V.C. vol 6: O julgamento de uma Senhora do Tempo escrita por Cassiano Souza


Capítulo 1
Deveres e promessas


Notas iniciais do capítulo

olá!!!!! Quanta emoção, empolgação, e... mil palavras que não consigo descrever! Amarei esta história, e amei o capítulo. E vão por mim, mesmo com 4000 palavras esse é um capítulo que passa muito rápido.
BOA LEITURA!



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Foi no planeta Skaro, onde o meu velho inimigo, o Mestre, foi julgado. Dizem que ouviu impassível a lista de seus crimes sendo lida, enquanto o tempo de sua pena passava. Então, ele fez o seu último, e mais curioso pedido. Ele exigiu que eu, o Doutor, um Senhor do Tempo rival, levasse os seus restos mortais para Gallifrey, nosso mudo. Foi um pedido, que nunca deveria ter sido atendido.

Planeta Tiscanidouj.

A noite fria, se espreitava sobre as vilas, sobre os arredores, e sobre a dor local. Fogo, se espalhava pelas vielas sujas e escorregadias, e os telhados de palha e taboas. Homens, mulheres, e crianças, corriam e corriam. Aquilo, era medo, era pânico, e dor, muita dor.

Mães, apanhavam depressa as suas crianças nos braços, e partiam sem um rumo certo, apenas correr, e correr, para longe, para a paz impossível, contada nas cantigas de roda.

Seres armados em um bruto metal bronzeado, cruzavam por entre o fogo, e com as suas mortais armas, executavam a barbárie. Eles, giravam os seus longos visores, e exclamavam, seguindo pelas ruas:

— Exterminar! - Duas pequenas luzes, piscam imersas na fumaça e escuridão.

“Exterminar”, era uma dura palavra. Pessoas morriam, pessoas eram atingidas, e morriam. Simplesmente, aquele era o fim do mundo, para aquele mundo.

Algumas famílias, conseguiam chegar nas saídas da vila, mas, quando chegavam, mais dos seres infames elas encontravam, e assim, acabavam. Já algumas outras, se escondiam nos casebres de taipa, por debaixo de suas camas, ou dentro de cômodos trancados.

Um homem e uma garotinha, correm para um casebre qualquer, por entre os vários, e ali, se espreitam por de trás de uma velha mesa de madeira, numa cozinha. O homem e a menina, eram muito semelhantes, tanto quanto ao físico humanoide, e portador de pares de chifres, quanto as vestes surradas de um tecido frágil e vagabundo. A criança pergunta:

— Papai, cadê a mamãe?

— Estava logo atrás de mim! - Notou que ela não estava ali.

— E agora, onde?! - Lagrimas, desciam da face da menor.

— Eu não sei. - Disse desolado.

As multidões em fuga, eram enormes, qualquer um, poderia facilmente se perder. Porém, engolindo a seco, retira o pai, um aparelho como um bracelete de couro, de dentro de uma de suas mangas. A menina pergunta:

— O que é isso?

— Tiivam, não temos tempo. - Pôs o “bracelete” num dos braços da criança. – Irei encontrar a sua mãe, e você irá embora na frente.

— Não! Não vou! E o que é isso?

— Isso vai te mandar para longe! Vai te salvar!

Os olhos do pai, eram do mais puro desespero.

— E você e mamãe?! - Continuou a filha. – Não quero ir sem vocês!

— Sinto muito, mas vai ir. - Clicava em alguns botões no objeto.

— Não! - Puxou o braço.

— A grande Mestra nos abandonou, Tiivam, o mundo acabou. Os Daleks irão te matar se ficar aqui! - Tomou novamente o braço da filha, e terminou de clicar. – Eu vou te encontrar.

— Promete?

Os olhos da filha eram pidões, e os do pai, os de quem sabia que precisava mentir:

— Prometo.

E assim, beijou a testa da menor, que em imediato, se desfez em um flash de luz. Um rangido ecoa por de trás do homem, agora chorando, e se recordando da família. Ele se vira, e atrás de si, estava o mesmo demônio que havia lhe trazido todas as pragas do inferno. Estava um Dalek.

O homem, encara enraivado pra o ser, que lhe encarava apenas frio:

— Vocês são monstros. Sabem disso?

— Incorreto, nós somos os Daleks, nós somos a raça suprema! Você, é uma abominação.

