Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 15
Capítulo 14




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787448/chapter/15

Quando a porta da cabine abriu, o coração de Harry parou por um segundo no peito diante da possibilidade de um Dementador aparecer novamente sob o batente, voltando para terminar de aterrorizá-lo, mas quem apareceu foi Remus Lupin e ele trazia pelos ombros a figura familiar de Dallas que estava pálida e ofegava. Lupin a sentou no banco ao lado de Hermione, mas a mudança de posição e o fato de estar em outro ambiente parecia não ter sido registrado pela garota. Dallas ainda expirava e inspirava de forma rápida e descompassada, apertando os dedos sobre o peito e amassando o tecido de sua camisa de botões.

— O que há de errado com ela? — Ron soltou a pergunta que estava entalada na garganta de Harry. Lupin sentou ao seu lado, com a varinha erguida, mas exceto observar Dallas de perto, não fez mais nada para ajudá-la.

— Dallas? — Harry chamou pela garota e estendeu uma mão para tocá-la, mas em um gesto rápido Lupin o segurou pelo pulso, o pegando de surpresa. 

A reação de Lupin causou uma reação reflexa em Dallas que parou de hiperventilar e focou os seus olhos curiosamente em um tom violeta no professor. As íris sempre dela foram dessa cor ou era um truque de luz? Harry pensou quando sentiu os dedos de Lupin tensionarem contra o seu pulso antes de relaxarem e o homem o soltar vagarosamente, tendo todos os seus movimentos observados cuidadosamente por Dallas. Havia um misto de surpresa e compreensão no rosto de Lupin e ele ergueu as mãos em um gesto de rendição e em seguida abaixou a varinha lentamente, direcionando a sua ponta para o chão em uma posição de "não-ameaça". 

— Está tudo bem. — ele disse em um tom calmo e suave. — Hermione? Por que Harry e você não trocam de lugar? — Hermione e Harry trocaram olhares curiosos, mas fizeram o que o homem pediu. Assim que Harry sentou ao lado de Dallas, o corpo dela relaxou consideravelmente e os dedos da mão direita abriram-se, soltando a camisa que antes ela esmagava dentro do punho cerrado.

À medida em que Dallas ia relaxando cada vez mais ao lado de Harry, ele notou que os olhos dela voltavam ao tom azul usual, e isto o intrigou. Várias piscadas de olhos depois, a cor violeta sumiu das íris e Dallas recuperou uma cor rosada e saudável em suas bochechas e parou de ter a crise de asma. 

— Tome. — Lupin estendeu à ela uma barra de chocolate, que Dallas hesitou um segundo antes de pegar e dar uma mordida na ponta do doce. — A sua espécie não interage bem com criaturas das trevas, por isso desta reação exacerbada. — ele explicou e se um olhar pudesse matar, Lupin já estaria caído, morto e enterrado, diante do olhar que recebeu de Dallas. 

— Espécie? — Hermione perguntou e mirou Dallas como se a outra garota fosse um novo e fascinante segredo e ser desvendado. 

— Severo tem conhecimento de seu status? — Lupin perguntou, ignorando completamente a interrupção de Hermione. 

— Sim. — a resposta de Dallas saiu rouca e Harry ofereceu à ela a garrafa d'água que comprou mais cedo da bruxa do carrinho de doces. 

— Que espécie? — Hermione repetiu a pergunta, porque o que ela mais detestava era ficar de fora do assunto. Dallas deu uma golada na água antes de responder:

— Por que você não deixa a sua cabeça grande de sabe-tudo fora disto, Granger? — disse grosseira e Ron empertigou-se no lugar, pronto pra sair em defesa de Hermione.

— Não seja grosseira, Dallas. — Lupin repreendeu a menina com gentileza. — Hermione só está curiosa e não há vergonha alguma…

— Já passou-lhe pela cabeça — Dallas interrompeu o homem bruscamente. — que talvez não seja da conta de ninguém o que eu sou ou deixo de ser? Ainda mais de Granger que é uma completa estranha para mim e portanto não tem nenhuma autoridade para saber coisas sobre a minha intimidade? — Hermione fechou a boca tão rápido que os seus dentes bateram uns nos outros, gerando um alto som de estalo, e Lupin recuou diante da ofensiva, mas não tentou mais argumentar. — Ótimo! — Dallas colocou-se de pé e entregou a água e o restante da barra de chocolate para Harry. — Ah, e professor? — ela chamou logo assim que abriu a porta da cabine em um deslizar. — Um segredo por um segredo. Se contar o meu, eu conto o seu. — e ao sair, fechou a porta com uma batida dramática. 

