Inquebrável escrita por Danielle Alves


Capítulo 3
Três




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A vida segue acontecendo nos detalhes, nos desvios, nas surpresas e nas alterações de rota que não são determinadas por você. – Martha Medeiros

FERNANDO MENDIOLA

Mais uma vez estou enlouquecendo de ciúmes. O sangue sobe a minha cabeça enquanto os observo com os olhos arregalados. O homem a abraçava com notável deleite, apertando Letícia contra si. Ela se desvencilha dele com um alegre sorriso.

— Minha nossa, não sei como não reconheci o sobrenome antes! – diz enérgica. Seu sorriso se alarga quando vira para Christopher. – Me perdoe, senhor Christopher. É verdadeiramente um prazer, oficialmente, conhece-lo após tantos anos!

Christopher meneou a cabeça para os lados.

— Não tinha como você saber, Letícia. – diz ele condescendente.

Cassian soltou-a e indicou que se sentasse. O estranho puxou uma cadeira e se sentou ao lado de Christopher. Minha assistente tomou o lugar ao meu lado em seguida, alegre demais para meu gosto. Aquela sensação horrível se fincou na boca do meu estômago e me forcei a agir como um ser humano normal diligentemente. Não era hora de agir como um homem das cavernas possessivo.

Pigarro um pouco desconcertado.

Com uma expressão de desculpas, o indivíduo estende a mão na minha direção.

— Você deve ser Fernando Mendiola, perdão pelo atraso. Sou Cassian de La Fuente, vice-presidente da B&W. E antes que pergunte, amigo de faculdade da sua assistente.

Cumprimento-o com um sorriso forçado.

— O prazer é meu.

Assentindo, Cassian de La Fuente se volta para Letícia.

— Eu sei que é um jantar de negócios, mas... — ele sorri. — eu seria atrevido se perguntasse como a mulher mais inteligente que conheço é uma simples assistente?

Letícia soltou uma risadinha e balançou com a cabeça.

— Não seria atrevido, mas confesso que talvez não seja apropriado falarmos de minha vida pessoal assim, e...

Sem pensar coloquei os cotovelos sobre a mesa e ressarci com sarcasmo.

— Nada disso, temos a noite inteira. Na realidade, estou curioso para saber como se conheceram, Letícia.

Piscando seus lindos olhos, Letícia se vira para mim com a sobrancelha suavemente erguida. Noto que está tentando não evidenciar o descontento.

— Para falar a verdade após esse jantar iremos para casa, senhorita, então não se preocupe. É bom que assim podemos estabelecer uma relação agradável desde já. — interviu Christopher.

— Concordo — Cassian piscou agradavelmente na direção dela. Quase grunhi.

Minha assistente relutou um pouco mas acabou anuindo.

— Não é nenhuma história impressionante – murmura ela. — Nos conhecemos na faculdade e ficamos amigos, é isso.

— Não seja mesquinha nos detalhes, Tícia. Não vai me pintar como herói como fez quando contou ao Tomás?

Ela arregalou os olhos e balançou a cabeça com um sorrisinho sapeca. Confesso que fiquei pasmo.

— Por favor, não me chame assim. — riu — Mas... Já que insiste...

— Sempre quis saber dessa história pelo seu ponto de vista, senhorita Letícia.

Minha assistente ainda parecia um pouco resistente ao dizer:

— Conheci o Cassian no quarto módulo, nós estávamos na mesma classe de economia, — torceu o nariz. — a princípio eu não falava com ele, bom... na verdade não dirigia palavra a ninguém. Eu ficava sempre na minha. Isto é... Até ele decidir que seria interessante se aproximar.

O homem sorriu.

— Como eu era muito tímida e... — ela me encarou e lembrei-me da aposta de Romeu. — não me dava bem com as pessoas, não me abri totalmente, até o dia que Cassian achou por bem me defender.

Cassian se reclinou na cadeira.

— Qualquer um faria.

Letícia o fitou por um longo segundo e então continuou.

— Um grupo de rapazes cismou comigo e... — suspirou. — começaram uma rotina de humilhações, até o dia em que me cercaram, ameaçando me bater ou algo do tipo.

Fico surpreso e chateado.

— Nossa, Lety, você nunca me contou isso.

Ela me olhou com a testa franzida e continuou:

— Cassian chegou na mesma hora com a desculpa de que tinha um trabalho pra fazer em dupla comigo, mas os rapazes ficaram irritados com a intromissão dele e bom... ele deu uma surra neles.

— E das boas — declarou ele. — eu não entendi a implicância com ela, não havia nada de errado com Letícia, só tinha seu estilo próprio.

Arqueei a sobrancelha.

— Ah, não precisa ser gentil, senhor Cassian. – sibilou ela com desconforto. – Embora eles tenham sido uns idiotas, tecnicamente, não estavam errados quanto a minha aparência.

Me viro para Letícia, incomodado com suas palavras.

— Não tem nada de errado com a sua aparência, Lety.

Se cria um vinco na sua testa quando fita meu rosto, como se estivesse duvidando do que digo.

— Certo. – diz simplesmente. — Obrigada, seu Fernando.

Por baixo da mesa estico minha mão para pegar a dela, mas ela rejeita meu gesto pousando as mãos a beira da mesa, entrelaçando os dedos. Eu sei que a feri, mas é terrível a angustiante sensação de desespero que me toma. Eu a encaro por um momento. Com a expressão impassível se vira para Christopher.

— Seu filho me salvou e quero agradecer pela ótima educação que deu a ele.

Christopher sorri suavemente.

— Obrigada pela lisonja, senhorita.