— Nos tiraram tudo. - Deixou lagrimas caírem. – Por quê?! - Berrou.

— O Mestre, o seu Mestre! Ele deve morrer!

O homem, então fecha os olhos, e abre os braços, sabia que se todo aquele ódio era por conta da grande Mestra, qualquer um submisso a ela não seria poupado.

O Dalek dispara. O disparo, atinge o homem. O homem, cai falecido.

***

Planeta Gatuun.

Os céus, eram de uma vasta mescla de cores. Azul, roxo, verde, e vermelho, se cruzando e girando, como uma dança, como se estivessem a ser sacudidas pelo vento. E as nuvens, eram douradas, e com formatos que variavam de um animal como um porco ou algo como uma bailarina.

O vento, passava forte pela grama costeira rosada, frente ao grande monte praiano, contra o mar gelado, repleto de icebergs. E do mar, emergiam águas-vivas, e pairavam pelo ar, como borboletas.

Uma cabine de polícia azul, se encontrava sobre o gramado rosa, e frente a ela, um homem cabeludo de sobretudo verde, deitado no chão, de mãos dadas, junto, a uma mulher ruiva, de sobretudo cinza.

— Doutor, tem certeza de que não tomamos nenhuma droga? Esse planeta...

— Grace, o universo é grande e ridículo, e às vezes, planetas bizarros se formam. As luas de Júpiter, Clom, Gallifrey, a Terra...

— Ei!

Os dois riem.

— Estar com você está cada vez melhor. Sinto perigo, e alegria, e perigo de novo. Mas, estar em um lugar assim... Quem se lembraria de pagar boletos, acordar cedo pra ir trabalhar, planejar uma janta comestível, ou... Paciência para levar o carro no mecânico?!

— Tem razão, estar com você é maravilhoso, Grace.

— Me referia as viagens! Odiei a cantada, aliás.

— Perdão, estou tentando parecer uma pessoa normal. Não queria que eu fosse uma pessoa normal? Elas flertam, certo?

— Sim, mas detesto pessoas normais, então... Irá levar um fora.

O Doutor, bufa contrariado. Grace comenta:

— Mas continuando, isto tudo parece um sonho. E... Tive outro daqueles sonhos.

— O que você é uma garçonete no meio do deserto ou o que você é a tia da cantina?

— Nenhum! Estou falando do Olho da Harmonia. Eu sonhei que eu caí dentro dele. Já é a segunda vez essa semana.

O Doutor, toma um olhar sério, se recordando de um velho alguém, que havia também caído lá dentro. Grace continua:

— O que significa?

— Grace. - Mudou o tom alegre para sério. – Tenho de lhe contar algo.

Grace ouve atenta. O Senhor do Tempo revela:

— Fui convocado a um julgamento.

— Ah, não! Somos os mocinhos, qual o problema do universo?! Eu já disse, emplaque a TARDIS.

— O Mestre será julgado. Eu serei o seu advogado de defesa.

A ruiva, arregala os olhos, boquiaberta, e se levantando chocada:

— O quê?!

— Ele é meu amigo, Grace.

— Tentou sempre te destruir! - Acrescentou.

— Seguimos caminhos distintos, mas laços não morrem.

— Me matou! - Continuou acrescentando.

— Ele é um louco! Egoísta, e completamente perverso, mas, Grace... Ele é meu amigo, e o único em toda Gallifrey que já me entendeu algum dia.

E com isto, Grace desfaz em imediato a sua indignação. Compreendia que o Mestre era um ser terrível, mas, compreendia mais ainda que a amizade dele com o Doutor era algo tão antigo e complexo que uma mente humana qualquer jamais entenderia por completo.

— Desculpa. - Pede a humana, se sentando ao lado do homem. – Mas devia saber, ele é esperto e inteligente, e mal. Sabe que só foi até você porque sabia que não iria negar.

— Eu sei. - Confirmou entristecido.

— Mas fique tranquilo, se ele tentar alguma coisa... Nós tentamos primeiro. - Confortou o amigo, tocando-o no ombro.

A dupla, sorri, encarando confiantes um ao outro. Quando então, os sinos do claustro tomam a atenção do casal, além, de comprometerem a tranquilidade das águas-vivas, a voarem pela campina. O Senhor do Tempo, não perde tempo, e em imediato, corre até a sua nave, seguido pela humana, inteiramente apreensiva.

