Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 72
Capítulo 71 — O Fim


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo, bruxinhos!!!! Nem acredito que só vai ter o Epílogo depois dele, de fato chegamos até o fim dessa jornada ♥️
Me esperem nas Notas Finais!

Boa Leitura ♥️



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Iris Legraund estava olhando distraída para as árvores recheadas de flores vermelhas e amarelas perfumadas acima de sua cabeça quando sentiu seu malão dar um tranco para trás. 

— Opa. — virou-se, tentando forçá-lo a ir adiante. Supôs que as rodinhas deviam ter se enroscado em algumas gramíneas longas que cresceram no solo durante a Primavera. 

— Deixe-me ajudá-la. — Matt Ryman deu a volta na garota e abaixou-se para ter uma melhor visão do problema. Apontou a varinha para o local. — Relaxo. — ergueu-se. — Deu certo? 

Iris conseguiu desenroscar facilmente seu malão dos pedaços de grama.

— Deu sim. Valeu. — seus olhos varreram os arredores, onde diversos alunos com roupas normais caminhavam em conjunto para a Estação de Hogsmeade. — Vamos logo. — apressou o passo, acompanhando o restante dos colegas. 

Estava muito ansiosa para voltar para casa. A saudade que sentia de seu bairro e principalmente de seus pais, a estava corroendo há dias.

Iris nem conseguia acreditar que o ano letivo havia terminado. Os últimos meses haviam passado num piscar de olhos! Era quase surreal acreditar que finalmente estava voltando para seu lar (embora, às vezes, sentisse como se estivesse deixando o seu verdadeiro lar, na realidade). 

O último jantar do ano letivo na noite anterior havia sido bem emocionante — até mesmo para si, que não era de chorar muito. 

Após desfrutarem de uma refeição digna de ser servida para a mais nova rainha a ascender o trono no Reino Unido, Elizabeth II, o diretor Dippet pediu a atenção de todos e anunciou a casa vencedora da Taça das Casas.

Obviamente, não foi segredo para ninguém o fato de a Grifinória ter vencido (as decorações vermelhas e amarelas exibindo o símbolo de leão por todo a Salão Principal até que davam uma “leve” ideia...), contudo, mesmo assim, a farra foi total na mesa dos corajosos. 

Após todos se acalmarem, o prof. Dumbledore se levantou e anunciou que havia uma surpresa guardada para o final do jantar. Na mesma hora, os alunos do coral se dirigiram para frente e as portas do salão se abriram, adentrando todos os sapos do castelo. 

— Acho que todos concordamos que o mínimo que podemos fazer pelo digno sacrifício de Grufus é uma homenagem a sua... — pareceu que o professor quase falara “pessoa”, mas conseguiu achar algo melhor: — Espécie, digamos assim. Sei que o coral só se apresenta no início do ano, mas nossos gentis coralistas se prontificaram para atender a esse valoroso pedido. 

Com isso, cada aluno, carregando um sapo nos braços, pôs-se a cantar. Os sapos também acompanhavam, porém, em tom taciturno. Iris não soube dizer ao certo, mas eles pareciam um pouco melancólicos e sem muita energia — um contraste do que vira na noite de Natal.

Talvez eles sentissem falta de sua melhor estrela...

Aquela fora a primeira vez que Iris achou, de fato, o canto dos sapos realmente belo

Voltou ao presente com a imagem da estação a cerca de 100 metros. Era uma manhã gloriosa de Verão, com brisas frescas carregadas de aromas silvestres e de flores perfumadas. Um sol brilhante os iluminava, tornando a visão harmoniosa. 

Virou-se para Matt ao seu lado. 

— Onde estávamos mesmo? — retornou ao assunto que haviam pausado há alguns minutos. 

O garoto olhou para o céu. 

— Você estava me interrogando sobre as “moscas misteriosas” do Billy. 

— Ah, sim! — balançou a cabeça. Estava realmente desatenta. — Bem, eu não estou te interrogando pra valer. Somente quero saber como aquilo aconteceu. E por favor, não se faça mais de desentendido. 

— Aquilo o quê? — ele franziu o cenho.

— Ryman, larga de ser um chato! — olhou-o feio, impaciente.  

— Está bem, está bem... — ele suspirou, derrotado. — Você bem que podia fingir que nada daquilo aconteceu... Não é uma coisa que me diz respeito, entende? — lançou-lhe um olhar mal-humorado. 

