Acceptance and Forgiveness escrita por KindestHuntress, Sra Mcgonagall Urquart


Capítulo 3
Unavoidable




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/788160/chapter/3

Mais uma vez a professora exalava de pura frustração. Lágrimas vieram aos olhos sem mesmo ela sequer ter um pensamento concreto ao acabar de acordar.

Raiva.

Angústia.

Conforme as mesmas lágrimas escorriam pelo seu rosto, molhando o travesseiro macio, Minerva apertava o lençol sem se permitir soluçar, ainda tentando compreender o que se passou.

Por qual motivo sua mente lhe fizera passar por tudo aquilo de novo? Como pudera acreditar que ele havia voltado, como se nada tivesse acontecido?

Mas mesmo se queixando por acreditar, o que mais trouxe angústia foi sua mente relembrar exatamente o que aconteceu com seu marido. Um sonho tão vívido. A forma como ele a olhava, a maneira como passava a geléia por sobre as torradas... Tinha tanto medo que fosse esquecer. E mesmo assim olhar para ele...

Seu coração não conseguia mais aguentar tamanha tristeza e, mesmo relutante, deixou escapar um soluço tão sôfrego que então não conseguiu mais parar.

Lágrimas pesadas, rápidas, com toda a dor acumulada de um ano.

Tão logo os soluços se fortaleceram, altos e sofridos, Minerva sentiu que havia outra presença no quarto. Podia ser Poppy. Ou Albus. Os dois estavam muito preocupados com ela desde ontem, não seria de se surpreender que eles invadiriam seus aposentos preocupados com sua ingestão de poções calmantes.

Inspirou, apertou os olhos para afastar as lágrimas e sentiu uma mão pesada demais para ser de Poppy cobrir-lhe o ombro de forma carinhosa. Inspirou mais uma vez, tentando controlar os soluços que vinham diminuindo.

Sua visita não lhe falou nada, apenas aguardou pacientemente a professora recuperar o fôlego e tirar o lençol que a cobria. Quando estivesse pronta, falaria.

E Minerva sabia.

Mais alguns poucos soluços e carinhosos afagos no ombro, ela se sentiu pronta para enfrentar o resto do dia. E sua visita.

— Escute, Albus, não é muito educado entrar nos aposentos sem ser convidado e... - Conforme Minerva falava com a voz trêmula de quem se recupera de uma crise de choro, foi tirando o lençol que cobria sua cabeça.

E nada lhe prepararia para o que estava vendo.

— Meu bem, o que Albus viria fazer em nossa casa à essa hora? - A voz tranquila de Elphinstone lhe atingiu de tal forma que ela só conseguiu ficar boquiaberta, enquanto sentava na cama.

Tão surpresa que ficou, McGonagall apenas ficou olhando o marido, sem entender o que estava acontecendo, balbuciando palavras incompreensíveis para seu confuso visitante.

— Minerva, você está bem? - Elphinstone questionou, perdendo o ar brincalhão que sempre tinha, preocupado com o estado atônito que sua esposa se encontrava - O que aconteceu?

A cada palavra, cada gesto que ele fazia, Minerva ficava mais e mais confusa. E surpresa.

Não poderia acontecer. Não poderia estar acontecendo.

— O q-quê? - Piscou, expulsando as novas lágrimas que tornavam a banhar seu rosto.

Tomada em pânico, Minerva não pôde evitar o sobressalto que tomou seu corpo quando Elphinstone buscou sua mão para tentar acalmá-la. Pulou da cama, fugindo para longe dele numa tentativa de compreender o que estava acontecendo. De novo.

— Meu amor - Elphinstone a chamou, tentando não assustá-la novamente. Levantou da cama e, a passos lentos, caminhou até a esposa, que chorava copiosa e silenciosamente.

McGonagall não poderia suportar novamente, não passar por tudo outra vez. Nada disso poderia ser real.

— Não se aproxime! - Ela gritou, apavorada, tentando buscar na mente se a situação poderia ser resultado de magia ou sua mente pregando-lhe peças - Accio!

Sua varinha voou para a mão trêmula, e o mais rápido que pode, Minerva saiu correndo porta afora. O vento cortando-lhe o rosto, lágrimas incessantes caindo conforme ela fugia, angustiada, confusa.

McGonagall não tinha uma rota planejada, apenas queria entender como Elphinstone estava vivo, mesmo quando ela havia visto o corpo dele.

