V.C. vol 6: O julgamento de uma Senhora do Tempo escrita por Cassiano Souza


Capítulo 3
Fantasmas do passado


Notas iniciais do capítulo

olá! Tensões, e surpresas, este é este capítulo. BOA LEITURA!



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O típico zumbido quase hipnótico da máquina, adormecia a ruiva, fazendo-a querer estar cada vez mais deitada no chão. Porém, retomando os sentidos, desperta-se atordoada, encarando boquiaberta, e de cabeça dolorida, ao Doutor, manusear o console, e Jamie, também deitado no chão. A mulher, trata de chacoalhar o rapaz, despertando-o, igualmente confuso.

— Não que eu esteja reclamando. - Começou Grace. – Mas não devíamos estar mortos?! - Questionou, ao Senhor do Tempo nos controles.

— Bem, sim. - Respondeu o Doutor, tranquilizado. – Vi que não teríamos tempo para parar a autodestruição, mas, ainda pude ativar o sistema de sobrevivência da nave. Qualquer forma de vida é teletransportada para o compartimento mais seguro possível.

— Certo, então TARDIS, a caixa da esperança. - Concluiu.

— Não descreveria desta foram, mas me pareceu muito apropriado. - Sorriu largo. – Eu realmente gostei.

— Se é assim. - Diz Jamie. – Onde os Minocrisos estão?

— Boa pergunta, Jamie. Onde?

— Eu e Grace ejetamos dois, mas o resto ficou abordo.

— Aqueles olhos negros... - Recorda Grace. – O que poderiam significar, Doutor?

— Bem, existem certos tipos de controles mentais muito interessantes. - Comenta o Doutor. – E a palidez em seus rostos não representava vida. - Responde, fitando sério para os humanos, que se arrepiam com a última frase.

— Então agora... O que faremos? Missão cumprida?! A nave explodiu.

— Sim, investigaremos o porquê. - Deixou os controles.

— Eu e você, o “você” futuro, nós estávamos em... Gatuun, e... ele se foi. - Revelou abatida.

— Oh, não! Gatuun possuía as melhores piscinas naturais e patos orgânicos de plásticos!

— Mas, Gatuun? Não foi lá onde eu fui agarrado por uma bruxa, Doutor? - Indaga Jamie.

— Não, Jamie, isso foi no Egito antigo. Se chamava Cleópatra.

— Hou...

— Vocês não me entenderam! - Continua Grace. – Gatuun se foi, e foi... Por um mega raio de fusões combinadas. Não sei o que significa, mas sei que foi mortal. Milhões de anos de história... Arrasados. E a origem, segundo o Doutor, era Minocrisa.

O Doutor, de mãos entrelaçadas, ergue as sobrancelhas imaginando. Grace completa:

— Eu e você estávamos lá. E você será o advogado da inimiga deles algum dia. Entende agora?

— Eu não. - Avisa Jamie.

Grace revira os olhos. O Doutor, se volta depressa ao console, e põe-se a opera-lo, agitado. Jamie pergunta:

— Problemas, Doutor?

— O de sempre, Jamie, mãos rápidas. Segurem-se.

— Onde está nos levando?

— Se a novata disse “raio de fusões combinadas”, então só há um lugar em todo o universo onde poderemos obter respostas?

— Onde?

— Segurem-se!

A TARDIS, tomou o típico balanço. Grace e Jamie, tentavam então se equilibrar.

***

No julgamento da Senhora do Tempo, a matriz processava e carregava os respectivos dados escolhidos por Tiivam, porém, demorava em executar, como se algo ali não estivesse de acordo. Permitindo assim, que advogado de acusação e defesa debatessem mais um pouco.

— O que todos estão prestes a ver, será algo que virará o jogo contra a Mestra por completo, Doutor e senhor meritíssimo. - Diz Tiivam.

— O que será que é? - Indaga a Missy, sínica. – Alguma “injustiça” cometida por mim em algum momento de embriagues? - Encarou as unhas. - Possivelmente, sempre é. 

— Já foi avisada, Mestra, não se dirija a ninguém, a não ser o seu advogado! - Protestou o juiz Tridaro.

