“Então, ele vai querer nós dois ao seu lado quando acordar...”

Itachi beijou os cabelos negro-azulados dela, fazendo uma prece silenciosa a Deus, para que de alguma forma pudesse mudar as coisas. "Oh, não, minha pequena... Meu irmão me odeia. E eu vou perdê-la para ele outra vez...", pensou ele, abrindo os braços e recebendo um abraço forte de Hinata.

Naquele mesmo dia, Itachi comprou duas passagens de ida para Las Vegas, saindo logo pela manhã seguinte. Ao meio da tarde, ele e Hinata já chegavam ao hospital onde o agente de Sasuke havia informado que ele estaria, e lá puderam ver o estado deplorável em que o mesmo se encontrava. Ele estava estável, muito embora tivesse passado por uma cirurgia muito complicada.

Hinata não saia do lado de Itachi, embora não gostasse de entrar no quarto de Sasuke. Diante do corpo magro, com ferimentos e hematomas seu rancor sumia e dava lugar a pena.  Era visível que antes do acidente seu corpo já estava debilitado.  Doía vê-lo naquele estado e preocupasse por Itachi. Apesar de não demonstrar, sabia que o mais velho sofria pelo irmão.

Dias se passaram sem que o quadro de Sasuke apresentasse qualquer mudança relevante. Mesmo assim, Hinata e Itachi iam visita-lo todos os dias, sem faltas ou atrasos. O Uchiha maia velho sentia o coração pesado e dolorido cada vez que via o olhar triste e preocupado que a Hyuuga dedicava ao irmão, sabendo que as coisas estavam chegando ao insustentável pelo lado sentimental.

Justamente quando estava pensando sobre isso, Hinata o surpreendeu com sua doce candura, trazendo o seu café favorito.

— Tome, vai lhe fazer bem... – Ela estendeu um dos copos de plástico, sentando do lado de Itachi na sala de espera. – Alguma novidade?

Antes que Itachi pudesse falar qualquer coisa, uma das enfermeiras veio correndo do fundo do corredor com um sorriso caloroso. “Ele acordou!!”, ela disse, parando em frente aos dois, explicando que ia chamar o médico plantonista, mas permitindo a entrada deles no quarto.

Sem saber o que esperar do reencontro com o irmão, Itachi assentiu para Hinata e lhe deu a mão, encaminhando-se para o quarto onde Sasuke estava. Sem perceberem, os dois respiraram fundo antes de abrir a porta.

Quando viu o irmão mais velho e sua namorada entrando no quarto, Sasuke tentou levantar, mas a dor atravessou seu corpo e com um urro de dor permaneceu deitado.

A enfermeira que havia ido buscá-los foi em seu socorro pedindo calma e cuidado, mas ele a afastou com o olhar e o pedido grosseiro que o deixasse a sós com Hinata. A mulher o ignorou assim como Itachi.

— Não me ouviram? Quero um tempo com a minha namorada.

— Não seja rude, Sasuke! – bradou a morena, ficando ao lado de Itachi – Você sofreu um acidente e precisa de cuidados. Essas pessoas estão aqui pra te ajudar...

O rockstar estava prestes a reclamar novamente para fazer valer sua vontade, quando a garganta seca o levou a um acesso de tosse e dor, forte o suficiente para levar lágrimas aos seus olhos e contorcer sua face machucada. Nesse intente, Itachi sentiu pena do irmão. 

— Merda! – Sasuke gemeu entredentes.

— Se você não se acalmar, as coisas só vão piorar. – alertou Itachi, com a voz severa.

— Isso mesmo... – concordou Hinata, olhando para a enfermeira como quem pedia desculpa.

— Logo o doutor vai estar aqui para falar com vocês. – disse a enfermeira, retirando-se.

Sasuke cerrou os lábios. Era nítido que ele precisava falar com Hinata... Pedir perdão era algo novo em sua vida, jamais se humilhara de tal forma, é não começaria a fazê-lo na frente de outras pessoas, mesmo que uma delas fosse seu irmão.

Foi quando ele franziu o cenho ao reparar que Itachi segurava a mão de Hinata, e o encarou com irritação. Começava a entender a falta de incentivo de Itachi para sua volta.

Os três foram envolvidos por aquele silêncio incômodo. Hinata não tinha certeza do que poderia conversar com Sasuke, além de lhe estimar melhoras. Foi quando ela se lembrou do café forte em sua mão. Com um sorriso doce, ela o ergueu até Itachi.

— Desculpe, esqueci do seu café... Espero que não esteja frio.

