Hogwarts e o Mistério do Cristal Maldito — Vol 1 escrita por Linesahh


Capítulo 6
Capítulo 5 — Início de Uma Nova Vida


Notas iniciais do capítulo

Olá, bruxinhos e bruxinhas do meus coração ♥
Como prometido, o segundo capítulo de sábado! Aproveitem!



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 ♠ Iris Legraund 

 

O ar estava repleto de uma sensação extremamente nova e indecifrável de se explicar. Uma mistura de mistério, empolgação e frio no estômago circundavam cada canto de seu ser, como se o que estivesse vivenciando ainda fosse completamente surreal.

E, por vezes, lhe parecia que sua ficha ainda não havia caído.

Seus olhos se voltaram novamente para a janela aberta de seu vagão: visualizou aquele céu tão imenso e azul, as paisagens maravilhosas por onde passavam, assim como o ar fresco e puro que a deixava extasiada...

E, principalmente, aquela sensação de "magia" no ar que tornava tudo ainda mais maravilhoso...

Histórias de contos de fadas nunca foram muito levadas a sério na visão de Iris Legraund. Era sempre aquela mesma coisa: personagens vivendo uma grande aventura, repleta de segredos e emoções, possuindo na maioria das vezes ajuda de animais falantes, flores que cantam e dançam, a força da natureza mítica sempre agindo a seus favores, realizando maravilhas impossíveis de serem feitas na vida real...

... E ali estava ela. Vivendo o que achou que nunca, em hipótese alguma, existisse.

"Uma bruxa...", balançou a cabeça, fechando os olhos por um momento, como se testasse as palavras para enfim crer realmente nelas. Tinha de fazer isso diversas vezes ao dia, temendo que tudo o que havia passado no último mês tivesse o risco de não ser real. "Eu sou uma bruxa."

Sem poder se conter, sentiu o sorriso ir se alongando em seu rosto conforme escutava o som dos trilhos sendo deixados para trás e o incessante barulho de vozes empolgadas vindas das outras cabines.

A felicidade transbordava em cada poro de seu corpo, como ocorria com cada vez mais frequência desde o momento em que embarcara no Expresso de Hogwarts há poucas horas, e finalmente tomava o caminho da tão esperada e desejada aventura que estivera necessitando desesperadamente...

— Já estamos chegando? — Iris virou-se ansiosa e um pouco eletrizada para um de seus companheiros de cabine, deixando toda a sua empolgação e impaciência transbordar por suas palavras. — Ah! Está demorando muito... — balançava suas pernas agitadamente, buscando extravasar um pouco de energia.

— ... Já é a sexta vez que pergunta isso em apenas meia hora. — o garoto respondeu cansado. — Acalme-se, guarde toda essa animação para a hora que chegarmos... — voltou-se para um panfleto que lia com atenção. — Vai demorar um pouco ainda, estaremos lá no início da noite.

Iris suspirou como se aquilo fosse uma sentença de morte, mas aceitou mesmo assim; afinal, a espera só intensificaria ainda mais aquela coisa deliciosa que era explorar novas experiências ou, no seu caso, um novo mundo.

— Espero que passe logo, então... — murmurou.

— A viagem é sempre um pouco tediosa. — a garota a frente deu uma piscadela. — Mas sempre vale a pena por Hogwarts. É o lugar mais incrível do mundo! — ela sorriu com expressão saudosa enquanto enfileirava algumas espécies de penas açucaradas acima de seu malão.

Iris ficou um tempo observando-as. Aparentemente eram um tipo de doce do mundo bruxo, e a garota tinha um monte delas na mala. Ela ofereceu aos outros ocupantes do vagão, e Iris adorou o sabor diferente que possuíam — davam a sensação de ter fogos de artifício explodindo dentro da boca.

Aparentemente era o segundo ano que Mirela Allen estaria fazendo em Hogwarts, então ela já tinha bastante experiências para relatar de seu ano anterior.

Iris perguntara diversas coisas a ela, assim como para Henry Durrel (o garoto ao lado) também. Contudo, Mirela parecia gostar de manter o "suspense", dizendo que teriam a melhor impressão se não soubessem de nada.

... Incluindo principalmente Iris, que era uma completa ignorante do mundo bruxo.

