Dezessete beijos escrita por birdiepoe


Capítulo 17
Décimo sétimo beijo




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Décimo sétimo

21 de dezembro de 2024

Ela devia ser, no mínimo, uns quinze anos mais nova. Tinha cabelos escuros e curtos, uma franja repicada que lhe caía sobre os grandes e redondos olhos castanhos. As bochechas eram redondas e coradas, o nariz era redondo e repleto de pequenas sardas, as quais ele considerava muito fofas. Draco sempre ia naquela cafeteria para vê-la. De segunda a sábado, por volta das sete da manhã. Ela sempre estava lá, jamais havia faltado a um encontro dos dois, mesmo que ela não soubesse desses encontros. 

Draco se sentava sempre na mesa 4 e fingia ler um jornal trouxa, mas sempre a observava sobre as páginas amareladas. Ela sempre bebia um café preto com dois cubos de açúcar. Aos sábados ela pedia como acompanhamento um croissant de chocolate. Ela rabiscava freneticamente um caderno de mais ou menos um palmo de comprimento. Ele sempre quis saber o que ela passava tanto tempo escrevendo. Ao longo foram seis meses, nos quais seus olhos se esbarraram um total de dezesseis vezes, Draco contava todas e as guardava silenciosamente dentro de sua memória. Ela era seu segredo favorito, tão secreta e única que nem sequer sabia seu nome. A garçonete certa vez a chamou de “Phie” ou “Fê” ou qualquer coisa parecida. Talvez se chamasse Sophie. Sophie era um nome bonito, Draco pensou que combinava com ela.

Na manhã do dia 20 de dezembro, o gerente da cafeteria comunicou aos clientes presentes que o dia seguinte, no caso, 21 de dezembro, seria o último dia que abriririam, sendo que retornariam apenas na segunda semana de janeiro. Os funcionários pareciam contentes com as férias, mas, para Draco aquilo era algo terrível. Teria que esperar longas semanas até vê-la novamente.

Na manhã seguinte, Draco chegou às 6h31. Esperou no máximo vinte minutos e ela chegou. Entrou na cafeteria quase correndo, provavelmente por causa da neve fria que caía tranquilamente do lado de fora. Mesmo de longe ele conseguiu reparar que os longos cílios dela estavam cobertos por pequeninhos flocos de gelo, assim como a leve curvatura de seus lábios. Ela vestia uma calça de moletom preta, botas marrom e um grande e pesado casaco que lhe atingia os joelhos. Aproximou-se do balcão e disse “o de sempre dos sábados, Kate, por favor” e foi se sentar na mesa seis. Entre eles havia uma única mesa vaga, a qual raramente era ocupada por algum cliente eventual. Ela tirou o caderno de dentro de uma pequena bolsa e começou a rabiscar com força. Cada movimento seu atraía a atenção do bruxo.

Quarenta minutos foi o tempo que ela levou para comer seu croissant e beber seu café puro adoçado. Draco tomou três copos grandes de chocolate-quente naquele tempo e ainda comeu uma pequena torta holandesa. Observou-a enquanto se levantava e se dirigia ao caixa para pagar a conta. Estava indo em direção à saída e, quando passou ao lado da mesa quatro, deixou sobre ela um papel de seu caderno. Draco olhou para aquilo confuso, achando se tratar de um acidente, porém, quando virou o papel, disposto a chamá-la para lhe devolver o que quer que tivesse perdido, viu que era na verdade um desenho. Um homem loiro, de feições magras, cabelos bem penteados e nariz pontudo. Era um desenho de Draco, com traços fortes, quase rabiscados, mas que tornavam a obra linda. Em um surto de coragem, ele se colocou de pé e em menos de cinco segundos corria para fora da cafeteria, ignorando os gritos da garçonete que lhe dizia que não havia pagado a conta, mas não se importou com aquilo, ele sempre pagava suas dívidas, então logo voltaria ali, mas não queria perder a moça de vista. 

A encontrou quase duzentos metros à frente. Chegou esbaforido, com o rosto avermelhado tanto pela corrida quanto pelo frio. A mulher se apertava contra o casaco gigante e andava com passos curtos. Ela interrompeu sua caminhada no momento em que sentiu os dedos compridos de Draco lhe tocarem no ombro.

