Corações Perdidos escrita por Choi


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!
Estou deixando esse capítulo agendado porque não sei quando poderei voltar ao Nyah nos próximos dias, espero que gostem
Boa leitura!



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Acordei depois de algumas coisas, mas fiquei quieta e preferi fingir que ainda dormia. Quando Carlisle parou em um posto de gasolina e ambos saíram do carro, eu finalmente me movi para olhar as horas no painel chique.

Passava das oito horas da noite, o que significava que estávamos chegando. Meu coração estava bem acelerado, e minhas mãos soavam, eu não sabia o que esperar dessa nova jornada.

Não havíamos conversado direito sobre isso, sobre o segundo passo. Estávamos indo, e essa era a única informação que eu possuía. Também não sabia muito sobre os filhos deles, apenas que eram em quatro.

E, nossa, quatro filhos! Era impossível não admirar Esme. A mulher havia parido quatro vezes! Eu tinha pavor de bebês, passei muitos anos em um orfanato e tinha muitos bebês, eles choravam muito e faziam muita merda, literalmente. Definitivamente, eu nunca seria mãe!

Alguns minutos depois, eles voltaram para o carro e Esme me estendeu uma caixinha de lanche quando me viu acordada.

— Obrigada.

Minha barriga roncou ao ver a comida e sentir o cheirinho fresco. Agarrei o pacote e o abri, apreciei o tamanho extragrande do hambúrguer. Vi Esme sorrir, me entregando também um copo de refrigerante.

Comi lentamente, apreciando o sabor. Tinha picles e cebola, duas coisas que eu amava nas refeições, por mais estranho que fosse.

— Falta menos de uma hora para chegarmos – Disse Esme.

Assenti, muito ocupada com a comida para dizer alguma coisa.

Quando terminei, limpei as mãos em um guardanapo e joguei as embalagens vazias em uma sacolinha que tinha ali.

Minutos depois, nós finalmente chegamos na cidade. Atlanta é uma cidade grande, iluminada, com prédios enormes e modernos. Passamos por um estádio, aquário, e um estranho prédio de alguma concessionária, até entrarmos em um condomínio residencial.

Não escondi meu espanto. Não poderia descrever aquelas coisas como casas, não mesmo; eram mansões enormes que apenas víamos em filmes, dos mais variados estilos. Algumas possuíam portões muito altos, outras possuíam a fachada branca e moderna, com vidros que mostravam um pouco do interior, já outras seguiam um estilo mais rustico com paredes de tijolos e caminhos de pedra.

As casas eram distantes umas das outras, com árvores grandes entre elas.

Carlisle parou o carro diante de um portão que ao apertar um botão no painel, foi aberto e ele entrou. A casa misturava o melhor dos estilos dos vizinhos. Sua fachada era branca, possuía uma escada lateral caracol que dava para o segundo andar e para o terraço.

A primeira visão que tive foi da enorme piscina e do ambiente elegante com sofás e e plantas, mas Carlisle contornou a casa e colocou o carro dentro da garagem que possuía mais três carros chiques ­– e caros.

Subimos uma escada com corrimão de ferro que nos levou para a cozinha. Ela não era enorme, mas possuía vários armários em um tom de cinza, uma ilha extensa e cadeiras. A sala de jantar ficava ao lado, no mesmo ambiente. Possuía uma mesa de madeira rustica, seis cadeiras estofadas nas laterais e duas poltronas, uma em cada ponta.

As paredes eram brancas, mas havia algumas – como a da sala de jantar – que eram cinzas, como os armários.

Do lado contrario, havia a sala de estar que dava a impressão de ser redonda. Os sofás eram beges, e a decoração utilizava três cores: marrom, cinza e preto; o marrom era sempre em madeiras, que dava um toque aconchegante em meio a tanta coisa moderna.

A casa inteira possuía muitas janelas e imaginei que pelo dia, a iluminação natural seria incrível e suficiente.

— Esse é o segundo andar. Os quartos ficam em baixo ­– Disse Esme – E em cima o terraço.

Esme se ofereceu para mostrar a casa e eu não me opus, abandonando minhas bolsas em algum canto.

Na sala, havia uma porta enorme, atrás dela uma sacada que pegava quase que o lugar inteiro. Era enorme. Com uma mesa antiga e cadeiras verdes musgo e alguns sofás. A escada que eu havia visto do lado de fora dava acesso fácil a cozinha e sala, e seguia para o terraço.

No andar de baixo, estava os quartos, assim como Esme havia me dito. Ela me mostrou os banheiros comuns – lavabo, como ela disse –, e me indicou o quarto de cada integrante da família, mas não entregamos em nenhum.

