Amo te odiar escrita por Anne Claksa


Capítulo 14
Nossos pais. - Parte 2: Malu


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Malu é tagarela e por isso ficou bem grande. Brincadeiras à parte, a ideia ficou maior do que eu imaginei.
Boa leitura!!!



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A professora de Artes deixou que Malu usasse a sua aula para contar a sua história, já que teria mais uma na semana.

— Se as meninas ficaram encantadas com a história do Marcelo, vão ficar com os olhos brilhando de tanta fofura com a minha. — Brincou Malu. — Falando sério agora, não foi nada casual o primeiro encontro dos meus pais.

Todos, exceto Melissa, se ajeitaram em suas cadeiras e Malu começou.

— Minha mãe estava cursando enfermagem e estava fazendo estágio em um hospital. Meu pai também estava na faculdade, ele fazia administração, mas ele já trabalhava. E meu pai gostava muito do fazia, era muito dedicado ao seu trabalho. Mas um dia, tanta dedicação cobrou o seu preço. E calma, não fiquem assustados não aconteceu nada de grave com ele e nem afetou o seu trabalho, quer dizer, atrapalhou um pouco. Por ficar tanto tempo sentado usando o computador, meu pai acabou desenvolvendo uma dor nas costas, tão forte, que não conseguia se mexer.

— Lucas, vou te ajudar a ir até ao hospital. Você deu um jeito nas suas costas. — Um colega do trabalho o ajudou.

— Não precisa, logo vou ficar bem. Ai! — Meu pai era e ainda é bem teimoso e tentou firmar as costas, só conseguiu piorar a sua dor. — Teremos problema com o chefe se não voltarmos ao trabalho.

— Sua saúde é mais importante, ele vai concordar quanto te ver assim. Quando estivermos no hospital, eu ligo para ele e explico o que aconteceu.

Mesmo contrariado, meu pai aceitou e foi para o hospital. Não lembro o nome do amigo dele, só sei que foi muito legal, falou com a recepcionista qual era a gravidade, já que meu pai não conseguia falar de tanta dor.

A recepcionista encaminhou os dois até a enfermaria. Minha mãe estava atendendo naquele dia e imaginam o susto dela ao ver um homem todo torto.

— Tudo bem, meu nome é Ângela, sou enfermeira, quer dizer, quase enfermeira. Podem me dizer o que houve? — Minha mãe se apresentou.

— Meu amigo aqui, ficou tempo demais sentado em frente do computador e deu uma boa travada nas costas. — Disse o amigo do meu pai.

— O velho clássico, a tecnologia é um ótimo auxílio, mas muitas vezes, pode trazer problemas de saúde. — Ela se virou para meu pai. — Qual é o seu nome?

— Lucas. — Meu pai respondeu com um gemido.

— Tudo bem, Lucas. Sente aqui na maca, tome esse analgésico e essa água, enquanto eu preparo uma bolsa de compressa.

— Meu amigo, vou ligar para o nosso chefe. Mas eu volto logo. Faça tudo o que a enfermeira falar e logo poderá voltar ao trabalho.

O amigo do meu pai saiu e o deixou aos cuidados da minha mãe.

— Você prefere sua compressa quente ou fria? — Perguntou minha mãe.

— Como?

— Estou perguntando se a compressa, que vou colocar nas suas costas, será fria ou quente. Alguns pacientes preferem quente, outros preferem fria.

— Qual é melhor?

— No meu curso, aprendi que para dor nas costas, a compressa quente é melhor, pois, o calor ajuda a relaxar os músculos.

— Então, pode ser a compressa quente.

Minha mãe preparou a bolsa, a colocou em uma caneca de metal com água e depois ligou o fogo.

— Enquanto a água ferve, podemos conversar. Isso se quiser, claro. — Minha mãe tentou puxar assunto.

— Tudo bem, o silêncio me deixa um pouco desconfortável.

— Então, eu faço enfermagem, estou no quinto período e fazendo estágio nesse hospital. Agora me fale um pouco mais sobre você, Lucas.

Não deu para perceber, mas as bochechas do meu pai ficaram vermelhas. Ele também é bem tímido.

— Eu faço administração, estou no sexto período. Escolhi fazer esse curso porque quero aprender mais e quero, no futuro, montar uma empresa.

— Que legal! E como seria essa empresa?