— Criaturinha adorável ela, não? — Ron comentou com deboche.

— Eu volto já. — Harry jogou a barra de chocolate meio comida e a garrafa d'água sobre o sofá da cabine e saiu desta correndo. — Dallas! — gritou quando viu as costas da menina alguns passos à frente, no corredor. Dallas parou diante do chamado e girou um pouco o corpo para vê-lo se aproximando. — Você… — Harry hesitou. Havia dezenas de perguntas pipocando em sua cabeça, sendo a maior delas o que Lupin quis dizer com “a sua espécie”, mas a reação de Dallas as indagações de Hermione deixou claro que este era um assunto delicado e que ela não estava disposta a compartilhar, provavelmente nem mesmo com Harry.

O relacionamento deles era estranho e sem rótulos. Harry não poderia chamar o que eles tinham de amizade porque ele agora tinha um sólido exemplo do que era verdadeira amizade, graças a Ron e Hermione, mas também não podia dizer que o que eles tinham era indiferença. Eles não eram completos estranhos um para o outro, como colegas de classe que cruzavam-se nos corredores de Hogwarts, cumprimentavam-se pelo nome, mas não faziam ideia de como eram na intimidade, quais eram os seus gostos, temores, sonhos e aspirações para o futuro. Mas, ao mesmo tempo, não eram muito próximos um do outro. O que Harry sabia sobre Dallas, fora o que era de conhecimento público pelo fato da garota ser famosa no mundo trouxa, não era capaz de preencher uma folha de caderno. 

Dallas gostava de torta com mousse de chocolate e raspas de chocolate branco e preto meio-amargo na cobertura, e só sabia disto porque ela mandou para ele um exemplar para degustação em uma das várias trocas de cartas. O gosto dela musical variava do pop, para o rock, para baladas românticas e folk, e Harry baseava este conhecimento nas fitas que recebeu de presente de aniversário. Dallas era inteligente e, pelas cartas trocadas, o modo como ela falava e nas poucas vezes em que ela foi caridosa o suficiente para explicar-lhe alguma lição de casa, era claro que ela era muito mais inteligente do que Hermione, mas não tinha a avidez de Hermione em ser a primeira em tudo, em responder todas as perguntas, em ter a sua inteligência reconhecida, construir um nome sobre ela, atitudes que Harry suspeitava que a amiga fazia de forma inconsciente porque, assim como ele, queria provar algo para alguém, sempre. Hermione não conversava muito sobre a sua vida pré-Hogwarts, mas Harry conseguia imaginar uma garotinha esperta demais para a idade, dentuça e de cabelos cheios, sendo zoada pelos colegas de classe porque era diferente. Dallas era bonita, mas isto era algo que saltava os olhos, e sempre pegava Harry de surpresa. 

Não era só aparência física, o cabelo comprido que chegava-lhe ao meio das costas, os olhos azuis cativantes e misteriosos, era algo mais que vinha dela, como um ímã que o atraía. Era uma sensação estranha, porque Dallas não era carismática, a sua língua era ferina e Harry não era tão estúpido assim para não entender que metade das tiradas sarcásticas dela tinha uma ofensa sub-entendida à sua pessoa, mas curiosamente toda e qualquer ofensa era diretamente ligada à sua pessoa. Não havia nada sobre os seus pais mortos, sobre Voldemort, sobre o seu status de Menino-Que-Sobreviveu, era sempre sobre Harry e a percepção que ela tinha dele baseada no pouco que aprendeu sobre ele durante os breves contatos que tiveram. E chamem Harry de masoquista, mas ele gostava disto. De ser julgado e condenado pelo que ele verdadeiramente era, não pelo que os outros diziam sobre ele. Era uma sensação estranha, mas agradável, porque o fazia perceber que Dallas estava prestando demasiada atenção nele para poder conseguir bolar insultos disfarçados de “inocentes” comentários, e isto sim que inflava o seu ego, e não a sua condição de herói do mundo mágico, como Malfoy gostava de enfatizar cada vez que discutiam no meio de um corredor de Hogwarts. 

— Você está bem? — perguntou por fim, arquivando a sua curiosidade sobre o que realmente queria saber para um outro momento. Talvez o que eles realmente precisassem fosse de tempo. A verdadeira interação entre eles começou somente durante as férias passadas e na escola não estavam em presença constante um do outro para criarem laços afetivos, então esta amizade talvez precisasse somente de tempo.

