Kuroo observava de longe o amigo de infância com seu PSP ligado em um tela de "derrota" escrita nele, enquanto o garoto de madeixas mal recém tocadas não ligava para o jogo. Isso era estranho e anormal para qualquer um que o conhecesse.

— Kuroo. — Akaashi chamou pela terceira vez, tirando rapidamente o amigo de seus devaneios. Um suspiro escapou do levantador, insatisfeito por tudo o que assistia acontecer. — Nós precisamos treinar.

— Eu sei, eu sei. — Jogou a mão em balançá-la ao ar num sinal para que ignorasse suas distrações, segurando a bola leve de vôlei na outra. — Vamos?

Era um treino amistoso entre times, todos estavam em quadra animados por poderem ter aquela oportunidade de competirem "quase" de verdade, ao mesmo tempo que ganhavam experiência e conhecimento do inimigo do outro lado da quadra.

Kozume desde o primeiro tempo alegou estar com dor de estômago e que não participaria mais, ficando no canto da quadra mexendo em seus jogos até esses parecerem não satisfazê-lo mais.

Até que então, antes do final dos pontos decidir quem era o vitorioso daquele breve e inocente amistoso, Tetsurou notou de canto de olhos seu melhor amigo desvencilhar-se para a saída da quadra.

— Isso, Hinata, Kageyama! — Asahi junto a Noya comemoraram pelo ponto marcado.

Ponto o qual Kuroo não defendeu por estar perdido demais. Ponto o qual por sua cabeça estar completamente em outra coisa.

Tinha que ganhar um jogo logo.

[...]

Kozume passava os dedos a grama bem cortada por entre os quadriculados do campus fora da quadra coberta. Sua cabeça estava tão longe que ele não percebeu quando as lágrimas começaram a molhar a relva cintilante, devido ao sol alto do dia.

Fora sorrateiro, porém, perceptível quando uma presença maior que si acomodou-se ao seu lado, em completo silêncio.

Ambos ficaram assim por longos minutos, até que do rosto e olhos pequenos e inchados de Kenma, o dourado brilhasse junto a estrela lá em cima, olhando para o bem conhecido ao seu lado, entre lágrimas.

— Por que ele? — Foi o que os lábios trêmulos conseguiram formular em primeiro momento. — São os meus saques? Eles são ruins, Kuroo?

— Não, não é isso. — "E você sabe", era o que o moreno queria complementar, mas magoaria ainda mais o amigo caso o fizesse. — É apenas... Ele é idiota, você sabe.

— Por que os olhos dele não brilham tanto nos meus levantamentos quanto brilham nos daquele levantador assustador da Karasuno?

Kenma fez a pergunta crucial, já sabendo a resposta. Lágrimas e mais lágrimas não paravam de cair de seus olhos, rolando pelas bochechas cheias e sendo limpas por Tetsurou, confortando-o minimamente.

Tudo o que Kozume queria entender era porquê Hinata não olhava com mesmo olhos e entusiasmo encantadores para si do jeito com que ele fazia com Kageyama.

A resposta estava aos olhos de quem queria ver. E aqueles mesmo olhos, apaixonados, inocentes, e igualmente dolorosos, olhavam para o rosto de fios loiros, estes atrapalhando a visão pela desarrumação por seu dono.

— Quem sabe um dia ele perceba.

Kuroo tinha um grande aperto no peito ao dizer isso, só podendo consolar o amigo que chorava por seu amor platônico, enquanto ele mesmo sofria do próprio.

Mas alguém devia permanecer de pé para todos não caírem. Ficaria ao lado de Kenma o tempo que fosse preciso. Diria o que ele queria escutar sempre que quisesse.

Seria seu amigo. Para sempre seu ombro amigo, mesmo que não fosse isso que quisesse somente.

Os mesmos olhos apaixonados olhavam por Kozume, mas não eram esses os quais ele queria.

E Tetsurou quis rir enquanto engolia o bolo de choro em sua garganta.

Não existia nada pior e mais clichê do que um amor não correspondido à beira da adolescência. Que belo sabor eles foram provar da vida.