— Ainda só tenho a ideia, mas seria algo para ajudar as pessoas a construírem suas casas. Posso montar loja ou uma empresa, vamos ver o que o futuro me aguarda. E você, Ângela, como escolheu trabalhar como enfermeira?

— Desde criança, sempre gostei de cuidar, brincava de hospital com meus brinquedos, com a minha mãe e dizia que queria ser enfermeira. Quando cresci, abriram vagas para o curso de enfermagem e logo me candidatei. Consegui entrar e agora estou aqui estagiando nesse hospital.

— Trabalhar em hospital pode ser bem corrido, como consegue conciliar o seu trabalho com seus estudos?

Minha mãe ia responder quando a água ferveu, ela correu para pegar a bolsa de compressa. A enrolou em uma toalha, não sei se era uma toalha. Eu me confundo. Mas vamos ficar com a toalha.

— Cuidado, só vai queimar um pouquinho, mas logo vai poder ficar com a bolsa.

Meu pai sentiu suas costas queimarem um pouco, mas logo relaxou e minha mãe continuou a conversa.

— Respondendo a sua pergunta. Está certo quando diz que a vida em um hospital é corrida, mas eu gosto do meu trabalho. Quando chegam aqui com um ferimento, ou precisam de um remédio para dor de cabeça, ou uma dor nas costas, é bom oferecer cuidado e atenção a outras pessoas.

Meu pai achou aquilo interessante. Nunca tinha conhecido uma garota que gostasse de cuidar de outras pessoas. As que ele conhecia eram muito fúteis, só pensavam besteiras, como shopping, maquiagem, cabelo, rapazes e só faziam faculdade por fazer. Mas minha mãe era diferente, ela despertou algo em meu pai, que ele nunca havia sentido, uma admiração. E também reparou que ela é bonita, cabelo louro claro, quase puxado para o louro escuro, nariz arrebitado, sem falar em toda a sua delicadeza e cuidado.

— Como está se sentindo? A dor nas costas melhorou? — Perguntou minha mãe, fazendo meu pai sair dos seus pensamentos.

— O quê? Ah sim! Já melhorou um pouco. — Ele mexeu um pouco as costas. — Já consigo me mexer.

— Isso é ótimo.

Minha mãe tirou a compressa disse:

— Bom, Lucas. Os músculos das suas costas estão relaxados. Fique tranquilo, não vou fazer a famosa piada do “está pronta para outra”, eu seria uma péssima enfermeira se fizesse isso. Mas recomendo cuidado. Sei que no seu trabalho é difícil não passar muito tempo sentado em frente do computador. Então, te recomendo a se levantar algumas vezes. Vá tomar uma água, ao banheiro, se alongue, tome um pouco de ar fresco, faça o melhor para as suas costas. Você deu muita sorte que o músculo só travou por um tempo, ouvi casos aqui no hospital de pessoas que precisarão usar coletes para arrumar as costas. Outros, as costas nem destravaram.

Meu pai ficou tão assustado que arregalou os olhos, minha mãe riu e tranquilizou ele.

— Calma, não precisa se assustar, só contei o normalmente acontece. Agora se fizer tudo o que te falei, suas costas ficarão bem seguras. Se por algum acaso, elas doerem, tome um analgésico, ou melhor, procure um médico. Isso. Procure um médico, ele saberá te medicar melhor do que uma simples aspirante a enfermeira.

— Obrigado, Ângela. Você salvou a minha vida. E pode deixar, vou seguir as suas dicas à risca. Tenho certeza de que quando seu curso acabar, você será uma ótima enfermeira, tem muito cuidado e atenção com seus pacientes.

Dessa vez foi a minha mãe que ficou vermelha. Os dois estavam apertando as mãos quando o amigo do pai entrou na sala.

— E aí, Lucão. Como está? — Ele perguntou.

— Estou bem melhor. Já até consigo mexer.

— Pronto para outra. Eu tinha certeza de que iria ficar tudo bem. Afinal, vaso ruim não quebra.

Posso não lembrar o nome, mas o meu pai disse que esse amigo é bem brincalhão e gosta de fazer piadas com tudo. Óbvio que a minha mãe não gostava nem um pouco dele, achava ele sem noção e metido a engraçadão. Ela odiava gente assim, tipo, está certo que a vida tem que ser descontraída e ter humor, mas não nesse caso. Ora. Mas minha mãe depois me contou que esse amigo do meu pai, era um pouco apaixonadinho por ela. E vivia arrumando desculpa só para ir ao hospital ver ela.