— Conte melhor essa coisa das Casas. — pediu extremamente curiosa. Havia buscado em livros todas as informações que pudesse obter de Hogwarts: como era esteticamente, regras, acontecimentos históricos, modos de conduta, etc... Mas sabia que nada daquilo era comparável a ver tudo cara a cara. — Sei que são quatro, mas para o que elas servem exatamente?

— Elas distribuem os recém-chegados para a Casa que apresenta, na maioria das vezes, uma semelhança com suas personalidades e caráter. — Henry respondeu. — Contudo, nem sempre é totalmente "verídico", sabe. Por exemplo, sempre ouvimos aquelas histórias de que "quem vai para Sonserina é uma má pessoa" ou "um Corvinal sempre será inteligentíssimo"; mas nem sempre é assim.

— Isso é verdade. — Mirela concordou com a cabeça, continuando com seu passatempo de empilhar seus doces. — Tem cada lesado da Corvinal que me deixa até chocada. — levantou as sobrancelhas. — Mas admito também que tem uns covardões na Grifinória que destroem o termo de "corajosos" que minha casa possui... — ela destacou o símbolo de leão costurado nas vestes com tiras vermelhas e douradas.

— Nós mesmos escolhemos para que Casa vamos? — Iris mordeu os lábios, ansiosa. Aquilo tudo estava sendo mais complexo do que pensou que seria... Não chegava nem perto de todas as escolas que já tinha estudado em sua vida...

E detalhe: não foram poucas.

Henry nem bem abriu a boca para responder, quando fora cortado pela mais velha:

— Não fale se já sabe! — Mirela levou o dedo aos lábios. — Deixe-a descobrir sozinha.

— Ah, assim não vale... — Iris reclamou, fazendo bico. Aquela menina gostava realmente de deixá-la com a curiosidade às alturas.

— Bem, que seja. — Henry guardou o panfleto no bolso do casaco, olhando para fora com expectativa, os aros de seus óculos brilhando com a luz do sol. — O que mais desejo é adquirir todo conhecimento possível que Hogwarts tenha a nos oferecer. E ainda mais contando com os professores eficientes que têm por lá... — esfregou as mãos.

Mirela ergueu uma sobrancelha.

— Deve com certeza estar se referindo especificamente a um bruxo, não? — um sorriso divertido brotou em seu lábios.

Henry fez expressão óbvia.

— É claro que sim! Todos deveriam chorar de felicidade em ter um dos professores mais incríveis e admiráveis de todo o mundo: Alvo Dumbledore é o modelo de bruxo mais perfeito e fantástico da face da terra!

Aquela havia sido a primeira vez Iris o viu falar com verdadeira empolgação desde o começo da viagem, o que a fez se surpreender, pois Henry passara a maior parte do tempo lendo alguma coisa enquanto ela fazia perguntas e mais perguntas sobre o mundo da magia...

... Desconfiava que talvez aquilo o tivesse desgastado um pouco.

— Bem, não posso discordar nem uma vírgula sequer. — Mirela acenou seriamente, sua expressão tomando o ar de admiração completa. — Realmente o que diziam sobre ele é tudo e mais um pouco, se é que me entendem. O prof. Dumbledore é uma pessoa espetacular, tanto no caráter quanto nas habilidades. — os outros ocupantes do vagão assentiram fervorosamente.

Iris franziu um pouco o cenho. "Alvo Dumbledore...", o nome bem que não lhe era estranho... Até que se lembrou de onde o tinha visto.

— Foi ele quem mandou a carta anunciando a vaga de cada estudante, não? Dizia que ele é o Vice-Diretor se não me engano... — colocou a mão sobre o queixo.

Henry acenou afirmativamente. — É ele mesmo! E com certeza será o próximo diretor, o melhor de todos! Dizem até mesmo que ele está em processo de treinamento para isso.

— E tudo indica que possa estar próximo, pois o diretor Dippet está cada vez mais perto de se aposentar... Nem ouvir direito aquele velhote ouve. — um outro garoto da cabine, que havia se mantido quieto até o momento, se intrometeu, expondo seu comentário com ironia.