— Obrigado, Hina. – o mais velho respondeu, pegando o café e tomando um gole. Ainda estava aceitável – E então... Está sentindo todas as partes do corpo? – ele perguntou, olhando o irmão de canto de olho.

— Tenho... Dor em todas... – Sasuke gemeu exageradamente ao erguer a mão para a Hyuuga. – Mas, ver você... É melhor que qualquer remédio.

Ainda relutante, Hinata soltou a mão de Itachi e se aproximou da cama, pegando a mão do ex-namorado com delicadeza. Diferente de tudo o que sentiu antes, agora ela sentia pena dele.

— Vai melhorar logo, Sasuke. – a morena respondeu, tentando sorrir afetuosamente – Eu e Itachi estaremos aqui. Sem contar que você está num ótimo hospital. Vai ficar tudo bem.

Naquele instante, nem mesmo Itachi conseguiu ter ciúmes. Tudo o que brilhava no quarto era a bondade explícita de Hinata e sua alma caridosa. Rindo internamente, Sasuke comemorou sua pequena vitória. Era questão de tempo para sua vida voltar ao que era antes de Hinata partir.

Tempo que teria de sobra segundo o médico. Costelas trincadas, o que explicava a dor quando tossira, pinos colocados na perna direita, usaria muletas por alguns meses e, o pior, escoriações e hematomas no rosto.

— Doutor, ele está sofrendo tanto... – comentou Hinata, olhando para Sasuke com pena – Não existe nada que possa melhorar essa condição?

— Bem, eu posso prescrever algo para ele dormir. Dormir sempre resolve as coisas! – respondeu o médico com um sorriso afetuoso para a jovem – Não se preocupe, o seu namorado vai ficar bem.

— Sasuke não é meu namorado. – ela o respondeu, sem mágoas – Somos amigos. Mas eu realmente não queria que ele sentisse dor. Por favor, peça o remédio!

E com um aceno positivo, o médico saiu do quarto, logo chamando a enfermeira e pedindo a medicação que iria melhorar as dores de Sasuke.

— Bem, podemos ficar até ele dormir, depois vamos comer algo, certo? – disse Itachi, colocando as mãos sobre os ombros dela, num gesto protetor – Podemos voltar amanhã no horário da visita. Eu farei de tudo para resolver aquelas pendências junto ao Oruchumaru e seu advogado.

— Concordo. – disse Hinata, exibindo um sorriso carinhoso para Itachi e depois para Sasuke – Amanhã tratei algumas flores para cá. Vai ajudar a melhorar o ambiente, pra você sarar logo!

Fulminando o irmão com o olhar, Sasuke trincou os dentes, ignorando a dor nos maxilares. Então... Esse era o jogo? Ah, mas Itachi não roubaria nada seu. Ao voltar os olhos para Hinata moveu os lábios em um sorriso trêmulo para ocultar a raiva e assentiu, embora duvidasse que flores estúpidas melhoraram seu estado.

Aceitou em silêncio os remédios e mergulhou no sono, prometendo a si mesmo que aguentaria o que fosse para reaver a antiga namorada – pois era isso o que ela era dele, muito embora ela dissesse o contrário.

~*~*~*~

O tempo passou. E a cada dia que passava, Sasuke melhorava o seu quadro clínico e fazia de tudo para agradar Hinata. Itachi já estava saturado em ver o jeito teatral que o mais novo usava para chamar a atenção da Hyuuga, e ficava mais irritado ainda quando ele o jogava de lado como se não fosse nada.

O acidente também servira para atrair seus fãs e a mídia novamente. Orochimaru até preparava uma pequena turnê e ele teria algum tempo para se recuperar, escrever novas letras e reconquistar sua trupe. E num ato de boa ação – ou de segundas intenções – o mais novo pediu para que Itachi escrevesse uma música nova e abrisse um de seus shows.

Sasuke parecia ignorar os anos em que estiveram separados, a forma cruel que terminou o relacionamento com Hinata e o silêncio que se seguiu pelos anos. O mais novo era presunçoso ao imaginar que tudo voltaria a ser como antes, tanto pela parte de Hinata quanto por parte dele próprio, muito embora fossem do mesmo sangue.

Itachi sabia que a morena não era mais a garota inocente que o seguia cegamente. Apesar de serem separadas por uma letra: boa era totalmente diferente de boba. Mas o que ele realmente não entendia é porque Hinata sempre pedia para que ele estivesse ao seu lado. Sasuke pedira, com voz quebrada e suplicante, que ela o acompanhasse nas sessões de fisioterapia e, as vezes ela ia, mas sempre com a condição de tê-lo ao seu lado também.