Os castiçais ao interior, ardiam avermelhados, e o console, piscava como um farol. O seu cilindro, subia e descia apressado.  O homem e a mulher, chegam aos comandos.

— Esses alarmes. - Comenta Grace. – Sempre que tocam, ou são coisas ruins, ou são coisas mais ruins ainda. O que foi dessa vez?

E o Doutor, sem responder, apenas arregala os olhos, fitando estático para o monitor. Algo realmente muito ruim, estava a sua frente. Ele digita rapidamente alguns botões, e puxa depressa uma grande alavanca. A nave parte tão bruscamente, que a ruiva quase cai para trás.

— Doutor?! - Berra Grace. – Explique!

— Duas coisas, e espero que entenda rápido! - Explicava, manuseando a máquina, que não parava com o seu interno balanço desconfortável. – Primeiro, o planeta será explodido. Está prestes a ser atingido por um raio mortal de fusões combinadas. E segundo, o tribunal está me convocando!

— Você disse planeta explodido?!

A TARDIS, adentrava agora ao vórtex, emergindo violenta, e deixando para trás Gatuun, o paradisíaco e rico planeta, das quatro torres de vidro, e das lesmas afrodisíacas e águas-vivas aéreas.

Um brilho forte no horizonte foi visto por todos os animais e povos selvagens, mas, um brilho, que em menos de um segundo, levou tudo o que 4,5 bilhão de anos de trabalho da natureza custou para construir. Centenas de asteroides vagavam agora por onde jazia o lar das lesmas afrodisíacas.

— Doutor, quem faria isso? - Indaga Grace, mais tranquila, porém, ainda chocada, com a TARDIS já também tranquila em seu voou.

O Doutor, demora em responder, estava também chocado, e completamente desolado. Mas, guardando tudo isso por debaixo de sua face mais séria possível:

— Rastreei, o raio. Origem, naves Minocrisas.

— Já encontramos eles antes! - Lembrou. – Na Terra.

— Estão de volta.

***

LISARIUM-B2/ Prédio de hospedagem 100.000.00.

Uma mulher de vestido vermelho e chifres finos e pontiagudos encarava a vista caótica abaixo de seus pés. Vendo todos aqueles meros individuos circulando minusculos de um lado a outro, devia se sentir divina. Em uma mão, uma taça, com provavelmente algo alcolico, e em outra um cigarro electrónico. Uma porta arredondada no quarto se abre, e um homo-felino negro entra formal, se prostanto em pose de submissão. A mulher se vira a ele lentamente, soprando a sua fumaça roxa: 

— Demorou.

— Busquei informações por toda a embaixada, senhora. 

— E?

— O Senhor do Tempo teve a ousadia de aceitar, senhora.

Ela dá um gole na taça:

— É impressionante, devemos admitir. 

— Impressionante?

— A coragem do Doutor. Ele sempre sabe que irá perder, entretanto... Ele nunca para. - Seus olhos se encheram de fúria.

— Respire, ama, sua vingança está garantida. 

— Não é vingança.

O servo não entende. A ama explica:

— É justiça. Justiça, meu caro Natas.

— Poucas horas para isto.

— É uma ansia antiga.

— Não quer ir agora?

— Quero.

— Vou providenciar o teletransporte. 

Tiivam consente, olhando para um relogio dourado em seu pulso, onde lacrimejando observa que os ponteiros não batem mais. Que importância teria?

***

Em 20 anos atrás no planeta Elíseos.

Uma jovem garota de chifres sai discreta de trás de uma arvore e esconde-se em outra, os passaros cantavam e as borboletas pairavam no jardim do vale. Um homem alto e forte com capacete de chifres diz:

— Vou te achar, querida. Seu pai caçava minhocas falantes em Marinos, se quiser saber. 

Um riso leve o troglodita ouve, e enfia seus braços num tronco caido e ocado, retiramdo uma menina:

— Previsível.

— Me fez rir. Injusto. 

— Temos o dia todo. 

Sorriram um para o outro e o bracelete do homem emite um zumbido. Ele aperta um botão, e o seu aparelho no ouvido transmite uma mensagem que apenas ele escuta. Seus olhos brilhantes e sorrisos bobos morrem. A jovem suspira diferente do outro:

— Mamãe disse que mandaria um presente para mim. Segundo o rastreio chega hoje. O que será?

O homem engole a seco e diz absolutamente pesaroso: 

— Sua mãe está morta.

