Valeran - A Ascensão dos Reis escrita por Lorde Vallex


Capítulo 3
Visitante Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou com mais um capítulo! Logo a história realmente começa!
Boa leitura ^^



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Ele corria pela floresta com pressa e medo. Seus passos, no entanto, eram leves e ágeis, e ele pisava corretamente nos locais adequados para continuar a correr sem obstáculos. Era claramente acostumado com florestas.
O indivíduo possuía um manto marrom desbotado e aparentemente sujo sobre o corpo, ocultando-o. Também usava um capuz largo o suficiente para esconder todo o rosto. A cada passo, a cada conversa de soldados e aventureiros que escutava nas fogueiras, mais amaldiçoava a si mesmo. Por que tivera a estúpida ideia de atravessar a fronteira e dirigir-se a Valeran? Só porque era o reino mais próximo.
“Seu tolo”, pensara ele. “Artariel, seu completo tolo.”
Artariel corria com velocidade. A lua estava escondida pelas nuvens, escurecendo ainda mais a sombria noite. Aquilo não era problema para ele, pois sua nobre raça nascia com o dom de uma visão superior à humana. Agora fazia dias que deixara a proteção de sua casa, vagando por terras desconhecidas e armado apenas de uma adaga longa.
Mas aquilo não importava, pois não fugira de casa apenas por desapontamento para com os pais. Possuia outro objetivo, um maior que qualquer outro desejo que pudesse possuir. Artariel saíra de sua bela terra para procurar sua irmã, e nada que fizesse mudaria esse objetivo. “Ela não morreu anos atrás, isso eu tenho total certeza”, pensava ele com convicção.
Finalmente chegara no único lugar no reino em que procurava ser aceito. O marquesado de Enomozen, governado pelo Arquimago. “Aquele humano é amigo de meu povo”, sabia ele.
Quando chegou na ponte que dava acesso à Enomozen, passou apressado pela ponte. “Que vergonha, medo de água. O que Selene pensaria de você?”, pensou ele.
Passou a ponte, e finalmente estava na cidade. Claramente, a cidade era bela — principalmente a grande Academia Greyhorn —, mas não era nada comparado a sua terra natal.
Fez questão de puxar o capuz ainda mais para frente do rosto quando tornou a andar. Pouquíssimas pessoas estariam acordadas a essa hora. Artariel sabia que daqui quatro dias seria realizada a prova para ingressar em Greyhorn, e sua única chance de ficar em Valeran para receber pistas do paradeiro da irmã, Selene, era se tornando um mago formado. “Não importa sua raça se for um”, sabia ele.
Caminhou por mais algum tempo, desviando-se da rua principal e procurando um local para dormir. Foi quando viu luzes e barulhos em uma casa de madeira, e leu a placa: Olho de Urubu. Era uma taverna, percebera Artariel. O garoto pôs a mão no bolso, sentindo as moedas de prata que uma boa alma lhe cedera no caminho pela floresta.
“Espero que sirva”, desejou ele. Artariel então entrou no Olho de Urubu. Notara as mesas redondas com dois pares de cadeiras para os grupos que vinham se sentar, e também o balcão onde um jovem rapaz lavava canecas de madeira.
Artariel aproximou-se hesitantemente. Além de ser o que era, também não sabia muito como conversar com outros. Mesmo dentro da própria espécie, era taxado como "tímido e introvertido". Mesmo assim, agora não tinha a irmã ou os pais para falarem por ele.
Quando o assistente do taberneiro notou-o, foi apressadamente atendê-lo.

— Noite bonita, fria — comentou ele. — Bem tarde, hein?

— Q-quanto me custaria f-ficar aqui por q-quatro dias? — perguntou Artariel, corando levemente por baixo do capuz.

— Quatro dias? Então também vai para a Academia Greyhorn? — perguntou o jovem assistente, curioso. — Parece jovem para isso.

— Só sou pequeno — retrucou Artariel, desconfortável. — E como assim “também”?

— Bem, temos dois aspirantes a magos em um dos quartos, que também é o único que ainda tem camas disponíveis — informou o assistente. — Por cinco peças de cobre você passa uma noite aqui, com dez delas por dia ganha bebida ilimitada.

Artariel retirou uma peça de prata e depositou-a no balcão.

— Imagino que seja o suficiente para passar os q-quatro dias… — disse ele baixinho.

