Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 14
Capítulo 13




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As férias de verão dentro da Mansão Winford seguiu carregada de tensão desde o incidente onde Dallas arremessou Nicholas contra a mesa de vidro. O garoto levou alguns pontos no braço e ganhou vários cortes superficiais e uma lição de vida que ele levaria dentro de si para sempre: nunca mais irritar Dallas. Não foi apenas ser arremessado contra a mesa que balançou com os seus alicerces, mas o fato de Dallas ter conseguido erguê-lo do chão pela frente de sua camisa com a facilidade de quem ergue um travesseiro, e o outro fato foi que os olhos dela ganharam um tom violeta profundo durante todo o incidente. Nicholas jamais esqueceria o ódio que viu naquelas íris de cor anormal e o desejo de estripá-lo que essas refletiram. Naquele momento, Dallas queria matá-lo e isto foi aterrorizante. 

Durante o restante do verão, Nicholas manteve a distância e garantiu que Samantha fizesse o mesmo, para não sofrer destino parecido com o dele. Por outro lado, Dallas levou um tempo para associar as explicações de Amélia a tudo o que aconteceu. 

— Veelas vieram à existência quando uma harpia desejou tanto ser humana que teve a sua vontade atendida pelos deuses. — Amélia explicou. — Mas, ainda sim, conservou vários de seus aspectos animal. Harpias são aves de rapina, são caçadoras, por isso as Veelas são tão temperamentais. Por isso nos esforçamos em mantermos a calma. E você herdou mais traços Veelas do que eu presumi. Não transformou-se em harpia, mas conservou a força delas quando transformadas.

— Quer dizer que eu tenho superforça agora? — Dallas perguntou com os olhos largos e pensando nas possibilidades e dificuldades que isto traria para a sua vida. 

— Não. A força sobre-humana vem de arroubos de fúria e é isto que você precisa controlar. 

— Como? — Dallas indagou de forma petulante e com um cruzar de braços sobre o peito. A avó tinha deixado bem claro que as Veelas aprendiam a dominar os seus poderes sozinhas, então como exatamente Amélia sugeria que Dallas controlasse os seus arroubos de fúria e superforça?

Aparentemente a resposta estava em Montgomery Briggs e em seus treinos de nível militar. A nova rotina que instaurou-se para Dallas naquele verão misturou corridas nas primeiras horas da manhã, estudos após o desjejum, boxe e cavalgada durante a tarde, e yoga e meditação no início da noite. 

— Por que a senhora fez aquela cara quando eu respondi de quem era a carta que o Nicholas pegou? — Dallas perguntou em uma tarde de final de Agosto quando acompanhava a avó em um chá das cinco no solário da mansão. 

Diante de toda a confusão, dos choramingos de Nicholas e gritos de Meredith, Dallas havia esquecido totalmente este assunto. E então em seguida vieram os treinos e estudos e mais cartas de Potter, que agora tinha residência provisória no Caldeirão Furado por causa de um incidente envolvendo os seus parentes trouxas, o que a fez colocar a questão de lado até que a mesma retornou a sua mente enquanto mordiscava alguns biscoitos amanteigados. 

Amélia não respondeu de pronto, ocupada demais em observar os raios de sol passando entre as copas das árvores e emitindo um brilho dourado na grama, quando tocava o chão. 

Grand-mère? — Dallas a chamou. Amélia, nos últimos dias, andava mais contemplativa do que de costume, mirando pontos ao longe e com o olhar distante.

— Sabe por que eu deixei o mundo mágico? — a pergunta era obviamente retórica, porque Dallas nunca faria ideia da razão da avó ter largado o mundo mágico para trás, Amélia nunca lhe contou esta história e por um tolo momento ela pensou que a avó fez isto em nome do amor, fez isto por Francis. Mas Amélia não era mulher de tomar decisões baseadas em sentimentos, ela era lógica e precisa, portanto o motivo deveria ser outro. — Voldemort. — Dallas tensionou os ombros em um gesto reflexo. Não viveu a era de Voldemort, até porque nem era nascida na época, ou cresceu com histórias da guerra, mas o tanto que leu e ouviu sobre o assunto a fazia ter a mesma reação que os seus colegas ao ouvir o nome, e involuntariamente chamar o bruxo de Você-Sabe-Quem. — Eu não acredito que ele esteja derrotado, eu tenho plena confiança de que ele ainda está por aí, somente escondido, recuperando as forças, para então retornar e causar ainda mais estragos. O que aconteceu há doze anos na casa dos Potter é um mistério e apesar da fama, Harry Potter somente teve sorte. Apesar do que os outros pensam, ele não é nada especial. Tem chances de ser um bruxo poderoso? Sim, porque a linhagem dele gera bruxos poderosos, assim como a de outras dezenas de famílias, mas é apenas isto.

