Mirtilo escrita por OmegaKim


Capítulo 8
VII - O amor dos bobos




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— Omma, já faz um mês. Um mês! — Kyungsoo exclamou frustrado sentado à mesa da casa de Heechul.

O ômega mais velho revirou os olhos com o escândalo que o filhote estava fazendo, porque era de um exagero sem tamanho. Tudo bem que já fazia um mês que Minseok não escrevia carta alguma, mas o loiro havia ligado no fim de semana passado e conversado com todos pelo viva-voz. Mas o pai entendia porque o filho estava tão frustrado, era porque nesse um mês que o gêmeo fora embora para França, o outro não tivera nenhum momento a sós com ele e só Heechul sabia como Kyungsoo se sentia sozinho, quando o outro Kim sempre fora seu melhor amigo e eles nunca tinham se separado.

— Por que ele não me escreve? Eu o escrevo todos os dias!  — continuou a se frustrar, jogou-se dramaticamente contra a mesa.

Heechul soltou uma risadinha antes de se sentar em frente ao filho e segura-lhe a mão carinhosamente.

— Minseok está num lugar totalmente novo, Kyungsoo. A França é muito diferente da Coréia, querido. Ele deve estar ocupado em se adaptar, mas você sabe como ele é, logo, logo vai te ligar ou mandar uma carta. — o ômega levantou o rosto para fitar o pai ômega, os olhos grandes cheios de saudade do irmão. — E além do mais, as cartas podem ter se perdido e ainda não chegaram. A França é bem longe.

Kyungsoo fez um bico com os lábios cheios e o Kim mais velho apertou-lhe a bochecha, arrancando uma risadinha do filho adotivo.

— Por que não sai para se encontrar com seu namoradinho, huh? — perguntou, fazendo questão de sussurrar namoradinho como se fosse um segredo.

O ômega mais novo corou com o que foi dito. Não sabia que o pai tinha conhecimento sobre seus encontros com Chanyeol, achava que estava sendo cuidadoso.

— Eu sinto o cheiro dele em você, Kyungsoo, nem adianta negar. — e riu fazendo o mais novo abaixar a cabeça, envergonhado com sua inocência.

Ficara tão focado em Chanyeol, em vê-lo e toca-lo que esquecera-se de que o cheiro dele se prendia nas suas roupas todas as vezes que se abraçavam.

— Não pode contar ao appa. — pediu e o pai ômega sorriu doce.

— Não se preocupe, querido. Eu já tive a sua idade. — usou o seu tom compreensivo, fazendo o outro suspirar aliviado, mas é claro que ele sabia que aquilo não queria dizer muita coisa pois quando Heechul ou um dos seus pais descobrisse sobre Chanyeol, as coisas não iam ser nada boas.

Mas por enquanto, ele queria se enganar que estava e iria ficar tudo bem.

Heechul colocou as mãos nos bolsos, estava atrás de algo que tinha comprado mais cedo para usar com Leeteuk, mas já passava das oito e duvidava muito que o marido chegasse a tempo. Era sempre assim, afinal. O alfa se perdia nos braços de Ryeowook e esquecia-se dos compromissos que tinha com o outro Kim. Mas Heechul não se incomodava com isso, pois era o primeiro esposo e por isso sempre teria mais privilégios que o segundo, isso sem tirar o fato de que ele estava na posição certa. Tinha alcançado o seu objetivo.

Encontrou os ingressos pro cinema no bolso de trás da sua calça jeans e os estendeu na direção do filhote.

— Por que não leva seu namoradinho no cinema? O filme começa daqui a pouco. — ofereceu e observou quando os olhos de Kyungsoo brilharam em entusiasmo.

