Ouvi o sino soar, eram quatro horas em ponto, estava em frente à igreja esperando as portas se abrirem. Todos estavam a minha espera, principalmente Jake. Minhas mãos suavam frias, e estranhamente, o sino continuava a tocar, cada vez mais alto enquanto um feixe de luz invadia meus olhos. Aos poucos fui retornando a consciência. Era apenas um sonho. Mais um.

Olhei ao redor, e dessa vez estava no meu quarto. O despertador não parava de tocar e o sol atravessava as janelas. Estendi meu braço direito até conseguir desligá-lo. Já eram seis e quarenta. Maravilha. Eu estava super mega atrasada. Levantei as pressas em direção ao banheiro, tomei o banho mais rápido da minha vida e escolhi minha roupa. Calcei minhas botas enquanto esperava o elevador.

Em menos de minutos já estava dentro de um táxi. Encostei-me ao vidro e por um segundo me questionei: porque ainda tenho esses malditos sonhos? Tal pensamento foi interrompido pelo som de uma ligação. Comecei a procurar meu celular na  bolsa já imaginando ser Jess, minha amiga do trabalho. Quando consegui pegá-lo ainda chamava a todo vapor, mas era minha mãe.

— Bom dia, filha! – Disse feliz quando atendi. – Já chegou ao trabalho? – Perguntou em seguida.
— Hey mãe, estou no caminho. – Respondi na esperança de que ela não fizesse outra pergunta.
— Já pensou sobre as ações de graça? – Minhas esperanças duraram pouco. 
— Mãe, são sete e quinze da manhã... – Disse enquanto olhava meu relógio de pulso. – Sério mesmo que você quer falar disso agora? – Perguntei desanimada.
— Não importa o horário. – Rebateu. – Você nunca quer falar sobre quando vai vim nos visitar, Elizabeth. – Complementou chateada.

Percebi que outra pessoa estava me ligando, obrigada Jess.

— Preciso desligar, de verdade. – Disse rapidamente. – Conversamos sobre isso depois, te amo.
— Sentimos sua falta. – Foi o que eu ouvi-la dizer antes de desligar.
— Já estou chegando, Jess. – Disse atendendo a outra ligação.
— Estou te esperando na portaria e para sua sorte já comprei o café descafeinado da megera, ops, Lauren. – Brincou. 
— Te devo essa, beijos. – Respondi. – Bem ali. – Apontei para onde o taxista deveria encostar o carro. – Pode ficar com o troco. – Entreguei-o vinte dólares e sai o mais rápido possível.

Enquanto atravessava a rua, avistei Jess em frente as portas de vidro do edifício City Center. Ela me olhava com uma cara apreensiva enquanto fazia sinal com uma das mãos para que eu andasse mais rápido. 

— Você nunca atrasa! – Afirmou enquanto andávamos apressadamente em direção ao elevador. – Ultimamente parece até que está apaixonada. – Indagou.
— Dormi tarde terminando um artigo. – Expliquei.
— Deve ser deprimente ter uma vida que se resume apenas em trabalhar. – Resmungou ela. – Acho que nunca te vi apaixonada por alguém. – Continuou. 
— Ao contrário de você, que está sempre apaixonada. – Rebati fazendo um senhorzinho do elevador que não conhecíamos rir.
— Eu apenas não exijo tanta perfeição assim de um cara. – Tentou justificar.
— Não tenho culpa de ser criteriosa. – Argumentei.
— Mas tem culpa de ser sozinha. ­– Jessie implicou enquanto saíamos do elevador. – A propósito, seu casaco ainda está com a etiqueta. – Disse ela me entregando o café.

Entramos na sala de reunião, Lauren já estava sentada em seu lugar. Quando nos viu, fez questão de olhar para seu relógio para verificar se não estávamos atrasadas,  que por um milagre ainda faltavam três minutos.

— Seu café. – Disse entregando-a, um pouco ofegante.

Lauren pegou o café enquanto voltava seus olhos para uma pasta em cima da mesa, sem ao menos agradecer. De nada querida. Ironizei em pensamento.

— Silêncio, vamos começar. – Disse Lauren se levantando. Com um laser em sua mão ela nos apresentou no telão uma estatística dos últimos meses da revista. Houve um declínio de 9% nas compra. — Sabem o que significam isso? – Questionou. 
— Que as pessoas estão entediadas com a revista? – Sussurrou Josh. 
— Josh, querido! – Pronunciou Lauren, chamando sua atenção. – Fora! – Disse apontando para porta. E lá se vai mais um despedido. 

Eu e Jessie trocamos alguns olhares com pequenos sorrisos no canto da boca, nossa teoria sobre Lauren ser uma megera estava cada vez mais comprovada. 

— Vocês desejam opinar, Elizabetha e Jessie? – Perguntou ela nos observando.
—Elizabeth, meu nome é Elizabeth. – Tentei balbuciar. – Acho que com isso devemos dobrar o nosso trabalho e buscar assuntos que realmente interessem o público. – Disse receosa.  
— Então, Elizabetha... – Respondeu Lauren. – Mãos a obra! – Complementou. – Por hora, estão liberados! Quero novos relatórios em minha mesa as cinco.
— ”Acho que devemos dobrar o trabalho.” – Disse Jessie me imitando ironicamente enquanto saíamos da sala.
— você viu, as coluna estão caindo. – rebati.
— E o pior é que o Josh tinha razão. – Jessie bufou.
— Sim, total razão. – Disse desanimada. – Se Lauren pelo menos ouvissem nossas ideias. 
— Boa sorte. – Desejou Jessie indo em direção a sua mesa que ficava do outro lado do setor. – Ah, a propósito. – Ela me chamou a atenção já distante. – Acho que Lauren precisa se apaixonar. – Sussurrou me fazendo rir.

Se algumas pessoas são movidas por oxigênio, Jess é movida pelo amor, ou melhor, pela paixão. Sempre esta de olho em alguém, vive apaixonada, mas acho que amar mesmo, ela nunca amou. Bem, sorte a dela. De todos os problemas, esse ela está invicta. Já eu, preciso arranjar um jeito para um dos meus problemas, escapar das ações de graça e daquela cidade, sem magoar ainda mais minha família.