— E o que Você-Sabe… — Amélia interrompeu a neta.

— Chame-o pelo nome. Voldemort. O medo do nome somente aumenta o medo à pessoa. Não vamos dar à ele mais poderes de forma desnecessária.  No momento em que você diz o nome, Voldemort torna-se apenas mais um megalomaníaco no mundo, com seguidores mentalmente perturbados. — Dallas respirou fundo após a repreensão e retomou a pergunta. 

— E o que Voldemort tem a ver com a sua partida do mundo mágico? — Amélia assentiu satisfeita por Dallas ter dito o nome do bruxo sem pestanejar. 

— Veelas têm forma humana mas ainda sim estão categorizadas como criaturas mágicas e, como criaturas mágicas, possuem atributos que podem ser de uso dos bruxos. Cabelo e penas são ótimos para feitiços e poções, o cruzamento entre bruxos e veelas geram herdeiros magicamente poderosos, e o Encanto das Veelas é uma arma que se for bem empregada, pode ser mortal. Temos força e agilidade e controle sobre o elemento fogo. Ter-nos como aliadas em sua cruzada tornaria Voldemort mais poderoso do que já era, mas Veelas são altivas e orgulhosas e jamais se submeteriam aos desmandos de um psicopata. E Voldemort, se você não está do lado dele, está contra ele. E se está contra ele, não merece viver. Como muitas de minhas irmãs, eu fugi, me escondi, e Voldemort não pensaria em me procurar no mundo trouxa. Veelas vivem e respiram o mundo mágico, muitas de nós nem sabem viver no mundo trouxa, vir para cá foi um risco. Eu tive que aprender várias coisas novas, principalmente a como ocultar o meu lado Veela e parecer uma mulher humana normal. 

Isto explicava o porquê da famosa frieza e impessoalidade de Amélia, esta provinha de todo o autocontrole que ela teve que exercer por anos para não arrancar os olhos de alguém em um acesso de raiva. 

— Ainda não explicou o que isto tem a ver com Potter. 

— O fim da minha conexão com a comunidade mágica só veio após a suposta derrota de Voldemort. Durante a guerra, eu ainda mantive alguns contatos para saber o progresso dele, para saber para onde eu tinha que correr antes que ele chegasse até mim, e a obsessão de Voldemort pelos Potter foi algo extremamente comentando dentro de vários círculos. Poucos devem saber a razão desta fixação, mas é de consenso geral que Voldemort não estava atrás de Lily e James Potter, mas sim do filho deles. O que quer que Harry tenha, Voldemort o considera uma ameaça ao seu reinado. O menino Potter é um alvo e fazer parte do círculo pessoal dele torna qualquer uma dessas pessoas um alvo também. 

— A senhora está preocupada com a minha segurança? — Dallas disse com deboche. Não iludia-se achando que a avó a amava, amor não era uma palavra existente no vocabulário de Amélia, talvez um suave “importar” vez ou outra se fizesse presente, mas amar? Dallas estava certa que a capacidade de ter tal sentimento foi minada de sua avó por Francis Winford e a sua infidelidade patológica, somada a doses homeopáticas de machismo com um tempero de sexismo provindo do ambiente em que viviam. 

— Você é minha herdeira, Dallas. Meredith pode gritar o quanto quiser sobre os gêmeos serem autênticos Winford, mas você é minha herdeira, a última da linhagem dos Blontë.

— E ser da linhagem dos Blontë significa exatamente o quê? — Amélia não a respondeu, disse apenas que ela saberia o significado na hora que fosse necessário. Dallas supôs que a razão de sua avó não ter lhe explicado nada fosse mais por lembranças dolorosas, porque alguma razão nada agradável deveria existir para Dallas ser a última da linhagem, do que realmente criar um ar de mistério para a história. 

Os treinos e estudos continuaram durante Agosto e no último dia do mês, Amélia anunciou que iam ao Beco Diagonal fazer as compras para Hogwarts. Dallas achou que, como no ano anterior, seria acompanhada por Montgomery, mas suspeitava que Amélia somente estava indo porque queria impedir algum possível encontro dela com Potter… Em vão. 

Ambos esbarraram-se em um cruzamento do Beco lotado pelos alunos retardatários. Potter a segurou pelos braços para equilibrar ambos e o toque dele em sua pele desnuda fez um comichão correr os seus músculos e alojar-se na boca de seu estômago. Quando ele  reconheceu em quem tinha esbarrado, abriu um sorriso de orelha a orelha, o que fez os seus olhos verdes cintilarem por detrás das lentes dos óculos. Ele estava mais alto, menos magricela, com roupas que finalmente lhe cabiam, cabelo negro eternamente despenteado, mas o rosto estava perdendo a gordura da infância e ganhando traços amadurecidos e retos. 