— Eu juro que não sairei espalhando por aí. — prometeu. 

Matt não parecia convencido. 

— Não sei não... Vocês garotas adoram fofocar entre si. 

Iris fez-se de ofendida. 

— Desculpe, mas acho que está me confundindo com Suzanne ou Zoe. Não sou igual a elas. Não vou sair gritando para céus e terra o segredo do Sánchez.

Ele olhou-a de canto, uma sobrancelha arqueada. 

— Nem mesmo para a Northrop? 

Iris hesitou. Garoto esperto... Ele havia a encurralado. 

— Err... Bem... — inclinou o rosto, desviando os olhos para os campos de lírios no horizonte. Estavam quase na estação agora. — Sabe que Louisa e eu somos bem próximas, então... — sua voz saiu extremamente sem-graça. 

Matt abriu um sorriso zombeteiro; contudo, sua fala foi parcialmente compassiva:

— Não tem problema contar para ela. — deu de ombros. — A Northrop é uma garota bem reservada. 

Iris ficou aliviada. Gostou de ter recebido a carta branca. Esconder coisas normalmente não era o seu forte, principalmente tratando-se de sua melhor amiga. 

Finalmente chegaram no trem, que havia acabado de ter suas portas abertas para a entrada dos alunos. Iris e Matt ficaram um pouco para trás, longe dos ouvidos alheios. Encostaram suas bagagens numas rochas altas perto dos trilhos. 

— Pois bem, vou ser breve. — Iris prestou o máximo de atenção no garoto. — Billy possui digamos... Um tipo de poder sobre as moscas. É por isso que elas sempre o rodeiam. Sentem como se ele fosse o verdadeiro “mestre” delas. 

— É um tipo de “moscas-bruxas”? — Iris ficou confusa. 

Matt fez uma expressão risonha. 

— “Moscas-bruxas”? Francamente, Legraund, você fala coisas muito esquisitas às vezes. E não, respondendo sua pergunta: qualquer mosca pode servir, contanto que receba uma “ordem”. — ele fez aspas. — Como já deve ter reparado, Billy as detesta. Por isso comprou um sapo antes das aulas começarem. Ele tinha esperanças de que assim ficaria mais livre delas... — ele meneou a cabeça. — Eu particularmente acho um poder incrível. 

Iris estava estupefata. 

— Mas como isso é possível? — sua voz saiu com intensa admiração e incredulidade. Nunca havia escutado algo assim. — Como ele consegue fazer isso? 

Matt esfregou a nuca. 

— Bem... Eu não sei todos os detalhes, mas isso sempre aconteceu desde que o conheci. Billy chama de “A Maldição dos Sánchez”. A família dele é da América Latina. Pelo que sei, todos os membros controlavam alguma coisa.

— Todos?! — Iris ficou boquiaberta.

Matt parecia estar se animando com as reações da garota. 

— Aham, é bem legal. — abriu um largo sorriso. — É uma ótima vantagem, sabe, principalmente para espionar coisas ou pessoas. Mesmo que estejamos separados, Billy sempre pode me enviar mensagens pelas moscas. A tia dele consegue...

— Não, não fale. — Iris o brecou. Lançou-lhe um olhar significativo. — O próprio Sánchez pode me contar quando se recuperar totalmente no hospital. — sorriu levemente.

Matt pareceu gostar de suas palavras. 

— Com certeza ele irá. — o olhar dele estava perdido nas pessoas que começavam a embarcar. — Soube que ele já está recebendo o antídoto. Parece que está mais eficaz agora. — seus olhos verdes tinham um brilho confiante. — Vai dar certo. 

— Com certeza vai. — Iris assentiu. 

Não soube dizer em detalhes o sentimento que instalou-se entre ambos depois daquilo. Só soube que sentiu-se muito bem. 

Iris até tinha uma ideia do que aquilo significava, pois já tinha sentido algo igual naquele ano por outra pessoa: Louisa

Algo lhe dizia que esse momento em particular foi o marco para uma amizade sincera que se iniciava entre os dois. 

Uma brisa forte os atingiu, tão forte que os cabelos de Iris esvoaçaram para várias direções e sua coruja, Perry, assustou-se dentro da gaiola, começando a ter uma mini-crise de piados. 