A animação da menina é devorada por um abismo:

— Não tem graça!

— Sinto muito.

— Pare com isso! 

— Queria poder dizer que é bobagem... Mas não é. Peri está morta. O Mestre destruiu a capital de Llisunnasteev. Mas partiu lutando.

Lágrimas transbordam de ambos os olhos.

***

A TARDIS, segue as coordenadas digitadas pelo Doutor, e dadas pelo tribunal. Assim, logo se materializando num vasto ambiente, repleto de diferentes espaçonaves, com algo que mais parecia ser um tipo de estacionamento.

O Doutor e Grace, se retiram, e logo, partem do local, chegando a uma enorme praça, repleta de pessoas, de diferentes raças, planetas, e galáxias. Cada uma, possuía uma aparência diferenciada, sendo ou humanoide, ou animalesca. Grace, encarava entusiasmada e assustada ao mesmo tempo. Já havia visto vários alienígenas na vida, mas, não tantos como naquele momento.

— Não se assuste, Grace, são todos pacíficos. - Pediu o Senhor do Tempo. – Apenas, siga-me.

— Não iremos nos perder?

— Me dê a sua mão.

— Quer dançar valsa ou se casar, homem?

— Te levar à embaixada gallifreyana. Seja bem vinda ao tribunal das dez galáxias irmãs. Lisarium-B2.

E assim, prosseguem de mãos dadas. Onde Grace, olhava para cima, e vislumbrava boquiaberta para os enormes prédios, todos dourados, e mais imensos do que qualquer um de seu planeta. E os céus, eram como um centro de uma galáxia, apenas estrelas e mais estrelas, por de trás de uma redoma de diamante. Lisarium era o nome da antiga lenda da divindade do equilibrio universal, uma criatura que regia os poderes da perfeição, e dali teriam nascido os setores A-1, A-2, B-1, B-2, B-3, B-4 e B-5. Responsáveis cada um, por algo nas 10 galáxias irmãs, desde segurança, economia, cultura, e informação. As galáxias, eram a Androlaxia, Espiral Tiberiana, Gelidus, Frater, Mestophelix, Galáxia-4, 5, 6, e 10.  

Cada prédio ali no B-2, possuía a sua determinada função, sendo na maioria, apenas embaixadas, de raças e impérios distintos. Porém, outros, eram desde, delegacias, centro de habilitações, tribunais de nivel 1, bibliotecas, memoriais de guerras e conflitos cósmicos, e espaços de alimentação, higiene, e estacionamentos ou alas de saúde. Cada um destes departamentos, distinguia-se por seu tamanho, cor, e material, podendo ou ser de ouro, prata, azmyrin, ou metais caros cósmicos. 

E chegando a um mais do que colossal prédio, prateado, adornado por cada metro-quadrado, com estatuas de grandes personalidades da academia prydoniana, o Doutor e Grace, logo notavam um velho conhecido a lhes aguardar. Seria com certeza, um Senhor do Tempo, a julgar pelas vestes deslumbrantes, e golas extremamente exageradas.

— Doutor. - Cumprimentou o sujeito. – Grace Holloway.

— Tridaro?! - Exclamou Grace, surpresa.

— Sim, quanto tempo, não? Para mim, 500 anos.

— Não mudou nada! Exceto pelas... Golas engraçadas. O que faz aqui?

— Ele é juiz agora, Grace. - Explica o Doutor. – Conseguiu crescer, “aquele que trai”.

— Consegui. - Confirmou Tridaro. – Mas, gostaria de menos ironias, Theta Sigma.

— Perdão. - Pediu falsamente.

— Apenas confirme, irá defender Korschei?

— Sim.

— Ótimo. Já não haviam mais esperanças.

— Quem é Korschei? - Indaga Grace, confusa. – Acho que já escutei algo assim de algum folclore europeu.

— Mas, devo lhe avisar algo, para que faça antes do julgamento. - Avisa o Doutor a Tridaro. – Eu e Grace estávamos em Gatuun, e... Ele foi destruído. Acredito que tenha sido um atentado. Os responsáveis, ao que tudo indica, eram Minocrisos, e a acusadora da Korschei é uma Minocrisa.

— Isto é terrível! - Diz Tridaro, pensando distante. – Porém, não tema, Doutor, buscaremos as respostas. Além do mais, nada deve ser temido, a segurança do julgamento já foi providenciada, e ela... A melhor do universo.