— O quê? Sério Malu? Eu não fazia ideia disso. Então, tia Ângela tinha um admirador? — Perguntou Cecília.

— Tinha. — Respondeu Malu rindo.

— Duvido que sua mãe não gostasse dele nem que fosse um tiquinho assim. Ele parecia ser bem extrovertido. Pensando bem, ele poderia ter sido o seu pai. — Provocou Melissa.

— Não Melissa, não podia não. Já disse, minha mãe odiava tipos como o do amigo do meu pai, ela não iria aguentar nem meio segundo casada com ele. Se eu tivesse o poder de escolher quem seria o meu pai, eu escolheria o Lucas, é o pai perfeito.

Malu continuou a contar.

— Bom, voltando para a história. Depois daquele dia no hospital, meus pais não voltaram a se ver, aliás, demoraram um bom tempo para se encontrarem. Meu pai chegou até a pensar que nunca mais iria ver a minha mãe, que tudo não passou de um acaso do destino e seguiu com a sua vida.

Um dia meu pai estava de folga e passou perto da faculdade onde minha mãe estudava. Ele a viu e começou a fazer sinais para chamar a atenção dela, mas ela não viu e pior, ela estava conversando descontraída com outro rapaz. Meu pai desanimou e foi embora, pensou que ela tinha namorado e que tinha se iludido ao pensar que uma garota como ela, ia se interessar por ele. Até que meu pai ouviu:

Ei, como vão às costas?

Ele parou, se virou e ficou surpreso, era ela e ainda se lembrava dele, com um sorriso respondeu:

Está tudo bem. Tenho tomado mais cuidado com elas e seguido os seus conselhos.

Que bom, continue assim. Eu saio daqui a pouco, se puder esperar, podemos sair e ir em algum barzinho aqui perto.

Quer sair comigo? — Meu pai perguntou espantado. — Mas seu namorado não vai achar ruim?

Namorado?

É. Eu vi você conversando com um rapaz e pensei que pudesse ser o seu namorado.

Minha mãe riu e achou esse pensamento do meu pai engraçado. Ela resolveu explicar.

— Não tenho namorado. O rapaz que você viu falando comigo, é o meu irmão.

— Irmão? Nossa que vacilo. — Meu pai bateu a mão na testa. — Me desculpe por isso.

— Não precisa se desculpar, enganos acontecem. E aí, aceita meu convite?

— Claro que aceito!

Meu pai falou com tanta empolgação que minha mãe achou engraçado. Os dois foram para um bar ali perto, pediram dois refrigerantes, ainda era cedo para pedir uma cerveja. Enquanto bebiam o refrigerante, eles foram conversando e se conhecendo, ali poderia ser o início de um namoro, mas não foi bem isso que aconteceu.

Minha mãe notou que o meu pai a olhava de um jeito diferente, suspirando e que estava tomando coragem para falar algo. Meu pai é travadão, ele queria muito dizer o que sentia pela minha mãe, mas era muito tímido, gaguejava e não conseguia falar direito, vai ver que por isso ele não teve muitas namoradas.

Lucas, está tudo bem? — Perguntou minha mãe.

Tá tudo bem. — Disse meu pai. — É que estou tomando coragem para te dizer algo, mas não consigo.

Fale, você pode até se sentir melhor.

Meu pai respirou fundo e disse:

Estou gostando de você, Ângela. Na verdade, estou me apaixonando por você. Eu sei que parece loucura, mas comecei a gostar de você naquele dia no hospital. Foi tão gentil e atenciosa comigo, que começou a nascer um sentimento dentro de mim.

Lucas...

Deixa eu falar, Ângela. Quero dizer tudo de uma vez antes que eu perca a coragem. Estar no hospital, tratando de uma dor nas costas, não é a melhor forma de se conhecer ou de se apaixonar por alguém, mas foi o que aconteceu comigo. Fico pensando em você, no seu sorriso, escutava sua voz na minha cabeça. Pensei que que esse sentimento fosse passageiro, mas não foi. Esses dias que nós não nos víamos, ficava imaginando quando eu iria te encontrar de novo. Sou tímido, não sou muito bonito, nem mesmo popular, as garotas não se interessam por um tipo como eu e as que se interessaram, não eram sinceras comigo. Estou abrindo o meu coração para você, Ângela, pois, sinto que é atenciosa, gentil e que me fez me apaixonar por você. Você aceitaria namorar comigo?