Arrisco uma olhada na direção de Cassian. Ele alternava o olhar entre mim e Letícia. Me senti irritado sob seu escrutínio, mas se era um homem esperto, já havia detectado que eu e minha assistente temos um relacionamento.

Arqueio a sobrancelha e incito-o a falar qualquer coisa. Nós nos encaramos por um longo momento.

— Cassian foi fundamental nessa época da minha vida, apesar de não gostar de lembrar. Obrigada.

Mal prestei a atenção nas palavras de Lety, e o tal Cassian também parecia alheio a elas. Christopher, no entanto, pigarreou para chamar nossa atenção, trazendo-nos de volta a realidade.

Eu havia me esquecido completamente que estava numa reunião. O que estou fazendo? Lety está me deixando doido.

— Bom, já que saciamos nossa curiosidade, devemos ir agora aos negócios - começou ele após estender uma pasta na minha direção. – Aqui está a proposta que a B&W tem para a Conceitos.

Assenti ao apanhar a pasta. Gesticulei para que eu e Lety lêssemos.

Tratava-se de um contrato de patrocínio que favorecia e muito a empresa. Ergo um olhar para Lety e percebo que está tão surpresa quanto eu. Há um sorriso encantador nos seus lábios de satisfação que quase me leva a loucura. Com um suspiro resignado, forço o ímpeto de querer beijá-la na frente daqueles homens.

Porém, como um bom homem de negócios, alterno entre Cassian e Christopher uma expressão impassível.

— A B&W quer patrocinar a Conceitos?

O presidente da maior indústria de bebidas alcóolicas da América Latina sorri.

— Sim, - ele apoiou os cotovelos na mesa e juntou os dedos ao continuar – temos analisado os seus comercias e é notável o crescimento da produtora em vista das qualidades de imagens e figurino exploradas por vocês, ainda mais no nível de mercado que estamos hoje.

— Pois é, não é qualquer produtora que possui uma visão tão avançada na mídia como a de vocês.

— Bom, devemos isso principalmente ao Luigi Lombardi, ele é um ótimo visionário. – Lety murmura, enfatizando suas palavras com um sorriso.

— Que ótimo. Apesar de ser pregado a liberdade na publicidade, é difícil encontrar um produtor com a mente tão aberta. – Cassiano acrescenta fitando minha assistente.

Letícia remexe timidamente ao meu lado.

— De fato, a Conceitos tem excelentes funcionários.

Cassiano sorri novamente para ela.

— De qualquer maneira, nós estamos oferecendo os benefícios e as condições na última página.

Lety engasga enquanto lê os números. Nós nos entreolhamos.

— É do agrado de vocês?

— Certamente, - murmura minha assistente ao folhear as páginas. – A proposta é muito boa. Só me preocupo com uma coisa, contudo.

Christopher ergue a sobrancelha para mim e dou de ombros.

— Eu confio nela. – Viro-me para a mulher que amo. – O que te preocupa, Lety?

— Vocês estão nos oferecendo uma boa quantia e os materiais para as produções, e isso é ótimo, claro, mas e quanto ao frete? Não há especificações.

O Cassiano recostou-se na cadeira com os braços cruzados.

— Esperamos que essa parte fique na responsabilidade de vocês.

Letícia ergue a sobrancelha para ele, há ambição no seu rosto.

— E perder a oportunidade de arrancar mais dinheiro da B&W? – ela nega com a cabeça. Fico inerte. – Sem frete, sem trato.

— Lety, calma aí, também não é assim... – Me viro para eles querendo me desculpar. – Ela está empolgada, é isso...

Cassiano envia um olhar para Christopher que apenas pessoas com um vínculo profundo poderiam entender.

— Está bem, Letícia. Frete incluso. – murmura Christopher ao se virar. - Satisfeita?

— Certamente. Ah... Tem outra coisa também.

Christopher e Cassiano riem.

— Que coisa?

— Hm... Vocês exigiram 40% dos lucros nas gravações. Apesar dos benefícios serem vantajosos para a empresa, ainda é um lucro muito alto considerando o trabalho e os gastas das gravações dos comerciais.

Christopher arqueia a sobrancelha.

— E o que você quer propor ao dizer isso?

— Quero propor que a princípio diminuem a porcentagem para 20%. Por mais que a Conceitos tenha mais de trinta anos de história, ainda somos relativamente pequenos.

Provavelmente meus olhos devem estar fora das órbitas quando encaro minha assistente. A desgraçada é, definitivamente, a mulher da minha vida.

Eu prendo a respiração conforme o presidente da B&W fita os olhos da minha assistente irredutível.

— Não sei, me parece injusto. Estamos oferecendo muito pra ganhar pouco.

Letícia deu de ombros.

— Na verdade não. Digamos que é como se vocês estivessem investindo num grande negócio. — declarou totalmente ousada. — Vocês começam dando muito para futuramente ganhar o dobro. Essa proposta não parece interessante para vocês?

Christopher suspirou mas soltou uma risadinha.

— Ok, garota, você me convenceu. Negócio fechado, então?

Demoro um minuto para entender que Christopher estava se direcionando a mim com a mão estendida. Abrindo o melhor sorriso que posso, aperto sua mão.

— Fechado.

— Bom, nesse caso, vou pedir para minha assistente refazer o contrato. Eu me encarregarei de enviá-lo ainda essa semana, tudo bem? – sugere Cassiano.

Concordo com a cabeça.

— Claro!

— Perfeito. Agora vamos comer, estou morrendo de fome!

Após acenar para o garçom, Christopher se virou para mim.

— Você tem um tesouro em suas mãos. – Ele faz um gesto com a mão indicando a Letícia – Não a perca, senão, eu a tomo para mim.

Estico meus lábios num sorriso.

— Não mesmo. Não vou vacilar, prometo.


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