O assistente arregalou os olhos. Uma peça de prata era equivalente a cem peças de cobre. A única forma de pagamento maior veio dos dois irmãos ali hospedados, que pagaram com duas peças de ouro — que equivalia a cem peças de prata.
Ele assentiu e pegou a moeda.

— Vai dar muito mais que quatro dias — alertou.

— E-então deixe anotado para que eu sempre tenha uma cama aqui — pediu Artariel, e o assistente confirmou com a cabeça.

Artariel então recebeu a orientação de onde iria dormir, e logo abriu a porta onde estavam os tais dois irmãos. Surpreendeu-se ao vê-los completamente acordados, com cartas nas mãos.

— Eu jogo meu lich — anunciou a garota de cabelos castanhos e escuros, seus olhos verdes encarando agora a porta.

— Eu invoco meu dragão vermelho e venço o jogo! — exclamou o garoto de cabelos negros e olhos cinzentos, alheio ao novo visitante.

Quando enfim percebeu, abriu um sorriso de orelha a orelha para Artariel.

— Boa noite! Me chamo Soren von Dartã — apresentou-se o garoto —, e esta é minha humilde irmã Lira von Dartã. E você, quem é?

Artariel corou, mas também estava com medo. Sua raça só dormia quatro horas, então seu plano era sair antes que os colegas de quarto sequer notassem sua presença.

— S-sou A-Artariel… — Logo em seguida, mordeu a língua. Esquecera de inventar outro nome enquanto estivesse nas terras humanas.

— Artariel? — repetiu Soren, pensativo. — Esse nome não é élfico?

Artariel arregalou os olhos. Humanos não sabem disso, exceto alguns dos mais velhos e conhecedores. Havia séculos não existia um “Artariel” dentre os elfos. “Como ele sabe?”

— Você é um elfo? É por isso que está de capuz? Não se preocupe, sou prieten eliror.

Amigo dos elfos.

— N-não sei o que quer dizer — murmurou Artariel, sem convicção, mas Soren não abandonava seu rosto gentil e animado.

— Não se preocupe, não vamos contar a ninguém, meu nome é Soren Hei…

— Soren! — ralhou Lira. — Não diga isso para qualquer um que encontra em uma taverna!

— Mas ele é um elfo — respondeu Soren, agora olhando para Artariel. — Não é, Arty?

— A-Arty?

— Não precisa ter medo — disse Soren, levantando-se e prestando uma reverência. — Meu nome é Soren Heirdarus, filho de Brienna Heirdarus, prieten eliror, e sobrinho do marquês Edgard Heirdarus, prieten eliror.

Artariel arregalou os olhos. Conhecera aqueles humanos. Vieram visitar seus pais uma vez, e deram-lhes belos presentes. Salvaram elfos na fronteira, e escoltaram-nos até Elderin. Agora que percebia, o garoto Soren lembrava mesmo eles dois.

— Mas… Como? Illuminis foi… — Percebera que, se fosse verdade, talvez fosse insensível falar disso. Mas Soren sorriu.

— Sir Roderik me salvou e me trouxe a Valeran, adotando-me como filho e escondendo minha real origem.

“Você confiou nele muito fácil”, repreendeu Lira mentalmente. “Mesmo dentre os elfos, existem os ruins.”
Artariel, no entanto, puxou o capuz para trás. Era um belo garoto de cabelos azuis cobalto, que eram lisos na parte de trás e bagunçados próximo aos olhos, com três fios caindo-lhe na frente do olho direito. Seus olhos eram verdes, e liberavam uma fraquíssima luz, um brilho esverdeado. Suas orelhas saíam de entre os cabelos e tornavam sua origem clara.
“Pelo tamanho, é um elfo puro”, concluiu Soren.

— E-eu sou… Artariel de Elderin…

Não disse seu sobrenome, perceberam todos. Soren, mesmo assim, sorria.

— Fico feliz em conhecê-lo, Artariel! Eu sempre tive tantas curiosidades sobre os elfos — comentou ele com os olhos brilhando. — Exceto sua participação na história humana, não sabemos quase nada sobre vocês. Quer dizer, suas cidades são mesmo feitas dentro e acima de grandes árvores?

Artariel, aos poucos, deu um sorriso tímido.

— S-sim. Usamos da magia natural para solicitar ajuda à Carzinin, deusa dos elfos e florestas, para moldar a natureza a nosso favor, permitindo-nos abrigo nas árvores.

— Então vocês dominam a natureza?! — indagou Soren, impressionado. Artariel, no entanto, lançou-lhe um olhar horrorizado.

