Menina de Ouro escrita por Stella


Capítulo 6
Capítulo Cinco


Notas iniciais do capítulo

Olá, como voces estão?
Não demorei desta vez srsrs



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O silêncio pesou entre nós e eu suspirei. Talvez eu não fizesse o tipo dele— eu pensei me lembrando de como Barbara parecia magra e alta.

Eu me desencostei do corpo de Dimitri o suficiente para ver que ele me fitava com curiosidade. Eu queria saber o que se passava em sua cabeça naquele momento...

Mas, antes que eu pudesse ter a certeza absoluta de que aquilo era uma ideia ruim, eu coloquei minha perna esquerda sobre o banco, enquanto ficava sob meus joelhos e me aproximava, levando uma mão ao seu peito. Eu fiquei esperando que ele me afastasse e me desse uma lição de moral sobre não ter me dado abertura para aquilo, mas ao invés disso, eu vi sua mão se movendo até meu rosto, tirando uma mecha de cabelo que atrapalhava minha visão. Seus olhos fixos nos meus, e eu olhei para seus lábios, que pareciam um convite que eu poderia recusar, mas eu não queria. No entanto, foi Dimitri que rompeu os centímetros que nos separavam, colando sua boca na minha. E no exato momento que isso ocorreu, provavelmente mais rápido do que meu cérebro pudesse processar, eu afastei meu corpo em um impulso.

— Não faça isso! – a frase saiu mais para mim mesma, mas mesmo assim ele me olhou perdido. A sensação dos seus lábios quentes nos milésimos de segundo que se encostaram nos meus limparam minha mente para o que eu estava fazendo.

— Desculpe – ele disse, passando os dedos pelos seus cabelos.

— Não, eu queria isso – as palavras pareciam dar um nó em minha língua. Eu queria beijar Dimitri? O professor que parecia me achar medíocre e que não sabia praticamente nada sobre mim? Bem, eu queria e não para fortalecer meu ego, mas porque eu gostava de como me sentia protegida perto dele e eu não podia negar que tinha algo em Dimitri me atraia. Mas eu ainda não sabia se era uma boa ideia me aproximar a esse ponto de alguém. As palavras de Mason voltaram a dançar em minha mente “Dimitri não é um cara legal com garotas como você.”. Bem, talvez Mason estivesse errado sobre aquilo. Talvez eu que não fosse o tipo de garota legal. Talvez eu fosse problema demais para Dimitri.

— Eu não ajo assim normalmente – seu tom envergonhado me tirou dos meus devaneios.

— Não, é ótimo. Quer dizer – eu pausei, pensando exatamente no que dizer – Somos adultos, sabemos o que fazemos.

A frase havia sido dita uma vez por um dos meus ex. Na época me pareceu patético já que ele tentava me convencer a entrar em um jogo de strip poker e eu só tinha 16 anos. Mas eu juro que naquele momento com Dimitri pareceu a frase certa. Eu sabia o que estava fazendo. Pelo menos foi a essa conclusão que eu cheguei antes de suspirar e então me aproximar dele novamente, calmamente.

Ele desta vez não se moveu, provavelmente ainda assustado com minha súbita mudança, mas bem, eu queria beijar Dimitri. E foi por isso que eu encostei minha boca a dele, em um selinho e então entreabri os lábios, dando passagem a sua língua.

O que havia começado de forma calma e lenta, se transformou em urgência e eu enterrei meus dedos nos cabelos de Dimitri, o puxando com força para mim. Nossas línguas se tocavam como se já se conhecessem e eu me vi desejando ainda mais dele. Eu me movi, colocando meu corpo sob o dele com uma perna de cada lado. Eu estava consciente de suas mãos na minha cintura, mas honestamente esperava que ele as descesse um pouquinho mais. Eu desci minha boca para seu pescoço, mordiscando e beijando e então voltei para sua boca. Minhas mãos serpentearam por seu peito, sentindo cada um de seus músculos até alcançar a barra de sua blusa, mas antes que eu pudesse tirá-la do caminho, Dimitri me afastou lentamente pelos ombros. Seus lábios eram um convite irrecusável para mim, enquanto seu cabelo lhe dava um ar ainda mais sexy.

— Você está bêbada – ele disse em um tom que claramente tentava mais convencê-lo do que a mim.

— Sabe que não – eu disse me inclinando novamente para ele e mordendo de leve seu lábio inferior, escutando um gemido baixo. Senti uma mão deslizando pela lateral do meu corpo até chegar a minha perna direita, a apertando com força e me puxando contra ele. Voltei minhas mãos para sua camiseta, a tirando antes que Dimitri me impedisse novamente. Eu desenhei com a ponta dos dedos seus músculos, sentindo sua pele quente se arrepiando com meu toque.

Meu cabelo foi puxado levemente quanto Dimitri inclinou minha cabeça, beijando meu pescoço e descendo enquanto abria rapidamente os botões da minha blusa, deixando meu colo amostra. Talvez um sutiã de renda teria sido uma boa escolha, eu percebi tarde demais.