As mãos do meu pai estavam suando, ele não conseguia acreditar que conseguiu dizer aquilo tudo sem gaguejar. Minha mãe ficou sem reação, ela não sabia o que dizer, ou melhor, ela sabia, mas procurava uma forma melhor de falar sem que isso magoasse meu pai. É que a minha mãe não é muito romântica, não gostava desse negócio de namoro, declarações, apelidos e tudo mais, ela achava muito meloso e detestava isso. Mas ela percebeu que o meu pai era sensível e que se ela falasse aquilo que estava pensando, poderia magoar ele e ele falou de uma maneira tão fofa. Era tão bonitinho com aquele cabelo preto cacheadinho, que não teve coragem de fazer mal a ele. Então, com jeitinho, ela falou:

— Lucas, foi lindo o que você disse, qualquer garota ficaria encantada com o falou e aquela que não se encantasse, era uma tonta.

— Então, aceita namorar comigo?

— Desculpe, Lucas. Sei que sente algo por mim, mas eu não sou a garota certa para você. Eu não sou muito romântica e você é muito sensível, não daríamos certo.

— Eu posso mudar, posso ser mais firme.

— Não precisa mudar, nunca mude quem você é por causa de ninguém. Algum dia, vai aparecer uma garota que vai se encantar por esse seu jeito e você vai se apaixonar.

— Então, não aceita namorar comigo?

— Não, sinto muito. Mas nós podemos ser amigos.

— Amigos?

— É, amizade também é um tipo de amor e eu quero ter você como meu amigo. Você aceita, Lucas?

— Aceito, também quero ser seu amigo.

Se a minha mãe não queria magoar o meu pai, ele também não queria magoar ela. Ser amigo não estava nos planos dele, mas pelo menos ficaria perto dela, já era alguma coisa. E assim, seguiram como bons amigos. Sempre juntos, se juntando para jogar conversa fora. Fazendo amizades com os amigos um do outro. E depois de tudo isso, minha mãe começou a sentir algo pelo meu pai e até a repensar sobre namoro, de que não seja uma ideia tão ruim assim. Mesmo quando saía de férias, ela conversava por horas com ele pela internet.

Até que um dia se encontraram outra vez e dessa vez, não foi em qualquer lugar, foi em um parque de diversões. Meu pai adorava e ainda adora aquelas barraquinhas de jogos, em que tem um monte de brincadeiras e que se ganhar, levava um prêmio. Minha mãe era fascinada pelos brinquedos, principalmente aqueles que são radicais. Andando pelo parque, os dois trombaram, não estou brincando, eles trombaram um no outro.

Lucas? — Perguntou minha mãe.

Ângela? — Perguntou meu pai.

Nossa! Quanto tempo?

É mesmo. Você viajou e só nos falávamos pela internet, estava sentindo falta de conversar com você pessoalmente.

Também estava sentindo falta de você, de estar com você. Quero dizer, de conversar com você.

Minha mãe ficou bem tímida nessa hora, meu pai sorriu ao ver sorriso dela. Ele sugeriu que fossem para uma barraquinha de jogo, ela aceitou. Os dois jogaram, se divertiram e riram, em um dos jogos, meu pai derrubou as latas e ganhou um ursinho branco de pelúcia e deu para a minha mãe. Ela adorou e deu um beijo no rosto dele. Depois foram andar em algum brinquedo. Minha mãe falou que amava montanha russa e que adoraria dar uma volta, meu pai morre de medo e percebendo isso, minha mãe mudou de ideia e resolveu ir à roda gigante. Os dois foram até lá, subiram no brinquedo e começaram o passeio. Tem algo mais romântico do que uma roda gigante? Ela girando lentamente, de repente para e a paisagem no fundo, dá todo um clima romântico. Isso aconteceu com meus pais, eles se olharam olhos nos olhos, sentiram que era o momento e se beijaram. Como minha mãe me contou, foi um momento mágico.

Depois daquele dia no parque, não tinha como evitar, engataram namoro e permanecem juntos até hoje, sempre se encantando um pelo outro.

— Que história linda, Malu. — Disse Taís, um pouco emocionada. — Uma história que começou no hospital e terminou com uma tarde romântica no parque.

Romântica e encantadora como a Malu. — Pensou Marcelo.


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