Lembrou-se quando ele era mais novo, um tanto mais novo do que Kyungsoo quando se apaixonou pela primeira vez. Ele era um beta tão charmoso quando sorria largo de alguma piada que o ômega contava. Gostava mesmo daquele beta e talvez tivessem casado se tudo aquilo não tivesse acontecido, mas Heechul não havia se arrependido das escolhas que tomara. Havia escolhido se casar com Leeteuk e tinha construído uma bela família e mesmo que Ryeowook fosse bem irritante, gostava dele. Tinha plena certeza que aquela família não seria lá muita coisa sem o outro Kim, pois foi dele que haviam vindo seus gêmeos prediletos. Era dele que havia vindo Minseok, seu maior orgulho. Mas ainda assim não conseguia se impedir se sempre mergulhar no passado por alguns momentos, imaginar possibilidades que faziam seu peito doer de saudade.

Kyungsoo pegou os ingressos, sorrindo travesso e depois ficando de pé. Se agitando pela cozinha do pai como se tivesse ganhado na loteria.

— Você precisa me acobertar. — falou e Heechul riu mais um pouco, enquanto assentia.

— Só sai logo daqui. — brincou, se fingindo de bravo e o ômega correu depois de jogar um beijinho na direção do pai.

O Kim mais velho riu mais um pouco, sentado à mesa da sua casa, balançando a cabeça ocasionalmente e desejando que o primeiro amor de Kyungsoo fosse tão doce quanto o seu foi. Queria que os filhos tivessem lembranças bonitas, para guardarem para os momentos ruins, porque sempre havia momento ruins. Mas as lembranças boas sempre mantiam as pessoas firmes, e por isso, desejou que o amor bobo de Kyungsoo fosse eterno em sua memória.

Levantou-se um tempo depois e foi para o seu quarto, fazendo questão de passar no quarto do filho alfa e verificar como ele estava. Heechul sabia que Leeteuk não ia aparecer para dormir consigo como tinha prometido mais cedo ou talvez aparecesse, mas já seria tarde demais para vê-lo chegar e apenas sentiria o seu calor contra o seu corpo durante a madrugada.

Ele não reclamava, mas não podia evitar ficar ressentido, pois apesar de tudo ainda era um ômega. E ômegas gostavam de receber atenção de seus alfas, mesmo alfas como Leeteuk, relapsos e atarefados demais com a alcateia. O Kim sabia que não era fácil para o marido ter dois ômegas, mas as vezes não conseguia evitar ficar irritado pelo modo como Ryeowook sempre ganhava mais atenção. Mas havia uma coisa que Wook nunca o superaria, ele era o primeiro. Seja como marido ou como amor da vida de Leeteuk, sempre seria o primeiro. 

Suspirou quando sentou-se na beira da sua cama, perto do criado mudo. Abriu a primeira gaveta e pegou a carta que havia ali. Tinha chegado no começo da manhã, seu nome estava escrito como destinatário enquanto o nome do seu filhote estava no remetente. Kim Minseok.

O ômega se sentia meio culpado por esconder uma carta do filho assim, mas sabia que aquilo era apenas um assunto deles dois. Ninguém mais podia saber daquilo, nem mesmo Kyungsoo. E foi pensando nisso que rasgou o lacre da carta e leu o que estava escrito ali.

***

Kyungsoo segurou na mão de Chanyeol e o puxou para dentro do cinema.

— Ainda não acredito que Heechul deu esses ingressos. — o alfa disse depois de se sentar ao lado do namorado nos fundos do cinema, a luz ainda não tinha sido apagada.

— Ele ia sair com meu appa, mas não deu muito certo. — contou, uma nota de tristeza na voz pelo pai. — Meu pai dá mais atenção pro meu omma.

— Por que? Não gosta do seu omma Heechul? — enfiou a mão no balde de pipoca e levou à boca a mão cheia, preenchendo a cavidade imediatamente.

— É meio complicado. — tentou explicar. — Meu omma Ryeowook se apaixonou pelo meu appa quando ele já estava casado, aí eles ficaram um monte de vezes pelas costas do meu outro omma até ele dizer que eles tinham que se casar. Então meu appa construiu uma casa pro meu omma e depois de um tempo nós nascemos.