A entrada da casa possuía uma varanda com um sofá lateral cinza e estofado bege, repleto de almofadas por cima. Havia uma mesa com seis cadeiras, simples, mas que dava um toque especial. Eu podia ver alguns quartos dali, já que a maioria possuía portas duplas que dava acesso direto para a entrada da casa.

Ainda possuía academia, sala de cinema, sala de musica, um salão de festas, uma biblioteca maior que minha casa inteira, e muitos outros cômodos que eu nem sequer sabia que existia.

Mas foi, definitivamente, pelo terraço que eu me apaixonei. No ultimo andar, a céu aberto, estava o lugar mais incrível que eu já tinha pisado. Havia um espaço para churrasqueira, com armários no estilo de tijolinhos brancos, balcão, uma mesa de vidro com cadeiras transparentes e largas, e sofás, como todos os ambientes daquela casa.

Esme acendeu as luzes para vermos melhor. E a noite, era simplesmente maravilhoso! Imaginei-me deitada naquele sofá que parecia extremamente confortável observando as estrelas.

Se Esme me dissesse que eu dormiria ali, eu aceitaria isso tranquilamente!

Mas voltamos ao primeiro andar, onde ela me apresentou meu quarto e me deixou para descansar. Diferente dos outros, esse não possuía acesso exclusivo a entrada da casa, mas pelas janelas eu conseguia ver a piscina e o mato que cercava a casa.

O quarto era grande e bem decorado. Possuía uma casa de casal com dois criados-mudos, um em cada lateral. Na frente da cama, havia uma estante de ferro com alguns objetos decorativos, mas estava relativamente vazio. Uma porta do outro lado dava acesso ao banheiro e ao closet, tão chique quanto o restante da casa.

Eu estava simplesmente chocada! Não havia palavras para descrever o meu choque de estar ali. Aquilo era uma loucura e completamente fora da minha realidade.

Me sentei na cama, apreciando o conforto dela. Nunca havia deitado em uma cama tão grande e tão confortável.

Minutos depois, Carlisle apareceu me chamando para jantar. Prontamente eu me levantei e o acompanhei, o lanche não havia saciado minha fome.

Eles haviam pedido comida japonesa – que eu nunca havia comido e não sabia se eu gostava –, e escolheram comer na ilha da cozinha mesmo. Esme distribuiu a comida sobre o balcão e começamos a comer.

Ignorar os dois pauzinhos e peguei o garfo.

— O que é isso? – Perguntei apontando para um pedaço de alguma coisa, tinha uma cor rosada e quando espetei meu garfo, vi que também era molengo. Ótimo! Só que não!

— Salmão – Carlisle respondeu pegando um enroladinho de alguma coisa que misturava muitas cores. Fiz uma careta – Nunca comeu comida japonesa?

— Eu tenho cara de quem já comeu comida japonesa? – O encarei indignada.

Ouvi seu riso contido e o ignorei.

— Prove, Bella, tenho certeza que vai gostar – Esme me garantiu.

E ela estava completamente errada. Aquele negócio rosa estava gelado, e tinha uma textura estranha. Desisti do salmão e tentei o sushi que Carlisle me recomendou. Odiei também. Esme disse que eu gostaria do temaki. Era uma alga enrolada com muitas coisas dentro.

— Tem alguma coisa crua aí? – Perguntei, olhando desconfiada para o tal do temaki. Já deu de comida crua por hoje.

— Não, esse não.

Resolvi confiar na palavra de Esme e provei. Diferente dos outros, não era ruim. O cream cheese – eu nem sabia que isso existia, mas fiz Carlisle me dizer tudo que estava ali – desmanchava na boca, e dessa vez o salmão estava grelhado, o que eu preferi. A alga tinha uma aparência estranha, mas gostei da crocância. 

Quem diria, Isabella Swan comentando sobre comida japonesa! É, isso nunca passou pela minha cabeça.

— Ainda está com fome, Bella? Isso não foi nada, e você só lanchou – Disse Carlisle. Ele parecia verdadeiramente preocupado.

— Isso foi o suficiente – Dei de ombros, apoiada sobre o balcão.

Esme e Carlisle continuaram comendo até que não restou um único sushi. Aparentemente, eles realmente gostavam daquela comida.

— Bella, Carlisle e eu conversamos, e achamos melhor não contar quem você realmente é para nossos filhos, para não... – Esme tentou procurar as palavras.

— Te constranger? – Completei sua frase, tentando não soar venenosa, mas falhando miseravelmente.

— Bella, entenda, Carlisle e eu temos uma reputação a zelar, e também não sabemos se nossos filhos entenderiam a situação como eu entendi – Ela se defendeu, assenti, resignada.