— Está bem, senhor meritíssimo. - Disse, em um tom provocante, fitando profundo ao juiz.

O juiz, recua com os ombros. O Doutor, tapeia a cara, negando a cena com a cabeça. Porém, logo continua:

— Tudo o que possuir contra a Missy enfrentarei sim, senhorita Tiivam. Não se preocupe com a minha bancada da solidão, eu e uma amiga, e tudo o que eu preciso.

A Missy, suspira confiante.

— Que seja. - Responde Tiivam. – Mas, me diga, Doutor, conhece o planeta Linsunatsteev?

— Talvez. Já estive em muitos lugares, mas não me recordo deste nome no momento.

— Hum, pois devia! Foi lá onde a sua protegida arruinou mais uma vez uma outra civilização. Parece nunca se cansar de estragar a vida dos outros. - Entreolhou farpante para a Mestra.

— Mas, Linsunatsteev... Esse nome?! Eu não sei, a minha cabeça coça agora. Não é um bom sinal.

— Talvez seja algo de muito, muito tempo, Doutor. - Sorri malévola. – Prepare-se, serão fortes as próximas imagens, e mais cedo ou mais tarde, se arrependerá de estar em defesa de quem está.

O Doutor, respira apreensivo, voltando então o seu olhar para o grande telão, onde as imagens se mostravam nítidas agora.

A Missy, cruza os dedos. E nos seus olhos, uma enorme curiosidade. Talvez, também conhecesse o planeta, mas, talvez também não possuísse a certeza.

***

Planeta Linsunatsteev, 80.000.00 anos luz de distância do tribunal. Galáxia-4.

Era um planeta rochoso, de médio porte, tom acinzentado, e cidades e megalópoles devastadas. O céu, se mantinha negro, e fumaça e fuligem, não paravam de pairar sobre o ar. E por onde antes seriam prédios, catedrais e torres, agora nada mais eram, do que grandes e inescrupulosos amontoados de escombros, sangue e cinzas. Um desastre parecia ter havido.

A típica neblina de vapores naturais e químicos, se embrenhava sobre os campos e ruínas, e acobertava boa parte da tragédia.

Mas, em meio a tanto desgosto fatal e evidente, nenhum choro era escutado, e nenhuma lagrima se via ou ouvia cair, apenas... O silêncio.

E em uma pedreira ao longe, de frente para onde jazia uma capital, uma cabine azul surgia aos poucos tomando forma, até, se solidificar presente. Três indivíduos emergem do objeto, sendo um homem mais velho, um rapaz, e uma mulher ruiva, nas casas dos 30 e poucos. Os três, permanecem completamente chocados com a vista. Em seus olhos, a mais pura desolação.

— O que poderia ter acontecido, Doutor? - Questiona Grace. – Guerra?

— Qualquer coisa, Grace, qualquer coisa. - Respondeu o questionado.

— Minocrisos?

— Possivelmente.

— Mas o que queriam? - Indaga Jamie. – Disse que aqui haveria algo para o raio de sei lá o quê.

— Fusões combinadas. - Colocou.

— O que tem? - Não entendeu.

— As construções deste mundo são feitas de androzani-9, um raro mineral, capaz de unificar ainda mais partículas de hélio e feixes de fusão nuclear.

— Tem alguma coisa a ver com o sol? - Pergunta Grace.

— Sim, Grace, precisamente. Funciona como um combustível, para canalizar mega jatos solares.

— Então é pólvora para canhão. - Conclui. – Uma arma mortal que destrói planetas?! O seu futuro disse que isto era algo que ele não via há muito tempo.

— Com certeza há muito tempo, androzani-9 é extremamente raro, e aqui... Era o último lugar em grande escala.

— E depredaram tudo pra carregar depois? - Pergunta Jamie, fitando os destroços abaixo.

— Possivelmente, Jamie, possivelmente.

— Miseráveis. 

O Doutor, então se cala entristecido, encarando para a fumaça do caos subir, e para as nuvens negras cruzarem-se por entre as demais. E logo, nesta movimentação natural, uma enorme nave se revela por de trás da negritude celeste. O Senhor do Tempo e os humanos, encaram surpresos, aquela era uma nave muito familiar.