— Hum... — resmungou de boca cheia.

— Mas meus ommas não se dão bem. Eles brigam o tempo inteiro, é estressante. Mas omma Heechul é um ótimo ômega. Foi com ele que aprendi a cozinhar. — sorriu, realmente se identificava mais com seu omma adotivo do que com o seu pai biológico.

— E Ryeowook? — perguntou enquanto a sala de cinema se enchia de pessoas, humanos e lobos, esses primeiros nem sabendo que estavam no mesmo ambiente que os segundos.

— O que que tem?

— Você nunca fala muito dele. — disse, o que já tinha reparado.

Kyungsoo sempre falava mais de Heechul do que do pai, quase como se preferisse o pai adotivo do que o biológico.

— Ele é um ótimo omma. — falou um pouco baixo. — Mas sempre deu mais atenção para Minseok do que pra mim.

— E você sente inveja? — questionou, estava tentando entender o namorado.

— Claro que não. — se apressou em dizer, pois sabia que Minseok nunca teve culpa em ser o predileto dos pais.  — É só que nunca conseguimos conversar, sabe. É mais fácil falar com omma Heechul.

Chanyeol não entendia, mas assentiu mesmo assim porque na sua casa não era assim. Seu pai alfa era distante e ranzinza, mas ele sabia que todo o tempo que passava fora era para o bem da alcateia e da sua família, assim como ele sabia que o pai costumava ser bem caloroso quando sozinho com Donghae. Os tinha flagrado uma vez, quando mais novo, os dois sorrindo um pro outro antes que o alfa beijasse o ômega delicadamente. Tinha percebido aí que o pai tinha um coração e que esse coração estava guardado com Donghae. Mas o alfa só era assim com o ômega e Chanyeol nem podia culpa-lo, porque não havia como não ser doce com Donghae, que era tão delicado e preocupado com todos a sua volta.

As pessoas da sua alcateia estavam sempre elogiando o seu pai ômega, falando sobre suas qualidades e usando-o como exemplo para cima de outros ômegas. E até mesmo ele usava o pai como exemplo por aí. No entanto, com Kyungsoo — que tinha dois ommas e por isso devia ser muito legal — ele só conseguia ficar confuso com o comportamento dele. Não devia ficar feliz por ter dois ommas lhe dando atenção? Mas pelo visto, as coisas não eram tão simples assim. No entanto, uma coisa parecia simples na família Kim: eles se amavam. 

— Ah, o filme vai começar. — Kyungsoo se apressou em mudar de assunto quando a luz foi apagada.

Chanyeol o observou de perfil, meio desconfiado mas não fez mais perguntas. Deitou a cabeça no ombro do menor e recebeu um beijo na testa e então eles ficaram quietos enquanto o filme começava.

***

Chanyeol não estava em casa quando o pai chegou e isso preocupou Baekhyun, principalmente porque o pai nunca aparecia para as outras refeições, sempre muito ocupado com seu cargo de líder e dono da empresa e por isso o jantar se tornava o único momento em que eles se reuniam para desfrutar da presença uns dos outros. Mas pelo modo como a comida já tinha sido servida e todos já estavam sentados em seus lugares, Baekhyun sabia que o irmão não apareceria.

— Onde está Chanyeol? — o pai perguntou, os olhos voltados para o peixe no seu prato.

O moreno se remexeu inquieto no seu assento e lançou um olhar para o pai ômega, que o fitou de volta sem ter a menor ideia do que responder e por isso, foi o moreno que tomou a dianteira da conversa:

— Está na casa de um amigo fazendo um trabalho de escola. — mentiu e abaixou os olhos para o seu jantar, fingindo interesse no peixe ali.