Um novo soluço sôfrego irrompeu de sua garganta, fazendo-a tropeçar e cair de joelhos já na grama dos campos de Hogwarts. Curvou-se, tocando a grama com a testa, tomada de dor. Talvez suas pernas tivessem a levado onde seu coração se acalmaria.

Mas ela não estava calma.

O sol brilhando quase que timidamente parecia um insulto, diante ao que ela sentia.

— Minerva?

A professora não levantou a cabeça, não fez menção de mexer-se. Apenas ficou lá, abraçando a si mesma enquanto ainda chorava desesperadamente.

— Minerva? Minerva? O que aconteceu? - A voz de Albus Dumbledore foi se aproximando, rapidamente, como se ele  corresse para socorrê-la caso estivesse ferida.

Ajoelhou-se ao lado dela, preocupado, buscando ferimentos físicos que não existiam. Logo após constatar que não estava machucada fisicamente, o diretor tratou de perceber que Minerva ainda estava com as vestes que provavelmente dormiu, os cabelos muito negros, soltos, caindo pela grama. A professora havia saído às pressas de sua casa, ele constatou.

Tão logo Dumbledore deduziu isso, uma coruja parda sobrevoou os céus e soltou um pigarro, como se reconhecesse a pessoa a quem estava endereçada. Diminuiu seu bater de asas e pousou graciosamente ao lado de Dumbledore, mostrando-lhe o pergaminho preso em sua perna.

Albus conjurou uma capa para cobrir a professora caso algum de seus alunos os vissem e então recebeu o pergaminho da coruja.

— Albus... - Minerva disse em um sussurro, sem forças - Elphinstone...

Sem compreender, Albus cobriu um de seus ombros, em conforto e leu a correspondência.

"Caro diretor Dumbledore,

Creio que Minerva esteja passando por algo, porém antes que pudéssemos conversar, ela saiu de casa sem mesmo trocar-se ou calçar suas botas.

Sinto incomodar-lhe com o que acredito serem problemas conjugais, porém estou muito preocupado e não sei de seu paradeiro.

Se a encontrar, por gentileza, me informe imediatamente.

Grato,

Elphinstone Urquart"

A letra de Elphinstone mostrava o quão grande era sua preocupação com a esposa, apesar de suas palavras serem formais e não darem nenhuma informação sobre o que aconteceu pela manhã, o desleixo de sua caligrafia e o grande borrão que o pergaminho continha denunciava o nervosismo.

E Minerva, que agora lentamente erguia a cabeça, devia estar transtornada por algum motivo desconhecido.

— Minerva, venha, vamos conversar em minha sala. - Pediu Dumbledore, cuidadoso, ajudando a professora a levantar-se.

Estava descalça, agarrando firmemente a capa conjurada, parecendo tão perdida em pensamentos que Albus não quis começar a conversa. Somente apontou para os pés vermelhos da professora e ela, tardiamente, compreendeu que precisava de sapatos. O bruxo simplesmente conjurou um par para ela e seguiram.

Caminharam silenciosamente em direção à menor das torres, ao escritório do diretor; a expressão de McGonagall agora não mais sofrida, porém concentrada e impassível, passando algo como a seriedade e formalidade que lhe era característica, embora seus olhos estivessem vermelhos e seus longos cabelos negros extraordinariamente soltos e bagunçados.

x-x-x

— Você está bem? - Albus começou, cauteloso, por detrás de sua mesa, observando McGonagall sentar-se no pequeno sofá vinho perto da lareira.

Terminara a carta-resposta para Elphinstone, mandando imediatamente por Fawkes, sabendo que o outro bruxo estava a ponto de procurá-la pessoalmente em todos os lugares, assegurando-o que ela estava em Hogwarts e que a mandaria para casa assim que ela se acalmasse, dispensando-a de todas as aulas do dia. Minerva, por outro lado, estava calada, a despeito dos pequenos soluços que ainda vinham de seu peito de vez em quando, resultado de todo choro e mágoa que estava sentindo.

Porém tão corajosa quanto um Grifinório poderia ser, Minerva manteve a postura séria, comedida, não para esconder de Albus qualquer coisa que fosse, mas sim tentar compreender a situação como um todo. Desde o dia de ontem, como o havia visto morto - ela tremeu, arrepiada -, e então pela manhã quando ele estava vivo novamente.

Absorta em pensamentos, não percebeu que o diretor lhe servia chá, magicamente conjurado das cozinhas de Hogwarts. E ele ficou lá, com a mão estendida segurando um belo jogo de porcelana, a preocupação com o estado de sua amiga crescendo a níveis nunca antes alcançados.