— A magia é bela, divina. Ninguém pode “dominar a magia”, muito menos a natureza! Nós elfos apenas pedimos humildemente que a deusa nos permita usar do bem da natureza para nos protegermos!

Soren ficou um pouco desconcertado, percebendo que não fora algo que um amigo dos elfos devesse falar. “Conversar com outras raças é difícil”, concluiu ele sem graça.

— Perdoe-me — disse o jovem nobre. — Minhas palavras foram arrogantes.

— E muito — concordou Lira. — Todos sabem que você não domina a magia, mas sim os deuses que te dão piedosamente o dom de praticá-la.

— Exatamente — disse Artariel.

— Isso é uma conspiração — resmungou Soren. — Certo. Arty, você vai para a Academia Greyhorn também?

— V-vou…

— Ótimo! Eu não queria ficar sozinha com ele lá — comentou Lira olhando para Soren ameaçadoramente.

— E-espero que todos sejam como vocês — murmurou Artariel.

Soren encarou-o, sério.

— Serão. E se não o forem, não precisa se preocupar. Ninguém lhe fará mal enquanto eu estiver lá!

— Hã, Soren — chamou Lira, com um sorriso debochado —, você é bom para alguém da sua idade, mas como planeja protegê-lo de pessoas que também usam magia?

— Bem… você vai me ajudar!

Lira não negou, e Soren soube que realmente iria. Artariel sorria sem palavras, estupefato com aqueles dois humanos na sua frente. “Talvez, alguma hora, eu possa contar-lhes meu sobrenome e… talvez falar da Selene. Meu pai me disse que existiam humanos bons e ruins, e existem alguns que são um mas parecem outro”, pensava o elfo. “Me perdoem por não confiar completamente em vocês neste momento, Soren e Lira de Illuminis e Valeran.”

— Vamos dormir então! — ordenou Lira, responsavelmente. — Já passa das onze da noite, e não podemos ficar acordados até tão tarde!

— N-nós elfos s-só precisamos descansar quatro horas…

— Hein?! — exclamou Soren. — Vocês já vivem uns trezentos anos e ainda só perdem quatro horas por dia?! Isso é injusto!

Enquanto Lira ia dormir em silêncio completo e Soren resmungava sobre querer viver tanto quanto “Arty”, o jovem elfo ainda agradecia aos deuses por ter encontrado aqueles humanos. Seu pai lhe dissera que os humanos, em sua maioria, desprezavam, humilhavam e até mesmo assassinavam não-humanos, então a ideia de ter aquelas pessoas aceitando-o não lhe era crível. Mas um deles era um sobrevivente do Massacre de Illuminis, então talvez pudesse acreditar.
Com esse pensamento agradável, de finalmente haver pessoas que estavam lhe aceitando sem ao menos saber seu sobrenome, sua linhagem, Artariel fechou os olhos.

*

Quando Soren abriu os olhos, notara que Artariel já devia estar acordado havia algum tempo. O elfo encarava fixamente o baú do Heirdarus, parecendo temeroso. Soren fez um palpite correto de que o elfo talvez pudesse sentir a energia vinda do livro enrolado em trapos.
Assim que notara que Soren acordou, Artariel corou e desviou o olhar do baú, temendo que o garoto se irritasse ou achasse desrespeitoso. Mas tinha certeza de que sentira uma energia maligna de lá, que surgiu no exato momento em que Soren murmurou “Casymir, Arkhim”.
Lira acordou dois minutos depois do irmão, e sentou-se na cama. Artariel franziu o cenho ao notar os cabelos extremamente bagunçados da garota, mas rapidamente desviou o olhar.
Soren, todavia, não teve tal decoro.

— O seu cabelo está horrível, Lira — comentou ele com seu sorriso zombeteiro.

— Só preciso arrumar — devolveu a irmã maldosamente. — Mas que azar, esse seu rosto não tem conserto.

Soren fez um bico, fingindo estar ofendido, e virou-se para Artariel. Decidido a ignorar o momento em que o elfo fitara o baú, ele sorriu.

— Bom dia, Arty! O que ficou fazendo enquanto dormíamos?

— Bem… eu repeti tudo o que eu sabia sobre Valeran. No quesito magia, exceto pelo fato dos elfos conhecerem a magia da natureza, nós não somos diferentes de vocês humanos.

— Exceto que vivem mais, descansam menos, podem ver no escuro, são muito mais rápidos e ágeis e possuem uma pontaria excelente — listou Lira, querendo ser justa.

