Menina de Ouro escrita por Stella


Capítulo 5
Capítulo Quatro


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal!!

Eu demorei um tanto, sei disso. Os ultimos dias não tem sido fáceis, mas explico mais no final.

Espero que gostem desse capitulo. Tem algumas revelações e alguns outros fatos que vão ser mais trabalhados no futuro.



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Quando chegamos ao meu prédio, eu ainda estava impactada pelo péssimo gosto musical de Dimitri. Quer dizer, alguns anos mais velho e nenhuma música que não desse vontade de subir no topo do Empire State e me jogar? Escutar aquelas músicas poderia ser facilmente considerado uma espécie de tortura.

— Você deveria baixar o Spotify ou algo do tipo – eu finalmente disse – Um carro como esse nem deveria ter um toca CD's, para começar.

Ele fingiu que não escutou, mas a forma como seus lábios se enrugaram, eu sabia que ele estava provavelmente se controlando para não me mandar calar a boca.

— Isso que vocês escutam hoje em dia não é música, é barulho.

— Oh, certo. Eu praticamente posso te imaginar como Clint Eastwood na sua juventude, saindo por aí com um chapéu de cowboy e galopando escutando isso!

Dimitri riu e eu me vi surpresa. Quer dizer, ele havia começado a sorrir para mim, mas era a primeira vez que ele ria com tanta vontade de algo que eu disse. O som era contagiante e eu me vi o admirando. Ele era lindo, de tirar o fôlego, e em outros tempos eu teria flertado abertamente com ele. Ele também era um ótimo professor, dedicado, mesmo claramente não apostando todas as suas fichas em mim.

— Obrigada – eu murmurei e então seus olhos se prenderam em mim, enquanto ele ainda tinha aquele ar alegre – Por estar me ajudando mesmo não sabendo exatamente porque eu preciso disso.

Dimitri assentiu, levando uma de suas mãos até o CD player, desligando a música.

— Você tem potencial – ele declarou – É um pouco impulsiva, e desobediente, mas tem uma força dentro de você, algo que te move que é realmente bom.

Impulsiva e desobediente. Humpf. Era como se ele falasse de uma criança!

— Certo, camarada – eu abri o trinco da porta, jogando minhas pernas para fora e fechando a porta atrás de mim– Obrigada pela carona.

Eu só vi que Dimitri também havia descido, quando escutei sua própria porta se fechando e ele se recostou contra o carro me olhando de lado.

— Sobre o que aconteceu mais cedo – ele começou e eu o olhei confusa, até me lembrar da minha cabeça indo de encontro ao seu nariz e quase o quebrando – Você sentiu medo quando eu te segurei e com certeza aquela reação não foi-

— Eu entrei em pânico – eu o interrompi – Não sabia o que você esperava que eu fizesse, então-

— Você já disse isso! Mas estou falando-

— Dimitri?!

O nome foi praticamente gritado, mas eu não precisei me virar para ver quem era, já que uma mulher se jogou em Dimitri. Tudo o que eu podia ver de onde estava era uma cabeleira ruiva que se agitava enquanto a mulher se agarrava ao peito do meu professor de luta.

Os olhos dele estavam em mim, envergonhados e eu fiquei ainda mais confusa com aquilo.

— Barbara – ele disse, pegando a mulher que era quase da sua altura e a afastando pelos ombros – Não sabia que você tinha voltado a cidade.

Eu parecia ter sumido quando a mulher começou a tagarelar sobre ter sentido saudade de Dimitri e que esteve o ligando, mas nunca conseguia falar com ele. Eu realmente duvidava que alguém conseguisse falar sobre tantas coisas juntas.

— É, eu estive ocupado – eu não conhecia Dimitri muito bem, mas se eu pudesse apostar, eu diria que ele não compartilhava da mesma felicidade que aquela mulher em vê-lo novamente.

Ela me olhou quando eu dei a volta no carro e ia passando por Dimitri para finalmente entrar no prédio, mas eu estaquei assim que notei suas feições. Ela tinha os mesmos olhos castanhos das fotos. O cabelo agora estava maior e completamente alisado e em um ruivo tingido, mas os traços de seu rosto eram os mesmos das fotografias que sra. Bennet mantinha sempre longe das poeiras e que limpava ao menos 3 vezes no dia enquanto se gabava de como sua netinha era linda. Bem, eu agora podia ver que a netinha a qual ela sempre se referia não era mais uma criança.