— Não existe segurança frente a algo capaz de esfarelar um mundo, Tridaro.

E Tridaro, engole a seco. O Doutor conclui:

— Um raio como o que vi... Não deveria mais existir.

— Era um planeta lindo. - Recorda Grace, desolada.

Tridaro, nada comenta, apenas, respira apreensivo. E Grace, insiste em sua dúvida:

— Porém, novamente, quem é Korschei?! Disse que seria um julgamento para o Mestre!

— E é. - Confirma o Doutor. – Aquela é Korschei.

Grace, então mira os seus olhos para onde o Senhor do Tempo encarava, e de lá, se tinha a imagem de uma mulher palida algemada, de sobretudo roxo, e cabelo castanho preso, com olhos luxuriosos, e sorrisos leves e venenosos. Esta senhora, estava num tipo de cela com rodas, sendo arrastada por dez soldados, fortemente armados e completamente revestidos de armaduras. 

— Quero vê-la. - Diz o Doutor a Tridaro. 

E assim, Tridaro apenas sinaliza aos carrascos, mesmo que de longe. Com então, logo eles retirando a prisioneira das grades, onde escoltaram-a até o cabeludo de sobretudo verde. A mulher de sobretudo roxo, olha felina para a humana. Porém a humana, apenas encara estranho, aquela mulher parecia querer devora-la com os olhos. Grace, não conhecia aquela pessoa, e não havia entendido todo aquele encaro profundo e profano, seguido de um sorriso de canto. O Doutor, assopra cansado:

— Como combinado. 

— Um cavalheiro você, querido. - Responde a mulher de roxo. 

— Tem sorte.

— Não, se chama charme. Ou o meu perfume novo! - Riu no final, e voltou a vislumbrar a ruiva.

Grace pergunta:

— Posso ajudar, senhora?

— Senti muito a sua falta, doutora. - Responde a mulher.

— Ah... Bem, desculpe o que eu vou dizer, mas... Você me assusta! - Diz, recuando com os ombros.

— Digamos que... Seja o meu charme especial, ou... A minha presença inconfundível.

— Disse que sentiu minha falta, como sentiria?

— Faz muito tempo! Ah, me lembro apenas daquele momento em que eu lhe joguei do alto, onde você teve um traumatizma craniano. Foi tão excitante!

E ouvindo isso, Grace olha a mulher de cima até embaixo, não conseguia acreditar que aquela pessoa séria quem ela pensava que aquela pessoa séria. A sujeita, sorri malévola:

— Olá.

— Mestre?! - Exclama a ruiva, descrente.

— Missy! - Corrige emburrada.

— Quem?!

— A Mestra!

— Então por que me corrigiu?

— Porque sou um modelo melhorado. Posso te beijar em um minuto e te matar no outro, é um grande dia! Aliás, eu estou ciente de tudo. - Entreolhou farpante para o Doutor e a humana. – Não pensem que me enganam, seus safadinhos.

O Doutor e Grace, engolem a seco. Tridaro, permanece desentendido, não entendia realmente. A Missy prossegue:

— E também, gostaria de agradece-lo, meu amigo. - Mudou o semblante sádico, para sério.

— Disponha. - Responde o Doutor. – Finalmente me decidi, após 300 anos de sua longa dúvida.

— Hum, realmente duvidei, naquela maldita bolha de tempo entediante. Mas, você sabe, a esperança deve sempre ser a última a morrer. Ainda estou na flor da idade, e não seria justo desperdiçar este corpo em um tumulo.

— Mas você já morreu! - Lembra Grace. – Você foi sugada pelo Olho da Harmonia.

— Ora, não me recorde daquela derrota lamentável!

— A Missy pertence ao futuro, Grace. - Revela o Doutor. – O Mestre está preso conosco, mas em seu futuro... Ele de alguma forma, não mais.

A Missy, então volta a sorrir, mas, mais malévola ainda, fitando a face séria e fria do velho amigo, que parecia até mesmo, apesar de querer defende-la, odiá-la terrivelmente.

— No entanto, que tal continuarmos, meus caros, Doutor e Mestra? - Sugestionou Tridaro.

— Adoraria, quero logo ser liberta, e ir tomar uma boa ducha em Dubai ou Bahamas! - Disse a Mestra, sendo escoltada por seus guardas. 

— Ótimo, lhe aguardamos lá dentro, Doutor.