— O mandato do diretor Dippet é um dos mais bem elogiados. — Mirela respondeu com uma nota de censura. — É verdade que nas primeiras décadas ele comandou a escola com um tanto de rigidez exagerada, mas ele preza muito a disciplina. — explicou. — De toda forma, o lado bom é que com o prof. Dumbledore tomando as rédeas com cada vez mais frequência, considerando que o diretor está sendo pego pela velhice, todos aqueles castigos extremos estão perdendo sua força.

Iris levantou as sobrancelhas, impressionada. Da maneira que falavam desse tal homem, parecia que ele era algum tipo de divindade que todos queriam admirar e elogiar.

— ... Mas o que ele fez de tão importante? — aos olhares se virarem para ela, Iris sentiu-se por um segundo constrangida ante sua ignorância.

— Ah é, esqueci que você não sabe... — Henry fez uma careta, parecendo ficar quase como ofendido. — Como é um desperdício os trouxas não terem conhecimento de um homem de tamanha magnitude... — ele balançou a cabeça negativamente, logo voltando-se para a indagação da garota. — Bem, tirando todos os prêmios de descobertas que ele fez, além das incríveis ideias e magias inventadas por ele mesmo, seu maior feito foi há cerca de seis anos... — ele fez uma pausa dramática, como se as próximas palavras fossem de suma importância. — Derrotou Gellert Grindelwald¹, o bruxo das trevas mais poderoso de todo o século! Dizem que a batalha tremeu céus e terras, oh, como daria tudo para ter visto! — falou lamentosamente.

— Com cinco anos de idade, acho difícil lembrar de alguma coisa. — Mirela retrucou, zombeteira. — Mas dizem que foi uma batalha e tanto. E graças à Dumbledore pudemos viver em paz novamente, tanto no lado de cá, quanto no lado de lá. — ela indicou Iris, referindo-se ao mundo trouxa.

— Uau... — foi tudo que pôde dizer. Dessa forma, Iris ficava até mesmo ansiosa para conhecer esse bruxo que todos respeitavam tanto...

Contudo, sua mente logo começou a trabalhar. Esse relato que acabara de ouvir explicava muita coisa... Muita mesmo. Considerando o ano em que se passou a derrota desse tal cara do mal, a "Grande Guerra"² havia tido seu fim igualmente na mesma época.

Iris não gostava de relembrar sobre a terrível guerra que ocorrera anos atrás. Havia sido um tempo frio e maquiavélico, que tirara toda a cor e felicidade que o mundo tinha aos olhos das pessoas...

... Principalmente nos de Iris.

As palavras que mais escutava naqueles tempos eram: "bombardeios", "mortes", "invasões" e, principalmente, "os inimigos". Foi uma época turbulenta, e Iris lembrava-se que mudara várias vezes de casa. Nunca se perguntava o porquê daquilo cada vez que se via arrumando suas malas para uma nova cidade que tomariam rumo — só mais para frente descobriria que era pelo motivo de as áreas onde moravam estarem sendo frequentemente "visadas".

Mudanças essas que, de toda forma, não serviram de nada no final.

Iris descobriu da pior forma que a guerra sempre dá um jeito de chegar até você, não importa o que fizer, para onde ir, onde se esconder — não dá para fugir dela.

Iris tratou de espantar esses pensamentos rapidamente. Continuou perguntando tudo o que podia sobre Hogwarts (pelo menos o que Mirela permitia revelar), focando-se agora nas partes das disciplinas.

Descobrir que em vez de passar o dia fazendo contas de matemática e escrevendo frases da língua inglesa destacando o verbo e outras chatices, aprenderia, na verdade, a como mudar formatos e essências de objetos por meio da Transfiguração; preparar poções de todos os tipos em caldeirões de verdade; fazer variados feitiços com sua varinha, tanto para ataque quanto para proteção (só não conseguia se imaginar atacando alguém dessa forma um tanto estranha), fora, com certeza, a melhor parte de tudo para Iris.

 

O que mais esperava e ansiava era (ironicamente, pois nunca foi uma aluna que adorava ir à escola estudar) as aulas que teria! Imagine como seria a diversão todos os dias em uma sala de aula bruxa? Diferente de tudo que já vira, constatou firmemente.

A conversa se pendurou por tanto tempo que as horas iam correndo como água. O sol começava a cair pelo horizonte com a tarde estando pela metade praticamente, presenteando os vagões com uma luz alaranjada brilhante, juntamente com os tons vermelho-amarelados como de uma fogueira. Era a parte do dia que Iris mais gostava, e isso, somado com as paisagens exuberantes por que passavam, tornava tudo ainda mais belo.