Ela olhou para Dimitri, eu e o carro, e então fez o caminho por mais algumas vezes, antes de parar seus olhos em mim. Ódio era quase palpável ali.

— Essa é Rosemarie – Dimitri disse, saindo de perto de Barbara e passando uma mão ao meu redor e eu senti um formigamento onde sua mão estava. Meu corpo reagiu ao dele e por um momento em congelei, em dúvida daquele gesto.

— O que faz com ela? – o tom inquisitivo me surpreendeu e eu me vi encarando Dimitri em dúvida. Ela era alguma espécie de namorada possessiva?

— Ah – eu comecei tentando formular algo para me livrar logo daquela situação – Eu sou sua alu-

— Amiga – Dimitri disse em um tom sugestivo, apertando levemente minha cintura, mas de uma forma que eu entendi como um convite para não o contrariar. Eu fiz o meu máximo para não o olhar com uma cara que dizia "sério, Camarada?".

— Desde quando você tem amigas?

Eu sabia que se soubesse erguer uma sobrancelha como Dimitri, eu teria feito. Quem. Era. Ela? E a Rose em mim antiga, a que brigava e provocava, pareceu voltar por uma breve fração de segundos.

— Eu não diria que somos só amigos – minha mão foi para o peito de Dimitri quando eu o olhei com meu melhor sorriso. Ele apertou seus olhos para mim, quase como se não acreditasse no que estava vendo. Seus olhos se fixaram nos meus, e então nos meus lábios, como se tivesse sido hipnotizado. Eu não saberia dizer se era somente por carência, mas eu desejei poder sentir mais o toque de Dimitri. Talvez sua boca na minha, e então no meu pescoço, e descendo...

Barbara limpou a garganta, fazendo eu e ele despertarmos.

— Eu aposto que não – ela tinha um tom irritado e eu revirei meus olhos.

Eu não queria nada com Dimitri e honestamente eu também não queria aquela louca no meu pé. Ataques de ciúmes não eram a minha praia.

— Eu vou indo – eu disse, tirando minhas mãos de Dimitri e me afastando. Notei que enquanto estive ao seu lado, o clima não parecia estar tão frio.

Quando caminhei para a entrada do prédio, vi que a sra. Bennet estava parada logo atrás das portas de vidro, me olhando carrancuda. Encolhi meus ombros. Talvez não tivesse sido uma boa ideia irritar minha senhoria...

Eu escutei passos atrás de mim, e não precisei me virar para ver que Dimitri havia me alcançado, mas quando eu notei que ele subia as escadas ao meu lado, eu parei.

— Acho que você pode ir agora – murmurei.

Ele lançou um olhar nervoso para trás, para onde Barbara e sra. Bennet nos olhavam enquanto falavam entre si, parecendo contrariadas. Pela expressão sofrida em seu rosto, eu o entendi. Soltei um suspiro, antes de levar a mão até meu cabelo e o soltar do coque, massageando meu couro cabeludo em seguida. Eu estava tão cansada...

Quando chegamos ao meu apartamento, Dimitri ficou parado a porta e eu fiz um sinal para que ele entrasse. Seus olhos percorreram rapidamente o ambiente, antes de fechar a porta atrás de si.

— Eu não estava esperando visita – eu disse, tentando recolher a pequena bagunça que estava no sofá e liberar espaço para que ele se sentasse, mas ao invés disso ele puxou uma cadeira. Uma pequena parte minha lamentou que eu não fosse tão organizada quanto minha mãe gostaria.

— Está tudo bem – seu olhar era curioso e eu enfiei minhas mãos nos bolsos de trás dos meus jeans.