No entanto, antes que ele começasse a trabalhar, um barulho irritante chamou minha atenção. Eu olhei para o carpete do carro, onde meu celular havia caído provavelmente quando eu comecei a me insinuar para Dimitri. Eu estava pronta para ignorá-lo, quando eu pisquei, vendo o nome brilhando na tela. “Jack-idiota”.

Mais rápido do que eu havia montado sobre Dimitri, eu me desvencilhei dele voltando para o banco passageiro e pegando o aparelho em minha mão.

— O que houve? – o tom em minha voz era urgente. Jack tinha me ligado uma vez em toda a nossa trajetória como irmãos de criação: quando minha mãe havia descoberto que eu tinha fugido de madrugada para ir a uma festa e ele queria me chantagear. Então se ele estava me ligando, especialmente em um número que eu não havia passado há quase ninguém, o assunto era sério – Jack, aconteceu algo com Janine?

Eu me senti enfurecer quando eu não escutei nada além de sua respiração do outro lado da linha, e então ele desligou.

Meu cérebro já pensava nas piores situações. Eu senti dificuldade em puxar o ar e controlar minha respiração, enquanto adrenalina começava a correr em mim e eu sabia que aquilo não tinha ligação com meus amassos com meu professor.

Dimitri estava confuso ao meu lado, mas eu não lhe dei respostas. Ao invés disso, eu fechei os botões da minha blusa de volta, arrumando meu short que havia ficado curto demais enquanto ligava para minha mãe.

Janine atendeu após o que pareceu uma eternidade.

— Rose?

— Oi mãe – eu disse – Escuta, eu já estava dormindo, mas Jack me ligou e então a ligação caiu. Está tudo bem?

— Está – ela disse parecendo sonolenta – Ele está dormindo. Deve ter esquecido o celular desbloqueado. Por que está preocupada com isso?

Eu suspirei, apertando o aparelho em minhas mãos, tentando controlar minha respiração.

— Não é nada – eu disse – só fiquei preocupada. Ele nunca me liga.

Eu escutei minha mão suspirar do outro lado da linha.

— Você está segura, filha. Red não tem como saber onde está. Não se preocupe.

Eu assenti, me lembrando um tempo depois que ela não podia me ver.

— Tudo bem, mãe. Vou voltar a dormir. Boa noite.

Eu encerrei a ligação, colocando meu celular sobre minhas pernas e levando minhas mãos aos meus cabelos enquanto fechava os olhos. Como eu detestava aquela sensação de angustia e medo. Aquele pavor de que Red me encontraria e terminaria de me matar...

— Tem algo que eu possa fazer para te ajudar?

Eu abri meus olhos, vendo que Dimitri já havia colocado sua própria blusa de volta e eu nem sequer havia percebido.

— Sabe o que poderia ajudar? – perguntei, pegando meu casaco no banco de trás

Eu assumi que aquilo tinha sido um erro. Eu não podia me apegar as pessoas quando tinha um maluco querendo me ferir. Eu não podia me permitir me aproximar aquele ponto de Dimitri novamente.

Eu continuei quando ele apenas me fitou, provavelmente me achando louca pela mudança de ânimo outra vez

— Você me ensinar como matar alguém sem parecer assassinato – eu disse – Ou então você me arrumar um revolver. Ou talvez um assassino de aluguel. Ou passagens para as Maldivas enquanto a polícia finge que faz o trabalho dela. Ou ainda – eu parei, sentindo o nó que se formou em minha garganta quando eu senti as primeiras lagrimas caindo – Você poderia me ensinar algo de verdade para que eu não precisasse sentir medo a cada vez que meu telefone ou a campainha tocar.

Tinha tanto tempo que eu sentia precisar colocar aquilo para fora. Eu queria a minha vida de volta, minha paz. E eu sabia que eu só teria isso com Red morto. E eu queria mata-lo para ver minha família em segurança outra vez, mas eu não podia. Alberta tinha sido clara. Ela tinha me dito. Legitima defesa. Eu precisava estar pronta quando ele me encontrasse. Eu não iria deixa-lo me ferir novamente.

As lagrimas grossas tamparam minha visão quando eu não consegui mais controla-las. Então eu levei minhas mãos ao meu rosto, tentando escondê-las. Eu não gostava de demonstrar fraqueza perto dos outros. E fazer isso perto de Dimitri deixava tudo pior. Eu não queria que ele pensasse que eu era fraca. 

Eu senti seus braços me envolverem, me puxando de encontro ao seu corpo e eu apoiei minha cabeça em seu peito. Se passou um longo tempo até que eu conseguisse controlar minhas lagrimas e os soluços, mas eu ainda continuei abraçada a ele, sentindo seu cheiro inebriante me acalmar. Eu me afastei, secando meu rosto e olhando para a camiseta preta arruinada de Dimitri,

— Desculpe por isso – eu disse. Minha voz não passando de um sussurro – Eu não sou assim.