Em um determinado momento, a "mulher-do-carrinho-de-guloseimas", como a chamavam, passou pelos corredores de cada cabine, perguntando em voz alta se alguém queria comprar alguma coisa. Iris estava decidida a provar tudo que pudesse, pois aqueles doces exóticos e decididamente (em sua maioria) bizarros despertavam sua curiosidade de forma autêntica.

Se segurou para não comprar tanta coisa, ou acabaria logo de primeira com os tais "galeões" que pegara no banco bruxo.

Divertiu-se bastante provando as iguarias: os diabinhos de pimenta eram gostosos, apenas (como dizia o nome) deixavam o paladar com uma contínua queimação, fazendo com que Iris esperasse um tempo até conseguir comer as outras coisas; os ratos-pirulitos foram algo engraçadíssimo para si, diferentemente de Mirela que os julgava pela aparência "nojenta" e afirmara que por conta disso nunca enfiara um na boca. Também haviam os sapos de chocolate (aparentemente eles gostavam de colocar formatos de bichos nas comidas por algum motivo), que eram completamente deliciosos — apenas os pulos que eles davam faziam-na tomar um susto.

Iris ficou surpresa em ver que na embalagem deles podia-se obter cartas colecionáveis de "famosidades", como lhe explicaram.

— Tirei uma tal de... — apertou os olhos para pronunciar o nome deveras estranho. — BaBabayaga. — fez uma careta para a imagem da provável "mulher" que se encontrava pregada ali.

Parecia uma vilã de historinhas, com seu rosto maldoso e todo deformado em feições assustadoramente enrugadas e rachadas. Assim como todo tipo de imagem que parecia existir no mundo bruxo, ela também se movia, como se Iris estivesse vendo na realidade uma filmagem dela. Era uma tarefa quase impossível para Iris se acostumar com essas coisas...

— Ela é uma das "megeras famosas". — Henry lhe comunicou enquanto comia uma caixinha repleta de feijões coloridos. — Viveu na era medieval. — indicou a parte de trás da carta. — Tenho a Cordelia Misericordia e a Letícia Somnolens na minha coleção³...

— Ah... — Iris leu o pequeno textinho no verso e fez uma cara horrorizada com as informações contidas nele: 

"Babayaga foi uma megera medieval russa que comia regularmente crianças no café da manhã, e presumivelmente almoço e chá também. Ela morava em uma cabana que ficava em gigantescas pernas de galinhas."

— Caramba... — levantou as sobrancelhas, espantada. No entanto, guardou a carta dentro de seu malão. Apesar de tudo, gostaria de tê-la como a primeira de sua futura coleção.

Continuou a explorar os novos doces por um tempão, até começar a se enjoar com o açúcar presente em seu organismo. Quando o sol começou a entrar por trás do pico de uma montanha e o céu foi adquirindo gradativamente o tom de estar no início de escurecer, foi que uma garota mais velha de vestes azul e bronze irrompeu pela entrada da cabine, analisando-os com atenção. Iris conseguiu vislumbrar pelo reflexo do sol a insígnia de uma águia no lado direito de seu peito.

— Com licença — ela começou formalmente. —, devo comunicar que já estamos chegando na Estação de Hogsmeade, então é bom começarem a guardar todas as coisas nas malas e, para quem não trocou de roupa ainda, a hora é agora. — ela focou o olhar sobre Iris e um outro garoto sentado perto da porta. — Você pode se trocar aqui mesmo, pois é só colocar as vestes por cima da roupa que está usando. — ela notificou ao garoto, que deu de ombros e começou a retirar as roupas negras da mala. — Já você, menina — olhou para Iris. —, pegue suas vestes e se dirija até a cabine de troca. — fez um gesto para que a seguisse.

— Hum... Tudo bem. — Iris achou aquilo um tanto inusitado, pois não sabia que devia se trocar, ou já teria vindo com as vestes da escola.

Bem que quando chegara notou que era uma das poucas alunas a estar de roupas comuns...

Carregando a bolsa onde guardara as roupas de Hogwarts (elas continuavam embrulhadas do mesmo modo como quando comprara no Beco), Iris foi seguindo a tal garota "representante" pelo imenso corredor do trem.