— Essa é a nave que escapamos! - Nota Grace.

— O que faz aqui? - Indaga Jamie. – Não voltou dos mortos, voltou? Ou quer dizer que viaja no tempo. - Concluiu. 

— Nós somos o futuro, meus queridos,  este, é o passado. - Respondeu o Doutor, cerrando os olhos pensativo, e levando uma mão ao queixo.

— Mas assim, não podemos mudar nada! - Diz Grace. – Já aconteceu! Quer dizer, acontecerá. Mas, será fixo. O que adianta estarmos aqui agora?

— “O que adianta”, ora novata, esperava mais afinco! Aqui conseguiremos respostas. 

E assim, deu de costas o Doutor, barranco abaixo, descendo cauteloso, se segurando por entre os pedregulhos. Grace, respira emburrada:

— Você não muda nada em seu futuro, sabia?!

— Precisamos de respostas! - Insistiu o Senhor do Tempo, com a voz já distante. – Testemunhas sobreviventes possuem repostas!

— Ele não está errado. - Corresponde Jamie.

— Não. - Confirmou a ruiva. – Mas sabe, qualquer dia desses ele ainda vai cair numa armadilha onde pisa e ou é explodido ou decapitado.

— Não irei duvidar.

— Mas, vamos lá, se disse “vítima”, estou dentro.

— Por acaso é médica?

— Sou. - Começou a descer.

— Você é uma doutora?!

— Bem, de certa forma sim.

Desciam com cuidado, evitando deslizes.

***

Porém, em um ambiente escuro, e repleto de cabos de energia pelo chão, computadores, monitores, e trajes espaciais, uma jovem humanoide completamente semelhante ao que seria um humano, observava por um desses monitores, com olhos surpresos e amedrontados, parecendo estar frente as imagens mais impossíveis do que qualquer coisa já testemunhada.

Ela, possuía traços miscígenos, cabelos cacheados, longos, em mechas azuis, e corpo grande e forte.

Ela sorri largo, logo após o inicial espanto:

— Senhor?! - Chamou. – Senhor?! Há formas de vidas humanoides não escravas em transito sob a nevoa.

— Ora, minha cara aprendiz. - Disse um homem, nas casas dos 40, trajes negros e cavanhaque. – Talvez algum sobrevivente insignificante. Nada de importante. Mate-os daqui, teste a sua mira.

— Não, meu senhor, você não entende. Não são qualquer forma de vida banal.

— Não? Difícil não ser. Para mim, qualquer criatura exceto nós dois, é banal.

— Concordo, senhor, mas... O que me diz do Doutor e seus assistentes?

— O Doutor?!

— Sim.

O homem, se aproxima do monitor, e nota exatamente o trio de humanos e Senhor do Tempo. O homem, encarava as imagens com os olhos mais vis possíveis.

— O que fará meu, senhor? - Indaga a jovem.

— Talvez eu possua assuntos inacabados com o Doutor, minha aprendiz.

— Ótimo, senhor. E como sabe, também possuo assuntos inacabados com um dos assistentes dele.

— Enfim, terá o que sempre quis.

— Não, meu senhor, os meus planos não acabam aqui. Este é apenas o começo.

— Você me lembra alguém.

— Quem?

— Eu. - Sorriu malévolo.

E a aprendiz, sorri ansiosa, com certeza estaria muito perto de um desejo muito antigo, prestes a se realizar.

***

Os tijolos, ripas, portas e alicerces, se encontravam revidados pelo chão. A neblina acinzentada, pairava sobre a infernal imagem de vidas acabadas, e as suas ruínas deixadas. O Doutor e seus acompanhantes, seguiam a pisar pelo o que um dia já havia sido um império, e a cada passo e olhar, mais horror a lhes sufocar a mente. 

Nenhum choro, nenhum grito, nenhuma lagrima. Apenas, silêncio. O mais gritante silêncio. Ele parecia rugir na verdade.

O Doutor, para estático, parecia ter se lembrado de algo, ou visto, ou sentido, ou... Escutado. Mas, apenas encarando ao breou esclarecido de nevoa e rochas.

Grace, tem a atenção chamada pela atitude amiga:

— Sei que não será uma pergunta muito inteligente. Mas... Tudo bem, Doutor?