Não que isso o irritasse – pois muitas vezes, ele se favorecia da sua companhia para ficar bem – mas ele sabia que algo não estava bem com a morena que tanto amava.

Talvez fosse essa a razão por ter permitido que seu malfadado irmãozinho viesse se abrigar sob o seu teto durante o tempo de recuperação. Ele queria que Hinata fosse feliz, mesmo que não fosse ao seu lado. E por isso, ele aguentaria Sasuke no mesmo ambiente que ele... E junto dela.

~*~*~*~

Havia chegado o grande dia da volta triunfal de Sasuke. Itachi estava ansioso e irritado consigo mesmo por ter aceitado aquela proposta estúpida de abrir um dos shows. Ele não era uma estrela, o seu irmão sim!

— E aí... Nervoso com essa demonstração de público? – Sasuke pousou a mão no ombro de Itachi, um sorriso debochado nos lábios.

— Não estou acostumado com um grande público. – ele confessou, cruzando os braços em frente ao peito – Minha música só agrada a gente do interior...

— Compreendo... Alguns nascem pra brilhar e outros pra viver nas sombras. – Sasuke soltou um riso desdenhoso.

— É verdade... – o moreno mais velho engoliu a alfinetada do mais novo, respirando fundo antes de se adiantar para o palco – Ainda bem que eu não preciso ficar na sua sombra, irmãozinho... Por que, ao contrário de você, eu sei muito bem onde o meu coração está, e principalmente, onde ele deve ficar.

Desvencilhando-se do irmão caçula, Itachi se adiantou e foi recebido com palmas pelo público. Aquilo realmente era bem diferente dos shows em festinhas e botecos do interior. No entanto, ele tinha plena ciência de que aquilo não era para ele.

Ainda incerto, ele olhou para os bastidores e viu Hinata, sorrindo majestosamente para ele. Aquela garota era o seu sonho. Então, ele diria de uma vez por todas o que estava preso a garganta:

— Essa música foi escrita pra simbolizar tudo aquilo que existe... Mas principalmente aquilo que poderia acontecer...

Homens sábios dizem que só os tolos se apressam.

Mas eu não consigo evitar me apaixonar por você.

Se eu ficasse, seria um pecado?

Se eu não consigo evitar me apaixonar por você?

Como um rio que corre certamente para o mar,

Querida, é assim...

Algumas coisas estão destinadas a acontecer! 

Pegue minha mão, tome minha vida inteira também!

Porque eu não consigo evitar me apaixonar por você!

— Filho da... – Sasuke apertou os lábios contendo a fúria com a audácia do irmão. Era sua turnê, sua hora de brilhar e Itachi tentava roubar sua garota – Música medíocre. Farei uma melhor para você minha princesa, uma declaração do infinito amor que sentimos. – buscou a mão de Hinata

— Não sou sua princesa! – Hinata se afastou, com os olhos faiscando de emoções – Você não vê?! Olhe como o seu irmão está sofrendo! Ele escreveu aquela música por nós... Por nós três! Aquilo não tem nada de medíocre!

— Por nós três? – bufou entediado – É só uma tentativa podre de acabar com o nosso amor. Ele sabe que você me pertence, que é a mim que você ama e é comigo que ficará.

— Não, Sasuke... "Você é uma alma livre", não é mesmo? – ela riu com escárnio, lembrando-se da frase que ele tinha dito num das suas entrevistas – E eu não vou voltar com você. O que você quer é o mundo tudo... E a única coisa que eu busco no mundo é um homem só. – ela se afastou ainda mais, olhando para o palco – Você já não é mais o homem que eu amei...

— Claro que não sou – moveu os lábios em um sorriso sedutor, infalível para derreter as mulheres aos seus pés – Eu sou o único que amou e sempre vai amar. Meu irmão pode ter enchido sua cabecinha com bobagens, mas é óbvio que somos feitos um para o outro. – acercou-se para dizer sedutor – Realmente quero o mundo... E você faz parte dele, querida.

— Pois você não faz parte de mim, Sasuke Uchiha. – ela sentenciou de forma indiscutível – Eu não esqueci de você e nem das coisas que você fez, e eu não vou deixar você acabar comigo outra vez... – ela se afastou ainda mais, vendo que Itachi já voltava do palco – Acho que é hora de nos separarmos definitivamente... E é hora de você voltar para as suas fãs do mundo inteiro.

Ovacionado pelo público, Itachi acenou de forma respeitosa e se preparou para voltar aos bastidores. Estava feito. Seus sentimentos, sua música... Tudo fluía através de si.