Haviam muitas cabines abertas, com pessoas já colocando os malões nos corredores, muitos alunos se encontrando em pé dentro ou fora delas.

Estava uma verdadeira barulheira de corujas piando alto com medo dos gatos que se encontravam soltos pelo local, e uma generosa quantidade de sapos pulavam de um lado para o outro, um deles quase atingindo a cabeça da representante. Ela ralhou com os donos dos sapinhos, os mandando guardar ou segurar o bicho.

— Mia! Saia daí agora mesmo! — Iris viu uma garota da mesma idade que a sua parecendo estar muito frustrada enquanto tentava fazer com que sua gata saísse do topo de uma cortina enorme (aparentemente a bichana havia se assustado com algo e se pendurado ali com suas garras).

Finalmente chegaram até o último vagão, que felizmente se encontrava mais tranquilo e sem tanto tumulto quanto na parte do meio do trem.

Iris visualizou então o final do corredor, onde haviam três garotas paradas em frente a uma porta. Uma delas, evidentemente mais velha, se encontrava um pouco mais distante das outras duas, dando a entender que estava ali de guarda.

— Pronto, é ali. — a "representante" lhe apontou. — É só esperar um pouco. Vista-se, volte para sua cabine e pegue suas coisas, pois logo vamos chegar. — avisou, e foi voltando pelo mesmo caminho pelo qual vieram.

— Obrigada. — Iris sorriu. Encaminhou-se até o lugar indicado e pôs-se a esperar.

Não demorou nem trinta segundos, e a porta se abriu, saindo uma garota de seu interior.

— Você agora. — a "guardinha", que também trajava vestes com tiras vermelhas e douradas, indicou a próxima menina da fila com voz um tanto cansada, fazendo Iris deduzir que ela já deveria estar supervisionando ali há algum tempo.

Iris observou-a um pouco melhor. Se tratava de uma garota muitíssimo atraente, mesmo com a expressão séria que parecia ser comum ela esboçar. Os cabelos eram pretos e estavam presos em um alto rabo de cavalo, o que deixava suas feições simétricas bem amostra. Para completar, ela possuía olhos verdes lindíssimos.

— Ei! Minerva! — uma garota aparentemente da mesma idade da mais velha se aproximou correndo animadamente em suas direções. Recuperou o fôlego. — Venha, você tem que arrumar suas coisas, o Morris está jogando bombas fedorentas nas cabines...

A tal Minerva⁵ fez um movimento negativo com a cabeça, mas franziu o cenho em evidente reprovação:

— Faça o favor de pegá-las para mim, então. E não o deixe fazer qualquer coisa que seja com as minhas malas, ou ele vai se ver comigo depois.

— Acho melhor você ir lá, pois é a única que controla aquele bobalhão... — a garota insistiu.

— Eu não vou sair daqui. — Minerva falou com firmeza. – É a minha primeira tarefa como monitora, sabe disso. O que vão falar se nem ao menos dei conta ou levei a sério minhas responsabilidades? — gesticulou com as mãos. — Vai ter que dar o seu jeito dessa vez. — sua voz tinha um tom de "sinto muito".

— Hum, tudo bem, eu entendo. Vou tentar fazer alguma coisa. — a garota parecia um pouco desapontada, mas logo saiu correndo de lá, voltando por onde veio.

A porta fora novamente aberta, e logo a próxima da fila entrou, sobrando só Iris e a tal Minerva.

Iris achou um tanto chato para ela ter de ficar ali... Quer dizer, nem era uma tarefa tão necessária assim — as garotas podiam se virar sozinhas...

— Olhe — chamou a atenção da mais velha, que voltou os olhos para si. —, você não precisa continuar aqui, só falta a mim de qualquer maneira. — deu de ombros.

— Não, não. — ela negou novamente, dessa vez parecendo mais tranquila. — Não tem problema para mim. Sempre quis o título de monitora e gosto de cumprir tudo que as pessoas me impõem.

Iris acenou em compreensão. Então ela era o tipo de garota "prendada"...

— Entendi. — voltou os olhos para a porta fechada à frente. — Achei que nos trocávamos quando chegávamos em Hogwarts... — comentou. — Mas logo vi que tinha algo diferente quando a maioria já estava devidamente trajada.