— Têm razão, m-mas vocês são mais fortes.

— No geral — comentou Soren. — Eu, por exemplo, não consigo nem nocautear uma galinha.

— Sério? Que deplorável — disse Lira.

Resolvendo que não iniciaria uma discussão tola com Lira naquele momento, o garoto olhou para Artariel.

— Bem, é hoje. É hoje que faremos a prova e seremos aceitos como magos de Valeran. Só eu estou super animado com isso?

— N-não! — respondeu Artariel rapidamente. — Isso será m-muito útil e importante para mim.

Os três então saíram do quarto. Passando o corredor, notaram que a taverna estava mais cheia do que o habitual. Eram mais de vinte pessoas aglomeradas em um lado do balcão, cochichando entre si. Curioso, Soren espremeu-se entre eles para tentar espiar o que estava acontecendo.
Sentado no balcão em uma postura impecável, de costas eretas, estava um rapaz que não podia ser mais velho do que Soren. Vestia roupas violetas com adornos em dourado, combinando com seus cabelos loiros curtos. Quando olhou para as pessoas que o rodeavam, seus belos olhos azuis tinham um aspecto frio.

— Quem é ele? — perguntou em um sussurro Soren, para ninguém em especial.

— Você não sabe?! Esse é Killian Maklaw, herdeiro de Sua Senhoria Arlon Maklaw, o conde de Mïssir. É aquele que dizem que no futuro será o maior Cavaleiro Santo dessa geração.

Então estava de frente com alguém da alta nobreza, um verdadeiro lorde de terras, e achava o sobrenome Maklaw familiar.

— Ele dorme aqui? — indagou Soren. — Nunca o vejo.

— O jovem mestre parte para treinar cedo, mas o teste para magos e cavaleiros é hoje e ele se permitiu descansar um pouco.

— Ouvi dizer — comentou outro — que o irmão dele, Kane Maklaw, a Flecha Cinzenta de Mïssir, foi morto em batalha um mês atrás.

Levantando-se com raiva contida, Killian passou por todas aquelas pessoas com grosseria, saindo da taverna. Segundos depois, a maioria foi atrás dele. Soren ficou tentado a fazer o mesmo.

— Quem era? — perguntou Lira, curiosa.

— Um tal de Killian Maklaw, filho do conde de Mïssir — informou Soren. — Aparentemente ele é o maior aspirante a Cavaleiro Santo da geração, e o irmão dele morreu no mês passado.

Soren não conseguia evitar de sentir compaixão. Sabia qual era a sensação de um dia ter tudo e, no outro, tudo acabar. Mas não o conhecia, e algumas pessoas reagiam com grosseria e hostilidade para mascarar a dor.
Lira arregalou os olhos.

— O pai falou disso dias atrás! Kane Maklaw, Cavaleiro Santo da Guarda Real de Konatang, “Flecha Cinzenta”, morreu após lutar sozinho contra mais de cem demônios superiores.

Soren imaginara uma morte assim. A maioria dos Cavaleiros Santos só morria quando lutava sozinho contra muitos inimigos poderosos ou contra um exército inteiro.
Artariel encarou a porta e sorriu tristemente.

— Neste mundo — comentou ele —, percebo que não são muitas as pessoas que nunca perderam nada…

Soren cerrou os punhos, concordando com tais palavras. A cada dia, seu ódio pela expansão territorial de Casymir Loernvel von Silennar, filho de Everard, aumentava. “Se não posso me tornar poderoso, tentarei me tornar influente”, decidiu-se. “Se me tornar um marquês ou duque poderei influenciar diretamente nas decisões maiores da política de Valeran.”
Mas sabia também que apenas magos sublimes conseguiam títulos de nobreza, como Tulin Silleskrow.

— Vamos comer logo — recomendou Lira. — A abertura do teste de entrada começa daqui uma hora.

Concordando, Soren e Artariel pediram alimento. Artariel permanecia com seu capuz cobrindo-lhe o rosto, o que entristecia Soren — embora ele não demonstrasse; quando na companhia de amigos ou até estranhos, preferia manter um sorriso no rosto. “O ódio contra não humanos também há de acabar.”
O trio, após alimentarem-se, foram aos quartos para pegar suas coisas. Artariel trazia apenas um pouco de comida, esta que decidira deixar para o dono da taverna. Lira carregava sua bolsa com alguns livros de magia e história, mas de longe Soren era aquele com a mochila mais pesada. Ele guardou quase todos os seus livros na mochila, e ainda levava o livro oculto.
Soren então sorriu para os outros dois.

