Sasuke soube que algo estava errado ao descer para o café e deparar-se com a cozinha naquele estado - Copos sujos, açucar e achocolatado pelo chão, leite derramado na mesa e os culpados do crime: Naruto e seu fiel cúmplice Ed.

Na mesa da sala, a resposta para aquele cenário hediondo. Um bilhete da babá explicando que a mãe dela passara mal durante a madrugada e a moça teve de sair às pressas para o hospital, sem poder avisar o tutor.

Após sete tentativas fracassadas de preparar o leite de acordo com o gosto do menino Sasuke serviu-lhe a mesa o café da manhã. Um copo grande de leite com achocolatado, sanduíche e biscoitos.

Naruto estava com fome não recusou o que o et lhe servira, mesmo sabendo que corria um grande risco. Afinal o esquisitão poderia pôr na comida soro da verdade, substâncias transmutadoras (apesar de Naruto não fazer idéia do que isso seria) ou até mesmo verduras. Por isso monitorou todo o processo atentamente.

Terminou o ultimo gole dando um grande suspiro deixando bigode de leite  sobre  lábios. Sasuke limpou-os, passando o guarnapo nos lábios de Naruto que recuou diante do movimento inesperado do outro.

-Estava sujo- Sasuke justificou-se.

"Moleque estranho”, pensou Sasuke.

Naruto era arredio demais, até para uma criança esquisita, ponderava Sasuke. Desconfiava que havia algo mais por trás do comportamento do garoto.

Começou a limpar a pequena bagunça deixada por Naruto e Ed. A diarista fazia a limpeza apenas quatro dias na semana e aquele não era um deles. Como sempre morara

sozinho a casa mantinha-se em ordem e a mulher só comparecia para arejar os aposentos ou retirar o pó dos móveis. A louça diária o próprio Sasuke lavava, não gostava de  deixá-la  acumular.

Detestava sujeira e desordem e, por conseqüência,  não sentia muita simpatia por crianças. Elas eram motivo de confusão e preocupação. Não raro se mostravam egoístas e muito irritantes. Características que repudiava nas pessoas, principalmente com as quais tinha algum envolvimento.

Por isso,  encarou com surpresa o garoto dirigir-se a pia lavar o copo, o pires e logo depois começar a juntar os demais utensílios sujos.

-Ei moleque, você não precisa fazer isso.

Naruto o encarou serio como se dissesse "mas" e seguiu limpando.

-Ok. -Sasuke continuou - Primeiro suba e troque de roupa, para não sujar o pijama e aí você pode descer e continuar.

Achou melhor não discutir com a criança e arranjar algum pretexto para tirá-la da cozinha. O moleque limpar a própria bagunça era uma coisa boa, mas não era seguro ali nem ele achava que crianças deveriam desempenhar atividades domésticas além do necessário para aprenderem a organizar-se.

Quando o garoto desceu Sasuke já terminara a limpeza e trabalhava no escritório.

Sasuke passou a manhã toda sob os olhos atentos de Naruto sentado em posição de índio e do famigerado pingüim; ambos de binóculos na porta do escritório.

Para Naruto,  a ausência da babá era a oportunidade de monitorar a atividade alienígena da casa, o que abrangia toda e qualquer ação do esquisitão.

No princípio,  o tutor sentiu-se incomodado, detestava ser observado, estar na mira do olhar alheio. Mas acreditava que logo o moleque se cansaria e iria fazer qualquer outra coisa.

Por vezes,  levantava os olhos da tela do notebook para conferir se o garoto estava ali. Não podia negar que o pirralho era determinado. E engraçado...  Admitiu ao ver Naruto camuflado por folhas de ofício pintadas de verde engatinhar até um vaso no canto do escritório e esconder-se entre as folhagens da planta.

xXx

Kakashi ria abertamente, em seu escritório lamentando não ter presenciado a cena.

Tsunade havia acabado de contar sobre a calorosa "recepção" de Naruto ao seu tutor.

-Gostaria de saber como ele está?- suspirou a loira.

-Naruto?

-Sim... Ele já está há três dias com Sasuke.

-Não se preocupe ele ficará bem. Por enquanto, não interfira, pelo menos nesses primeiros dias.

Tsunade fez um muchocho contrariada.

-É uma ordem- completou Kakashi.

-Não fale como se eu estivesse sob as ordens de Itachi, o único nessa função é você.

-Você está numa condição pior está sob a vontade dele. Ou você conseguiria contrariar esse desejo dele?

xXx

Naruto estava emburrado. Após o almoço,  havia dormido no posto e sido pego pelo Et. Uma vergonha para um soldado. Quem sabe que planos malignos o Esquisitão arquitetava.

À princípio,  Sasuke não notou que o pequeno dormira e quando o viu notou que ele se remexia apertando Ed contra si. Tinha uma expressão amedontrada no rosto. Por isso,  ao invés de levá-lo a cama acordou-o.

Não era comum ter curiosidades sobre outras pessoas. Mas teve vontade de saber que pesadelo o menino sonhou. Porém, não perguntou nada. Certamente era culpa dos filmes que o moleque estava acostumado a assistir.

Depois disso o garoto pareceu desistir de vigia-lo um pouco. Assistiu tv, jantou quando o tutor mandou e a noitinha dormiu.

Sasuke seguiu trabalhando. Já era madrugada. Ouviu um barulho vindo da sala e logo o vulto de Naruto a porta. Munido de binóculos,Ed e um cobertorzinho azul acomodou-se novamente perto da planta.

Sasuke nada falou.

A luz de seu escritório era a única acesa na casa toda,  e Naruto não tinha altura para alcançar o interruptor. Então, não foi difícil de entender que a criança provavelmente teve medo. Embora, se dissessem isto a Naruto ele responderia que não teme nada e estava ali apenas porque Ed tivera medo ou então para vigiar as atividades noturnas do Et.