 E quando ele reparou em Hinata e Sasuke e nas posturas ofensivas dos dois, não pode deixar de perceber que algo estava realmente errado.

— O que está... – ele mal teve tempo de completar a frase, logo sendo puxado pela Hyuuga pelo braço, dando as costas a Sasuke.

— Hina, eu te amo! – o mais novo segurou o braço dela em desespero – Voltei por você, mudarei tudo que pedir e me caso com você se for preciso...

— Você não me ama, Sasuke. – a morena bradou, puxando o braço de volta – Você ama o sucesso, o glamour e a fama... Eu sou só o brinquedo que você quer ter de volta. – e ela enlaçou o braço com Itachi, numa forma de proteção – E se eu pudesse pedir alguma coisa, eu pediria desculpas ao seu irmão, por ter sido tão tola e tão cega durante todos esses anos! Eu admirava você... Mas Itachi é o lar que eu procuro.

— Isso é vingança porque te deixei? Quer que me humilhe em súplicas de perdão? – Sasuke cerrou os dentes, o maxilar tenso pelo esforço – Eu nunca imaginei que fosse do tipo ressentida.

— Pode pensar o que quiser... Mas eu não quero nada que venha de você! – Hinata fechou os olhos e apertou ainda mais o braço de Itachi.

Sasuke estava borbulhando de raiva e indignação, e tentou se aproximar de Hinata novamente, porém foi impedido pelo mais velho.

— Você a escutou. – ele bradou, interpondo-se entre eles – Você tem um show pra fazer. Aquelas pessoas estão esperando você, Sasuke.

— Vá a merda, Itachi!! – urrou zangado com a intromissão do irmão – Não ficarei nessa cidade nem mais um minuto!! Sou maior que esse lugar e que você!! – e então se virou para Hinata com os olhos injetados de fúria – Um dia, você chorará lágrimas de sangue por seu arrependimento. – profetizou antes de partir.

— Babaca prepotente! – Itachi bradou, considerando em surrar o irmão, mas controlando-se por estar com Hinata ao lado. Ele olhou em volta, vendo a equipe inteira de Sasuke desesperada por não saber como agir enquanto o público gritava pelos irmãos Uchiha – Temos que fazer alguma coisa... Aquelas pessoas pagaram por isso. Estavam ansiosas por vê-lo.

— As pessoas querem uma apresentação perfeita, música e um cantor de qualidade. Você tem tudo isso Itachi... – tocou o rosto dele com as pontas dos dedos – Vamos lá, diremos que Sasuke teve um contratempo ou algo do tipo e seguimos o show. Eles te amam.... Assim, como eu te amo... – e ela deslizou a mão para a nuca dele, elevou o rosto e o beijou com ternura.

Ainda sem acreditar no que estava acontecendo, Itachi fechou os olhos e rodeou a morena num abraço forte. O beijo mais ansiado do mundo o deixava entorpecido e leve ao mesmo tempo, seu coração batia desenfreado no peito.

— Ok... Mas vamos ás regras: – ele murmurou, assim que interrompeu o beijo – Eu só vou me apresentar dessa vez, e nada de tour ou hall da fama, ok? Segundo: você vai cantar comigo lá, agora... Como minha mulher. – e ele abriu um sorriso esperançoso – Hinata, você se casaria com um músico pobretão, mas cheio das melhores rimas para você?

— Sim, sim, sim! – e ela o envolveu pelo pescoço com os braços, distribuindo beijos apaixonados pelo rosto dele, até plantar um beijo salgado de lágrimas de felicidade – Você é o meu lar e minha maior riqueza! Nada me faria mais feliz que estar ao seu lado naquele palco e pelo resto dos meus dias!

Sorrindo, verdadeiramente feliz depois de tanto tempo, Itachi tomou a mão de Hinata na sua e se dirigiu para o palco, recebendo um olhar agradecido de Orochumaru.

O público o ovacionou novamente, e ele foi gentil em se desculpar pela ausência do irmão e pediu gentilmente para que o deixassem tocar outras músicas. Ao contrário do que pensava, o Uchiha mais velho foi bem recebido pela plateia novamente, provando o que Hinata havia dito.

Com ela ao seu lado, Itachi cantou várias músicas de sua autoria, inclusive algumas da remota infância deles. Os dois se divertiam no palco, sabendo que tudo aquilo não passava do primeiro passo para o resto de suas vidas juntos.

Como um rio que corre certamente para o mar,

Querida, é assim...

Algumas coisas estão destinadas a acontecer!

Pegue minha mão, tome minha vida inteira também!

Porque eu não consigo evitar me apaixonar por você!