The Sound - Longfic escrita por Lyes


Capítulo 1
Cosmica


Notas iniciais do capítulo

Faaaaaaaaaaaala, meu povo!
Olha só quem brotou por aqui, né não? Eu disse que ia transformar isso aqui em uma long e aqui estou eu, com o prólogo contando um pouquinho sobre como tudo começou, postando bem na doida mesmo (porque eu ainda não decidi se esse vai continuar sendo o nome da fic, estou confusa, hehehe). Mas o que importa é que estamos aqui, não é mesmo?
Vamos pra dedicatória: Gabi, sua linda ♥ deixo aqui todo o meu amor e apoio e espero sinceramente que as coincidências não parem nunca nunquinha. É isto? É isto. Espero que vocês gostem.



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O natal às vezes é uma droga.

Não, isso não quer dizer que eu sou uma daquelas pessoas desalmadas que evitam a comemoração e dizem que é uma data feita pelos illuminati para mover o capitalismo e forçar a união entre pessoas que nunca fazem questão de se ver. Quer dizer, não sempre. Ou melhor, não na maioria das vezes. Eu adoro a comida, a decoração, as brigas, a hipocrisia, os presentes, os especiais de natal e os filmes clichês que começam a reaparecer do nada logo nos primeiros dias do mês. É uma das poucas tradições que me fazem feliz de verdade, confesso.

O problema era que aquele natal é um daqueles que entra na categoria das “poucas vezes”. Minha mãe teve que ir pro outro lado do país, por ser convidada para expor seu trabalho em uma exposição incrível e muito bem falada (mas eu nunca tinha ouvido falar dela, inclusive) e minha irmãzinha estava passando seu primeiro natal com amigos.

Minha mãe disse que se sentiria horrível se nos “abandonasse” numa data tão importante, mas é claro que ela não podia perder uma das oportunidades da vida dela. O natal acontece todo ano, mas oportunidades de uma vez na vida? Bem, o próprio nome já diz, acontecem uma única vez, é meio besta trocar isso por uma coisa que acontece todo ano. Então, eu e Lilo ficaríamos sozinhas até dia 27, quando mamãe prometeu que voltaria com um montão de presentes. Sozinhas entre muitas aspas, porque minha tia doida iria aparecer para ver se estávamos bem. Aparecer entre muitas aspas, também, porque ela parecia estar muito ocupada com alguma coisa muito importante e quase não teve tempo de vir nos ver.

E nesse meio tempo, Lilo foi convidada para passar o natal com os amigos pela primeira vez. A garota só faltava soltar purpurina pelas ventas. Como eu iria dizer que não para aquela criatura saltitante? Ela não precisava ter um natal deprimente só porque a irmã deprimente não tinha amigos deprimentes que a convidassem para passar o natal. Ou melhor, porque a irmã deprimente não tinha amigo nenhum. Enfim, detalhes.

Quanto a meu pai, bem... ele me mandou mais um daqueles e-mails de natal. Como ninguém mais estava em casa quando recebi aquela pérola, aproveitei a privacidade para chorar e atualizar meu glossário de palavrões. Minha mãe ficaria horrorizada se estivesse aqui.

Falar dele no natal sempre estraga qualquer felicidade cálida e natalina, principalmente porque uma das memórias mais dolorosas tinha a ver com ele e com o natal. Até uns oito anos atrás, meu pai aparecia no dia de natal, deixava alguns presentes e desaparecia de novo, como se nada tivesse acontecido. Dá última vez que ele veio, Lilo perguntou pra mamãe toda empolgada se ele era o Papai Noel, porque todas as evidências batiam, né? Só aparecia no Natal e no resto do ano estava ocupado demais “fazendo presentes”, por isso não vinha nos ver.

Essa era a maneira com que uma garota de só cinco anos lidava com a ausência do pai. Minha mãe chorou o resto do dia e eu, no auge dos meus sete anos, descobri como podia ser forte a vontade do ser humano de chutar a cara de alguém. No ano seguinte, ele não veio. Bem no ano em que Lilo descobriu que o Papai Noel não existia, eu finalmente descobri que meu pai só não queria nos ver. Uma bela história natalina, não?