— Certo. - Corresponde o Doutor. - Mas e a acusadora, já está? 

— Foi a primeira a chegar. Ela, e a sua comitiva de testemunhas. Senhorita Tiivam não poupou esforços.

O Doutor engole a seco. Tridaro completa:

— Missy não possui nenhuma testemunha, de nenhum tipo. Apenas você, um advogado, barra, amigo de infância. Será um difícil julgamento.

— Mas você nos conhece. - Avisa Grace.

— Isso não basta para salvar ninguém da morte, cara humana. A justiça é cega, e sem vizinhança. Serei um juiz, não um amigo. 

E dizendo isso, se retira Tridaro para o prédio, deixando Grace sem graça, pelo jeito que havia sido dispensada a sugestão. O Doutor, sorri triste:

— É isso, defender alguém impossível de ser defendida.

— Você é sábio, você é forte. - Abraçou a ruiva ao amigo. – Você é o Doutor. Você é o que todos os miseráveis e perdidos precisam para se reerguer. Você vai conseguir.

— Ela só tem a mim!

— Sim, e ela é uma louca. E um Doutor, é tudo o que uma louca precisa.

Cessou o abraço. O Doutor avisa:

— Obrigado, Holloway. Você sempre sabe o que dizer. Por acaso já foi psicóloga?!

— Quase. Mas, percebi que acabaria surtando, então... Médica soou melhor. Era o meu maior sonho.

— E o-realizou. - Sorriu gentil. – Parabéns. Mas, infelizmente terei de lhe avisar que... Humanos e qualquer outra criatura de planetas nível 5 não são bem vindos em nossa embaixada! Então... Me espere aqui.

— O quê?! Isso pode demorar horas! Como assim, “espere aqui”?! E se o tempo aí dentro passar mais devagar?! Quantos séculos terei de ficar aqui fora?! Mil anos?! Será que ainda restarão ossos?! Isso é racismo!

— Grace... Sabe que não concordo com as bobagens de meu povo, mas quero encerrar isso de uma vez, e ir embora daqui o mais rápido que você imaginar. Não quero discutir com você, e nem com eles.

— Tudo bem, conservadores galácticos. - Cruzou os braços emburrada, virando de costas.

— Não vai ficar mesmo triste, vai?

— Não. - Respondeu indisposta.

— Então... Até mais, Grace.

— Até. - Assoprou emburrada.

O Doutor, assim adentra ao prédio, enquanto a acompanhante, permanece em aguardo no exterior. O Senhor do Tempo, é revistado e escaneado, e constando que estava tudo certo, é então guiado por meio da recepcionista, até um elevador anti-gravitacional, por onde assim, chega até um corredor de enormes portas negras ao centro.

As portas, para a sala de justiça e morte, ou ambos, estava a sua frente. Os seus bolsos e trajes, eram revirados novamente, por guardas, em temerem a animália de sua possível ira. Mas, necessitária do Doutor destas artimanhas? Talvez. Ou, fosse o que os homens a lhe tocar pensavam. A sua amiga de infância, não tinha mais vida. Possuía, uma ampulheta praticamente. Respirava e falava, mas, seria isto vida? Os minutos, passava cada vez mais rápido para a Senhora do Tempo, entretanto, tudo o que ela era agora, era com certeza menos do que o seu título dizia.

Contudo, cessando os apalpes por entre o corpo do cabeludo de sobretudo verde, as portas negras em sua frente, negras como uma noite perdida no fim do universo, negras como a alma de um Dalek, negras como uma criatura pútrida esperando o seu enterro, logo, abrem-se a ele.

No centro do ambiente, havia um altar para a ré, onde por envolta do altar, havia um cilindro a laser. Ele era anti-teletransporte, anti-sônico, e até mesmo, anti-morte. E na esquerda deste altar central, havia o altar para o advogado de defesa, e na direita, o altar para o advogado de acusação, porém, estes, sem o cilindro a laser. E cada advogado, teria a sua gama de testemunhas ou apoiadores. O Doutor, olha para a bancada dele, que nada tinha, além, dos assentos vazios.

Diferente, da bancada de Tiivam, a acusadora, e uma das maiores vítimas da Mestra. O Doutor engole a seco, sabia que estava definitivamente só. A Mestra, olha angustiada para ele, e ele... Apenas cansado, muito cansado.