Os ombros de Dallas relaxaram e nisto Harry percebeu o quão acertada foi a sua pergunta. A garota deveria estar esperando por um encore do questionamento de Hermione, e já preparava-se para arremessar farpas sobre Harry se ele insistisse no assunto. 

— Sim… Talvez, não sei, na verdade. Eu já tinha lido sobre Dementadores, mas a experiência prática não chega nem perto da teoria.

— Eu não tinha lido sobre Dementadores… — Harry sorriu quando viu o rosto dela contorcer-se de modo que os seus pensamentos ficaram refletidos em sua face. A boca dela abriu, mas os pensamentos não ganharam voz, e nem precisavam, porque ele sabia o que ela iria dizer e envolvia alguma ofensa relativa a sua incapacidade grifinória de ler algo que não tivesse uma figurinha a cada duas páginas, e letra garrafais. — e não quero repetir a experiência. — os olhos dela percorreram o corpo de Harry dos pés a cabeça. 

— A sua experiência não pareceu tão desagradável, não tanto quanto a minha. 

— Eu desmaiei. — confessou e surpresa surgiu no rosto de Dallas e Harry surpreendeu-se ao perceber esta manifestação de emoção. Como dito antes, Dallas expressava-se em micro-expressões, que deveriam ser observadas atentamente para então serem decodificadas, e Harry achou que ainda levaria algum tempo para ser fluente na linguagem Dallas Winford, mas até que havia aprendido rápido. 

— E você está perguntando para mim se eu estou bem? — havia deboche e uma pitada de preocupação no tom de voz dela e Harry refreou um sorriso diante desta suave demonstração de emoções. 

— Sim. — respondeu com sinceridade e isto pareceu desarmá-la por completo, pois a menina ficou muda por um segundo. 

— Eu preciso voltar para a minha cabine. Professor Lupin me tirou de lá tão rápido que Patrick deve estar ainda processando o que aconteceu. 

— Dallas. — Harry segurou na mão dela, a impedindo de partir. Este gesto estava tornando-se costumeiro entre eles e o toque, como sempre, fez algo gostoso formigar por todo o seu corpo e Dallas nem ao menos reagiu aos seus dedos sobre a sua pele pálida. Harry queria acreditar que o toque estava tornando-se familiar o suficiente para ela de modo que a sonserina já o aceitava de bom grado, sem lançar aquele olhar questionador para a sua mão, o que o fazia ruborizar e soltá-la no instante seguinte. 

— Potter? — ela o chamou quando Harry demorou demais para dizer alguma coisa, qualquer coisa.
— Melhoras. — foi a única coisa que ele conseguiu dizer, porque realmente não fazia ideia do que falar. As palavras ficaram entaladas em sua garganta, palavras que ele nem sabia quais. Com gestos lentos, Harry soltou a mão dela e sentiu os seus dedos frios diante da ausência da pele morna de Dallas tocando a sua. O modo como ela fechou a mão em um punho o fez iludir-se por um segundo de que Dallas também sentiu falta de seu toque. 

— Não vá desmaiar de novo, Potter. — a provocação foi vazia e dita somente porque Dallas sempre precisava ter a palavra final em qualquer conversa deles, mas não houve realmente nenhum desdém empregado em suas palavras e após um segundo de hesitação, ela girou sobre os pés e seguiu o caminho de volta a própria cabine. 

Quando Harry retornou para a sua cabine, a conversa cessou assim que ele entrou no compartimento e os olhares curiosos de Ron e Hermione caíram sobre a sua pessoa.

— O quê? — ele perguntou com mais rispidez que o necessário, porque sabia exatamente o que se passava na cabeça dos amigos. Eles tentavam entender o que estava acontecendo entre Dallas e ele, o problema era que nem mesmo Harry tinha resposta para esta pergunta. Lupin, no entanto, parecia saber, porque a expressão e o olhar dele eram de pura compreensão, mas estava claro que o professor não iria esclarecê-lo em nada e, sinceramente, Harry não queria esclarecimentos. O que Dallas e ele tinham era pessoal, era íntimo, e ele não estava a fim de ouvir opiniões de terceiros sobre o assunto porque finalmente ele tinha algo que era dele e somente dele para apreciar e chamar de seu. Ele apenas não sabia ainda o quê. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre Extremos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.