Não estava exatamente com fome, mas sabia que tinha que comer para manter-se saudável, porque nada pior do que um filho indesejado, era um filho indesejado desnutrido. Segurou o garfo e a faca e começou a retirar as espinhas do peixe, para só então comer devagar. Eram exatos vinte e cinco mastigadas antes de engolir a comida. Tudo muito milimetricamente calculado, como a sua postura ereta naquela cadeira, afinal nada nunca podia ser fora do padrão naquela casa.

— Que amigo? — a pergunta foi dirigida à Donghae, que se ocupou em comer seu jantar, apenas para ganhar tempo em responder essa mentira.

— Um humano. — disse por fim. — Você não o conhece, é um garoto comum.

Siwon curvou o canto da boca em desagrado. Não gostava de humanos. Eles eram tão sem graça com a sua falta de cheiro e de senso. Preferia betas à eles, pois betas ao menos sabiam a quem tinham que obedecer além de terem sangue lupino correndo nas veias. Bem diferente de humanos, que eram frágeis e nem ao menos podiam se envolver com um lobo sem serem mortos na primeira gestação. Eram raros os casos de humanas que tivessem sobrevivido ao parto, a maioria morria. Isso, sem tirar o fato, de que eles não eram nenhum pouco organizados. Eram um grande estorvo, pensou. E era realmente uma grande decepção que o seu filho tivesse que dividir uma escola com seres tão inferiores assim.

Não disse mais coisa alguma em relação a isso. Na verdade, deixou que Donghae o distraísse com seus assuntos bobos de ômega. Concordava com algo aleatoriamente, balançando a cabeça distraidamente enquanto sua boca se ocupava em mastigar o jantar. Estava delicioso do jeito de sempre, afinal Donghae nunca errava na mão na hora de cozinhar. Nunca diria em voz alta, mas adorava o tempero que o ômega usava. No entanto, não precisava dizer isso, porque o ômega sabia.

Já estavam juntos há vinte anos, o marido seria um bobo se não conhecesse cada um dos trejeitos do alfa. Tinha total conhecimento sobre como o alfa gostava de sobremesas doces e sobre todas as outras coisas do seu dia a dia, era por isso que sempre se esforçava para deixar tudo do jeito certo. Sempre fazendo questão de fiscalizar tudo ou de, quando se tratava do jantar, cozinhar tudo com as próprias mãos.

Quando o jantar já estava no fim e a sobremesa já tinha sido servida. Foi que o alfa voltou a se pronunciar:

— Quero que venha comigo hoje, Baekhyun. — o jovem alfa ergueu os olhos do seu mousse de chocolate e fitou o pai, meio confuso.

— Para onde, querido? — Donghae perguntou depois de se servir, estava desconfiado.

Siwon fitou o marido e sorriu minimamente, se o ômega não o tivesse fitando, nunca teria notado. Sabia que o marido estava planejando algo, não só porque o conhecia há muito tempo mas também porque a marca no seu ombro alertava isso. Siwon tinha alguns planos para aquela noite.

— Uma noite dos homens. — falou simplesmente e virou o rosto para fitar o filho. — Seria melhor se Chanyeol estivesse aqui, mas como não está. Terá que ser apenas nós dois. — dessa vez se forçou a sorrir pro filho e Baek sentiu o seu estômago revirar.

Sabia que o pai estava com algo em mente, porque eles nunca saiam juntos à noite. A não ser se tivesse alguma reunião de emergência no Clã, pois o moreno como o primeiro filho, estava sendo treinado para assumir o lugar do pai quando chegasse a hora. Um lugar que ele nunca quis, seja como filho ou como líder.

O pai não esperou uma resposta, pois não existia uma. Siwon não estava perguntando se Baekhyun queria ir, estava apenas comunicando que eles iriam sair naquela noite. Apenas os dois, pensou e se forçou a sorrir pro pai fingindo que a presença dele não o deixava desconfortável. Tratou de terminar a sua sobremesa para poder ter alguns momentos a sós antes de sair com o seu pai. E como o esperado, o alfa deixou que ele saísse da mesa e fosse para o seu quarto.