— Bem, bem, tudo bem. - Disse, com um olhar que indicava puros pensamentos distantes dali.

— E por que parou? - Indaga Jamie.

— Ora, talvez esteja cansado! Circulamos por três quarteirões, e apenas cadáveres! Não posso lamentar?

— Pode. - Responde Grace. – Mas não foi isso.

O Doutor engole a seco. Grace continua:

— Eu te conheço, Doutor. Já memorizei cada uma de suas expressões e desculpas, não adianta mentir, seja lá qual regeneração for.

— Bobagem! - Duvidou.

— Talvez. - Colocou. – Só devia saber que o meu trabalho me obriga a ser como você. Eu minto, eu conto sobre a esperança, e eu tento salvar alguém.  - Sorriu triste. – Você não quer contar algo de ruim que percebeu, e tudo bem, eu irei te respeitar. Mas, diga-me, quantas pessoas haviam aqui?

— Não é meu planeta, por que eu devia saber?!

— Porque você se importa, você sempre sabe, ou... Em algum momento você estará tão interessando em ajudar o universo, que se importará com cada detalhe.

— Creio que eu ainda não seja esse Doutor.

— Mas será. Tem de ser! Muitos ainda precisarão de você, Senhor do Tempo. 

— Hum, quem sabe, um dia?

— Sim, um dia.

— Ou... Nunca. Universo chato!

Grace sorri, e o Doutor, permanece emburrado. Onde logo, a ruiva o-abraça forte, e o Senhor do Tempo, permanece atônito, não parecia esperar aquilo. Porém, no fundo, haviam amado. E Jamie, cruza os braços desentendido, talvez, fosse de uma época menos melodramática.

Mas, enquanto o abraço perdurava, o Doutor encarava a visão emaranhada dos vapores da neblina, onde assim, um ponto de luz verde o-chama a atenção. Havia sido tudo em um mínimo segundo.

Com isso, em imediato, o Doutor cessa o abraço, deixando Grace ofendida, onde logo, ele partiu correndo, branquidão adentro.

E dizendo:

— Fiquem aí!

Jamie olha para Grace:

— Não vamos obedecer ele, vamos?

— Claro que não. - Confirmou a ruiva.

E assim, prosseguem cautelosos na direção partida pelo outro. Porém, emergindo por entre a palidez aérea, um ser os encarava, com os seus olhos vermelhos. Grace e Jamie, param estáticos.

O ser, possuía silhueta humanoide, dois olhos grandes vermelhos, vestes formais negras, sem cabelos ou pelos, pele rugosa acinzentada, minúsculas orelhas pontiagudas, e na frente do rosto, ao invés de uma boca e nariz, possuía membros como tentáculos, em um feixe longo escorrido. E numa das mãos, um globo esverdeado, conectado até o orifício por onde saíam os tentáculos, por um cabo de borracha.

Esta, era uma criatura de fato estranha, e Jamie e Grace, não possuíam reação, se não, o encararam apreensivos, esperando a reação do próprio.

Jamie, saca a sua faca, e aponta-a contra a criatura. Grace, segura no braço do rapaz, queria evitar uma loucura.

O ser, chacoalha a cabeça, como se sentisse algum incomodo, e logo diz algo, mas, com outro tom nos olhos:

— Nos ajude.

— Não iremos lhe ajudar! - Nega Jamie. – Explique o que fizeram a esta cidade!

— Nos ajude. - Replicou.

— Jamie. - Diz Grace. – Talvez ele seja um dos sobreviventes, abaixe isto.

— Já vi muitos mentirosos e assassinos, Grace. - Reponde o rapaz. – Nunca confie em alguém ileso. O seu uniforme está limpo, e uma guerra aconteceu aqui.

— Nos ajude. - Continuou a replicar, a criatura.

— Então responda, o que houve aqui? - Ordena Grace.

Mas, ao invés de respostas, tudo o que o ser faz, é chacoalhar novamente a sua cabeça, assim, terminando de olhos novamente vermelhos. E logo, se aproximando da dupla, em seus passos lentos, e com a sua esfera em mãos.

— Hou, acho que isso não é um bom sinal! - Comenta Grace.