— Você me desenhou… — não era uma pergunta.

— Sim? — não era uma resposta.

— Por quê?

Ela parou por alguns segundos, mordendo o lábio inferior enquanto pensava em uma boa resposta. Por fim disse: — Você tem um rosto interessante.

Draco se questionou se aquilo significava que ela o achava bonito, mas não perguntou sobre. Pela primeira vez estavam conversando. Os olhos gigantes lhe encaravam com curiosidade. A boca rosada pelo frio se abriu em um leve sorriso.

— Eu te desenho há semanas. Desculpe por isso…

— Tudo bem — Draco coçou a nuca —, eu te admiro há semanas. — disse sem pensar.

Ela franziu o cenho e seus olhos se fecharam levemente enquanto ela indagava: — Como assim?

— Ah… Achei que você já tivesse reparado. Desculpe.

— Tudo bem. — ela sorriu e voltou a caminhar lentamente. Draco a seguiu. — Qual o seu nome?

— Draco.

— Nome legal, Draco. — ela abriu um sorriso bonito que fez aparecer covinhas em suas bochechas — Me chamo Felicity.

— Nome bonito. — “Só não é mais bonito que você”, completou mentalmente.

— Jura? Eu o odeio. — ela riu.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Draco se virou para ela e decidiu dizer o que sentia pela primeira vez na vida: — Minha esposa morreu há cinco anos e desde então eu não me relacionei com ninguém. Você é a primeira pessoa que me faz sentir alguma coisa depois da morte dela. Eu te vejo e fico nervoso, meu coração dispara e minhas mãos suam. Sei que parece estranho porque nem nos conhecemos direito, mas sinto que te conheço o suficiente para dizer que estou apaixonado por você. Eu amo o jeito que você dá a primeira mordida no croissant que pede aos sábados e a careta que faz quando esquece de adoçar o café. Amo o jeito que você caminha e amo seus olhos, suas sardas, seu cabelo… Para ser sincero, eu gosto de tudo em você. Saber que a cafeteria vai fechar para o natal me matou por dentro porque eu só levanto da cama tão cedo nesse frio para te ver. Eu sei que pareço ser super estranho agora e espero que me desculpe, mas eu passei anos da minha vida guardando coisas dentro de mim, minhas opiniões, minha sexualidade, meus medos, meu luto e meus amores, mas eu não aguento mais isso, é a pior sensação do mundo. Me desculpe por tudo.

Ela ouviu tudo pacientemente. Quando Draco terminou de falar ela abriu um outro sorriso, ainda mais doce que os outros: — Tudo bem, Draco. Eu também guardei as coisas por muito tempo.

Ela se colocou na ponta dos pés e tocou os lábios dele com os próprios, calmamente. Ele tocou sua cintura e ela se apoiou mais sobre o corpo do loiro. Aos poucos o beijo foi aprofundado. Ela tinha gosto de croissant e café adoçado. Ele tinha gosto de chocolate quente e torta holandesa. Naquele momento Draco apenas conseguia pensar em Astória. Se lembrou das palavras dela poucos dias antes de seu falecimento: “Não perca a sua vida porque eu perdi a minha, Draco”. Onde quer que Astória estivesse, Draco desejou que ela soubesse que ele finalmente havia entendido a frase. Ele havia ficado cinco anos de luto, fingindo uma força que não tinha para seu filho, mas ele sempre soube que estava quebrado por dentro e ali, enquanto beijava Felicity, uma mulher trouxa, que gostava de café e desenhar, sentia que podiam voltar a ser feliz.


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Notas finais do capítulo

Acabou
Essa foi a fanfic mais linda que já escrevi até hoje, eu amei principalmente esse último capítulo.

Quero agradecer quem leu, deixou cada comentário, cada incentivo, isso foi verdadeiramente muito importante para mim. Muito obrigada com tudo e espero que vocês tenham gostado dessa fanfic tanto quanto eu!

Obrigada por terem me acompanhado nessa jornada ♥



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