Deixou a sala de refeições e meio apressado demais se trancou no seu quarto. Não sabia porque estava tão apavorado. Era o seu pai. Ele nunca lhe faria mal, apesar de ser bem severo às vezes. Respirou fundo algumas vezes e só então se acalmou. Escolheu uma roupa apreciável e quando já estava terminando de pentear o cabelo escuro para o lado, escutou o pai bater na porta do seu quarto.

Abriu a porta e sem que o mais velho dissesse alguma coisa, o seguiu para fora daquela casa. Achou estranho quando o pai entrou em um carro, sentando-se no banco do motorista. Nunca via o pai dirigindo, geralmente tinham um motorista para isso. Até mesmo seu pai ômega não dirigia, quando precisava sair de casa. Mas Baekhyun sabia dirigir. Tinha que saber muita coisa...

O líder dirigiu em silêncio por um caminho de Seul que o filho não conhecia. Ele cortou por algumas ruas, entrou em alguns becos e então finalmente parou frente a uma bela casa coreana. O porte lembrava as velhas casas chinesas que Baekhyun tinha visto em um documentário uma vez, mas achou estranho que tivessem parado ali.

Desceu do carro junto do pai e seguiu o mais velho até a porta do lugar. Observou quando Siwon bateu à porta, três batidinhas ritmadas e então a porta foi aberta e o cheiro de suor, sexo e luxúria chegou até o olfato do Byun. Ficou parado por um momento, meio confuso com a mistura de cheiros de outros lobos e por isso não se mexeu de imediato, mas o pai o encarou sério, mandando silenciosamente que andasse. E foi isso que fez, caminhou devagar para dentro do lugar, logo depois do pai.

Já tinha ouvido falar de um lugar como aquele. Estava nas literaturas e nas conversas de vestiário dos garotos humanos da sua escola, além de que na boca dos lobos mais velhos da sua alcateia. Era uma casa de prostituição. Mas o que ele não entendia era porque o pai o tinha levado até ali.

— Donghae me contou que Chanyeol anda se encontrando com um ômega. — o alfa falou enquanto atravessava o local, falava alto por causa da música alta.

Baekhyun quis parar de andar tamanha a sua surpresa em o pai saber disso, mas se forçou a continuar o seguindo. Enquanto seus pensamentos tentavam entender porque o pai ômega havia compartilhado aquela informação com o alfa, mas assim que se fez essa pergunta, soube a resposta. Donghae estava camuflando Chanyeol do jeito mais óbvio possível, ao dar informações básicas para o alfa, pois assim ele se enganaria que estava sabendo de tudo quando não sabia de nada. Se deixou relaxar, mas não o suficiente.

— Então me dei conta de que você nunca teve um ômega — continuou falando, parando de frente para o bar do lugar. Encostou-se ali. — Ou um beta. — havia uma nota de desdenho na sua voz, como que caçoando da virgindade do filho. — Ou teve? — perguntou, uma sobrancelha arqueada.

Baekhyun encostou-se ao lado do pai, fitou as várias bebidas do outro lado do bar e reconheceu que a pessoa que estava servindo era um beta, já que não sentia cheiro algum vindo dela e porque já havia notado que aquele lugar era exclusivo para lobos. Não queria falar com o pai sobre aquilo. Era algo pessoal demais e ele nunca tinha sido íntimo do alfa, no entanto sabia que tinha que responder. Não podia negar respostas ao pai, não quando ele era o líder. E um bom lobo, sempre obedece ao seu líder.

— Não. — falou, a voz controlada e a vergonha começando a aparecer em si.