— Isso se deve ao fato da Cerimônia de Abertura que temos na primeira noite, por isso deve-se estar a caráter. Eu acredito que deveriam dar um aviso sobre isso nas cartas, pois sempre há uma certa confusão no início, muitos garotos xeretas querendo dar uma de espertinhos. — ela fez expressão crítica. — Mas enfim... – ela fez um gesto com o queixo, indicando a maçaneta da porta que se virava. — É a sua vez.

Iris assentiu e entrou no "compartimento". Era pequeno, mas confortável para ocupar uma só pessoa.

Haviam alguns ganchos para que as vestes fossem penduradas, e alguns banquinhos que não teriam utilidade nenhuma para si. Um espelho grande estava postado a direita, e uma janela na parte de cima denunciava que o sol já estava em seus últimos momentos — a luz alaranjada ainda continuava intensa, mas já estava dando a voz de despedida...

Iris prendeu sua bolsa em um dos ganchos e foi retirando peça por peça dos trajes de Hogwarts de seu interior: uma camisa branca, colete cinza, saia preta, e capa também preta. Os sapatos eram da escolha de cada um, assim como as meias, então ficou feliz de estar com suas botinas negras, que cobriam suas meias cheia de estrelinhas. Todo o seu uniforme foi comprado em segunda-mão.

Já pronta, olhou-se no espelho. Permaneceu encarando seu reflexo como se fosse a primeira vez que via a si mesma.

De repente, vendo-se vestida daquela maneira tão diferente, um sentimento estranho foi adentrando lentamente seu peito.

Demorou alguns segundos para Iris decifrá-lo, pois todas as semanas que se passaram desde que descobrira sua verdadeira essência, apenas sentia alegria e euforia com tudo aquilo, como se estivesse vivenciando o que sempre quisera, mesmo sem nunca ter cogitado algo ao menos parecido...

Examinou seus olhos azuis-gelo, sua pele clara, nariz pequeno e afilado, as minúsculas sardas salpicadas na região de suas maçãs, sobrancelhas finas... Tentando de algum modo ler sua própria expressão para estar sentindo aquela sensação nova.

Pegou uma mecha de seus cabelos longos e ondulados, a cor peculiar e extremamente forte refletida com mais intensidade no espelho pelo tom avermelhado de cada madeixa...

... E então soube, enfim, o significado daquele aperto no peito. Descobriu através de uma vaga lembrança que tinha a ver com seus cabelos...

Ser ruiva era algo hereditário de família, vinda do lado de sua mãe, que também possuía essa peculiaridade genética — assim como também sua vó, bisavó, tataravó e etc...

Se na sua própria época esse atributo era difícil de ser visto, Iris imaginava como era para suas ancestrais lidar com os comentários (mesmo que afirmassem em pesquisas, não eram todas as regiões da Inglaterra que possuíam uma generosa quantidade de cidadãos de cabelos vermelhos).

Iris lembrou-se de um episódio que ocorrera quando era pequena, e que lhe marcara bastante. Foi num final de tarde, assim como o de agora, em que estava brincando em uma praça perto de casa, e lá haviam várias outras crianças. Muitas delas pertenciam à sua classe na escolinha que estudava na época.

Não lembrava exatamente de como aquilo havia acontecido, de tão bizarra que a situação fora...

Iris não tinha em sua posse pólvora, álcool, fósforo, nem qualquer coisa que produzisse fogo, mas, de alguma maneira, quando um garoto veio lhe importunar exibindo seus carrinhos novos, no momento em que ele tocara em seu ombro, todos os brinquedos nos braços dele ficaram em chamas, as brasas fortes vibrando de um lado para o outro.

Na mesma hora apareceram adultos para socorrer as crianças, e tiraram todos da praça. O menino chorava feito um bebê aterrorizado pelo susto e pela queimação superficial nos antebraços. O fogo foi apagado rapidamente, mas não se encontrou nada que pudesse ter causado o incidente, pois até mesmo o sol estava se pondo na hora.

Depois daquele dia, Iris sempre se perguntou o que de fato havia acontecido. Ficara com raiva do menino, isso era verdade, pois ele sempre tirava vantagem para cima dos outros com suas coisas legais.

