Broken Heart escrita por La Rue


Capítulo 1
Negação


Notas iniciais do capítulo

Aproveitando meu período depressivo melancólico para finalmente escrever uma fic desse jogo excepcional, me baseando nos cinco estágios do luto, da psiquiatra Elisabeth Kubler-Rosse.

Então esse será o primeiro capítulo de cinco... É a minha primeira fic sobre LIS, então espero que gostem.



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"Adeus ao meu sonho de Santa Monica

Quinze crianças no quintal bebendo vinho

Você me conta histórias do mar

E daqueles que deixou para trás

Adeus às rosas na sua rua

Adeus às pinturas na sua parede

Adeus às crianças que nós nunca vamos conhecer

E daqueles que deixamos para trás"

 

~***~

 

Não importava o quanto havia lutado durante os últimos dias, aquele fatídico momento finalmente chegara e com ele a decisão mais difícil de toda a sua vida. Estava presa em um terrível pesadelo que parecia não ter fim, tivera mais um de seus apagões, quando finalmente acordara estava com Chloe lhe carregando até o farol, chovia muito, Maxine Caulfield sabia do que se tratava, era a tempestade que lhe atormentara durante a última semana, no desfiladeiro que dava para o oceano, um tornado que varreria toda a cidade de Arcadia Bay do mapa.

Chloe lhe entregou a foto com a borboleta, sabia o que tinha de fazer, sabia como fazer, mas como ela poderia fazer aquilo? Como do nada ela teria que escolher entre salvar uma cidade em troca da vida da sua melhor amiga, da pessoa que mais amava… Não era justo que logo agora, depois de longos cinco anos separadas ela simplesmente teria que dar uma de Deus e decidir entre tantas vidas.

A garota de cabelos azuis começou a enumerar diversos motivos para que Max pudesse enfim seguir, mesmo assim era um fardo pesado demais para que pudesse suportar.

—Você finalmente voltou pra mim essa semana e você não fez nada além de me mostrar o seu amor e amizade. - Chloe tentava lhe explicar da melhor forma possível o quanto estava grata por tudo o que a amiga fizera, mesmo que sua voz demonstrasse tamanha tristeza. - você me fez sorrir e rir como não fazia há anos.

Max balançava a cabeça de forma negativa, seus olhos estavam irritados e mesmo com a tempestade era perceptível que era devido às lágrimas derramadas.

—Eu não sei o que vai acontecer comigo, mas em qualquer uma dessas realidades, os momentos entre nós foram reais e sempre serão nossos. - ela segurou nos braços da fotógrafa fazendo um breve afago no local. - Não importa o que você escolha, saberei que tomou a decisão correta.

—Chloe… Eu não posso tomar essa decisão. - tentou rebater se afastando do toque da amiga, sua cabeça estava confusa demais.

—Não, Max. Você é a única que pode fazer isso. - insistiu trazendo a amiga para perto novamente e lhe olhando nos olhos. - está na hora.

—Eu sinto muito… Eu não quero fazer isso.

A garota de cabelos azuis lhe abraçou com força, como se isso fosse o suficiente para lhe dar a coragem que lhe faltava. Poderia ter diversos defeitos, poderia ter se tornado uma pessoa extremamente difícil de lidar nos últimos anos, sabia que era egoísta, mas ela não era egoísta ao ponto de pedir por sua vida.

—Eu sei Max, mas temos que fazer. - reforçou a sua decisão, a voz tranquila aos ouvidos da amiga, a mão lhe acariciando com afeto os cabelos curtos e molhados. - precisamos salvar todos… E você fará aqueles merdas pagarem pelo que fizeram a Rachel.

Chloe se afastou aos poucos, sua voz estava ficando chorosa novamente, queria não aparentar, mas aquilo era doloroso demais para ela. Sabia que a outra sofreria, sabia que não estaria mais ali para lhe confortar, para lhe ver sorrir com o seu jeito às vezes tímido, porém sempre corajosa, não estaria mais ali para ver suas grandes conquistas que ainda faria, pois Maxine Caulfield era incrível e alcançaria tudo àquilo que sempre sonhou… Não possuía quaisquer dúvidas disso.

—Estarmos juntas essa semana foi o melhor presente de adeus que eu poderia receber. - confessou após tentar restabelecer novamente o seu tom calmo. - você é a minha heroína, Max.

Foi à vez da morena de olhos azuis se aproximar da mais alta, aquilo tornaria as coisas mais difíceis para ambas, mas precisava ser feito, precisava daquele último adeus. Segurou o rosto de Chloe com as duas mãos e uniu os seus lábios aos da amiga em um beijo demorado e carregado de sentimentos.