Jamais a vira desta forma, dispersa, sussurrando palavras ininteligíveis para si mesma, enquanto apertava fortemente o manto que ele havia conjurado, parecendo uma criança apavorada a frente de algo assustador. E este algo sendo puramente a realidade.

— Minerva? - Ele a chamou delicadamente, tomando o cuidado de não sobressaltá-la e deixá-la ainda mais nervosa.

Mesmo assim, Minerva nada fez, encarando a lareira vazia e fria a sua frente, sem nada ver nem ouvir.

Dumbledore simplesmente recolheu o chá, entendendo que ela não o tomaria. Decidindo apenas que a faria companhia até que ela estivesse pronta, ele esperou. E esperou. Esperou até que a professora demonstrasse algum sinal de que havia voltado a si.

E o sinal foi um suspiro longo e um par de olhos verdes fechados com força.

— Elphinstone... - Ela abriu os olhos, virando a cabeça para o diretor, sem, no entanto, olhá-lo nos olhos, como quem inicia uma conversa sobre algo incerto.

O diretor a olhou por cima dos óculos meia lua, demonstrando que a estava ouvindo.

— Eu o vi morrer ontem. E há um ano. - Ao perceber que seu ouvinte a olhava em um questionamento mudo, Minerva tão somente pegou sua varinha e começou a lançar pequenos feitiços para arrumar-se.

O silêncio misterioso de McGonagall apenas deixou Albus confuso e, como lhe era característico, juntou as pontas dos dedos conforme pensava no que a professora lhe falava.

— Tudo pareceu o mesmo. Acordei em Hogsmeade, em nossa casa, e lá estava ele, vivo, sorrindo-me como sempre fazia. - Minerva lançou um último feitiço para prender os longos cabelos em um coque apertado - Mas eu o vi ontem, morto, coberto por um lençol branco em St Mungus.

Dumbledore ergueu uma sobrancelha, buscando em sua mente alguma resposta, assim como sua amiga também o fazia.

— Você estava lá. E Poppy. - E voltou a sentar-se, já com suas vestes esmeraldas tradicionais - Não consigo compreender, se caí em algum feitiço, tomei algo, fui atacada... Não sei o que é real ou não. Só o que tenho certeza é que revivi toda a dor de perdê-lo.

E pegou sua varinha entre os dedos, apertando as pequenas elevações, em sinal de nervosismo, voltando seu olhar perdido para a lareira apagada.

Dumbledore tomou um segundo a mais para absorver o que a professora havia lhe dito, porém antes que pudesse respondê-la ou pedir por mais informações, uma coruja cinza pousou em sua janela, bicando o vidro com certa urgência. O diretor levantou-se para atendê-la, notando que era uma coruja vinda do Ministério, com alguma mensagem importante do ministro.

Mas para o total desagrado do diretor, pergaminho não continha nada além de uma mensagem apavorada que fez Dumbledore franzir a testa, estreitando os olhos azuis.

Minerva teve a vaga noção que o diretor organizava alguns pergaminhos em sua mesa e os enfeitiçava para caber em seus bolsos, murmurando algo como um desagrado perante a incapacidade do ministro de tomar suas próprias decisões. Mal teve presença de espírito para virar o olhar para seu amigo, que mexeu os lábios como se falasse algo, porém a professora apenas assentiu, tendo a impressão que ele a avisava de algo. O ex-professor parou no meio da sala por um instante, fitando uma distraída McGonagall (cujo olhar voltou-se para a insípida lareira), como que para ter certeza de algo e então caminhou porta a fora.

Somente quando uma brisa repentinamente gelada entrou pela janela aberta, a despeito do sol brilhante, Minerva percebeu que estava sozinha. Levantou-se do pequeno sofá e rumou para a mesa de Dumbledore, momentaneamente desperta de seus pensamentos, ou a falta deles.

A dor agora estava administrável, ligeiramente mais branda, mas ainda assim queimava dentro de si. Queimava como a insegurança do futuro, do que poderia acontecer.

Conforme caminhava, passou pela estante cheia de livros de seu amigo e teve uma ideia. Deveria saber o que estava acontecendo o quanto antes, para punir o responsável por tamanho sofrimento e dor.