— Você não tem que ser forte o tempo todo – Dimitri disse – Você não precisa fingir que é indestrutível, Rose.

Eu desviei meus olhos dos seus, olhando para longe, com medo de vacilar novamente.  

— Tenho que ir – murmurei – Obrigada pelo jantar, Camarada.

Eu me afastei dele, descendo do carro e jogando meu casaco sobre meu ombro, seguindo rumo ao meu prédio sem olhar para trás.

Quando cheguei ao meu apartamento, eu me joguei no sofá, puxando uma manta para me cobrir e chutando meus tênis para longe.

Minha vida era uma merda. Em uma das únicas vezes que eu me distraio, que eu tento me divertir e ser a Rose de antes, Red arruinava tudo mesmo não tendo nada a ver diretamente com aquilo.

Eu toquei meus lábios com a ponta dos dedos, ainda me lembrando da sensação de quando beijei Dimitri. Fechando meus olhos, eu me permiti imaginar como seria se eu não estivesse fugindo, se eu pudesse ser eu mesma sem ficar olhando para trás.

Dimitri também tinha um passado, talvez um mal resolvido – como Barbara- mas ainda sim tinha um. E eu tinha certeza de que ele não merecia um problema como eu em sua vida. Não que eu estivesse cogitando sentir algo por Dimitri, mas eu não era idiota. Red me encontraria, cedo ou tarde, e ele não pensaria meia vez antes de decidir machucar quem quer que estivesse comigo.

Foi por isso que eu não compareci aos treinos nos dias seguintes. E nas duas outras semanas que se seguiram. Ao invés disso, eu peguei turnos extras, me convencendo de que podia resolver tudo se eu juntasse dinheiro suficiente para comprar uma arma. Com sorte eu conseguiria juntar provas suficientes para provar que eu estava sob ameaça – não que significasse algo para a justiça. Mas o trabalho manteve minha mente ocupada enquanto eu seguia uma rotina de passar o dia na lanchonete e a noite ia para casa dormir, para fazer tudo exatamente igual nos dias seguintes.

Mason ainda investia em mim, mas eu havia passado a ignorá-lo com sucesso, me esquivando sempre que ele e sua simpática mãe me convidavam para algo.

Parte de mim se sentiu aliviada quando Dimitri não me procurou quando eu não apareci para os treinos, a outra parte se sentiu insignificante quando ele nem ao menos deu um telefone ou foi até meu apartamento saber se eu ainda estava viva ou se tinha me afogado em minhas próprias lagrimas.

— Eu estou te dizendo – Lissa disse mordendo sua panqueca – desta vez eu acho que estou apaixonada de verdade.

Eu revirei meus olhos para Lissa, enquanto ela me mostrava a foto do seu colega de teatro. Ela havia chegado pela manhã e passado o dia todo ali me fazendo companhia enquanto tentava decorar seus textos.

— Ele estava interpretando o conde Drácula? – perguntei, lhe servindo mais café e me debruçando sobre a bancada, descansando um pouco enquanto o movimento ainda estava fraco.

Lissa sorriu, voltando a olhar apaixonada para seu celular antes de bloquear a tela.

— É só o estilo dele. Você gostaria de conhece-lo. O humor de vocês dois é incrivelmente parecido.

Eu arregalei meus olhos levemente, olhando para longe de Lissa.

— Eu aposto que sim...

Lissa foi embora um tempo depois, deixando alguns folhetos de sua peça sobre o balcão antes de partir. O dia passava incrivelmente devagar enquanto eu via pessoas chegando, comendo, pagando e indo embora, e eu sentia falta da agitação que minha vida tinha antes. Talvez quando eu voltasse eu ainda pudesse ir a faculdade e terminar todas as outras coisas...

Ao final do meu expediente, eu me despedi de Mia, vestindo meu casaco antes de sair pelos fundos da lanchonete e caminhar de volta para meu apartamento, no entanto, eu desejei poder fazer o caminho de volta assim que percebi que um carro me seguia.

Eu apressei o passo, sabendo que muito provavelmente eu não encontraria nenhuma viatura policial naquela parte da cidade. O carro avançou, parando alguns poucos metros a minha frente e eu estanquei, indecisa entre voltar ou seguir andando sem parecer uma louca neurótica. No entanto, antes que eu pudesse decidir, a porta do motorista abriu e eu senti meu coração falhar uma batida quando eu vi Dimitri Belikov descer do veículo.

— Aí. Meu. Deus – eu engasguei com minha própria saliva enquanto levava uma mão ao peito – Camarada, não se segue uma mulher pela rua desta forma!

Dimitri parecia tranquilo encostado contra o carro. Ele usava uma bermuda caqui e camiseta polo em tons pasteis como se estivesse a passeio, mas seu rosto era uma máscara dura e fria.

— Está atrasada para o seu treino. Na verdade, duas semanas atrasadas.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem, deixem suas opiniões, assim saberei quais pontos melhorar.
Até a próxima o/