—Eu sempre amarei você… - a garota punk retirou o seu colar com três balas como pingente e colocou no pescoço da amiga. - Agora vá embora. - novamente a voz da mais velha estava quebrantada, era demais para ela. Afastou-se a passos lentos para trás, não poderiam perder mais tempo. - por favor, antes que eu enlouqueça… E, Max Caulfield, não se esqueça de mim.

Ela sabia o que aquela última frase significava e aquilo lhe doeu ainda mais o peito, nos anos que passaram separadas ela e Chloe pouco se falaram e Max sabia que aquilo, juntamente com o falecimento do pai da amiga havia lhe causado danos irreparáveis… Porém ela não poderia esquecer Chloe Price, isso jamais.

—Nunca… - foi tudo o que respondeu enquanto guardava a imagem da amiga uma última vez.

Chloe se afastara por alguns passos e Max virou de costas, se concentrando na foto da sua antiga polaroide - uma borboleta azul que havia pousado em um balde no banheiro feminino da escola - parecia que aquela foto tinha décadas e não que fora tirada apenas a alguns dias… Foi naquele momento que sua vida virara de cabeça para baixo.

Manteve os olhos fixos na imagem e poucos segundos depois estava novamente de pé escondida na divisória do último reservado do banheiro feminino. Tirou a foto em sua polaroide como era esperado, já passara por aquela cena, sabia exatamente o que se seguiria… Deixou que a foto escorregasse da sua mão até o chão e esperou alguns segundo.

Nathan Prescott adentrou o banheiro feminino, estava nervoso e tendo mais uma de suas crises de ansiedade, pouco tempo depois a porta foi aberta novamente e Max tremeu ao escutar a voz da melhor amiga, os dois começaram a conversar, mas a conversa logo toma suas proporções catastróficas. A fotógrafa permanece em seu lugar, escora na divisória e escorrega até o chão ao lado da foto, ela poderia ver perfeitamente a cena que se seguia, mesmo que estivesse ali escondida.

A voz assustada da garota pedindo que ele se afastasse… Nathan saindo de controle… O disparo de uma arma de fogo.

Foi assim que tudo havia começado, foi assim que ela interviu e descobriu sobre os seus poderes malucos de controlar o tempo. Sentia-se impotente, abraçou os próprios joelhos e se encolheu enquanto chorava copiosamente… Não poderia intervir! Sentia seu coração completamente despedaçado enquanto Nathan desesperado pelo que acabara de fazer mexia no corpo desacordado da sua melhor amiga, o piso sendo manchado com o sangue da garota punk.

As lembranças de tudo que viveram juntas desde a infância, o momento em que se reencontraram tudo o que passaram durante aquela semana conturbada… Era algo que dominava a sua mente de uma forma avassaladora. Não podia perder a pessoa que tanto amava daquela forma, não queria perde-la depois de cinco anos separadas.

Poderia fazer alguma coisa para poder mudar, não era possível que tenha recebido um poder e não pudesse fazer absolutamente nada, as soluções para os seus problemas estava ali, a foto estava ao seu lado, poderia reverter o tempo, porém existiam sérias consequências e riscos, Max sabia disso. Quando tentou reverter à morte do pai de Chloe a garota presenciou a pior das realidades alternativas… Sua amiga ficara tetraplégica, sua família estava afundada em contas e Chloe sabia que morreria com as suas condições, pois só estava piorando com o tempo. Coube a Max dar fim ao sofrimento da amiga.

 

~***~

 

Uma das piores coisas que teve que fazer naquele dia foi voltar à casa dos Price, porém dessa vez sem a amiga. Joyce ficou surpresa, afinal não sabia que Max estava de volta, muito menos que a menina entrara em contato com a sua filha novamente. Contudo, o rosto triste e quase vazio não era condizente com a menina que guardara em sua memória… Algo ali estava errado, muito errado.

Sentada a mesa com a mulher loira e o seu atual marido, David Madsen, o segurança da escola onde ela estuda, um ex-veterano de guerra. Tanto Max como a amiga tiveram muitas divergências com o homem ali presente nos dias que se seguiram, porém o rosto triste de ambos era mais uma ferida que não sabia se conseguiria suportar… O rosto de quem fizera tudo para ajudar a conturbada Chloe Price, mas que no fim acabaram falhando miseravelmente.

