♠ Iris Legraund ♠

— Oh, minha nossa! Que coisa terrível, ela caiu! 

Essa frase soou de uma das três garotas do barquinho, que possuía longos cabelos louros. Sua voz saíra tão dramática que parecia quase teatral. Iris percebeu que as outras duas ocupantes pareciam segurar as risadas atrás dela.

Todos se entreolhavam apreensivos. A garota que caíra do barco ainda não havia retornado. O velhote mal-humorado se encontrava diversos metros à frente, quase um ponto no horizonte (não parecia ter escutado algo sequer do incidente).

De repente, o ponto da água próximo ao barco das três garotas começou a tremer, como se algo estivesse se aproximando...

... E um tentáculo gigante irrompeu do lago, jorrando água em todas as direções, fazendo a maioria dar um pulo de susto. Iris quase se desequilibrou do lugar, observando atonitamente o tentáculo depositar uma garota de volta ao barco e mergulhar novamente para a escuridão da água.

— É a Lula Gigante! — Daniel exclamou inacreditado, com expressão embasbacada.

"Lula... O quê!?", Iris não conseguia nem pensar direito ante o susto que tivera, seu coração estava á mil. Identificou a menina que havia sido trazida de volta ao barquinho, ela era incrivelmente pequena e estava totalmente ensopada, os cabelos castanhos curtos pingando pelas vestes. Seu rosto estava completamente amedrontado com o que tinha acontecido.

— Ufa, pelo menos ela não morreu... — Iris levou a mão ao peito, aliviada. Ficou com bastante pena da menina. Não deveria ter sido uma experiência muito boa, e logo na primeira noite...

O resto do trajeto se deu sem maiores incidentes; algo decididamente bom, pois Iris já estava com os nervos à flor da pele com aquele bichano habitando o lago e a expectativa enorme de entrar no castelo aumentava a cada minuto.

Quando enfim atracaram em terra firme, o velhote já havia chegado há tempos. Fumava um cachimbo olhando para o céu desinteressadamente.

Antes de sair do barco, Iris deu uma última olhada sobre a tal Northrop, vendo que ela carregava uma expressão incomodada no rosto.

A mando do velhote, todos se juntaram e foram andando em direção a uma grande escadaria a cerca de trinta metros de distância, que dava para grandes portas.

Iris não conseguia ver muito os arredores por estar enfiada no meio daquele tanto de gente, todos tagarelando felizes da vida, o acontecimento do lago sendo totalmente esquecido...

— Você está bem, Emily? — ouviu uma garota à sua direita perguntar para a "felizarda" que caíra no lago, que tremia de frio, os braços cruzados sobre o busto.

— A-Acho que s-sim... — ela respondeu batendo os dentes, com uma cara bem tristonha.

Já próximos das escadarias e prontos para começarem a subir, uma figura que parecia estar oculta surgiu repentinamente no topo desta, a capa fazendo um movimento suave á suas costas.

Praticamente todos os alunos exclamaram em surpresa e choque, tirando Iris e cerca de duas outras pessoas, que olharam para a figura com um misto de curiosidade e impressionamento com sua presença... Sem palavra melhor: marcante.

Era um homem alto, possuía cabelos acajus que caiam charmosamente sobre o ombro, barba da mesma cor que combinava com sua estrutura óssea, olhos de um azul profundo, que destacavam muito bem o brilho da lua presente neles, os deixando com um ar misterioso. As vestes eram azuis escuras, com tiras prateadas na região do colarinho e ombros, feitas de cetim, evidenciando que foram produzidas com utensílios de qualidade.

Ele olhava para todos com um discreto sorriso, como se já estivesse esperando por eles há um tempo. Parecia ser o tipo de pessoa que exalava uma aura confiante, inteligente, que mantinha o controle de tudo e, acima de tudo, uma profunda gentileza em cada um de seus traços.

— É ele!... É ele mesmo! — Iris ouviu o sussurro sufocado de alguém logo atrás, a voz repleta de emoção.

— Uma boa noite a todos. — o homem falou, a voz saindo agradavelmente ativa. — Presumo que tenham apreciado bem a passagem pelo lago, não? — perguntou, sorrindo bondosamente.

Por praticamente todos estarem embasbacados em ver aquele homem tão de perto, conseguiram apenas assentir com intenso fascínio. Iris não pôde deixar de se impressionar com o tamanho impacto que ele causava.