Tiivam, sorria maliciosa, com os pingentes sobre os seus chifres, balançando. Tridaro, terminava de ajeitar alguns pergaminhos sobre a sua mesa, uma, que ficava bem na frente da ré. Dois soldados, estavam de cada lado, igualmente nas portas.

— Ótimo. - Disse o juiz pigarreando, e deixando os pergaminhos de lado. – Iremos começar a seção.

O Doutor, respira fundo. A Missy, fecha os olhos. Tiivam, sorri largo.

***

O julgamento da Senhora do Tempo começaria, e Grace, apenas esperaria ao lado de fora, em meio ao caos e correria dos senadores, deputados, seguranças, réus, vítimas, faxineiros, soldados, e advogados, cruzando as ruas e avenidas.

Ela odiava esperar, mas o que fazer? Não havia o que fazer, se não, isto.

Então, já entediada, observava todo o tumulto ambiental, procurando se distrair, até, que algo realmente lhe distrai.

Era uma caixa de madeira, de madeira azul, e portadora de um letreiro preto e branco. Estava escrito polícia, e assim, a ruiva corre até a caixa, esbarrando por entre os povos, e pedindo perdão.

— TARDIS?! - Questiona a mulher frente a caixa. – O que faz aqui?!

Ela, toca na madeira, e nada sente de errado, era a mesma textura de sempre, porém, observando alguns outros detalhes, notou-se pequenas diferenças. As portas, janelas, e a lâmpada, pareciam diferentes.

— Não pode ser. - Respirou fundo, e abriu as portas da cabine.

O interior, não estava escuro como de costume, e o teto, não era um vasto céu estrelado. O console, não possuía um cilindro alongado, e a sala, era grande, mas, não tão grande como a que Grace estava acostumada.

A ruiva estava em choque, aquela era a TARDIS, mas, não a que ela conhecia. Com certeza, pertencente também ao Doutor, mas, com certeza também não ao seu Doutor.

O console era branco, as paredes eram brancas, e um zumbido incessante adormecia os tímpanos. Os botões e marchas nos painéis, eram simples, e nas paredes, inúmeros orifícios meio profundos, organizados em fileiras, emitindo um brilho interno.

E no alto de uma parede, um monitor a encarava desligado. A humana, vê o seu reflexo de pura surpresa.

— Outra TARDIS! Isso é tão... - Pensou. – Empolgante, chocante, e... Contra as leis dos Senhores do Tempo! - Recordou. – Não podem cruzar as suas próprias linhas temporais!

Era verdade, eles não podiam, esta era uma regra imensamente temida, e que devia a todo custo ser seguida. Grace, então se volta depressa para a porta, teria de avisar ao amigo de que havia algo errado.

Porém, antes que Grace abrisse as portas, outro alguém abriu. E assim, estava a doutora frente a dois homens, um jovem e um velho. O jovem, tinha cabelo semelhante ao velho, no mesmo corte arredondado, porém, em trajes diferentes, usando até mesmo algo como uma saia listrada, e quem sabe, fosse um kilt escocês. E o velho, usava uma calça xadrez, cabelo arredondado estilo Beatles, gravata borboleta vermelha, e um paletó preto, esfarrapado, com mangas frouxas.

Grace, não conhecia as figuras, e as figuras, não conheciam ela. Então, apenas se encararam desentendidos e surpresos, até, que o mais velho disse furioso ao homem mais jovem:

— Jamie, você sabe o que eu lhe disse sobre a regra de não trazer mulheres para a TARDIS!

— Doutor, eu não trouxe mulher para a TARDIS, e nunca trouxe mulheres para a TARDIS! Na idade média, elas me arrastaram pro estabulo!

— Quanta intromissão, não? Mas, poupe-me por favor dos detalhes sórdidos.

— Não houve detalhes sórdidos, eu saí correndo. - Admitiu tímido.

O Doutor, franze a testa surpreso, e Grace, engole a seco, estava no meio de uma conversa da qual não era dela. Porém, logo o velho encara sério para a ruiva, marchando em sua direção, e fazendo ela recuar de costas, assustada, até o console.

— Você. - Disse o velho, cruzando as mãos próximas a boca. – Você é um alienígena espião?!

E a mulher, negou com a cabeça, imaginando uma resposta, em meio à confusão que a sua mente estava:

— Ah... - Pensou. – Se eu disser “sim”, você não vai me esganar, vai?