— Shhh, fique calmo, garoto... — tentou acalmar sua coruja ao mesmo tempo em que lutava contra suas mechas avermelhadas, que iam em seu rosto insistentemente. 

Com o canto dos olhos, viu que o olhar do Ryman estava perdido em seus cabelos rebeldes. 

“Que maravilha..., pensou, frustrada. Após Perry se acalmar, voltou-se para o garoto, que ainda a observava alisar os fios, pondo-os no lugar. Contra sua vontade, lembrou-se do que aquela vaca dissera na Torre de Hera: 

“Olhem esse cabelo de cenoura! Horrível!”

Não pôde deixar de sentir-se acabrunhada. Será que ele estaria pensando a mesma coisa?...

Fazia muito tempo que Iris não se preocupava com uma coisa superficial dessas: a cor de seu cabelo. Contudo... Desde o comentário daquela vaca (no sentido ofensivo e literal), viu-se se preocupando com esse detalhe. 

Quando os olhos de Matt desceram para seu rosto, e Iris sentiu que um comentário estava por vir, só pôde torcer internamente: “Fale sobre outra coisafale sobre outra coisaqualquer coisa...”. 

— Sabe... — o Ryman tinha uma expressão pensativa enquanto a olhava. — Não sei se você lembra, mas... Naquele dia em que eu falei que seu cabelo só nos atrapalharia por chamar atenção... — Iris sentiu uma fisgada no peito, apenas esperando pela bomba. Matt levou a mão a nuca um pouco sem jeito. — Eu me referi a beleza dele. 

A expressão de súbita surpresa no rosto de Iris devia ter ficado tão evidente que o garoto logo pôs-se a se explicar, talvez um pouco arrependido de ter falado aquilo. 

— Err... Quero dizer, eu acho a cor bem atraente, mas não é como se eu estivesse dizendo que não achava antes, na verdade eu sempre achei interessante... Não interessante do tipo que tem que ser analisado por alquimistas ou algo assim, você está entendendo?  

Ele estava completamente perdido nas palavras, tentando consertar um mal-entendido inexistente na visão de Iris. 

Ela nem mesmo estava ouvindo o que ele falava; havia ficado tão surpresa com o elogio (que com toda certeza não estava esperando) que parecia uma completa tola, encarando-o e piscando sem saber o que dizer. 

O apito do trem a fez acordar para a vida. Olhou para a direita, vendo que todos já haviam embarcado, faltando apenas os dois. 

Alarmou-se quando deu-se conta de que ficaria sem um lugar para se sentar no trem. 

— Cruzes! Vamos logo ou irão nos deixar aqui! — segurou seu malão com força, sem deixar a gaiola escorregar. 

Correram até o trem. Colocaram as bagagens na porta de entrada e subiram em seguida. Matt parecia estar imensamente aliviado pelo assunto de antes ter sido brecado repentinamente.

Ele virou-se para Iris quando as portas se fecharam. 

— Nos vemos daqui uns meses, Legraund. — acenou, abrindo um sorriso arteiro. — Espero que sua temporada com os trouxas a tornem um pouco mais “refinada”. Boas férias! 

Iris nem bem conseguiu responder, apenas o observou se afastar, certamente indo procurar o vagão que Setrus e Derek ocupavam. 

Balançou a cabeça, espantando dos pensamentos a conversa de antes. Aquilo tudo foi uma baboseira... 

... Entretanto, não conseguia entender a sensação de quentura nas faces enquanto vagava em busca de uma cabine vazia... 

Certamente o responsável fora o sol forte de Verão...

É claro que só poderia ser isso.  

 

(...)

 

— Cabine ocupada?

Louisa virou-se, dando de cara com o sorriso brincalhão de Iris. A garota expunha apenas a cabeça entre a abertura da porta.

Louisa conseguiu sorrir. Pelo jeito fora ilusão pensar que viajaria sozinha...

— Agora está. — indicou o banco vazio à frente. Iris alegrou-se, já adentrando o espaço e chutando a própria mala para debaixo dos assentos.

Após a ruiva se acomodar (ajeitando os volumosos cabelos, de modo que eles não cobrissem seu campo de visão) ela relaxou o corpo para trás, fechando os olhos.

— Ai, ai... — ela suspirou, completamente em paz. — Não vejo a hora de chegar em casa... Ainda mais que minha mãe finalmente está querendo me levar ao cinema. Sabe, há um filme que todos estão falando. Um tal de “Cinderela”.