— Então corra e se esconda, eu ficarei e cuidarei dele. - Se posicionou Jamie para o embate.

— Ah é? Você e a sua faca? Contra um bicho que aparentemente pertence a uma raça capaz de destruir impérios?!

— Bem, eu não havia pensado desta forma. Mas o que há de mal em morrer com bravura?!

— Homens! Sempre achando que devem morrer para provarem algo. Bravura?! Isso é ser burro!

— Ora, de onde você é, dama?!

— São Francisco, século 20. Obrigada, cavalheiro. E você?

— Escócia, século 18.

— Hum, então tudo agora ainda mais claro. Corre! - Puxa Jamie pelo braço, dando de costas contra a fera.

Quando então, a criatura de olhos vermelhos, cai impotente no chão, com um flash de luz por de trás de suas costas, deixando um buraco em sua espinha, por onde o seu sangue esverdeado, escorria pegajoso. 

Grace e Jamie, param amedrontados, e ao mesmo tempo, aliviados, de certa forma. Haviam tido uma ameaça detida, mas, estavam em um ambiente completamente misterioso, onde qualquer coisa poderia acontecer. Confiar em qualquer um, seria uma tarefa difícil.

Um vulto humanoide feminino, começa a rondar a dupla por entre a nevoa, e assoprando o cano do armamento:

— Eu poderia ter deixado-o mata-los.  Mas, não achei que seria o momento.

— Apareça e me enfrente como um homem! - Ordena Jamie.

O vulto ri:

— Não escutou a minha voz? Sou garota, humano.

— Bem, então... Apareça e enfrente a Grace!

Grace, recua com os ombros:

— Contra violência! - Avisou.

— E como poderia saber que eu sou humano? - Indaga Jamie, encarando envolta.

— Bem. - Continuou o vulto. – Digamos que... Eu saiba tudo sobre vocês.

— Como poderia?

— Ah, uma admiradora de longa data. Mas, não pretendo esclarecer isto a você. Você não me interessa.

— O quê?! - Ofendeu-se Jamie.

Porém, logo igualmente caindo no chão como a criatura da neblina, mas, desta vez, não com um tiro a laser, e sim, com um dardo. Foi o que Grace notou, observando Jamie cair de joelhos no chão, retirando o dardo do pescoço. Talvez, fosse um tranquilizante, ou algum veneno mortal.

— Jamie?! - Tentou a ruiva desperta-lo. – O que fez com ele?!

— Ora, Grace, já havia me esquecido de como você era dramática.

— Eu não a-conheço, como “assim havia se esquecido”?!

— Porque havia sim me esquecido. Para você talvez tenha se passado alguns meses, mas para mim, querida... Séculos.

Terminou a revelação, o vulto, se mostrando assim, como uma jovem de traços mestiços, e cachos longos azulados. Um sorriso largo, enfeitou lhe a face.

Porém, Grace, nada compreendia sobre quem poderia ser aquela. Era o que dizia a sua face.

— Precisava de uma grande entrada, então... Ood e fumaça. - Comentou a jovem.

— Não entendo. - Comenta Grace, mais do que absolutamente atônita. – Por que fez isso?! Quem é você?!

— Alguém lá de trás. Alguém... Que você nunca, jamais, deveria ter deixado em Gallifrey.

E assim, Grace arrepia-se por completo. Os seus olhos se arregalam, e a sua face boquiaberta, era tomada. Pois, aquela jovem, só poderia significar um alguém, só poderia significar Rustch, o fã do Doutor abandonado por ela.

***

E há centenas de metros de distância de Jamie e Grace, o Doutor, se encontrava embasbacado em uma clareira em meio a neblina, olhando de lado a lado, como se sentisse algo, como se não estivesse a sós, e como, se algo ao obsoleto, o-fitasse malicioso.

O Doutor, sentia como se fosse enlouquecer. Risos malévolos eram sussurrados, mas, ele não possuía a certeza de serem frutos de sua imaginação ou um mero malfeitor.

Então, respirando cansado, disse ele em voz alta:

— Não sei quem você é! Mas sei o que quer, e sei o que fará! Não compreendo o porquê, mas gostaria que fosse menos enigmático, a propósito.

