Sangue escrita por Salomé Abdala


Capítulo 8
Capítulo 6 - O Dia em que Sofia Voltou.




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´´Flavius dormia...o corpo nu enrolado nos lençóis... seus pulsos e pescoço cortados... o sangue coagulado no colchão... e a música... a minha música, a nossa música estava tocando...´´Concerto pour une voix``de Saint-Preux... a minha favorita..

Amanhecia e eu observava o Sol nascer por detrás das montanhas. Pelo menos isso essa cidade tinha de bom: o nascer e pôr do Sol. Eram visões fantásticas... um pouco melancólicas, mas fantásticas... uma leve brisa caía dos céus para me presentear... era uma manhã azul, fria e bela, mágico ... Estava afundado em meus pensamentos e lembranças quando vi um carro vermelho vinho estacionar na praça. Uma mulher aparentemente nervosa de rosto conhecido desce do carro e abre o porta-malas. Assustei-me ao vê-la jogar o corpo de uma garota ruiva na praça e partir...

...a garota ainda vivia, pude vê-la se mover. Acredito ter ouvido seus gemidos e pensei em observa-la definhar aos poucos até que a morte viesse lhe beijar... ela abriu os olhos e fitou o céu como se esperasse uma explicação. Devia estar fraca demais para se mover... ela ia morrer...

...uma cena comovente aquela, de uma beleza estonteante, dizem que a vida muda quando vemos alguém morrer... é mentira. Mas não deixa de ser belo... estava seduzido por aquela situação.. .esperava ansiosamente pelo seu ultimo suspiro quando nossos olhares se encontraram... foi quando percebi o quão bela ela era. Aquele olhar era o olhar mais belo e puro que eu já havia visto. Ela sorriu e fechou os olhos e eu decidi que queria vê-los novamente, por isso, desci as escadas correndo e liguei para o hospital central da cidade e ordenei sua internação. Não demorou muito para que a ambulância chegasse. Enquanto ela recebia os primeiros socorros, eu liguei para um dos melhores hospitais da capital e pedi uma ambulância...ela ia viver!``

...

´´Foi uma tarde cansativa. Cuidar para que tudo desse certo com aquela garota não foi fácil. Seu nome era Natasha, tinha 19 anos e não havia sinal de sua família.

Flavius dormiu até tarde. Deixei um bilhete para ele explicando o que havia acontecido. Tive medo que ele desse outro pití e acabasse quebrando o meu piano, por isso deixei bem claro que eu iria voltar. Ele ficou muito chocado com a história, estava chorando quando eu cheguei:

—O que foi dessa vez? – perguntei - Quebrou a saboneteira?

—Para com isso! É uma situação seria. Você não está chocado com o que aconteceu?

—Não.

—Como não?

—Ela está viva não está? Está inteirinha e, além disso, vai receber tratamento no melhor hospital da capital .O que mais você queria?

—Mas não deixa de ser traumático! Imagina o que ela deve ter passado.

—Isso não é um problema nosso, Flavius. Já foi. O máximo que podemos fazer é impedir que ela sofra daqui pra frente.

—Como você pode ser tão frio?

—O dia que você conhecer meu pai e o ambiente em que eu cresci,  você vai entender.

Sua feição mudou, acredito que ele tenha se lembrado da nossa discussão na noite anterior. Ele abaixou a cabeça e disse sem olhar nos meus olhos:

—Minha tia voltou.

—E você vai voltar para casa?

—Claro, né?

—Ah, você podia ficar morando aqui.

—Não é tão simples assim, Fip. Bem que eu gostaria, mas não é tão simples...

—Ela veio te procurar?

—Ainda não. Mas não deve saber que estou aqui.

—E você não vai até lá?

—... é que... eu... eu... estou... com...

—Medo?

—É.

Aproximei-me dele como sempre fazia quando queria deixa-lo sem graça, e é impressionante perceber que, depois de tudo o que aconteceu, ainda funciona:

—Encarar o problema é para poucos. Fugir dele é para qualquer um.

—Eu sei mas...

—Se ela não quisesse te ver não teria voltado.

—Mas...

—Quer que eu vá com você?

Fez um sinal afirmativo com a cabeça.

—Tudo bem. Vou buscar a sua roupa .(ele usou as minhas roupas durante esses nove dias)

—Fip.

—O que?

—Vou sentir falta de você.

—Ah. Para com isso, você não ta indo para outro continente! Sua casa fica há dois quarteirões daqui! – disse para parecer durão, mas, em verdade estava com o coração partido também.

Ele riu, mas logo ficou sério novamente e disse:

—Não quero voltar para a escola.

—Isso a gente conversa depois. Agora vamos porque eu tenho que jantar na casa do seu amor essa noite.

—Não fala assim. Eu fico sem graça.

—Desculpe, mas eu vou continuar falando.``

...

Eram cinco da tarde quando Flavius voltou para casa. Fip não precisou entrar, parou na porta e lhe desejou boa sorte:

—Foi bom ficar com você nesses dias.- disse Flavius sorrindo.

—É... foi mesmo.

Ficaram em silêncio se entreolhando até Fip dizer:

—Se ela te fizer alguma coisa você me fala pra eu socar ela no vaso e te levar de volta para o meu covil.

—Tá bom.

—Tchau.

—Tchau. ´´Não sei porque, mas isso pareceu realmente uma despedida. Não quis demonstrar ao Flavius, mas eu me senti inseguro, apesar do brilho em nossos olhos. Queria arrasta-lo de volta, mas não podia fazer isso... infelizmente...``

Deram-se as costas e seguiram seus caminhos.

...

Sofia ainda chorava quando Flavius entrou em casa. Ao ver o sobrinho, correu e o abraçou:

—Me desculpe Flavinho, eu não queria ter feito isso.

—Tudo bem. Eu estou bem.

Ficaram abraçados chorando durante algum tempo.O resto da noite foi tranqüila. Conversaram pouco, mas seu silencio disse tudo o que era preciso. Sofia fez tudo o que podia para agradar o sobrinho. Trocaram recordações de quando Flavius era criança e relembraram os bons tempos que passaram juntos... sempre sozinhos...sempre os dois... sobrevivendo e convivendo... como uma família...


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Notas finais do capítulo

Capítulo curtinho. Mas aguardem, no próximo capítulo o jantar =D