Louisa sorriu um tanto nervosa. Embora houvesse prestado atenção, não conseguira entender bulhufas do que Iris estava dizendo. 

A outra — certamente se tocando desse fato — arqueou os olhos.

— Ah é, você não sabe... — abriu um grandessíssimo sorriso por ter algum assunto do qual comentar. — Não se preocupe, irei explicar para você.

Sendo assim, Louisa passou os próximos minutos ouvindo Iris explicar sobre os tais “cinemas” — um local onde aparentemente as pessoas iam ver outras pessoas atuando por meio de uma tela — e os tais “contos-de-fadas”, que Iris confidenciou que as mães viviam lendo para os filhos dormir.

— Mas parece magia! — Louisa não pôde deixar de se impressionar com as novas modernidades trouxas. — Como vocês conseguiram criar essa tal de “tevelisor?”

— Televisão. — Iris corrigiu, bem-humorada. — E sabe, não é todo “trouxa” que é um gênio para ficar inventando coisas novas. Isso só foi possível através de muito estudo de pessoas especializadas. E teve a ver com toda uma questão de tecnologia e essas coisas.

Iris continuou com as interessantíssimas explicações, enquanto Louisa apenas assentia, concentrada. 

Realmente era uma cena meio icônica, considerando que geralmente era Louisa a assumir o papel de “professora”.

E o fato de Iris parecer estranhamente mais leve e tranquila não passou despercebido também. Talvez algo tivesse acontecido... Louisa gostava quando ela estava mais “explosiva”, contudo, era bom vê-la daquela maneira.

Quando, enfim, o “assunto-trouxa” terminou — Iris desistira de fazê-la entender o que realmente significava o termo “eletricidade” depois de Louisa sugerir que alguém devia ter amaldiçoado as invenções trouxas —, houve um barulho do lado de fora, logo seguido de um grito lamentador:

— Não!... Esses doces eram pra minha mãe!

Sorrateiramente Iris pôs-se a afastar a porta para o lado, visando ver a fonte da encrenca. Louisa iria acompanhá-la; contudo, não foi mais preciso: reconhecera na mesma hora quem estava envolvido.

— Oras, mas se eles queriam “dar uma voadinha” para fora do trem, quem somos nós para opinar? — a voz de Victor Black soava debochada e provocativa. — E pense, pode ser um sinal do destino: e se aqueles doces estivessem envenenados?

— Mas...

— Pare de perder tempo com esse idiota, Victor. A criança precisa de um tempo para choramingar feito um bebê.

Risadinhas maldosas foram-se escutadas com a frase agora vinda de August Lestrange.

Louisa balançou a cabeça. Sempre podia-se contar com as inconvenientes humilhações de August também...

— Feche, Iris. — pediu. Não queria vê-los naquele momento.

Iris devia ter percebido isso, pois não fez objeções. Voltou para o assento, assoviando longamente.

— Que babacas. — comentou um tanto impressionada. — Se fosse comigo...

— Tudo o que se pode fazer é ignorar. — suspirou, cansada. — Sempre foi assim.

Enquanto pensava com amargor nos dois garotos, Louisa mal percebera o olhar atento de Iris sobre seu rosto.

— ... E então? — a ruiva tinha as sobrancelhas arqueadas. Parecia esperar Louisa dizer algo. — Vai me dizer o que está acontecendo?

Permaneceu calada por um tempo.

— Sobre o quê?

— Não me enrole, Louisa. — Iris revirou os olhos, respirando fundo. — Passei o ano inteiro observando sua relação com esses dois. — referiu-se a Victor e August. — O que há entre vocês?

Louisa estava pronta para negar. Iria mudar de assunto, comentar sobre o clima ou o tempo de viagem. Qualquer coisa que não a obrigasse a responder sobre aquele assunto.

Contudo, foi o olhar de Iris que lhe travou. Pois enxergava nele a esperança que a amiga possuía de Louisa finalmente confiar e se abrir para ela.

Lembrou-se da ocasião em que Iris lhe contara sobre seu amigo assassinado, Charlie. Ela havia sido muito corajosa em revelar aquilo, e parecia que fora uma libertação para Iris fazer tal coisa...

Desviou o olhar, nervosamente. Mas como dizer...?