— Prontos para se tornarem magos?

— Quanto otimismo — resmungou Lira. — Espero que você falhe na prova.

— Lira, isso muito me ofende — choramingou Soren.

— B-bem… — começou Artariel — … a-acho que vou conseguir!

— É assim que se fala! — incentivou Soren.

Lira deu um sorriso contido, e juntos os três foram em direção à Academia Greyhorn.
As ruas, perceberam eles, estavam mais movimentadas do que o normal. Claro, todos os alunos, tanto a aprendizes de magos quanto de escudeiros, agora dirigiam-se à escola de magia. De relance, Soren vira o garoto Killian, que logo desapareceu na multidão. Logo à frente do trio, estava uma garota de cabelos vermelhos e curtos, estes que Soren sabia que já havia visto antes.
Finalmente chegaram à ponte. Por causa do buraco em um dos lados, pessoas foram obrigadas a se amontoarem para passar. Após o fazerem, os enormes portões da academia abriram.
Era magnífico. Feita de pedra cinzenta com várias e várias torres, havia um enorme jardim na entrada. Sabia que, dali, os terrenos da academia começavam. O castelo que era a academia era gigante, quase do tamanho dos palácios dos duques, e os terrenos da academia também eram gigantescos, cheios de jardins, colinas e planícies, além de um lago escuro e profundo.
Quando entraram, a maioria surpreendeu-se com o tamanho da área que precedia o palácio mágico. Sem tempo para pensarem, um homem surgira. Aparentava ser jovem, com menos de trinta anos; seus cabelos eram loiros, como os de Killian, mas estes eram longos com várias mechas bagunçadas. O homem vestia uma túnica cinzenta, e seus olhos cor de âmbar analisaram os visitantes.
Ele sorriu.

— É um prazer tê-los conosco para realizarem o teste. Meu nome é Luk de Silennar, sou o mestre de magia mental aqui na Academia Greyhorn — apresentou-se ele. — Agora nós iremos até o salão principal, onde realizaremos o teste. Quero avisá-los que aqueles que falharem no teste acabarão sendo removidos permanentemente da Academia Greyhorn. Se vocês optarem por desistir agora, poderão tentar no próximo ano.

Meia dúzia de pessoas, lentamente, retiraram-se. Luk sorriu.

— Ótimo. Agora que estamos prontos, sigam-me.

Assim os candidatos o fizeram. Passaram pelo jardim na entrada e chegaram a uma enorme porta de ferro. Luk murmurou algo e as portas se abrirão lentamente, fazendo barulho e indicando seu peso excessivo. Quando entraram, subiram uma escadaria até chegarem ao salão principal.
Uma casa caberia facilmente no local, e Lira maravilhou-se com os belos quadros que haviam espalhados, documentando a história da magia. Havia acontecimentos importantes nos quadros, como a chegada dos renegados no continente de Visten; a Hora Mais Sinistra, onde demônios sangraram sobre o mundo; a Guerra dos Anciões, quando os grandes dragões atacaram Valeran e, finalmente, a Batalha de Ordem e Caos, onde Heylluim Loernvel, o primeiro Cavaleiro de Platina, Kelluim Loernvel, o primeiro mago das trevas e Valadan Woodalind, o Primeiro Arquimago, travaram sua última batalha.
“A Traição de Valadan e Kelluim, bem como as lendas contam”, pensou a garota de cabelos vermelhos. “No fim, Kelluim arrependeu-se e uniu-se ao irmão na luta contra o Primeiro Arquimago, Valadan Woodalind, príncipe de Elderin…”
Luk chegou até o fundo do salão, e sentou-se onde outras pessoas estavam sentadas em poltronas. De um lado, um homem careca de barba cheia vermelha e outro de cabelos negros e lisos e barba bem feita. Do outro, uma mulher de cabelo preso e rosto severo, bem como uma poltrona para Luk.
No meio dos quatro professores, estava um homem velho, com rugas aparentes e olhos azuis, com longas barbas e cabelos cinzentos. Vestia-se com um manto branco e dourado anormalmente adornado, digno da mais alta nobreza. Apoiado em seu corpo, um cajado de madeira branca com uma pedra amarela na ponta.
“Tulin Sillescrow, o único mago na história que dizem chegar ao nível de Valadan”, pensou Soren, admirado.
Tulin deu um sorriso gentil para os jovens à sua frente.

