Lentamente, Naruto foi recuando passo a passo até chegar à cama, onde se refugiou atrás de um travesseiro. Por alguns segundos, ele e o tutor encararam-se, estudando o adversário. Naruto buscava as possíveis rotas de fuga enquanto Sasuke determinava-se ferrenhamente no seu objetivo.

Sasuke trancou a porta, pegou duas peças de roupa no guarda-roupa.

-...banho...agora- ordenou pausadamente

Naruto mal se moveu ou esboçou qualquer intenção de atender a ordem. Sasuke cruzou os braços em frente ao garoto. Desistiu de forçar o banho, daria muito trabalho e não estava com tempo.

-Moleque, eu estou me cansando. Troque de roupa ou prefere que eu faça isso por você.

De jeito nenhum aquele ET safado o veria nu.

-Nunca!

Naruto arremessou o travesseiro no rosto do tutor.

Era a realidade nua e crua, por mais que Sasuke não acreditasse. Aquela criança não só o desobedeceu como o desafiou, OUTRA VEZ. E como se não bastasse no cumulo da insolência ainda arremessou um travesseiro em seu rosto.

Sasuke soltou as roupas de Naruto no chão. Aquilo não ficaria sem resposta. O moleque iria sair daquela casa consigo por bem ou por mal, vestido ou não.

-Chega! – disse tirando remangando a camisa.

O que o ET estava pensando em fazer? Naruto sabia que qualquer que fosse a resposta não seria boa para ele. E essa certeza se confirmou ao ver o tutor avançar pela cama até ele.

Sasuke era incalculavelmente mais forte. O que não significava que Naruto iria se intimidar ou se render facilmente. Enquanto Sasuke tentava vesti-lo, o menino debatia-se acertando pantufadas no tutor.

Com esforço Sasuke conseguiu vestir as mangas do casaco, ergueu-o e o carregou no colo até o carro. Naruto não se rendia batendo na cabeça de Sasuke com ED até chegarem à garagem.

-Me solta, seu feio, besta.

Sentia muito pelo companheiro mais situações extremas exigiam medidas extremas.

Sasuke sentou Naruto no banco de trás do carro e afivelou-lhe o cinto e segurança.

-Nós vamos ao meu trabalho, por isso... – estreitou os olhos ameaçadoramente – Sem gracinhas, moleque.

Sasuke sentou-se no banco do motorista. Sua enxaqueca piorara com as pinguinzadas que o moleque lhe acertou na cabeça. De que era feito aquele brinquedo, afinal? Pedra?

Quanto mais sua cabeça doía mais mal-humorado ficava, tanto que o próprio Naruto sentiu a aura sombria de perigo emanada pelo esquisitão. Pensando bem, aquela seria uma boa oportunidade de se infiltrar no comando central alienígena. Até porque o ET não estava para brincadeira, era melhor não tentar nada, por ora.

O tal comando central era diferente do que esperava. Não era uma nave espacial como imaginou e sim um enorme arranha-céu com a fachada espelhada. Naruto não sabia, mas era um dos maiores da cidade.

Os funcionários da recepção cumprimentaram Sasuke com reverência. Um tanto surpresos pelo senhor presidente estar carregando uma criança vestida de casaco, pijama e pantufas de cãezinhos.

Sasuke entrou no elevador privativo subindo ao andar da sala de conferências. Sua secretária, Tentei, alertou imediatamente que estava atrasado. Sasuke respondeu com um olhar irritado. Claro que sabia que estava atrasado. E a culpa era de quem? Do moleque insolente.

Entregou a criança a Kiba, o primeiro funcionário que viu pela frente depois de Tentei.

-Cuide disso.

Kiba não questionou nem como ou o porquê. Todos sabiam que questionar Sasuke, quando ele estava com aquela expressão mal-humorada (quase sempre) não era uma atitude saudável para manter-se empregado. Pegou Naruto dos braços do presidente, observando-o se afastar logo em seguida pelo longo corredor.

XxX

Sasuke encerrou a reunião. Dispensando as bajulações de alguns diretores, seguiu até à

sala de Kiba.

Havia durado cerca de três horas, mas poderia tê-la encerrado em uma ou menos. Era uma estupidez chama-lo para resolver coisas daquele tipo. Porém também teve de sanar as divergências entre dois diretores sobre um projeto de expansão. Sua palavra sempre era a final, não abrindo espaço para contrariedades. Mesmo sendo extremamente jovem, era muito hábil nos negócios, um prodígio tão genial quanto frio.

Kiba brincava com um fantoche de papel encenando para Naruto o que parecia ser uma história. Sasuke apoiou-se na porta observando a expressão tranqüila do garoto. Kiba fez uma nova macaquice despertando o riso do menino. Em todo aquele tempo, Sasuke nunca  tinha visto o moleque rir. Mas como ele mesmo raramente sorria achara normal. Era uma novidade para ele vê-lo assim

Kiba percebeu a presença do presidente os observando.

-Er..Senhor- endireitou a postura num cumprimento respeitoso.

Sasuke aproximou-se dos dois.

- Hora de ir, pirralho.

Naruto fez cara de desapontamento, estava gostando de brincar. Kiba afagou seus cabelos.

-Não faz mal, garotão. Outro dia você vem de novo com seu pai e nós brincamos mais. Ta bom?

-Uhum.

Sasuke franziu o rosto, quantas vezes iria repetir que não era o pai do garoto? E quem falou que depois de tudo que o moleque aprontara ele iria traze-lo outra vez?

-Mas eu posso te levar até o estacionamento. Que acha? – Kiba perguntou solicito.

-Obrigado, tio.

Sasuke ergueu uma sobrancelha.Mais hein? O moleque estava agradecendo?

Kiba aproximou-se para pegar Naruto no colo novamente, mas foi impedido pela mão de Sasuke que segurou seu braço.

-Acho que você tem assuntos mais importantes para tratar. Já perdeu muito tempo de trabalho hoje.

Realmente Sasuke era uma pessoa estranha e assustadora às vezes, pensou Kiba.

-Claro, senhor. Vou voltar imediatamente ao trabalho.

Como na noite anterior Naruto ligeiramente trêmulo agarrava ED contra si com o  rosto franzido. . Que sonhos seriam aqueles? Talvez o devesse acordar. Tocou-lhe o rosto, não era febre. A expressão  do menino relaxou e Sasuke achou melhor leva-lo para cama. Os sonhos deviam ser resultado dos filmes sem pé nem cabeça que o moleque assistia.

O resto do dia transcorreu com certa tranqüilidade. Naruto, após o jantar, cansado pela batalha da manhã com o ET adormeceu no sofá assistindo Tv enquanto Sasuke lia um livro. Sasuke suspirou, mais uma vez teria de colocar o moleque para dormir, já estava se tornando um hábito.

O próprio Sasuke carregou Naruto ao carro. No caminho de volta para a casa,  pensava em como aquela criança conseguia sempre o desafiar, mesmo involuntariamente.  Comportando-se daquela forma no escritório de Kiba. Se havia alguém a quem deveria agradecer era a ele e não a Kiba. Sua dor de cabeça voltara. Aqueles eram pensamentos inúteis. A criança que ficasse agradecendo e rindo para o pateta que quisesse, estava pouco se importando.