— Bem... — apertou as mãos, que começaram a suar. — É que...

— Você os conhece há muito tempo? — Iris arriscou começar o dialeto, parecendo aliviada por Louisa não ter barrado o assunto.

Mesmo bastante incomodada, Louisa meneou com a cabeça.

— Desde o berço, na verdade.

Iris tentou disfarçar a surpresa.

— Ah... Bem, continue. — fez um gesto incentivador.

Louisa respirou fundo, ganhando coragem. Resolveu esquecer a dúvida e terminar logo com aquilo.

— Sempre convivi com eles. Nossas famílias são muito amigas. Contudo, o mesmo não pode-se dizer em relação a mim e a eles...

Deixou as costas irem de encontro ao assento, perdendo-se em memórias exaustivas.

— August nunca gostou de mim. Não faço ideia do porquê. — admitiu. — Só sei que o ódio dele sempre esteve concentrado sobre mim, havendo até situações em que...

Parou, se repreendendo. Daquilo realmente não devia falar.

— Enfim, sempre tivemos problemas. Victor... — fez uma careta mínima. — Bom, não sei o que se passa pela cabeça dele. Entretanto, é um dos que mais consigo me comunicar sem grandes intrigas. Na verdade, é com a família dele com quem possuo maiores problemas.

Sobre o olhar fixo de Iris, finalmente acomodou-se em relatar a parte a seguir.

Engoliu em seco.

— Você certamente já deve ter ouvido falar sobre o fato de as famílias sangues-puros estarem todas interligadas...

— Não... — Iris franziu o cenho, confusa. — Interligadas? É sério? — Louisa assentiu. — Então tanto você quanto pessoas como o Black, Hevensmith, Lestrange... São todos parentes? — o queixo da menina caiu.

Aquilo seria complicado…

— ... Digamos que sim. — encarou o teto. — Mas não tão próximos... Eu diria que somos mais como “primos-distantes” um do outro. As árvores genealógicas são sempre uma bagunça. — encolheu os ombros.

— Certo... — Iris ainda apresentava sinais encucados. — Mas o que isso tem a ver com seu problema com o Black e o Lestrange?

Suspirou. Era melhor explicar tudo o mais direto possível.

— O caso é: mesmo que todos nós, sangues-puros, possuamos laços, os da minha família e os da deles são extremamente antigos. — contou. — E isso fez com que as famílias deles começassem a pensar em “firmá-los”.

Iris pareceu compreender.

— Quer dizer que...

— A irmã de Victor quem deu a ideia. — sentiu uma grande infelicidade ao rememorar a ocasião. — Walburga Black... Ela é terrível. — confidenciou. — Sempre colocando o bedelho na vida de todo mundo. Nem mesmo os irmãos a suportam.

“Toda essa história caiu sobre minha cabeça há quase dois anos, quando eu e meus pais fomos convidados para um jantar com os Black. Não estranhei ver August por lá, pois ele sempre foi um dos melhores amigos de Victor, além de as famílias serem bem unidas”.

Louisa prensou os lábios.

— Foi durante a sobremesa. Estava conversando alguma coisa com Victor quando Walburga de repente se levantou. Na hora, cogitei que ela finalmente explicaria o motivo de ter reunido as famílias naquela noite. Mas nunca desconfiei que teria alguma coisa a ver comigo. Então ela começou a discursar, dizendo o quanto era importante que a linhagem de todos continuasse puríssima, e outras coisas...

Baixou o olhar para as mãos, sentindo-se impotente. Apertou a barra do vestido.

— Foi horrível, Iris... — conseguiu dizer, trêmula. — Ela praticamente apontou para Victor e August, e disse: “Escolha um”. Não querendo crer no que estava acontecendo ali, tentei dar uma de lesada, alegando que não tinha entendido. Então ela apenas revirou os olhos e respondeu: “Oras, para noivar, é claro.”

Suas memórias viajaram para a cena. Lembrava-se nitidamente de ter empalidecido por completo, ao mesmo tempo em que Victor se engasgou com a própria bebida. Apenas August permaneceu com a expressão endurecida, confirmando para Louisa que ele já devia saber as intenções por trás daquele jantar. 

Buscou espantar aquelas lembranças imediatamente. 