Sabia sobre a gravidade disso. Era um alfa, com dezesseis anos não tão recém-completos, estava no auge da sua adolescência, devia encontrar algum ômega e copular. Ou pelo menos era assim que os alfas da sua idade agiam. Todos sempre interessados em ômegas ou betas, era nessa idade que maioria deles encontrava o seu parceiro da vida toda. Mas não Baekhyun. O moreno estava interessado em aprender artes maciais, a segurar uma arma, os cálculos da escola ou ser um bom líder. Estava preocupado em passear por entre o complexo da família Byun e conhecer os ômegas, betas e alfas que moravam ali, saber do que precisavam e se viviam bem. Estava preocupado em manter Chanyeol fora de confusão. E por estar preocupado com essas coisas que nunca tinha muito tempo para se interessar por qualquer pessoa.

Seu pai Donghae bem que tentava lhe apresentar pessoas, humanos ou lobos. Mas ninguém parecia interessante o suficiente. Os ômegas tinham o cheiro enjoado, os betas não tinham cheiros e os humanos era muito frágeis. No entanto, houve Kyungsoo na sua vida.

Tudo bem, que eles não trocaram nada além de poucos beijos, mas o cheiro dele não era de todo ruim. Era bem atrativo na verdade e ele era interessante, com aqueles olhos grandes e estatura pequena. Um pouco diferente do irmão gêmeo, Minseok, que era mais interessante com aqueles olhos de gato e boca delicada, sem falar no cheiro de ambos, tão diferentes. Kyungsoo era floral, o tipo de coisa que se encontraria ao ar livre, combinava com a sua personalidade.

Mas Minseok... Minseok tinha aquele cheiro frutadamente doce de mirtilo. Aquele maldito cheiro que se espalhava por todo o cômodo onde o ômega se encontrava, se expandia por todo o complexo da escola e sempre o dizia onde encontra-lo, mesmo que não quisesse nunca encontra-lo. No entanto, se encontravam. Lembrou-se do modo como se esbarravam pelo corredor, como o loiro parecia estar no seu caminho e por isso se irritava e eles brigavam.

Faziam isso com mais frequência do que podia imaginar, mas Baekhyun assumia a culpa nisso, pois estava sempre a provocar o loiro. Franzia o nariz de propósito quando ele estava perto, como que fingindo que estava incomodado quando seu lobo se remexia inquieto demais para que ele conseguisse entender o que acontecia.

Porém, aqui estava ele. Em uma casa noturna dizendo ao seu pai que nunca tinha dormido com ninguém. Siwon sorriu para si, o sorriso cheio de segundas intenções. Não estava fazendo aquilo por mau, pensou. Já tinha sido adolescente, sabia como aquela fase podia ser torturante sem um pouco de sexo. Seu pai tinha o trazido para uma casa noturna quando era adolescente, para ter a sua primeira vez. Por que não podia fazer isso com Baekhyun? Parecia o certo.

— Escolha alguém. — mandou depois de pedir uma bebida ao beta atrás do balcão.

O filho olhou em volta, os olhos assustados. Não queria escolher ninguém, seu lobo estava rejeitando todos os cheiros que sentia naquele lugar e seu lado humano estava rejeitando qualquer uma das figuras ali presentes. Mas não podia negar que havia mulheres bonitas ali, os corpos com muita pele exposta e movimentando-se de forma sensual pelo lugar.

— Eu... — tentou dizer que não queria ninguém dali, mas sabia que ia decepcionar se dissesse isso.

Pois que tipo de garoto alfa não quer uma transa fácil? Seu pai estava oferecendo uma primeira vez rápida e fácil e tudo que Baekhyun conseguia pensar era em como não conseguia desejar nada daquilo. Será que havia algo de errado consigo por não querer transar ainda? Será que não sentia atração por nada? Ou como seu pai ômega costumava dizer, havia mesmo aquilo de pessoa certa?

Molhou os lábios, nervoso. Os olhos passeando por entre as pessoas presentes ali.

