - Disse ele, fascinado - É realmente um objeto poderoso. Mas vamos resolver seu registro, querida. - E virou-se para ela, fazendo menção de levantar-se.

Porém Minerva já havia pressentido que algo iria acontecer e deu-se conta disso somente quando viu, perplexa tamanho seu choque, seu marido perder o equilíbrio quando seus joelhos falharam e ir, lentamente, em direção ao véu, suas mãos buscando algo para agarrar e evitar a queda, porém em vão. O sapato saindo do pé direito devido ao nó mal feito.

O grito de Minerva ecoou pela sala escura e gelada, tão angustiante que aos próprios ouvidos era aterrorizante. A professora correu, por reflexo, mas não conseguiu salvá-lo.

Pôde vê-lo desaparecer, conforme o corpo dele atravessava o véu, com o único som de seus próprios passos desesperados, porém inúteis.

Quando a professora chegou perto de onde ele estava, já não havia mais nada, apenas o sapato direito com os cadarços desfeitos. Minerva ajoelhou-se no chão de pedra, ouvindo passos rápidos de outras pessoas em sua direção, a expressão mais vazia que já fizera na vida, percebendo que havia falhado mais uma vez em salvá-lo.

Várias pessoas ajoelharam-se ao seu lado, questionando-a, puxando-a para fora da sala, no entanto Minerva continuou calada, processando sua falha e tendo flashes da expressão de Elphinstone enquanto ele caía. Não teve reação.

A vice diretora sabia que vários bruxos tentavam buscar respostas para o que havia acontecido, mas não conseguiu respondê-los, sua mente pensando em tudo e não chegando a nenhuma conclusão.

Em determinado momento dos questionamentos, Minerva percebeu que Dumbledore estava em sua frente, fazendo perguntas e, em uma das primeiras vezes que ela se recordava, parecendo extremamente preocupado ao ajoelhar-se em sua frente.

— Elphinstone caiu no Véu, tropeçou, não pude salvá-lo, foi muito rápido. - A professora conseguiu falar, sua voz falhando - Ainda não descobri o que aconteceu, achei que pudesse parar isso, mas continua acontecendo.

E sua primeira ação depois de quebrar o silêncio foi cobrir o rosto com as duas mãos e chorar por mais uma vez, sentindo-se impotente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, gente, peço desculpas pela ~~~demora~~~ em postar, mas a vida ficou muito complicada de repente.
Eu sinceramente desanimei um pouco em continuar escrevendo a história por alguns motivos, como a JK falando bobagem, o enredo que tenho planejado ser muito pesado para o que estamos passando com o Covid19. Realmente não quero que quem leia a história fique mal por reviver algum luto que esteja passando, principalmente porque estamos nesse site para ler coisas que nos animem, não é verdade?
No mais, espero que vocês estejam bem, cuidando do próximo e tomando todas as precauções possíveis. para proteger quem nós amamos e queremos bem.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Acceptance and Forgiveness" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.