Estava ali agora pela amiga, fizera aquilo a pedido dela, lembrava bem das palavras que a garota bonita de cabelos e olhos azuis lhe dissera… Que sua mãe era boa demais para morrer dentro de um restaurante genérico na perdida Arcadia Bay, que ela merecia algo melhor do que simplesmente morrer depois de uma vida de perdas e privações. Até mesmo o seu rígido padrasto - com quem não se dava muito bem - não merecia aquilo, assim como tantas outras pessoas que ainda valiam a pena.

—Nathan havia drogado Chloe e tirou fotos dela. - explicou Max, ponderando o que poderia falar ou não. Não queria causar ainda mais dor aquela família falando das pequenas infrações da amiga.

—Nathan?! - a voz de David se alterara consideravelmente ao escutar o nome do herdeiro mais novo da família milionária. - Nathan Prescott?!... Aquela família é podre, sabia que esse garoto era problemático, mas um porte de arma?!

Sabia que o homem ali presente fazia investigações por conta própria desde o desaparecimento de Rachel Amber, reunindo provas, fotografando alunos suspeitos ou em possível perigo, principalmente membros do Club Vortex como o rapaz citado.

Joyce fizera um sinal para que o marido se acalmasse para que a jovem Caulfield prosseguisse com o seu relato. Sabia que aquilo estava sendo tão doloroso para a menina quanto para eles.

—Depois disso Chloe o ameaçou, disse que contaria aos seus pais, mesmo que ache difícil que ela o fizesse realmente… - tentava falar de forma coerente, estava zonza, queria chorar. - ele repassava drogas dentro da Academia Blackwell… É tudo o que eu sei.

Bem, não era exatamente tudo o que sabia, porém preferia preservar a imagem da amiga. Chloe queria dinheiro e achou que seria uma boa opção perturbar a mente já tão conturbada de Nathan. Tinha dívida de drogas com o traficante da cidade Frank e possuía alguma esperança de conseguir dinheiro para pegar estrada para Los Angeles com Rachel assim que conseguisse o paradeiro da amiga desaparecida há seis meses… Porém Max sabia bem que Rachel Dawn Amber, "aluna modelo" da Academia Blackwell jamais retornaria, pois estava morta.

Não sabia como havia conseguido seguir seu dia, David se oferecera para lhe deixar no campus de Blackwell, afinal era visível que seu estado não era dos melhores, contudo ela não queria que Joyce ficasse sozinha. Também deixou a mulher ciente de que lhe ajudaria com o que fosse preciso, era o mínimo que poderia fazer.

 

~***~

 

No dia seguinte ela vestiu-se mais cedo que o previsto para o enterro da amiga. Porém seguiu para um local em especial, buscando pelo conforto que bem sabia que não encontraria. Estava sentada no banco solitário próximo ao farol, o mesmo banco que estivera com Chloe após elas se reencontrarem… O mesmo local onde confessara para a amiga sobre os seus poderes e visões do tornado que destruiria a baía, onde ambas presenciaram o cair da neve em um dia limpo e quente.

O céu estava belo e sem nuvens, refletindo os tons alaranjados nas águas calmas, o farol estava intacto, assim como Arcadia Bay, era uma bela visão a que possuía ali no desfiladeiro que dava para o mar. Sequer lembrava a visão aterrorizante que ainda lhe atormentava, a tempestade, o tornado, as palavras que dividira pela última vez com a amiga… O beijo.

Não importava o que iria acontecer dali em diante, mas aquele beijo tão cheio de significados, jamais sairia da sua memória, ficaria eternizado para sempre em sua vida.

Max deu as costas, precisava ir até o Cemitério de Arcadia Bay, mas antes disso deslizou os dedos sobre a pichação que havia gravado ali em uma pedra, na época que ela e Chloe eram apenas crianças e brincavam pelas redondezas. Sua amiga fizera a gravação pouco tempo antes de Caulfield partir com os seus pais para Seattle.

 

~***~

 

A comitiva fúnebre seguia com algumas poucas pessoas, mesmo assim eram mais do que Maxine realmente esperava. Joyce e David seguiam na frente, o homem lhe amparava abraçando seus ombros enquanto a mulher alta de cabelos loiros que cobria o rosto com as mãos. Eram seguidos pelo Diretor Wells da Academia Blackwell - onde Chloe estudara até ser expulsa da instituição, tinha boas notas, mas o comportamento delinquente não combinada com a renomada instituição de artes - por alguns alunos como Justin e Trevor, amigos de Chloe, ambos andavam de skate com sua amiga e dividiam drogas e bebida, Dana também estava lá, não sabia se ela chegara a conhecer realmente Chloe, mas talvez estivesse ali para dar apoio ao seu namorado Trevor ou porque era uma pessoa gentil e sua amiga e queria ser solidária em um momento difícil, assim como Max fora algumas vezes com ela.