— Já que não vai escolher, eu escolho. — Siwon se meteu quando o filho demorou demais.

Estava ficando meio irritado com o modo como Baekhyun parecia retraído. O que havia de errado? O alfa estava lhe dando uma oportunidade e tanto, ao dizer que podia escolher alguém. Quando foi a sua vez, não teve o privilégio de escolher. O seu pai havia apenas o guiado até ali, o trancado em um quarto com uma beta de pele morena e olhos tristes. E mesmo que não sentisse atração nenhuma por aquela mulher, sabia o que tinha que fazer, porque era assim que funcionava para alfas: você tinha que afirmar a sua virilidade sempre. Era por isso que havia trazido Baekhyun ali. Ele tinha que se tornar homem.

Olhou em volta e deixou que seus olhos parassem na garota pequena sentada sobre o colo de um homem velho. O rosto era rechonchudo e os olhos felinos, o cabelo ruivo a deixava muito bonita, mas as belas pernas eram com certeza o seu atrativo principal. Ergueu uma sobrancelha na sua direção e depois fez um sinal para que ela se aproximasse.

A garota sorriu antes de fazê-lo. Retirou a mão do homem velho da sua cintura e se levantou, caminhou calmamente em direção ao homem no bar. Podia sentir o seu cheiro forte de alfa.

— Se sentindo sozinho? — perguntou maliciosa ao chegar perto, fazendo questão de deixar sua mão sobre a coxa do alfa.

Siwon retirou a mão dela dali, delicadamente, e a puxou para perto. Baekhyun observou quando o pai cochichava algo no seu ouvido e depois recebia os olhos da garota sobre si.

— Venha, querido. — ela disse se aproximando do moreno e segurando-lhe a mão. — Vou cuidar de você. — sorriu para si do jeito mais reconfortante que conseguia, mas não ajudou no nervosismo de Baekhyun.

Ainda olhou para trás, afim de ver o pai virar-se para ficar de frente para o bar, um copo de bebida na sua frente. Estava com o rosto sério e não parecia interessado em ninguém naquele lugar, do mesmo jeito que Baekhyun. No entanto, ele não foi capaz de se impedir de seguir aquela garota para um dos quartos nos fundos da casa.

O cheiro era muito pior ali. O cheiro doce dos ômegas se misturava ao cheiro forte de alfas enquanto por cima de tudo isso havia a mistura nauseante de sexo e suor, e os sons de gemidos eram bem piores. Como alguém conseguia ficar excitado com aquilo? A garota o empurrou para dentro de um quarto vazio, mas pelo modo como os lençóis da cama estavam bagunçados, o moreno sabia que aquele cômodo havia sido usado a pouco tempo pois ainda conseguia sentir o cheiro forte de pós-sexo ali.

Pela primeira vez, Baekhyun não quis sentir cheiro de nada. Estava sentindo tanto horror daquele lugar, que quando a garota o empurrou em direção a cama e começou a abrir sua camisa, ele arranjou forças para empurra-la de cima de si.

— Eu não posso fazer isso. — disse, mas foi completamente ignorado pelos lábios dela contra os seus.

Eram diferentes dos de Kyungsoo. Não tinham maciez dos dele nem o mesmo gosto. Os lábios dela eram automáticos contra os seus, se movendo de uma forma padronizada. No entanto, a ausência do cheiro dela, deixou Baek mais relaxado, pois foi só aí que ele percebeu que a prostituta era uma beta.

— Vai ficar tudo bem. — ela sussurrou contra os seus lábios. — Não precisa ter medo.

Mas o Byun não estava com medo. Era um sentimento pior do que esse. Ele só não queria decepcionar o pai. Contudo, deixou que a garota guiasse seus movimentos porque sabia que se não terminasse aquilo logo, não poderia encarar o seu pai nunca mais. E além do mais, não tinha com o que se preocupar, aquilo era só sexo.


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