Correu os olhos pelos títulos, ansiosa, buscando possíveis causas, feitiços, qualquer coisa que pudesse saber para reverter o que estivesse acontecendo. Procurou sobre magia temporal, feitiços da mente, maldições... Qualquer título que se encaixasse minimamente no que ela estava vivendo jazia empilhado magicamente ao seu lado. Quando a pilha ficou instável, McGonagall seguiu para a mesa do diretor, colocando os livros todos bem organizados e separados por tema.

Porém, antes que lesse a primeira página do livro Magias da Mente, de um autor muitíssimo conhecido, Minerva percebeu a carta aberta enviada pelo ministro para Dumbledore há pouco.

A carta não continha nada demais, além dos floreios e a inexplicável insegurança do ministro em tomar certas decisões,  principalmente após a queda de Você-Sabe-Quem, obrigando o pobre diretor a visitar-lhe em horas extremamente inoportunas, no entanto o que chamou a atenção da professora foi a assinatura e, mais precisamente, a data rabiscada ao final do documento.

26 de Abril de 1985.

Mais uma vez a professora levantou-se com um sobressalto, trêmula, suas pernas movendo-se antes de qualquer pensamento.

Correu pela gárgula, passos largos e ligeiros, até o ponto de aparatação, tão nervosa que não cumprimentou alunos que caminhavam calmamente, estes que não compreenderam o motivo de justo a severa professora de Transfigurações estar correndo pelos corredores.

Tão logo chegou no ponto, Minerva aparatou, chegando instantaneamente à porta de sua casa em Hogsmeade, ofegante. Entrou, vasculhando cada cômodo, procurando Elphinstone.

Em meio a confusão, a professora sequer voltou a pensar na situação em que se encontrava, muito mais exasperada pelo fato do dia estar acontecendo novamente e sendo assim ter que ver Elphinstone morrer de novo.

Porém seu marido não estava na casa, constatou ela, após procurá-lo em todos os cômodos e chamá-lo pelo nome diversas vezes, seu sotaque tão presente e forte como quando ficava exaltada.

Entrou na suíte do casal mais uma vez, desesperando-se por não vê-lo, a mais pura das angústias instalando-se em seu peito, queimando e a desestabilizando.

Sentou-se na beira da cama, trazendo as mãos ao rosto, tentando não entrar em pânico. Suspirou algumas vezes, forçando a si mesma a acalmar-se enquanto, por desalento, passava a mão pelos travesseiros, encontrando, para sua surpresa, um pergaminho com a letra de Elphinstone.

"Querida Minerva, meu amor,

Perdoe-me por não estar em casa no momento que você chegasse, mas nosso bom e velho amigo McFadden entrou em contato comigo um pouco mais cedo pedindo algo como uma companhia para reduzir a população de algumas plantas que estão prejudicando a expansão de sua estufa. Na verdade, ele estava chamando-me há tempos, mas com Você-Sabe-Quem por aí, bem... você entende.

Sei que você está passando por algo e em nenhum momento a deixarei sozinha; prometo-lhe que não demoro e em um piscar de olhos já estarei de volta para amá-la e mimá-la como sempre faço.

Com todo amor,

Elph"

Minerva sentiu pequenas lágrimas aparecerem no canto de seus olhos, pela saudade e a lembrança de que seu marido realmente a mimava, seus sorrisos doces por baixo do bigode agora branco. A professora tomou apenas mais um momento com o bilhete encostado no peito, suspirando, antes de levantar-se, decidida a protegê-lo, momentaneamente esquecida do que isso implicava.

Buscou na mente onde McFadden morava e, pronta para enfrentar qualquer coisa, aparatou novamente.

x-x-x

O puxão no umbigo foi um tanto mais desagradável do que o normal, talvez pelo nervosismo, ou pela falta de concentração,  ela não soube dizer. Acabou aparatando por trás da casa, perto da já citada estufa, que não lembrava existir quando visitou McFadden há muitos anos.

Encontrou um homem alto e grisalho apontando sua varinha para uma série de equipamentos à porta da estufa, parecendo organizá-los ou separá-los.

— Minerva! - O homem a cumprimentou quando a viu aproximar-se, exibindo um sorriso de quem reencontra um conhecido.

— Olá, Richard. - Minerva o cumprimentou de volta, oferecendo um sorriso igual, recordando de que a última vez que o havia visto havia sido no... funeral de Elphinstone.

Um tremor a atravessou, mas ela não deixou-se abater. Evitaria a todo custo que tornasse a acontecer.