— Bem vindos! Espero que todos estejam ansiosos para iniciarmos a seleção dos novos membros da Aca…

O Arquimago parou de falar quando outra pessoa entrou no salão. Como não era incomum em Valeran, ele possuía cabelos dourados e belos, com olhos esverdeados que exibiam frieza e imponência. Vestia cota de malha, e possuía uma espada de Cavaleiro Santo, mas o mais impressionante era sua armadura azulada. Soren, assim como todos os jovens, arregalaram os olhos. Mas o garoto não dividia o ânimo geral.

— A-Ar… khim — balbuciou ele, espantado.

Fez o máximo de esforço para esconder a intenção hostil que sentia naquele momento. Nunca imaginara que estaria frente a frente com o homem que matou seu pai tão cedo, e não naquele lugar. Foi só quando Tulin se pronunciou que a ficha de Soren caiu.

— É bom tê-lo conosco, Arkhim Streffar, Grão-Mestre dos Dragões Vermelhos. Agora também mestre de guerra da Academia Greyhorn.

“Ele treinará os escudeiros”, compreendeu Soren. “Ele permanecerá aqui o ano todo.” Por fora, mantinha-se neutro, ainda incapaz de sorrir. Por dentro, no entanto, lembranças de Illuminis queimavam sua mente, e seu ódio pelo Cavaleiro Santo à sua frente borbulhava. Mas não era louco. Se apenas magos do quinto círculo venciam Cavaleiros Santos, ele não queria imaginar quanto poder precisaria conseguir para matar um Cavaleiro Dracônico.
Arkhim permaneceu de pé, em uma postura inabalável. Agora, Tulin prosseguia com o que ia falar antes.

— Espero que estejam ansiosos para a prova de seleção dos membros da Academia Greyhorn! Para os jovens magos, admito que a prova será muito mais complicada, porém os escudeiros precisarão passar pela segunda etapa, que está a cargo de Lorde Streffar.

E fizeram as provas. Sentaram-se em cadeiras e a mesas e responderam as questões. Soren notou, com surpresa, que sabia da maioria delas, e que fora muito mais fácil do que havia esperado. Sabia que não haveria uma prova prática, pois a maioria das pessoas no salão sequer sabiam usar o primeiro círculo da magia, a feitiçaria básica.
Quando saíram da academia para voltar à taverna, Soren não estava com seu habitual sorriso. Ostentava, ao invés disso, um semblante fechado e frio. “Arkhim Streffar, aqui?!”, pensava ele. “Mas ele é um Grão-Mestre de uma das Ordens de Cavalaria! Ele deveria estar comandando os cavaleiros de Silennar! Mas talvez… Entendo. Casymir Loernvel, você planeja mandar um dos seus mais incríveis Cavaleiros Santos para treinar um futuro grupo de pessoas ainda melhores. Antigamente os Cavaleiros Santos eram treinados por um Cavaleiro Santo superior, mas nunca um Cavaleiro Dracônico como Arkhim.”
A compreensão, aos poucos, se espalhava pelo rosto do aprendiz de mago.

— Casymir… você planeja fazer de Arkhim o treinador de uma geração de Cavaleiros Santos superiores para seus ataques a outras nações — murmurou Soren para si mesmo, sem se lembrar que Lira e Artariel estavam logo ao seu lado. — Você planeja dar início a um verdadeiro grupo de extermínio.

Claro, aquilo era apenas o que Soren pensava, mas acreditava que, com o que sabia de Casymir, deveria estar correto. Nunca viu o homem frente a frente, mas tinha certeza de que tudo o que ele fazia agora era visando a conquista de território.
Com esse pensamento, Soren chegou à porta da taverna, mas não entrou. Em vez disso, virou-se para os outros dois.

— Podem ir na frente. Tem algo que eu quero confirmar antes de iniciarmos o estudo na academia.

— M-mas o resultado da prova só c-chega amanhã — lembrou Artariel.

Soren não respondeu, partindo em direção a uma rua aleatória. Havia se decidido que ficaria de olho em Arkhim. “Ainda não posso me vingar, mas tenho certeza que você deseja algo ruim, Cavaleiro Dracônico…”


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Notas finais do capítulo

Haha! Três personagens principais além dos irmãos foram mencionados ou mostrados! E agora, Arkhim na academia.
Qualquer erro, por favor me avisem °°



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