Warren Graham, também estava lá como seu fiel escudeiro, postado ao seu lado, mas sem tato o suficiente para saber o que fazer, ele era fofo e bobo e mesmo que não soubesse foi alguém muito importante quando Max e até mesmo Chloe precisaram de sua ajuda. Afinal, quem sabia o que fazer em uma hora dessas?! Eles eram apenas adolescentes concluindo o ensino médio, deveriam estar sorrindo, brincando e fazendo besteira como se era esperando de pessoas da sua idade.

Até mesmo Victoria Chase havia comparecido e aquilo não fazia sentido algum, tinha sentimentos mistos pela garota, a princípio não se davam bem, eram polos bem opostos e chegaram a ter suas desavenças, entretanto sabia que lá no fundo a loira não era uma pessoa ruim de verdade, era apenas insegura. Ela lhe olhou de uma forma que não conseguiu decifrar, mas talvez sua mente estivesse apenas bagunçada e cansada demais… E realmente isso lhe era relevante?! Era bom saber que havia pessoas que ainda se importavam... Que sua amiga não era exatamente uma pessoa tão solitária e perdida, mesmo que sua confusão pessoal não lhe deixasse enxergar isso.

Mais ao longe, próximos à sombra de uma árvore estavam Frank e o seu fiel e inseparável cão Pompidou. Apesar de ser um traficante, não era uma pessoa de todo mal, era apenas mais um entres os integrantes de Arcadia Bay sem grandes pretensões que tentava se manter bêbado e amargurado no decorrer do tempo. Por maiores que fossem as divergências entre ele e Chloe - principalmente as que envolviam Rachel - jamais esperaria isso da garota, era um fim terrível demais para alguém tão jovem.

Seus olhos azuis abatidos demais conseguiram focalizar outra pessoa, seu coração bateu de forma diferente, era sua amiga Kate Marsh. Cabelos loiros em tom escuro presos em um coque alto, enquanto a franja e alguns fios elegantemente lhe caíam sobre o rosto de traços delicados e olhos angelicais e bondosos cor de avelã, trajava suas alinhadas roupas habituais, saia, camisa social branca, um casaco preto e em seu pescoço ostentava o símbolo de sua fé - um singelo crucifixo dourado. Dizia palavras de conforto e abraçava Joyce que agora chorava em seu ombro enquanto a garota acariciava seus cabelos… Talvez Kate fosse à única pessoa ali capaz de realmente dar algum conforto a alguém.

Estava tão confusa naquele espaço tempo que por alguns instantes esquecera que a mesma não estava mais hospitalizada e bem... Que ainda deveria estar vivendo o seu drama pessoal. E isso claro, envolvia Nathan, drogas, o Clube Vortex e a imagem manchada da pura e casta Kate Marsh. As consequências após aquele dia foram catastróficas, mesmo assim Kate estava ali, firme, de pé, pronta para ajudar no que fosse preciso.

O sermão seguia, palavras bonitas de conforto, mas que não lhe tocavam, eram como se estivesse surda, nada ali tinha sentido, o caixão a sua frente, não conseguia conceber a ideia de que alguém tão viva e enérgica como a amiga estava presa, sem vida e a sete palmos muito em breve.

Uma borboleta azul solitária pousou sobre o tampo do caixão, aquele singelo e belo espécime tinha tantos significados para a garota, a cor intensa lembrava os cabelos tingidos da sua amiga bem como os seus olhos claros. Um sorriso singelo tentou se fazer presente em seus lábios, mas não conseguia, seu coração comprimiu ainda mais ao receber aquele sinal de que Chloe talvez estivesse ali de alguma forma… Podia sentir sua amiga e amada ali e por tudo que ela acreditava - se é que aquela altura ela ainda conseguia acreditar em algo - desejava pelo menos mais uma oportunidade para reverter tudo o que estava acontecendo.

Sentiu uma mão envolver a sua com carinho e delicadeza, supôs ser o seu amigo Warren, mas o mesmo não possuía o toque assim tão gentil, os dedos se entrelaçaram aos seus, o toque morno de Kate lhe trazia alguma sobrevida em meio à sensação sufocante de negação.

—Eu estou com você. - a voz suave e comedida chegou aos ouvidos de Max como um calmante.

A fotógrafa por alguns instantes direcionou seus olhos a amiga, neles encontrou bondade, amor, compreensão… Em meio aquela turbulência, conseguia sentir paz, mesmo que momentânea.


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Notas finais do capítulo

E então meus amigos, o que acharam?!

Vejo vocês nos comentários!



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