— Onde está Elphinstone? - Ela perguntou vacilante, porém o outro não pareceu perceber, de repente voltando sua atenção a um diabrete que puxou-lhe o cabelo.

— Ele está na estufa, pode entrar, mocinha. - E fez um gesto como que para mostrar onde era, enquanto ainda tentava afastar o pequeno ser azulado que voava por sua cabeça, o que fez McGonagall soltar um pequeno riso, tanto para as caretas que o mais velho fazia, quanto ouvir alguém lhe chamando de mocinha após tantos anos.

Quando virou-se para a estufa, o pequeno sorriso que havia ficado em seus lábios sumiu, trocado agora por uma linha finíssima e um par de sobrancelhas semicerradas. Empunhou a varinha, séria e concentrada, tomada por uma cautela de quem estava decidida. E abriu a porta delicadamente, adentrando no local.

A estufa parecia igual a tantas outras, inclusive a administrada por Sprout em Hogwarts, porém era claro que algumas espécies estavam tirando vantagem de outras, seja utilizando o espaço destinado a outras ou "roubando" seus nutrientes.

Uma exclamação de falso aborrecimento chamou a atenção da professora, fazendo-a virar e buscar pelo responsável. Elphinstone estava sentado em um pequeno banco, em frente a uma bancada de plantas cujos ramos balançavam vigorosamente, apesar de curtos. Ele tinha as mãos em luvas de couro de dragão e uma tesoura própria para cuidados desse tipo, apontando para a planta como se ralhasse, igual a uma criança desobediente.

Minerva afrouxou o aperto na varinha e moveu-se em direção a ele, quase em emoção, seu coração aquecido ao presenciar mais uma vez seu amor pelo assunto. Quando Elphinstone deu um pequeno tapinha na planta, que na verdade não era uma planta e sim uma Tentácula, ralhando novamente sobre esta ser muito atrevida, Minerva não conseguiu segurar um riso enquanto se aproximava.

Com o riso de Minerva a anunciando, Elphinstone sobressaltou-se, surpreso por ter companhia e quase que imediatamente reconheceu a risada como pertencente a sua esposa. Virou-se com o maior de seus sorrisos, contente por vê-la após o acontecido pela manhã, totalmente alheio à planta que cuidava.

No entanto, para o infortúnio do bruxo, aquela era, sim, uma Tentácula Venenosa, cujo cuidado deveria ser extremo, para que não houvessem acidentes...

Quando a planta pareceu esticar uma de suas tentáculas, flutuando vagarosamente sobre Elphinstone, McGonagall percebeu seu erro instantaneamente. E como se tudo de repente ficasse em câmera lenta, ela correu em direção ao marido, o sorriso já inexistente, olhos arregalados em puro pavor.

Mas não havia tempo, pois quando Elphinstone percebeu o olhar apavorado da professora para algo atrás de si, já era tarde. A planta já tinha seus tentáculos enrolados no braço do homem, o veneno gotejando por entre as pequenas elevações do ramo.

Antes mesmo de sentir a dor, Minerva já o abraçava e juntos aparataram, numa tentativa de evitar o inevitável. E assim, em um piscar de olhos, já estavam no quintal  de sua casa em Hogsmeade, com Minerva de joelhos no chão e Elphinstone em seus braços.

— Elph? Elph? Querido? Você está bem? - A professora perguntou, em tom urgente, largando a varinha na grama e juntando o rosto do marido nas duas mãos.

Mas a expressão de Elphinstone, olhos arregalados em surpresa, a boca semiaberta, denunciava algo errado. Já com os lábios trêmulos, Minerva olhou para baixo, só para encontrar restos da Tentácula e um braço já roxo e inchado, com diversas marcas dos pequenos espinhos cheios de veneno.

Minerva pôde sentir as lágrimas retornando, mas pegou sua varinha do chão, determinada a dar um jeito, mesmo sem saber o que fazer.

— Me diga o que fazer! - Ela gritou, trêmula, nada vindo à mente para evitar o pior.

— Não, Minerva... - Elphinstone sussurrou e, apesar da dor que ele deveria estar sentindo, ele apenas olhou para a esposa, tão doce como sempre foi, baixando a mão dela - O veneno é muito rápido, você sabe.

Mas Minerva desesperou-se ainda mais.

— Não! Deve haver algo a fazer!

Levantou a cabeça, procurando com os olhos a resposta que sua mente não conseguia lhe dar. Focou Hogwarts no horizonte e lembrou-se de Poppy, que deveria saber o que fazer.