O apartamento era pequeno, mas estava ótimo para mim. Não era lá muito confortável, mas não era como se eu passasse todo o meu dia ali. No entanto, a presença de Dimitri parecia deixar ali mais apertado e desconfortável do que nunca. Ocasionalmente conversávamos sobre coisas aleatórias, que não meus treinos, mas havíamos nos visto duas vezes fora da academia. A primeira, quando eu fui praticamente atropelada pelo seu corpo musculoso. E a segunda, no mesmo dia, quando eu fui lhe devolver seu celular. Não era como se tivéssemos coisas ou assuntos em comum.

— Quem é essa? – ele se levantou, caminhando até a minha geladeira e eu vi o que tinha chamado sua atenção. Era uma foto antiga minha e da minha mãe. Ela havia sido tirada no hospital, logo após o meu nascimento. Eu tinha a deixado ali para todos os dias me lembrar que eu precisava ficar a salvo por ela. Minha mãe havia me entregado ela quando eu decidi partir.

— Minha mãe. Janine – eu disse – Obviamente não somos muito parecidas.

Janine era linda e havia sido ainda mais quando jovem – era o que Alberta sempre me dizia. Eu não me importaria se tivesse puxado seu cabelo ruivo cacheado ou ainda seus olhos verdes, mas ainda assim eu era satisfeita com o que eu tinha.

Dimitri pegou a foto em suas mãos e então a virando. Ele sussurrou algo inteligível, e eu imaginei que ele tivesse tentando ler a pequena declaração que havia sido escrita no verso da fotografia.

— A tradução é-

— A vida que eu tenho esperado toda a noite – Dimitri disse e eu o olhei surpresa – É turco.

Eu assenti, indo até ele e pegando a foto.

— Não sabia que falava turco – comentei após colocar a foto de volta em seu lugar.

— Eu não falo – seus olhos estavam em mim – Mas é uma frase que eu já ouvi bastante antes. Sua mãe é turca?

Eu neguei, engolindo em seco ao me lembrar de quando ela me contou sobre aquela foto. Meu pai havia tirado, antes deles decidirem que seria melhor se eu crescesse somente com a minha mãe. Ainda era complicado aceitar o fato dele nunca ter ido atrás de mim.

— Meu pai é, ou era. Eu realmente não sei – finalmente disse – Aparentemente minha mãe foi ingênua o suficiente para se deixar enganar por algumas frases bonitinhas e então ele deu o fora – eu notei o embraço em seu olhar – Não se preocupe. Não é como se eu me importasse realmente.

Dei de ombros e então fui até a janela, olhando para baixo e vendo que Barbara entrava em um taxi.

— O que ela é sua? – eu perguntei, arrastando meus olhos para Dimitri. Ele olhava para minha mala no canto, mas ergueu seus olhos para mim.

— Nada – ele disse e seu tom claramente indicava o contrário.

— O que? Ela pareceu bem intima sua – meu tom era brincalhão, mas eu parei assim que vi o desconforto em sua reação.

— Ela era minha aluna – considerou – Acho que ela começou a confundir as coisas, e então eu disse que não treinaria mais mulheres.

Meu queixo quase caiu e eu demorei alguns segundos para redobrar minha posição. Era por causa de Barbara que Dimitri praticamente me escorraçou do seu escritório no dia em que nos conhecemos?

— O que? – meus braços estavam cruzados em meu peito em irritação – Está dizendo que porque uma aluna te cantou você simplesmente decidiu que todas as outras fariam o mesmo?

Eu não quis soar indelicada, mas parecia realmente estupido.

Dimitri se calou e eu joguei minhas mãos para o alto. Eu não iria voltar aquele tópico. Parecia estúpido como um homem forte como Dimitri simplesmente tomou uma decisão como aquela por ter medo de ser seduzido.

— Dane-se. A mulher com cara de psicótica já foi embora. Você também pode ir, já esta tarde e-

Ele me interrompeu.

— Você tem algo para comer aqui?

— Tem miojo – eu disse dando de ombros e fingindo não ver o olhar descrente de Dimitri. Estava surpresa com a mudança brusca de assunto.

— Isso não é exatamente comestível – ele apontou – Eu ainda não jantei. Tem um restaurante ótimo há algumas quadras daqui.

Eu estreitei meus olhos para ele.

— Está me convidando para um encontro?

