The Sound - Longfic escrita por Lyes


Capítulo 2
Fantasma


Notas iniciais do capítulo

Genteeeee, eu não estou acreditando!!!!!!!!! Eu estou atualizando as fics até que num ritmo decente, que orgulho de miiiiimmmm. A quarentena tá rendendo hehehe
Eu atualizei I'm Not Okay faz umas duas semanas e agora cheguei com mais um capítulo de The Sound, berro. E logo logo vai ter mais um, prometo! Já escrevi boa parte do próximo capítulo, tá com pouco mais de 2600 palavras!!!
As músicas desse capítulo sãooooo:
Brother - Gerard Way; Dear - Cavetown.
Espero que vocês gostem ♥



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Se os sonhos não realizados eram agridoces, por que os realizados, às vezes, conseguiam ser os mais amargos?

Esse meu questionamento estava mais atrapalhando que ajudando. Alguns suspiros, frases riscadas e bolas de papel depois, eu desisti. Não que eu fosse o tipo de pessoa que desistia fácil, mas esses últimos dias estavam sendo impossíveis. A escola era o único lugar onde eu sentia que poderia ser quase normal, enquanto me mantinha ocupado observando os meus amigos quase destruírem o estabelecimento. Por outro lado, parecia que nada mais conseguia me distrair daquilo que mais me incomodava ultimamente: eu mesmo.

Meus dias vinham sendo assombrados por algo entre uma crise de identidade e toda a confusão de tentar ser alguém, porque depois que essa coisa com a gravadora começou, nada mais parece ser o mesmo. Eu não conseguia mais compor, estudar, escrever poemas, pensar, comer, dormir, respirar, viver, sorrir. E eu já não sei mais o que dentre toda essa bagunça doía mais. Eu queria terminar os meus estudos como um adolescente normal, não como uma marionete que um bando de figurões do mundo da música podiam manipular como bem quisessem. 

Essas besteiras, coisas simples que eu tinha perdido em troca de conseguir realizar um sonho, eram a única coisa que eu sentia que poderiam, mesmo que de uma forma ruim, preencher aquele vazio horrível que eu sentia no peito. Qualquer coisa era melhor do que se sentir incompleto, mesmo que fosse um emaranhado de dúvidas e incertezas. Aquele bolo no estômago, o aperto no coração, a sensação de estar perdido,  o medo, a ansiedade… em alguns momentos, eram a minha âncora.

Afinal, eu tinha que me apegar aos últimos sentimentos que pareciam ser reais.

Balancei a cabeça para espantar todos aqueles pensamentos bizarros e abri a porta do quarto, pronto para a atividade que Leigh dizia ser a minha favorita nos últimos tempos: vagar pela casa como um fantasma. Mexi em um, dois, três copos e no fim não acabei escolhendo nenhum desses. Peguei outro qualquer, enchi de água e apoiei minhas costas na parede, no meu lugar favorito, onde eu podia olhar pela janela e observar o esplendor da infinidade de mais uma noite sem estrelas.

O frio não me incomodava, muito pelo contrário… era reconfortante. Principalmente entre as minhas omoplatas, bem alí, naquelas asas que eu nunca poderia usar. Eu ainda sentia o cada traço, um por um, todos os dias desde o dia em que as fiz. Estar tão ciente da existência daquela tatuagem fazia as coisas chegarem a um novo nível de ironia. Eu tinha asas nas costas, bem atrás de mim, mas de que adianta se eu não conseguia enxergar nada à frente? Se o futuro era tão incerto e tão obscuro quanto o eu via pela janela? 

Quando olhamos para o céu, nunca sabemos para o quão longe estamos vendo, porque tudo, absolutamente tudo, parece igual lá em cima. A única certeza que temos é a de que se subirmos muito e muito alto alcançamos as estrelas. Mas olhando com um pouco mais de atenção, o mundo parecia um globo de neve: uma cúpula arredondada que nos prendia aqui e fim, quem sabe o que espera lá fora? Nós podemos mesmo romper esse obstáculo que popularmente chamamos de “medo do desconhecido”?

“É temporário”, “Você consegue”, “Só estamos fazendo o melhor pra você”, “Não precisa se preocupar, vamos cuidar de tudo”, “Você vai alcançar as estrelas”, eles disseram. Mas eu iria mesmo conseguir chegar tão longe? Ou eu iria voar e voar cada vez mais alto e ficar preso na maldita cúpula? O que seria de mim? Perderia as forças e cairia? Onde eu cairia, afinal de contas? Quão doloroso seria? 

Mas… e se eu passasse? E se eu chegasse ao céu? O que seria de mim, mais uma vez? Eu seria uma estrela ou só me perderia pelo infinito, sem saber para onde ir? E se mesmo como uma estrela eu continuasse sem rumo?