— Vou levá-lo para Poppy! - Ergueu-se e levitou o marido, cujo braço agora parecia necrosar.

Elphinstone gemeu em meio à dor, segurando seu braço ferido. Juntou o que lhe restou das forças e chamou por Minerva.

— Minnie!

A professora estancou os passos, as lágrimas correndo livremente pelo rosto, voltando-se para o bruxo.

— Meu amor, vai ficar tudo bem... - Suspirou pesadamente, erguendo o braço bom - Venha cá.

E acariciou o rosto da professora, enxugando as lágrimas que banhavam-lhe o rosto.

— Vai ficar tudo bem, minha querida. Amo você.

E como se não restassem-lhe forças, sua mão tombou, caída e sem vida. Seus olhos azuis agora estavam fechados, o peito não levantava.

McGonagall o fitou, flutuando em frente de si, o braço ferido de uma cor que ela jamais conseguiria descrever. Desfez o feitiço devagar, colocando-o na grama delicadamente.

— Não... - Sussurrou.

Ela debruçou por cima dele, voltando a chorar, a mente vazia e o coração cheio de dor.

Minerva mais uma vez não sentiu o tempo passar, só de deu conta quando pequenas gotas de chuva começaram a cair em seus cabelos, molhando-lhe as vestes.

— Minerva! - Uma voz ao longe a chamou, ofegante, e ela a reconheceu como sendo de Dumbledore - Minerva!

A professora levantou a cabeça, procurando o diretor com os olhos inchados, somente para vê-lo vindo em sua direção, a passos largos, seu rosto em profunda preocupação.

— Miner-- Ele parou abruptamente ao chegar perto dela, notando o corpo de Elphinstone.

— Não pude salvá-lo, Albus... - Minerva virou os olhos tristes para o marido, a voz tão baixa e cheia de pesar - Achei que conseguiria, mas não pude evitar. A culpa é toda minha...

E juntou as mãos sobre o rosto, perdida, dolorida.

— Ah, Minerva... - Dumbledore ajoelhou-se ao lado dela, colocando suas mãos em seus ombros, em sinal de conforto.

Depois que chegou do Ministério, notou a ausência da amiga e, após perguntar a todos, constatou que ela não estava no castelo. Depois do modo como a encontrara pela manhã, o diretor queria ter certeza que ela estava bem.

Mas era nítido que não estava.

— Venha, Minerva, vamos sair da chuva. - Ele tão somente disse, tirando das próprias vestes sua varinha, conjurando uma espécie de tenda para proteger o corpo de Elphinstone da chuva.

Após protestar, não querendo deixar o marido, Minerva concordou em retornar para a casa, ainda chorando muito, cobrindo o rosto de tal forma que os óculos já haviam sido descartados há muito tempo.

Entrou na residência e não parou de chorar um único minuto, balbuciando palavras de luto e culpa. Dumbledore não conseguiu encontrar palavras para confortá-la, muito menos para questionar o que havia acontecido. Só conseguiu compreender poucas coisas que a professora murmurava, como tentáculas venenosas e palavras de auto depreciação.

Decidiu guiá-la para o quarto de hóspedes e permanecer lá até que ela se acalmasse ou que estivesse pronta para esclarecer o ocorrido.

Mas Minerva tão somente chorou e chorou, que quando se acalmou um pouco, já estava cansada demais para explicar a Albus o que havia acontecido e a última coisa que se lembrou antes de ser vencida pelo cansaço e pela dor foi seu amigo Albus segurando sua mão e sussurrando palavras filosóficas sobre o rumo da vida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Primeiramente aviso que a narrativa dessa história não segue nenhum padrão de postagem. Eu sei que 2 semanas é um tempo extremamente longo para uma atualização, mas é o que há nessa quarentena :(
Em segundo, gostaria agradecer muitíssimo a Loulou7, ela que vem sendo muito gentil e apoiadora dessa fic com seus reviews empolgados e curiosos. Muito obrigada! E fique sossegada que não há um dia sequer que eu não pense em concluí-la com todos os meus esforços! Meus neurônios restantes trabalham o quanto podem para trazer algo interessante e saciar essa fome de MMEU que nós temos.
E também, sempre, um agradecimento enorme pra minha companheira de fofoca (e pau pra toda obra), Sra McGonagall Urquart. Se ela respira, eu agradeço. OBRIGADA MEU MERLIN.
No mais, fiquem em casa, lavem as mãos e deixem um review :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Acceptance and Forgiveness" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.