Ele pareceu surpreso com meu tom sugestivo e brincalhão. Eu não me importaria se estivesse em um. Deus sabe como um pouco de diversão me distrairia de todos os meus problemas.

— Não! – Sua resposta veio rápida demais – Estou apenas dizendo que se você também estiver com fome e quiser comer algo saudável, podemos ir juntos. Eu só tenho que ir tomar um banho e então volto para te buscar.

Uma pequena parte do meu cérebro pensou em recusar. Mas uma outra, que havia acordado dentro de mim e esquecido que eu não podia fazer amigos, aceitou antes que eu pudesse chutá-la.

Eu fui tomar um banho logo quando Dimitri saiu, antes que eu tivesse tempo de voltar atrás e declinar o convite. E então eu me vi animada demais para apenas ir comermos juntos. Eu lavei meu cabelo com shampoo por três vezes, para que qualquer cheiro de suor pudesse sair, e também me depilei enquanto em voz alta eu lembrava a mim mesma que eu não tinha interesse em Dimitri.

Enrolada na toalha, eu vasculhei minha mala a procura de algo que não fossem jeans, leggins ou regatas, mas não havia nenhum vestido ali, então eu me contentei com um shorts jeans e blusa rosa, colocando um casaquinho branco por cima antes de calçar um tênis casual da mesma cor. Eu me arrependi por ter devolvido os saltos Loubottin de Lissa, mas era tarde demais para que eu batesse a sua porta. E também não era como se eu quisesse impressionar a Dimitri, certo? Certo!

Quando eu terminei de secar meu cabelo, eu o joguei para trás, olhando no espelho as pequenas ondulações que haviam se formado nele. Eu havia passado uma maquiagem básica, marcando os olhos com bastante delineador e passado um batom cor nude. Não queria parecer como se tivesse tido muito trabalho apenas para ir comer algo.

Eu desci as escadas, me esgueirando pela portaria e assumindo que eu poderia sentir um pouco de frio nas pernas antes que sra. Bennet e seu gato me atacassem. Eu não tive que esperar por muito tempo, de qualquer forma, até que o carro de Dimitri parasse ao meu lado e antes que ele tivesse a chance de descer para abrir a porta do passageiro, eu já havia entrado.

O carro cheirava a loção pós barba e também um aroma amadeirado, como no dia em que ele me carregou no colo. Dando um rápido olhar em sua direção, eu vi que ele usava uma camiseta preta, com as mangas dobradas até o cotovelo, o tecido marcando seus músculos, e calça jeans escura. Seu cabelo estava solto, mas penteado cuidadosamente para trás.

— Coloque o cinto – ele disse, me lançando um rápido olhar e eu quase pude sentir meu ego murchar por ele mal ter percebido que diferente de todos os nossos treinos, eu estava apresentável desta vez.

Eu tentei reconhecer o caminho assim que ele colocou o carro em movimento. Estávamos indo para a parte central da cidade e a vida noturna não era assim tão agitada ali, mas ainda sim tinha um bom movimento de pessoas indo e voltando.

Quando paramos em frente ao restaurante, eu o reconheci. Era italiano e eu já havia ido uma vez até lá, com Lissa, logo que cheguei a cidade para entregar alguns currículos. Minha roupa não parecia boa o bastante para um lugar como aquele – e eu honestamente esperei que fossemos até alguma lanchonete ou algo do tipo. Quando ele desceu do carro e eu não me movi, Dimitri pareceu notar meu desconforto.

— Não se preocupe – ele disse, abrindo a porta para mim e eu desci do carro – Você está ótima.

Eu assenti. Ótima era um elogio bom, mas eu esperei algo mais admirável.

Vacilante, eu caminhei ao seu lado para dentro do recinto, vendo como as outras mulheres estavam vestidas e comprovando minha teoria de que eu não estava vestida para um lugar como aquele.

Dimitri pediu uma mesa para dois, reservada e eu agradeci mentalmente por poder ficar o mais escondido possível quando fomos encaminhados para o mezanino do restaurante.

Olhando o cardápio rapidamente, eu tentei encontrar algo conhecido. Comida italiana não era a minha favorita. Eu honestamente era apaixonada em fast foods.