— Oh, fico singelamente feliz. O Lago Negro sempre foi, em minha opinião, um dos recintos mais admiráveis em Hogwarts, especialmente se formos analisar as criaturas que nele residem. — ele virou-se para o velhote rabugento, que continuava entretido em seu cachimbo, abanando a mão levemente em frente ao rosto tentando espantar alguns mosquitos. — Agradeço sua cooperação, sr. Ogg, pode deixá-los em minhas mãos agora. — falou.

— Hum, ‘gadeço eu. — o sr. Ogg¹ respondeu de má vontade, passando pelo homem simpático e subindo as escadas.

— Pois bem! — o homem bateu as mãos energeticamente, já devia ser acostumado com a personalidade do sr. Ogg. — Permaneçam todos juntos, nos dirigiremos ao Salão Principal. Mas antes disso, devo apenas informar que me chamo Alvo Dumbledore, Vice-Diretor e professor de Transfiguração.

"Então ele é o famoso Dumbledore?", Iris se impressionou, assim como pouquíssimos outros alunos que ainda não haviam se dado conta de quem estava falando com eles.

Observando-o admiradamente, constatou que as coisas que haviam falado no trem não haviam sido nem um pouco exageradas — aquele homem realmente parecia ser diferente dos outros.

— Vamos, podem subir, — ele fez um gesto para que tomassem o caminho onde estava, e todos (um tanto bambeantes) foram subindo os lances da escadaria. Quando chegaram no topo, antes de passarem pelas portas abertas, o professor voltou os olhos curiosos para o meio do grupo. — Oh, vejo que houve um pequeno incidente... — ele andou em suas direções e todos abriram espaço, vendo-o parar diante da pequena Emily Parker.

Evidentemente o professor tinha ótimos olhos. A garota parecia ainda mais miúda com a atenção que era dirigida a ela. Emily olhou-o timidamente, as mãos ainda trêmulas entrelaçadas sobre o peito.

— Deixe-me ajudá-la...  — ele sorriu gentilmente, começando a retirar a varinha das vestes. Iris ficou na ponta dos pés, não querendo perder um único detalhe. Foi com fascínio que viu a ponta da varinha começar a sugar cada gotícula de água das roupas e cabelos da garota. As regiões ficaram evidentemente secas em um instante.

Emily olhou para si mesma com admiração, apalpando lentamente as vestes.

— M-muito obrigada... — disse num fio de voz, baixando a cabeça.

Com isso, finalmente adentraram o interior do castelo. Os olhos de Iris correram por todo o lugar. Era bem bonito, as paredes apedrejadas davam um ar "medieval", porém, de certa forma, elegante. Visualizou uma enorme escadaria a direita, e dois corredores pelas extremidades. Seguiram em frente, na direção de outras duas grandes portas que se encontravam fechadas.

— Bem — o prof. Dumbledore parou em frente às portas, seus olhos percorrendo todos os rostos ansiosos. —, sejam muito bem-vindos á Hogwarts, espero que deem uma boa olhada e usufruam desse maravilhoso lugar, pois será a segunda casa de todos vocês. Logo mais poderão entrar no Salão Principal para serem selecionados á uma das quatro formosas casas: Corvinal, Sonserina, Lufa-Lufa e Grifinória. — a maioria trocou olhares nervosos em expectativa com essa declaração. — E após isso terão o melhor jantar de suas vidas, creio que devem estar com fome... — ergueu as sobrancelhas em divertimento. — Entrarei apenas um segundo para anunciar suas chegadas e já estarei de volta para buscá-los. — notificou e deu-lhes as costas, passando pelas portas tão rapidamente que o som lá de dentro foi abafado em um instante.

Agora, sozinhos, cochichos baixos foram preenchendo o grande espaço. Em sua maioria discutiam sobre as casas que gostariam de ir, qual delas era a melhor, como seria a tal Seleção, etc..

Até o momento, Iris não havia parado para pensar com verdadeira seriedade sobre o assunto. Se essas tais casas fossem se tornar algo realmente importante na vida de cada aluno ali, pensar nas possibilidades poderia ser uma boa pedida...

Pelo o que ouvira de Henry e Mirela, a casa Sonserina enquadrava-se como os “ambiciosos”; Grifinória, os “corajosos”; Corvinal, os “inteligentes”; e Lufa-Lufa...

Bem, não lembrava se alguém comentara muita sobre essa casa em particular.

Mesmo com essas informações, ainda não parecia ser o suficiente para Iris formular uma preferência concreta...

“Não irei me preocupar com isso agora”, decidiu. Como o prof. Dumbledore mesmo notificara há pouco, havia um banquete a caminho...

... E em sua cabeça, ou melhor, em seu estômago, isso era única coisa que importava!