— Essa é a TARDIS, a maior e mais incrível tecnologia que a sua mente primitiva jamais irá chegar perto de compreender. Todos lá fora conhecem a mim e ao meu assistente.

— Assistente?! - Grace sempre considerava “acompanhantes” ou “amigo”, quem estivesse com o Doutor.

— Você devia nos conhecer, e não devia ter entrado.

— Eu conheço a TARDIS, e eu conheço o Doutor.

E o velho e o jovem, olham um para a cara do outro depressa, confusos, e depois para a mulher:

— Conhece?!

— Viagens no tempo, às vezes é difícil sincronizar. Mas o ponto é, o meu amigo, o Doutor, ele está lá fora, no prédio gallifreyano, e você então precisa agora ir embora. Um julgamento acontece, e ele é um dos advogados.

— Impossível ir embora, minha querida. - Disse o velho, esfregando as mãos. – Eu sou o segurança deste evento.

Era isto, uma regra fundamental quebrada, jogada de modo onde a ruiva nada mais fez, além, de permanecer sem palavras.

Jamie, sorri, e de repente, o console começa a ofuscar com as suas luzes. O Doutor, digita alguns botões, e puxa as suas pequenas alavancas. E no monitor, símbolos estranhos fazem o Senhor do Tempo arregalar os olhos.

— Coisa boa, Doutor? - Indaga Jamie.

— Não, Jamie, nada bom, e nada, nada certo!

Manuseia depressa os mecanismos da máquina. Grace, nota a porta se fechando, mas, decide ficar, não esperaria do lado de fora. De qualquer forma, estava com o amigo. A ruiva pergunta:

— Doutor, a TARDIS não vai ficar sacudindo, vai? Odeio essa parte.

— Bem, eu amo. Então... Segure-se. - Ele clica em um botão.

O balanço terrível da caixa começa. O Doutor, estava bastante interessado no que havia avistado na tela.

Jamie, assopra emburrado, se segurando nas paredes. E Grace, sorri animada, não conseguia acreditar de que estava com o seu velho, velho amigo.

A TARDIS, segue louca vórtex a dentro. Que parecia até, estar em cores preto e brancas.

 

 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que achou deste primeiro capítulo? Eu achei bem legal. E queria explicar algumas coisas.
Esse julgamento da Missy vem sendo citado desde volumes anteriores, mas você não precisa ler eles pra entender este. A Tiivam é aquela garotinha que foge no começo da história, e aqui no julgamento ela já está grande, caso tenham se esquecido pela gama de detalhes. Ela já até teve uma pequena participação no volume 5, e dialogou com o Doutor.
Tiivam é um anagrama de vítima, e Tiscanidouj é um anagrama de injustiçado. e Minocriso de criminoso.
O caso dos Daleks e da grande mestra ainda será mais explorado, não ficará só naquilo.
E a presença do segundo doutor e Jamie? Isso é algo retirado lá da série clássica, isso deles trabalharem para os senhores do tempo. Ocorre após o último ep do segundo Doutor. Coisa que se confirma em the two doctors, na era do sexto Doutor. é a chamada temporada 6-b. algo muito interessante, e que eu me arrependeria de nunca ter explorado.
E isso que a Grace disse sobre “esganar” se fosse um alien espião, é uma referência ao sexto doutor esganando a Peri quando se regenera, e acredita que ela é um espião.
E Tridaro, é um personagem do volume 1, mas não tomará spoilers com ele. Gostei de estar de volta com o personagem.
E os Minocrisos, são também de um volume anterior, mas não posso especificar qual. Pois no volume deles foi um detalhe bem crucial. Mas você entenderá a história deles sem ler as anteriores, pois não terão ligação nenhuma.
Lisarium-B2 também já é algo recorrente na saga, já que vem sendo citado desde a primeira história, e aqui finalmente será aprofundado, já que no começo era bem sem fundo na realidade. Mas, estou conseguindo criar uma mitologia meio interessante. Gatuun também já foi citado várias vezes, e descrito no volume 3.
E Clom, é uma referência a um planeta considerado horrível na série moderna. Pela primeira vez na segunda temporada, e por fim na quarta.
Mas agora, me diga você, o que achou do capítulo, e o que acha que a história pode oferecer? Por favor, se não lhe custar nada, e tiver gostado do mínimo aqui, peço um comentário ou um favorito pra me incentivar. Mas, próximo capítulo pode demorar.
OBRIGADO PELA LEITURA!