— Acho que vou pedir um carpaccio – eu disse após um tempo, vendo que Dimitri nem ao menos havia aberto seu cardápio.

Ele ergueu uma sobrancelha para mim, parecendo curioso.

— Você não parece como alguém que come carne crua.

Eu torci o nariz, olhando de volta para o cardápio. Certo, eu poderia simplesmente pedir macarrão, não é mesmo?

— A lasanha deles é maravilhosa – Dimitri disse depois de um tempo de silêncio meu – Devia experimentar.

Eu assenti, fechando meu cardápio e o entregando de volta ao garçom após decidir pela lasanha. Eu só percebi que estava com fome quando vi as pessoas nas mesas do salão principal.

— Você geralmente é mais comunicativa durante os treinos.

Eu olhei para Dimitri, jogando meu cabelo por sobre meu ombro para livrar minha visão.

— Oh, essa é a minha técnica – eu disse, picando para ele – Se eu te manter distraído, você não vai pegar tão pesado.

Ele assentiu, parecendo ponderar.

— Baseado nos hematomas em suas pernas e tronco, não tem funcionado muito – avaliou e eu senti meu rosto esquentar enquanto muito provavelmente eu estava ruborizada.

Na verdade, havia um pequeno hematoma começando a sumir em minha coxa, mas o short o cobria – exceto quando eu entrei no carro. Estreitando meus olhos para ele, eu mordi meu lábio inferior, antes de abaixar meu tom de voz.

— Esteva me observando, camarada?

— Talvez – ele disse, parecendo não se importar em como eu poderia interpretar aquilo.

Percebendo ser um terreno perigoso, eu voltei a minha posição inicial, não percebendo que eu havia inclinado pelo corpo para ele.

— O que significa essa tatuagem? – perguntei, tomando um pouco da agua que o garçom havia trago e pegando um pãozinho no cesto, o picando e então colocando na boca. Eu esperei pela sua resposta, mas ele parecia surpreso comigo – Qual é, eu vi que você tem uma. Não é como se fosse como 1970 e isso fosse escandalizar alguém.

— Não é nada importante – ele disse.

Eu revirei meus olhos, me inclinando em minha cadeira novamente em sua direção e então ergui minha mão até sua nuca, mas ele a deteve no ar antes que eu pudesse tocar em seu cabelo. Seus olhos estavam nos meus, enquanto ele parecia surpreso e chocado com a proximidade. Seus dedos circundando meu pulso com firmeza faziam uma onda de choque passar pelo meu corpo e eu senti meu estômago revirar em ansiedade.

— Desculpe – sussurrei, mas seus dedos não se afastaram, ao invés disso, Dimitri colocou minha mão sobre a mesa, mantendo a sua sobre a minha.

— É uma coisa que eu fiz há muito tempo atrás – ele disse e então levou sua mão livre até sua nuca, afastando os cabelos que estavam ali e inclinando sua cabeça para o lado. Eu finalmente vi. Era como uma faca sarracena desenhada, com o cabo longo e duas linhas, uma de cada lado, com um pequeno triangulo em cada uma das pontas e que se arredondavam embaixo. Era uma balança, eu percebi um tempo depois tentando desvendar o desenho.

— O que significa? – eu perguntei, quando ele novamente tampou a nuca.

Ele deu de ombros e eu percebi que aquilo tinha mais importância do que ele tentava transparecer.

— Algo para eu nunca esquecer do meu passado – ele murmurou e seu olhar parecia distante – Não há nada tão digno quanto saber defender o que é certo, mesmo quando isso vai contra o que você realmente deve fazer.

Eu tentei entender suas palavras.

— Você quer falar sobre isso? – eu perguntei quando seus olhos ainda pareciam longes e melancólicos.

Ele balançou a cabeça e então apertou minha mão que estava em baixo da sua levemente, antes de soltar. Antes eu não via problemas em ficar cutucando as pessoas sobre tópicos que pareciam difíceis de lidar, mas eu não conseguiria agir assim com Dimitri, mesmo desejando que ele se abrisse mais comigo. Qualquer coisa que ele fosse dizer, foi esquecida quando o garçom se aproximou com nossos pratos fumegantes e eu senti meu estômago dar cambalhotas.