— Perdi todo o controle do meu corpo. Me levantei e corri para fora dali. Estava em prantos. Mesmo com todas as palavras consoladoras da minha mãe, que havia me seguido, me recusei a voltar para a mesa de jantar. Não podia... Eu... — se embolou. — Eu não tinha o que falar.

Iris acenou lentamente. Parecia estar sem palavras.

— Louisa...

— Eu realmente não entendo... — a garota se perguntou, agitada. — Por que sempre eu? Poderia ser com qualquer outra! Charlotte, Justine... Elas nunca teriam reclamado! Mas Walburga... Ela sempre teve uma cisma comigo. Sempre corrigindo meus costumes com ironia, mas nunca me afastando. Como se me quisesse por perto...

— Acalme-se, Louisa — Iris ergueu as mãos, cautelosa. — , mas deu tudo certo, não deu? — indagou. — Você se livrou dessa, né?

Louisa buscou respirar mais calma, refletindo. 

É, realmente dera tudo certo. Mais tarde, recusara a proposta por meio de uma carta. Sabia que essa atitude causaria um pequeno ressentimento na família Black e Lestrange a seu respeito, mas não se importou.

— Sim... — pensou com mais calma. — Isso já foi resolvido...

Iris pareceu aliviar-se, mas logo assumiu uma expressão confusa.

— Mas se foi tudo resolvido... — começou lentamente. — Por que, então, você ficou com tanta repulsa do Black e Lestrange esse ano?

A pergunta lhe incomodou.

— Entenda, eu não estava com repulsa deles quando cheguei em Hogwarts. Na verdade estava tudo normal. É que... — mordeu os lábios. — Na vez em que escutamos eles falando sobre isso no Corujal... Não sei. — olhou-a. — Foi como se toda aquela sensação ruim tivesse voltado. Entende?

Iris foi assentindo lentamente em concordância, até seus movimentos de cabeça começarem a apresentar negatividade.

— Hã, na verdade, não. Não entendo. — remexeu-se, abrindo um sorriso nervoso. — Mas que coisa, não? Essa situação de casamento... — refletiu. — Quero dizer, com certeza daria um casal bonito na foto, mas o livre arbítrio que conta.

Louisa deu uma rápida olhada pela janela, captando um pedaço do lago ao longe. O céu estava sem nuvens, a imensidão azul estendendo-se harmoniosamente.

Sua hipótese estava certa. Realmente sentia que pesos de chumbo tinham sido retirados de seus pés. A tranquilidade começou a acobertar seu medo daquela pavorosa situação na qual foi submetida há quase dois anos.

Se esse é o sentimento pósdesabafoqueria ter sido avisada antes...”, levantou as sobrancelhas.

Aprumou o corpo, relaxando os ombros. A sensação de leveza era libertadora.

Resolveu mudar de assunto.

— Sabe, eu acharia melhor você passar em algum hospital-trouxa depois que voltar para casa. — recomendou seriamente. — Seu desafio com aquelas vacas... Ele realmente não deve ter sido normal.

Iris fez um gesto de descaso. Louisa não entendia como ela podia estar tão serena. 

Havia tido conhecimento do romã que Iris foi submetida a degustar e sobre a suposta “infertilidade” que ele carregava, caso se tratasse do errado.

— Estou tranquila. — Iris cruzou as pernas. — E não é como se aquela baboseira toda fosse verdade. Os deuses nem existem. — deu de ombros.

— Hum, não sei não. — Louisa levou a mão ao queixo. — Apenas me preocupo com o seu futuro, sabe? É capaz de você não conseguir casar...

— Acho que já ouvi muito sobre casamento em um único dia. — Iris cortou-lhe, sorrindo cansada. — E não pensarei muito sobre isso. O que tiver que ser, será.

Louisa ficou impressionada. Que filosófico...

Num lapso de memória, acabou lembrando-se de outro assunto intrigante.

— Ah, quase esqueci de contar a você...

Já que estavam falando das torres, contou sobre o que aconteceu ao final de seu próprio desafio na Torre de Febo, e sobre como achou interessante os versos que surgiram na superfície da parede acima da lareira.

Recitou-os a ela. 

— Hum... — Iris inclinou-se, pensando com atenção. — Nossa. Analisando essa espécie de “profecia”, até que as peças fazem bastante sentido.

Louisa bambeou a cabeça.

— No que pensou?

A ruiva descruzou os braços, levantando o indicador. 