A vontade de chutar a cara dele só piorou com o passar dos anos. Toda vez que eu recebia o maldito email de natal, a vontade vinha cada vez mais forte. Será que algum dia eu vou realizar o meu maior sonho natalino, socar a cara daquele que consta na minha certidão de nascimento, que tecnicamente eu deveria chamar de pai? Tenho esperanças que sim. Papai Noel, se estiver me ouvindo de algum lugar, espero que me dê essa magnífica oportunidade.

Mas acho que a questão, naquele natal, não era o que deixou de ser feito, mas o que eu estava prestes a fazer. A tela de registro daquela “rede social” em que eu acabei entrando por engano estava com a parte mais importante em branco: o nome. 

A crea.active era uma rede em que as pessoas entravam para mostrar o que faziam de melhor: ser criativas. Certo, esse slogan é bem idiota.

Nesse natal porcaria, eu estava fazendo o de sempre, música. Falando sério agora, acho que vivo pra isso. Se não estou igual a uma maluca revirando a internet atrás de pérolas muito bem escondidas em conchas, estava fazendo a minha própria. Também acontecia de eu pensar em música ou sonhar com músicas, também. Mas nunca, nem em um milhão de anos, pensei que ninguém além de mim fosse ver as bobagens que eu criava.

Isso mudou quando eu achei no YouTube uma música que quase aqueceu meu coração naquela noite quente e deprimente de Natal, então fui procurar mais músicas e informações sobre a artista. Não achei nada em lugar nenhum na internet, exceto numa semi rede social chamada crea.active, um lugar cheio de slogans bregas (mas motivadores) e de pessoas inspiradas. Vídeos de todo tipo, desenhos, poesias, contos, fotos... era um verdadeiro festival. Confesso que a semi rede social me encheu os olhos e uma chama de esperança se acendeu dentro do meu estômago. E se...?

Criei um email falso, e menti em quase todas as minhas informações, menos na minha data de nascimento, pra ver se diminuía um pouco a culpa de ser uma covarde que não consegue mostrar a cara. E não era só a culpa que assombrava e dificultava a tarefa, criar uma pessoa do zero era responsabilidade demais! Acho que pensar em um nome teria sido a parte mais complicada se eu não tivesse corrido para o meu refúgio durante crises de confusão e ansiedade: a janela. Olhei o céu, as estrelas, minha árvore, a grama, as luzes da rua... O céu. Como minha mãe diria, a resposta sempre está ali.

Ela sempre sabia o que dizer e o que fazer, mas eu não podia ligar aquela hora e perguntar que nome eu deveria dar para a minha identidade falsa. Ela sabia que eu estava sozinha em casa, me deixando levar pelos impulsos de passar uma data importante daquelas sozinha pela primeira vez, sem comida gostosa e sem especiais de natal (não tem graça fazer isso sozinha, eu juro que tentei).

Se eu, Isolda Bragantine Rivière fosse outra pessoa, como eu seria? Como eu me chamaria? Quem eu seria debaixo desse véu de imensidade cósmica?

Véu de imensidade cósmica.

Cósmica.

Eu seria Cósmica.

Voltei aos tropeços para a cama, orgulhosa dos meus devaneios, que finalmente me deram um bom resultado e serviram pra alguma coisa além de me deixar angustiada ou de me fazer perder tempo. 

Cósmica não precisa de mais nada. 

O céu não tem sobrenome e nem documento de identidade. Ele é só… o céu. Aquele que todos nós conhecemos e amamos, aquele que sempre estará lá por todos nós. Aquele que sempre esteve lá por mim, então nada mais justo.

Enquanto digitava alegremente as informações finais, eu mal podia imaginar a confusão em que aquela decisão iria me colocar. Mas sabe outra coisa que eu mal podia imaginar, também? Que no fim das contas, eu não me arrependeria nem por um segundo.

Extra, extra! Isolda (no caso, eu) está prestes a começar a sua gloriosa jornada de música, romance, uma vida dupla, aparições fantasmagóricas, fugas de fãs descontrolados, crises de (dupla) identidade, problemas com o pai e, por fim, mas não menos importante… Acompanhada da estrela que viria a ser a mais brilhante de todos os céus.

Bem, pelo menos a mais brilhante do meu céu.


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Notas finais do capítulo

Nos vemos no próximo capítulo?