Ele pediu um vinho e eu percebi quanto tempo fazia que eu não tinha um pouco de álcool em meu sangue – desde que eu havia deixado minha antiga vida para trás. Nós comemos praticamente em silêncio, exceto quando ele fazia algum rápido comentário sobre o lugar e a comida, mas eu não estava tão interessada – ele também parecia falar apenas para o silencio não pesar. Eu pensava sobre o que Dimitri tinha dito e o que poderia ter ocorrido, mas as alternativas eram várias. Eu percebi que o vinho em sua taça permaneceu quase intocável durante nosso jantar, enquanto eu já havia sorvido quatro ou cinco tacas. Nada que me deixasse alta, mas talvez um pouco desinibida.

— Então – eu disse após ele pagar a conta que eu nem ao menos tentei dividir – Não é nada tão horrível. A tatuagem – apontei, quando ele franziu o cenho em confusão – Poderia ser uma carpa recheada de estrelas e corações.

Ele deu um pequeno sorriso, me olhando sob seu ombro e então caminhado para fora. Eu o segui, o cutucando levemente de lado quando o alcancei. Estava pronta para fazer mais uma piada quando minha atenção foi levada até uma quadra a frente e eu quase não conseguia acreditar no que eu estava vendo. Era um outdoor de um leilão de carros.

Estampada de forma chamativa, estava uma Ferrari preta, mas não como as que ricaços comparavam para andar por Beverly Hills ou algo do tipo. Era uma Rossa 1957. E como aquelas não tinham muitas por aí. Vinte e uma, para ser mais especifica.

— Minha. Nossa – eu sabia que meu queixo provavelmente havia alcançado o chão.

Certo. Eu gostava de carros. E havia sido um hobbie meu e também a forma como eu conheci Red. Eu costumava saber tudo sobre eles e ser praticamente apaixonada por tudo que os envolvia, especialmente os clássicos e raros.

— Eu li sobre o leilão – Dimitri disse ao meu lado, parecendo perceber o meu foco atual – O lance inicial está em 8 milhões de dólares.

Eu quase revirei meus olhos.

— Isso é o tipo de coisa que não tem preço – murmurei e então o olhei rapidamente de lado, fazendo um sinal com minha cabeça para a propaganda – Mas, se eu tivesse algum dinheiro, seria isso que eu gastaria toda a minha grana.

— Certo, isso é algo que eu sei sobre você – ele disse quando voltou a caminhar, tomando a frente.

— Você sabe até demais sobre mim, camarada – apontei e antes que ele pudesse ter tempo de formular uma pergunta, eu voltei ao assunto que esteve rodeando minha mente durante o rápido jantar – Quando começou isso com as lutas? – questionei – Algo com a tatuagem?

Ele se mexeu tenso ao meu lado e o silencio perdurou por tanto tempo que eu quase concluí que ele não iria me responder, até que ele o fez.

— É uma balança. Justiça. Eu me formei em direito em Yale. Trabalhei durante um tempo em um escritório e então coisas ruins aconteceram – ele fez uma pausa e sua respiração formou pequenas fumaças no ar frio – Foi quando eu fiz a tatuagem. Boxe era somente um hobbie, até que se tornou uma válvula e eu vim para cá, abri a minha academia e vivo disso. No começo foi difícil conseguir algum prestigio, mas com os nomes saindo, você acaba se tornando alguém conhecido.

Certo. Aquilo era uma surpresa. Dimitri não se parecia como alguém que foi para Yale. Muito menos com um que se formou em direito lá. Eu tentei ligar os pontos, mas não fazia muito sentido.

— Foi assim que conheceu Alberta? Quando ainda era advogado? – perguntei o encarando. Tia Alberta era promotora pública e eu sabia que ela era ótima no que fazia.

Eu notei que ele parecia quase arrependido por estarmos tendo aquela conversa quando seus olhos foram para longe de mim. Dimitri tirou algo do bolso e só percebi ser o alarme do carro quando ele o pressionou e o Aston Martin piscou os faróis.