A pior parte de pensar sobre isso não era a dor e a frustração que essas dúvidas me causavam, afinal, eu já estava acostumado com essa incerteza corrosiva. 

Com certeza isso daria uma boa música. Se eu conseguisse compor, é claro. E isso, esse pequeno pensamento deprimente, foi uma das poucas coisas que conseguiu tirar de mim nessas últimas semanas algo parecido com uma risada, mesmo que tivesse toda aquela carga de amargura. Desde quando peguei as manias horríveis do Castiel? 

Leigh estava certo. As coisas só estavam piorando. Vagar pela casa como um fantasma não bastava, agora eu tinha que rir da minha desgraça às duas da manhã, enquanto olhava pela janela da cozinha.

Balancei a cabeça mais uma vez, coloquei o copo na pia e voltei para o meu quarto. Eu sabia muito bem do que eu precisava naquele momento. Sempre tem alguma coisa, uma centelha de luz, um refúgio, mesmo quando nada mais parece importar, servir ou valer. 

Sempre tem que haver alguma coisa.

Peguei meu notebook, meus fones e quase sorri assim que deparei com a tela azul e reconfortante, cheia e slogans clichês me encheu os olhos e fez uma chama de esperança se acender dentro do meu estômago. No começo, quando eu descobri a cre.active, me contentei com o fato de poder ver todas aquelas pessoas inspiradas dando o melhor de si sem compromisso, porque queriam compartilhar com o mundo um pouco de si, um pouco de quem eram e do que as fazia feliz. Eu também vagava por lá, sem nada que realmente me prendesse, era só um jeito de passar o tempo, de mandar embora por pelo menos por alguns minutos aqueles sentimentos horríveis que vinham crescendo dentro do meu peito. 

Isso só durou até que eu a conheci. 

O perfil não tinha quase nenhuma informação, só uma foto de um violão cheio de estrelas, algumas poucas músicas e uma quantidade até boa de comentários. Mas no momento em que eu escolhi uma música aleatória, depois de alguns segundos de chiado e uma melodia suave, eu soube que seria impossível conseguir esquecer o momento em que ouvi aquela voz pela primeira vez. Foi um soco de pura doçura, que desfez toda a preocupação e fez toda a tristeza evaporar. Uma centelha, um refúgio, uma rachadura na suposta cúpula que nos prendia aqui na terra.

 A cada segundo eu sentia mais e mais que toda a firmeza e sinceridade daquela voz eram um convite, um incentivo para desbravar o infinito, para me perder naquele véu de imensidade cósmica. Então eu queria dizer, eu precisava dizer, eu sentia que devia dizer a ela o quanto aquilo significava pra mim, o quanto aquilo mexeu comigo, que a voz dela incendiava a minha alma como o presságio de um novo começo e que confortava meu coração como um sopro de nostalgia. 

Eu precisava dizer. 

Sim, eu precisava, precisava a ponto de ficar encarando por quase dez minutos aquela parte importante tão em branco quanto a minha mente: o nome. Não era tão simples assim. Ali, bem grande, a tela questionou a última coisa que eu saberia responder naquele momento.

“Quem é você?”

Como, infelizmente, o nome de usuário “NãoFaçoaMínimaIdeia” já estava sendo usado, tive que refletir por mais alguns segundos. Quem eu sou? Eu sabia que a resposta para a minha pergunta não estava nos meus documentos, no meu bloco de notas, na janela, no céu, muito pelo contrário… Estava aqui, bem perto. Porque existia uma outra forma muito mas muito mais fácil de se pensar nessa pergunta… 

Quem eu não sou? 

Eu não era eu

Eu tinha deixado de ser eu desde o começo daquela bagunça. Eu era só uma lembrança do que eu costumava ser, do que eu costumava amar. Eu era uma sombra, um fragmento, um…

Fantasma.

Era doloroso e vergonhoso, mesmo um tempo depois, saber que aquela era a grande verdade sobre mim. Mas ainda assim, tudo aquilo valia à pena pelo ardor emocionante e assustador de perceber o quanto uma pessoa que eu não conhecia significava para mim.

Naquela hora, com o notebook me fazendo companhia na cama, fechei os olhos e suspirei de alívio. Porque mesmo depois daqueles pensamentos aterradores, eu estava aliviado por saber que ainda conseguia sentir alguma coisa boa. 

Porque quando ela cantava, mais nada cabia dentro de mim, nada mais me pertencia. Eu estava completo e não precisava me preocupar em ser, muito menos em não ser alguém... 

E assim, embalado pelos primeiros pensamentos amenos do dia, eu adormeci. Adormeci, é claro, pensando no quão bom seria se uma certa garota cósmica me tomasse pela mão e me guiasse pelo infinito.

Ah, mas se eu soubesse…


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Notas finais do capítulo

Nos vemos nos comentários?? -qqqq
Confesso que sofri um pouquinho enquanto escrevia, mas tudo sob controle :')