E uma voz masculina madura e debocha, se pronuncia do obsoleto sobre a nevoa:

— Ora, ora, ora, o Doutor e a sua curiosidade. Sabe que um dia morrerá disso.

— Como sabe o meu nome?!

— Este não é o seu nome! - Corrigiu.

— Revele-se! - Exige. – Que é você?!

— Ora, Doutor, que prazer inesperado, achei que nunca veria esse seu rosto. Não com esta face. Mas, o meu nome... Em algumas religiões, me chamam de o Inimigo, e em algumas línguas, me chama de el Amo. Mas, como eu gostaria mesmo que todos me chamassem, seria de... Mestre. O Mestre.

Assim, um homem de cavanhaque, cabelos negros penteados para trás, trajes negros formais, e sorriso maldoso, emerge até a clareira, ficando cara a cara com o Doutor.

Na face do Doutor, puro terror e pânico, ele não conseguia crer que estava lutando contra o seu velho amigo e arque inimigo, enquanto em seu futuro, ele lutava para defende-lo.

— Surpreso? - Indagou o Mestre.

— korschei. - Tomou seriedade.

— Mestre!

— E a barba de sempre. Não mudou nada em suas dez últimas renovações.

— Ora, e você... Vejo que seria antes do guarda-chuva, golas de interrogação, cachecol quilométrico e cachinhos dourados.

— Bem, eu não sei quem são.

O Mestre sorri:

— Também é antes da UNIT e o seu exílio. Breve, nos encontraremos, mas... Em sua linha temporal.

— Aguardarei ansioso. Porém, o que quer? Parar o julgamento? Salvar o seu futuro? Aceite o preço de seus atos!

— Por que deveria?!

— Porque um dia terá de parar, ninguém pode correr para sempre. Será melhor aceitar.

— Você dizendo isso? - Riu. – O que será que houve, Theta Sigma? Está ficando velho.

— 450 anos, e sim, digo isto porque uma hora teremos de parar. Você e eu corremos, mas, enquanto eu corria de um posto cruel... Você se tornou um dos cruéis do qual eu corri.

— Sim, mas o que quer que eu diga? Que me arrependo? Que eu nunca devia ter feito o que fiz desde que fugimos?

— Você seria incapaz de admitir.

— “Admitir”? Eu fiz o que fiz, e eu gostei, Doutor! Eu gosto de poder, eu gosto de me sentir divino, poderoso!

— Certo, mas há um preço.

O Mestre, engole a seco. O Doutor continua:

— Tantos anos de matar, roubar e destruir... Isto te custará um preço similar. Quantos no universo acha que te querem bem? O seu futuro precisou ir pedir socorro a mim, por que acha isso? Nenhum reinado cruel dura para sempre.

— Não! Eu jamais lhe mendigarei por apoio!

— Bem, reze para não. Pois acho que nem mesmo a minha ajuda será capaz de lhe salvar.

— Se acha correto, Doutor? Descente?! Você e eu somos parecidos.

— Não! Nós não somos parecidos!

— Não? Então por que acha que apenas eu te escutava, apenas eu te entendia, te acompanhava, estava como você? 

— Foi há muito tempo. Você é outra pessoa agora!

— Não, eu apenas cansei, Doutor. Cansei de ser o tapete e a mula. Não acha que qualquer um se cansaria de ser um tapete e uma mula? Eu poderia fazer a revolução das mulas. Às vezes, Doutor... Não podemos mais ser aquilo que gostaríamos de parecer, e temos de nos abrir, por mais explosivo e venenosos que sejamos.

— Não ouse se justificar! Você escolheu simplesmente se tornar um monstro!

— E você um tolo

E o Doutor, cala-se em reflexão. Ele obviamente não concordava, mas, sabia o-quanto já haviam lhe dito aquilo, e já estava também cansado.

— Porém, Doutor. - Continuou o velho amigo. – Tenho destroços para saquear, se não se importa. Queria lhe rever antes, mas, agora, acho já deu a minha hora. Não se cansa de me aborrecer?

— O que pretende além da má imagem dos Minocrisos?!