— Dallas. — o nome saiu da boca dele em uma exalada de ar e em tom de reverência. 

— Potter. — ela o respondeu em tom neutro e os seus olhos foram para uma das mãos em seu braço. Normalmente tal gesto ocasionaria uma reação imediata e Potter a largaria como se tivesse levado um choque. Ao invés disto, as palmas mornas deslizaram em um toque suave pelos braços de Dallas, até alcançarem as suas mãos encerrarem o contato nas pontas dos dedos. O gesto pareceu simples, mas fez o comichão na boca do estômago de Dallas ficar mais intenso e a sua respiração descompassar por alguns segundos. 

— Dallas. — o chamado seco fez a menina pular no lugar de susto, porque ela havia esquecido completamente de Amélia às suas costas, projetando-se sobre eles como uma sombra. 

Dallas recuou um passo e colocou uma distância respeitável entre Potter e ela e contou até dez mentalmente para recuperar a compostura.

Grand-mère, Harry Potter. — ela apontou de Amélia para Potter e então repetiu o gesto de Potter para Amélia. — Potter, esta é a minha avó, Amélia Winford. — Potter engoliu em seco e discretamente limpou a mão na calça antes de oferecê-la à Amélia em um cumprimento. 

— Senhora Winford, é um prazer. — Amélia recebeu a mão dele e empregou no aperto a força Veela da qual Dallas só tinha acesso esporadicamente, mas que uma Veela pura tinha acesso constante, porque a careta de dor mal disfarçada de Potter o denunciou.

Grand-mère. — Dallas sibilou entre dentes para a avó que a estava envergonhando imensamente. Amélia deu um sorriso de tubarão para Potter e então o soltou. 

— Vamos, Dallas. — Amélia ordenou e Dallas quis protestar, passar mais algum tempo na companhia de Potter, mesmo que não tivesse nada à dizer para ele. Ambos nunca tinham nada de relevante a dizer. As suas cartas eram curtas e de assuntos cotidianos e superficiais. Potter reclamava dos deveres de casa e Dallas ironizava a incapacidade dele de pensar. Potter agradecia pelo presente de aniversário e Dallas ruborizava antes de responder que ele contentava-se com pouco. Potter dizia que queria encontrá-la no Beco Diagonal para fazerem as compras da escola juntos e Dallas ficava sem respondê-lo. 

Quando ele sentou ao seu lado em seu primeiro Natal em Hogwarts, Dallas havia sido sincera ao ter-lhe dito que eles jamais seriam amigos. Potter aproximou-se por curiosidade, porque ela não encaixava-se no modus operandi de comportamento dos sonserinos, e se ele achava isto era porque ele já tinha pré-conceitos formados sobre a casa em sua cabeça, a maioria colocados lá por Weasley que não escondia o seu desprezo pela a Sonserina. E então, o que aconteceria quando Potter visse que ele esteve errado este tempo todo? Dallas não agia da mesma forma que os outros sonserinos na presença dele ou com ele, mas isto não significava que ela não era uma legítima representante da casa das serpentes. E Potter tinha cara de ser alguém que, quando desapontado, guardava rancor para sempre e Dallas não estava disposta a ser o alvo de desprezo de alguém só por ser ela mesma. Não foi criada para ter máscaras, mas sim para quebrar as máscaras dos outros e expô-los como uma fratura. 

— Nos vemos em Hogwarts, Potter. — Dallas desejou e tomou o mesmo rumo que a sua avó, mas Potter a impediu.

— Espera! — ele a chamou e a parou ao segurar-lhe pelas pontas dos dedos. Estática neste dia deveria estar alta na atmosfera, porque era a segunda vez que o toque de Potter lhe dava choques agradáveis em seus músculos e fazia arrepios gostosos correrem o seu corpo. — Você sabe quando é o meu aniversário, mas eu não sei o seu. — Dallas olhou por cima do ombro para Amélia, alguns passos à frente, quase ao pé da pequena ladeira que formava aquela rua. A sua avó tinha a expressão azeda que usualmente ostentava quando era contrariada ou não gostava de algo que via e a ponta de seu scarpin batia de forma ritmada no chão de pedra. 

— Trinta e um de Outubro. — Dallas respondeu apressadamente, soltou-se de Potter e correu para alcançar a avó, com o coração acelerado no peito e pensando o que Potter poderia lhe dar, que ela já não tinha. 


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