— Vejamos o primeiro verso: “O mistério do Cristal Maldito será desintrincado”, que significa “resolvido”. Ele realmente foi, não?

A compreensão atingiu Louisa. 

— Realmente... — buscou analisar outros pontos. — E quanto ao segundo... “O traidor irá perecer”... Refere-se ao prof. Marshall e sua derrota.

Iris mordeu o mindinho. Estavam chegando a algum lugar...

— Quanto ao: “O mascote de falsa purezaincisado”.

Arregalaram os olhos, gritando em uníssono:

— Conan!

Louisa pressionou as têmporas. Sentia como se estivesse resolvendo o enigma do século!

— O último verso agora: “Todaviaa mente mestra THA THRIAMVÉFSEI...

Iris fez uma careta duvidosa, desapontada por ter tido seu raciocínio brecado.

— Hum... Não entendi essa última parte. — admitiu, continuando com nítida incerteza. — Mas não sei se gostei desse “Todavia”... Palavras adversativas tendem a ser um pé no saco.

Preocupou-se. Iris não estava de toda forma errada.

Contudo, ainda não sabiam o significado das palavras finais…

Por isso resolveram por esquecer e aproveitar as últimas horas juntas. Iris assegurou-lhe que no próximo ano traria uma penca de jogos e livros trouxas para trocarem — em especial, lhe ensinaria um tal de “Jogo-da-velha”, no que afirmou ser invencível. 

Louisa apenas achou curioso o fato de uma velha ter feito um jogo dela própria... Achava que adultos não gostassem de brincar.

Mas trouxa é trouxa.

Contudo, aquilo não deixava de ser incrível. Para quem achou que passaria o ano inteiro sem sorrir, aquilo estava sendo uma benção para Louisa. Lembrando-se de si mesma meses antes, recriminou-se por ter pensado de maneira tão pessimista.

“Porqueagoraestá tudo bem”, sorriu.

(...)

— Mamãepapai!

Nem bem se despediu de Iris e foi correndo de encontro aos dois, entregando-se a um forte e aconchegante abraço.

A alegria do casal não poderia ser maior ao averiguarem o rosto sorridente da filha.

Um sorriso luminoso e emocionado cresceu no delicado rosto de sua mãe. 

— Eu lhe falei, não falei? — sussurrou em seu ouvido com animação. — É praticamente impossível ir para Hogwarts e não gostar.

— Presumo que a volta de nossa amada filha nos pede uma comemoração! — seu pai alinhou a estatura, confiante. — O que acham de um belo jantar fora?

As duas concordaram animadamente.

Louisa espiou uma última vez o trem, já sentindo-se revitalizada para seu próximo ano letivo...

... Mas isso iria esperar.

Quando o trio Northrop estava prestes a atravessar a plataforma, de repente a menina puxou a manga do pai.

— Papai. — chamou-o ansiosa. Mesmo que houvesse combinado com Iris de esquecer o verso final da profecia, não conseguiu evitar de perguntar. — O que significa “Tha Thriamvépsei”?

Ele parou, colocando a mão no queixo e abrindo um sorriso saudoso.

— Isso é grego, não? — ela assentiu, esperançosa de ouvir a resposta. — Bem, acho que soaria como...

No minuto seguinte, Louisa já não tinha mais certeza se queria ter escutado.

— ... Triunfará.


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Notas finais do capítulo

Tivemos muuuita coisa nesse último capítulo, mas, de mais importante: descobrimos finalmente o segredo da Louisa e o mistério sobre as moscas do Billy! E quanto a profecia... O que vocês acharam do verso final?

Nem acredito que chegamos ao fim, pessoal, foi mais de um ano inteiro postando essa fanfic, mas todo o esforço foi recompensador no final. Agradeço a todos que comentaram, favoritaram e leram a obra, eu e a Sahh esperamos que tenham gostado! Agradecemos em especial ao SuperFã, que acompanhou a obra desde o início e sempre nos presenteou com seus comentários INCRÍVEIS! Obrigada, de verdade ♥️

Mas não vão indo embora não! O Epílogo será postado AMANHÃ msm, e será, DE LONGE, o capítulo mais importante de todos! Aguentem mais um pouquinho kkkkk

Bem, obrigada a todos e até o próximo (e último) capítulo. Bjs!

Malfeito, feito. Nox.



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