— Ora, muito além, Doutor, muito além do que você possa imaginar. - Finalizou, logo sorrindo e gargalhando malévolo.

O Doutor, não possuía outra sensação, a não ser, a de apreensão.

O Mestre conclui:

— E a propósito, estou indo, mas não se preocupe, não te deixarei só.

— Não me deixará só? Como não me deixará só?!

O rival, estala os dedos, e por envolta do Doutor, imersos na profunda neblina, vários pontos vermelhos e verdes eram notados. Os verdes, pouco abaixo dos dois vermelhos, como se os vermelhos, fossem olhos.

O Doutor, encara em espanto, estaria cercado, com certeza, por algo de hostil, ele sabia, sempre era assim.

E o Mestre, logo desaparece, em um flash de luz, deixando-o completamente só, no seu profundo desespero, duvida, e acompanhantes inesperados, que se aproximavam lentos. Reluzindo, verde e vermelho.

— Não! Afastem-se! - Exige o Doutor solitário, notando a aproximação. – Afastem-se! - Rodopiava pela clareira, olhando envolta. – Não! - Tropeça e cai de costas, cobrindo a face apavorado. – Não!

***

Mas, enquanto o Doutor agonizava em pânico, Grace, agonizava em surpresa, não conseguia acreditar que a jovem a sua frente fosse Rustch. E Jamie, continuava desacordado. A ruiva comenta:

— Você se tornou uma jovem linda! - Estava sem palavras.

— Bom, eu agradeceria pela gentileza, mas... Sou incapaz, não há como agradecer alguém que magoou o seu coração, não é mesmo?

— Rustch, eu não fiz por mal!

— “Não fez por mal’?! Quem magoa por bem?! E não, não me chame de “Rustch”, eu não sou mais isso.

— Ora, que conversa é essa?! Como não?

— A Aprendiz. - Sorriu. – É isso que sou, é tudo o que sou agora.

— Mas isso é um programa de TV!

— Não seja estupida, humana! Só você mesmo para falar tamanha bobagem. Havia me esquecido também desse seu jeito desconcentrado de ser.

— E eu havia me esquecido de que algum dia você fosse arrogante. Você não era assim! O que houve, Rustch?!

— Aprendiz! - Corrigiu.

— Ok, blá, blá, blá, Aprendiz. Mas não creio que tudo o que acontece agora seja por motivação sua contra mim. Eu tive de lhe deixar, eu não tive escolha, eu tive de lhe esquecer.

— Eu ajudei você, eu a-guiei por Gallifrey, em suas tentativas de ajudar o Doutor! E... Você me largou.

— Às vezes, a pior escolha, Rustch, é a que resta. - Sorriu triste. – Se eu a magoei, perdão. Você se machucou, e o seu avô queria o seu bem, ele não queria te ver machucada de novo. Tudo o que eu fiz foi atender a vontade dele, por seu bem.

— Não minta pondo o meu avô nessa história!

— Mas foi por ele!

— Não! - Negou relutante.

— Sim! - Insistiu. – Eu fiz por seu bem, e ele do mesmo modo. Eu adoraria que você estivesse conosco agora! Mas... Como o meu avô dizia “se não pode bancar um aluguel, siga as regras da toca onde dorme”.

— Não adianta, eu não irei lhe perdoar, eu não irei perdoar o Doutor!

— Certo, e isso justifica tentar parar o julgamento da inimiga dele?

A Aprendiz, sorri maquiavélica:

— A guerra que enfrentaremos não é sobre mim e você, Grace, é sobre o meu senhor e o Doutor.

— "O seu senhor"?! Que senhor?!

— Ele me ensinou a ser forte, a não chorar, a destruir, a conquistar. E principalmente... Ele me deu um propósito, um nome. O Mestre não é tão mal quando você imagina.

— O Mestre?! - Grace não conseguia acreditar, a velha amiga estava mancomunada com o Mestre, um ser manipulador e completamente capaz de tornar qualquer um, uma marionete. – Rustch, você não sabe com o que está mexendo, o Mestre é perigoso!

— O Mestre é quem me entende!