Num milésimo de segundo antes de as chamas aparecem misteriosamente, Iris lembrava-se que fechara os punhos em irritação, sentindo a cabeça fervilhar... E então aconteceu.

Todos decidiram esquecer a história depois de alguns dias, mas era óbvio que aquele garoto havia reparado que algo estava muito errado.

Nas semanas que se decorreram na escola, todos pareciam ter ouvido a versão dele de como as coisas se sucederam na praça. Ele espalhou boatos de que Iris era perigosa, e que seus cabelos eram os responsáveis pelo fogo, por causa da cor.

Iris ficou sendo chamada por meses de "cabeça-de-fogo", e ninguém queria ficar muito perto de si. Foram tempos tristonhos para Iris, mas que felizmente passaram após se mudar para longe (outra vez).

Esse não fora o único fato inexplicável que acontecera consigo. Tivera outras ocasiões também... Como ter sujado uma vez o vestido que trajava para ir a um casamento, brincando na lama com algumas coleguinhas.

Quando sua mãe lhe deixara em um banco de castigo e saíra para chamar seu pai para lhe dar uma bronca, a mulher tivera uma grande surpresa quando voltara e vira que sua querida filha se encontrava brilhando, nova em folha, exatamente no mesmo lugar onde lhe deixara.

Tudo isso eram sinais de sua verdadeira essência... Sinais que nenhum deles quisera verificar ou pesquisar, por se tratar de coisas amedrontadoras e inexplicáveis.

Agora, olhando seu reflexo, constatou que sim, era verdadeiramente uma bruxa — uma "nascida-trouxa" como era o termo utilizado. E a emoção de ser mais do que achou que era, de poder fazer coisas que ultrapassavam a razão da possiblidade, de que uma fase de sua vida havia sido deixada para trás para uma nova estar logo ao horizonte, lhe preencheu por inteira.

"Você vai dar conta, Iris", pensou com convicção, deixando o sentimentalismo de lado. Entraria naquilo tudo de cabeça, sem ter medo do que encontraria e descobriria no caminho, aproveitaria a experiência com a máxima felicidade e entusiasmo possível, sem dar margem para um único arrependimento.

Ouviu batidas na porta, com certeza estranhando sua demora.

— Eu já estou indo. — falou em voz alta, encarando-se uma última vez e pegando a bolsa no gancho. Sentiu o trem começar a ir diminuindo a velocidade.

Chegara a hora tão esperada.


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Notas finais do capítulo

♥ Curiosidades ♥

Gellert Grindelwald¹ — Bruxo das Trevas mais poderoso antes de Lord Voldermort. Atualmente está preso em Nurmengard depois de sua histórica batalha contra Alvo Dumbledore, ocorrida em 1945.

Grande Guerra² — Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Foi um conflito de escala global que aconteceu entre 1939 e 1945 e ficou marcado por eventos como o Holocausto e o uso de bombas atômicas.

Cordelia Misericordia e Letícia Somnolens³ — Ambas megeras famosas no mundo bruxo na Idade Média.

Babayaga⁴ — Megera da Idade Média mais famosa de todos os tempos.

Minerva⁵ — Sim, camaradas, nossa amada McGonagall está ativa na década de 50 ♥ Ela é uma aluna do 4° ano em Hogwarts nessa época e uma das melhores alunas de Alvo Dumbledore.

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Espero que tenham gostado e que eu tenha feito jus á viagem no trem até Hogwarts. O que acharam? Gostaram da Iris? Nascida-Trouxa, Alegre, Determinada... Ela será uma personagem muito importante nas obras também *-*

E o que acharam da Minerva??? Ela apareceu rapidinho, mas foi o suficiente para meu coração transbordar de alegria! Imaginar a MARAVILHOSA McGonagall nos tempos de escola era um dos meus sonhos! (por isso quis escrever *-*).

Espero que estejam gostando de acompanhar o início dessa obra que foi muito bem planejada, estruturada, revisada e arrumada meticulosamente para que ficasse á altura de seus formosos olhos ^-^

Ah! E espero que as "Curiosidades" estejam sendo úteis para vocês que gostam de saber mais sobre esse universo maravilhoso que a J.K. Rowling nos presenteou!

Até o próximo capítulo, bjss!

Malfeito, feito. Nox.



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