— Ela estava na defesa do meu último caso. Foi assim que a conheci – ele disse em um tom curto e evasivo enquanto abria a porta do passageiro para mim.

Eu balancei a cabeça concordando, antes de entrar no carro que parecia quente o bastante para que eu tirasse meu casaco e o colocasse no banco de trás.

Dimitri se acomodou em seu banco, dando partida no carro.

— Argh! Eu quase ia me esquecendo – eu disse quando o silencio começou a me incomodar e antes que ele decidisse que ligar as músicas dos anos 60 seria uma boa ideia – O que era aquele velho esquisito me secando na academia daquela forma?

Dimitri pareceu levar alguns segundos para entender de quem eu falava, e então eu fiz um gesto como se coçasse uma barbicha imaginária e ele riu, finalmente entendendo.

— Ibrahim?! – ele gargalhou – Não, ele só estava curioso com o motivo de você estar lá. Não é ninguém que você deva se preocupar – ele fez uma pausa, me olhando rapidamente com uma preocupação fingida – A não ser, é claro, que você deva dinheiro a ele.

— Ele é um agiota?! – eu quase não me senti surpresa com todo aquele ouro e cores chamativas. Talvez ele também fosse uma espécie de cafetão...

— Tenho certeza de que ele se sentiria ofendido se visse você o chamando assim.

Revirei meus olhos, finalmente cedendo e ligando a rádio e indo à estação pop.

Quando paramos a porta do meu prédio, tudo o que eu sentia precisar era da minha cama, e eu fiquei feliz por ver que a portaria parecia vazia sem a sra. Bennet ou seus olhos especulativos.

Eu soltei meu cinto de segurança e notei que Dimitri fez o mesmo, mas ele aparentava tão perdido quanto eu. O que devia dizer? "Até amanhã?" ou "Boa noite, camarada! Obrigada por ter pago o jantar" ou ainda "Quer subir e tomar um chá?". Ok, essa última claramente não era uma opção já que eu nem ao menos tinha chá em meu apartamento. Qualquer das coisas que eu tinha em mente parecia longe do que eu queria realmente fazer. Tudo bem que enquanto ele me falava sobre seu passado eu quis deitar minha cabeça em seu peito e escutá-lo falar sobre si e assim esquecer os meus próprios problemas, mas agora com o carro parado e as janelas fechadas, enquanto parecíamos isolados do mundo do lado de fora, eu tinha ficado consciente ainda mais do seu cheiro e a forma como seu corpo estava inclinado para mim era quase como um convite para que eu me aproximasse. Ou talvez fosse o vinho me fazendo ver as coisas levemente distorcidas.

— Você me acha atraente? – a pergunta saiu da minha boca antes que eu pudesse fechá-la, mas ainda era algo que eu queria saber.

Dimitri me deu um olhar cético, mas eu pude jurar que vi seus olhos escorregando rapidamente para meus seios marcados pela blusa e então para minhas pernas.

— Você está linda – declarou.

Eu sorri, escorregando minha cabeça do meu banco até encostá-la em seu ombro.

— Não foi isso que eu perguntei. 


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Notas finais do capítulo

Ao ataque, Rose kkk

Eu gostei bastante de escrever esse capitulo e o próximo. Fiquei meio insegura com a cena da tatuagem pq fiquei procurando no google alguma que se parecesse como eu imaginei para mostrar a vcs, mas nao encontrei, entao infelizmente é só minha descrição mesmo haha espero que tenha sido clara mesmo assim.

Bem, eu demorei esse tempo todo pois estou saindo de um casamento de 7 anos e com uma filha de 3. Não tem sido facil, estou tendo que reaprender a viver, literalmente. Com uma criança é tudo ainda mais dificil. Eu estive beeem sem animo para escrever, então eu tive dificuldade pra vir ate aqui. São quase dois meses de separação e cada dia eu me sinto melhor do que o dia anterior. Bem, é isso. Peço desculpas pela demora, mas é realmente um momento bem complicado. Com essa pandemia e o isolamento tudo fica pior ainda. Mas sinto que logo logo vou estar 100% de novo.

É isso.

Ate a proxima ;*





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