Olhei de relance para Carlisle, ele me encarava, mas sua expressão estava impassível, eu não saberia dizer se ele concordava ou discordava dela. Nada daquilo me importava, ou eu queria que assim fosse. Nunca tive vergonha do meu passado, ou de quem eu sou, e também nunca tive que lidar com pessoas tendo vergonha. Afinal, nunca tive pais para me orientarem e torcerem o nariz para mim.

— Que historinha de faz de conta vocês contarão? – Perguntei, realmente curiosa sobre como eles iriam enganar os preciosos filhos.

— Diremos que um amigo nosso pediu para cuidarmos de você – Disse Carlisle, ele tinha o cenho franzido, o que me fez imaginar que ele mesmo não acreditava muito naquilo.

— Carlisle tem muitos amigos – Esme disse.

— Bella, você já terminou o ensino médio? Lembro que me disse que tem dezessete anos – Carlisle perguntou.

Me ajeitei na cadeira, desconfortável.

— Não, não consegui concluir o ultimo ano – Admiti, envergonhada. No ano passado, Connor aumentou minha carga horária, e eu tive que escolher entre trabalhar e ter o que comer, ou não trabalhar e estudar. A resposta foi bem óbvia, mas eu me sentia ainda mais uma inútil por ter largado.

— Tudo bem, vamos te matricular em uma escola e você pode terminar – Carlisle parecia bem decidido sobre isso. Franzi o cenho para ele.

— Mas isso é um ano. Você quer que eu fique aqui durante um ano? – Perguntei, indignada.

— Bella, te convidamos para ficar até que possa se estabelecer sozinha em um emprego de verdade – Disse Esme. A encarei, e ela parecia sincera.

Me recostei a cadeira novamente. A realidade bateu dura e forte, e eu me vi mais perdida do que já estava. Eu iria depender deles por um ano... ou mais, quem sabe. Nunca dependi de ninguém, nunca dei satisfação a ninguém... como seria isso?

— Bella, eu entendo que seu jeito seja um pouco... bruto, mas te peço que se controle aqui, principalmente quando tiver outras pessoas – Disse Esme.

— Não se preocupe, eu não vou corromper seus filhos, Esme – Sorri irônica para ela – Tentarei, mas não prometo nada. Olha, ok, eu aceito tudo isso, mas não quero morar aqui completamente de graça, preciso de algo para fazer também.

Vi o sorriso de canto de Carlisle e um olhar cumplice se cruzar entre o casal.

— Esme tem uma empresa de eventos, você pode trabalhar como garçonete – Ele disse.

— Ótimo!

Quando me deitei na cama, com as luzes apagadas, estranhei o silêncio, e a calmaria. Na onde eu morava, sempre havia gritos e brigas durante a madrugada.

Ao mesmo tempo que me sentia sortuda, me sentia também como se houvesse uma sentença sobre minha cabeça. Sim, eu havia conquistado o apoio de alguém – Carlisle foi muito gentil comigo, desde o principio –, e a ajuda que eu precisava para sair da vida que eu odiava, mas ao mesmo tempo, sentia que tinha perdido minha liberdade também.

Sentia a ansiedade me consumir lentamente, trazendo a crise que não me era estranha. Minhas mãos tremeram e suaram, meus pensamentos confusos que traziam mais duvidas e medo.

Sentei no chão, em busca da minha bolsa. No bolso da frente, estavam meus amigos inseparáveis: a caixinha de cigarro e um isqueiro.

Fui para o banheiro, abri as janelas, sabendo que meu quarto era distante o suficiente dos outros para o cheiro não sair daquele cômodo. Sentei sobre a banheira larga e finalmente acendi um. O primeiro trago me trouxe uma paz quase que repentina enquanto a nicotina entrava em meus pulmões.

O cigarro acabou rápido demais, mas eu me sentia mais calma e controlada. Me olhei no espelho. Minha aparência estava horrível, apesar de Carlisle ter tratado meus machucados, ele disse que em uma semana o roxo sairia, e eu esperava que sim.

Sempre me achei branca demais, magra demais, baixa demais. Mas essas características agradavam aos homens, eles me elogiavam dizendo que eu parecia uma boneca perfeita.

Senti as lágrimas vindo. Eu me odiava, odiava minha aparência, e odiava meu corpo. A única coisa que eu realmente gostava em mim eram meus cabelos, longos e cacheados.

Deixei meu corpo escorregar pela parede até o chão e chorei, o que eu não fazia por um tempo.

Nem mesmo percebi quando adormeci ali mesmo, no chão frio.


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Notas finais do capítulo

Pessoalmente eu gosto muito desse capítulo, espero que vocês gostem também.
Nos vemos nos comentários ♥



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