E foi isso, a mesma frase a qual Grace havia escutado pelo Doutor. O Mestre era um inimigo, mas, de certa forma, era quem entendia aqueles sonhadores desalentados. A Aprendiz continua:

— Ele é o único, o único em toda Gallifrey, que me escuta, que me entende, que conversa comigo. Ele pode sim ser uma ameaça terrível, no entanto... Não foi ele quem destruiu os meus sonhos, as minhas esperanças, o meu sorriso.

— Mas sabe, ele está se aproveitando de sua dor, está se aproveitando de você! Rustch, você tem de me escutar!

— Não me chame de Rustch!

— Então pare com isso! Volte a ser o que era, e fique comigo, fique com o Doutor! Esta é a chance.

— Não. - Negou, sorrindo debochada. – Acha que pode agora tentar barganhar?! - Riu. – Você não pode, Grace. Não pode.

— Quero o seu bem! - Segurou a Aprendiz, pelos ombros, encarando fixa, nos olhos vis dela.

— E eu quero o seu fim.

Grace, solta a outra, descrente:

— Isso não precisa ser assim. Por favor... Fique comigo.

— Adoraria. - Sorri prepotente. – Mas, apenas em um tempo deixado pra trás. Não sou mais quem você conhece, Grace, eu não sou mais aquela criança tola.

— Sinto muito em dizer, mas “criança tola” é tudo o que você é agora.

E a Aprendiz, franze a face, enraivada:

— Pelo menos, estarei viva.

— O que quer dizer?

— Se lembra da parte em que eu disse que queria o seu fim e o do Doutor?

Mas, Grace ainda não entende, continua a apenas imaginar o significado, encarando atônita para a antiga Rustch, que sorria maliciosa, e que, logo em seguida, desaparece do local, em um flash de luz. Grace, olhava envolta, tentando entender.

Quando então, olhando envolta, logo a notava estranha luzes a cintilarem, imersas na nevoa, contrastando ofuscadas. Duas pequenas luzes avermelhadas em cima, em um padrão como um par de olhos, e uma pequena luz verde mais embaixo, como uma esfera, ofuscada.

— O que é isso?! - Indaga a Grace, completamente apreensiva. – Porém, se recordando daquele bicho feio de antes... Ah não! Mais dele não!

Várias luzes, vermelhas e verdes, cercavam e se aproximavam da clareira, da ruiva e Jamie.

Grace, queria correr, queria fugir, mas, com o amigo desacordado ao seu lado, ela jamais poderia. Então, sendo rápida, em meio ao impulso momentâneo de medo e sobrevivência, apanha a faca de Jamie, e aponta-a contra a branquidão a sua frente.

As luzes, marchavam até ela, por todas as direções.

 


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Notas finais do capítulo

e então, muita tensão e surpresas, não? Queria que todo capítulo pudesse ser assim. Porém, ainda achei meio cansativo a um certo ponto.
Deixei como sempre várias referências da série clássica, e androzani não foi isto que foi explicado, então entendam como uma simples referência. E “renovação” também, porque quando o 1 regenerou pro 2 foi assim que chamaram.
E este mestre da história é o do Anthony Ainley, que confrontou o 4,5,6,e 7 doctores. Mas era um corpo roubado, e não uma regeneração formal.
E o doutor disse 10 últimas vidas do mestre porque quando o do delgado aparece pro 3 já era o 13, então o 2 só poderia conhecer os anteriores, e se confundido.
E el Amo, como o mestre se apresento, é o nome dele na tradução do nome dele em espanhol. Achei muito legal o nome, e resolvi referenciar. E aliás, já vi uns vídeos com a dublagem espanhola, e adorei as vozes.
E o Rustch retorna agora, já regenerado, como a Aprendiz. Foi um personagem do volume 1, mas não será necessário ler o 1 para entender o personagem ou história. O seu nome são as iniciais dos showrunners da série moderna. E assim representaria o fã, mas aqui nesse novo contexto um fã revoltado com o doutor kkkk
e Linsunatsteev é um anagrama de "insustentável".
E é isso, capítulo de surpresas, relacionamentos, e perigo. Será que mais essa vez o trio da franja vai escapar? NEXT TIME...
Enfim, muito obrigado pela leitura, e me conte o que está achando da história ou do capítulo, pois isso faz toda a diferença em minha vida.