Saint Seiya Ómega, a Saga de Hera escrita por Ane Soph


Capítulo 4
A traição. O segredo de Seiya é revelado


Notas iniciais do capítulo

Oiiiii, mais um capítulo novo! Demorou, mas foi.
IMPORTANTE: como eu uso o português de Portugal, uso bastante o termo "rapariga". Eu sei que no Brasil, é usado para designar uma puta, mas em PT PT é o mesmo que dizer "garota" ou "moça". Vou tentar evitar usá-lo, mas se eu deixar escapar, peço desculpa.



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Pavlónia, território dos Comandantes

18 anos antes

Acordei com alguns pingos de água a cair na minha cara e antes que eu pensasse em abrir os olhos, inúmeros arrepios de frio invadiram o meu corpo. Percebi que estava deitada em cima de uma rocha ou algo do género. Só sei que era áspero e arranhava-me a cara, os antebraços e a zona das minhas pernas que não estava tapada pelo vestido que a Shunrei me fez, como prenda de aniversário.

Pela posição em que me encontrava, subentendia-se que o meu corpo tinha sido atirado para o sítio onde estava. Assustada, abri os olhos e foi como se a minha alma fosse sugada por um buraco negro. O-Onde é que eu estava?! Aqueles não eram os Cinco Picos do Rozan! Ao invés disso, estava numa caverna escura, fria e húmida com um cheiro horrível a sangue e suor. Aquilo estava tudo uma verdadeira pocilga. Percebi que não estava sozinha, muito pelo contrário: na caverna estava lá muita gente. Talvez umas cem pessoas, maioritariamente raparigas. Talvez fosse pela aparência (que se resumia a: cabelos desgrenhados, sujos e oleosos, olheiras profundas, roupas (ou melhor dizendo, farrapos) sujas de suor, sangue e terra, corpos extremamente magros, talvez malnutridos), ou talvez fosse pelo desespero estampado nos seus olhos, mas elas, para além de parecerem mendigas, pareciam escravas sexuais que tinham acabado de ser violadas por meia dúzia de homens para cada uma. O meu coração começou a bater mais do que o suposto e a minha respiração descontrolou-se. Não me consegui conter e desabei num choro incontrolável, atirei-me para o canto onde tinha acordado e fechei os olhos com força, permitindo que a quantidade de lágrimas derramadas multiplicasse.

Eu fechei os meus olhos e pude ver uma cama de solteiro, com o colchão velho, todo empoeirado, sujo de merda de rato e cadáveres de insetos, e as barras ferrugentas. Os meus batimentos cardíacos aumentaram assim que ouvi vários passos perto de mim e logo de seguida, senti alguém lamber-me vorazmente o pescoço. Tentei virar-me e esmurrar a cara dele, mas não conseguia: os meus pulsos e os meus tornozelos estavam amarrados. Tentei gritar, mas um pedaço de fita adesiva tapava a minha boca. Comecei a chorar, mas aquele que me estava a violar estava nem aí para o meu sofrimento. Na verdade, ele estava satisfeito, afinal, estava a cumprir três metas de uma vez: aproveitar-se do meu corpo, fazer com que eu sofra e mostrar isso aos seus alvos principais: os meus pais e o meu irmão mais velho.

Eu gritava e chorava tanto que não percebi que tinha gritado mesmo. Fora do mundo dos pesadelos.

Abri os olhos, mas as lágrimas não paravam de escorrer. A primeira coisa que vi foi uma moça ruiva de olhos azuis claros que me agarrava o pescoço. Ela olhava-me com cara de nojo, mas mesmo assim, mantinha um semblante confuso.

— O que é? – Perguntei. Foi quando percebi que todos na caverna me observavam. Além disso, eu era a única pessoa “limpa” que lá se encontrava.

— És nova aqui? – Questionou ela. Eu estava assustada, e não era pouco. Tentei falar, mas não saía nenhum som da minha boca. – ÉS MUDA?! – Gritou, agarrando-me a cara e empurrando a minha cabeça contra a parede. Eu não conseguia pensar, muito menos falar. Estava demasiado fora de mim. Vi-a afastar-se e foi quando senti um líquido morno a escorrer pela nuca, alcançando as minhas costas.

Estava prestes a desmaiar, mas o belo rosto do meu amado apareceu.

— Ryuho…

Levantei a minha mão e tentei tocá-lo, mas assim que o tentei fazer, ele desapareceu, como se fosse areia.

— Ryuho… por favor… não me deixes…

Estava a dois segundos de desmaiar, mas de repente, ouvi uma voz de homem que gritava:

— VENHAM IMEDIATAMENTE SEUS MERDAS, SENÃO FICAM SEM COMER ATÉ AMANHÃ!!

A vontade de desmaiar desapareceu em milésimas. Ouvi vários passos apressados e vi todos a saírem da caverna como se tivessem sido hipnotizados. Achei melhor levar as palavras do fulano a sério. Saí da caverna e notei uma grande diferença: o ar estava um pouco mais quente e muito mais puro. Cheirava a mato, já que ali perto haviam várias árvores. Já era quase noite e o pôr do sol… Uau. Era deslumbrante. O contraste das cores que davam origem ao crepúsculo eram tons azuis, verdes e lilases. Estavam lá todos os tons possíveis e imaginários. Era tudo tão calmo. Já haviam várias centenas de estrelas no céu.  Mas espera: eu nem sabia o que estava a ver ao certo. Aquilo era para ser um pôr do sol, mas o sol era azul? Onde é que eu estava…

— Acho melhor ires buscar alguma coisa para comer, senão passas fome. – Disse alguém que eu não vi quem era.

Olhei à minha volta, e ao longe, do meu lado esquerdo, estava uma fila um tanto grande. Resolvi ir para lá, mas continuei a observar o “pôr do sol”. Era tão belo e tão ao contrário do que eu estava habituada… fez-me lembrar Asgard. A dos filmes do Thor. À minha frente, estava um rapaz mais alto do que eu, ruivo e num estado daqueles que dava pena, mesmo se se odiasse a pessoa. De qualquer forma, achei melhor não chamar a atenção dele e voltei a olhar para o crepúsculo.

Quando os últimos raios de sol desapareceram, percebi que era a minha vez de ser atendida. O tipo à minha frente nem olhou para mim. Só me estendeu um tabuleiro de madeira e nele estavam: umas roupas pretas de algodão, umas ligaduras, um pedaço de pão e uma mistela que cheirava a mijo de cavalo.

Quando estava a uns cem metros da caverna, senti o horrível cheiro a sangue e suor. Até a mistela de mijo de cavalo parecia cheirar melhor. Como não sabia para onde ir, voltei para a caverna imunda e bedunguenta. Tinha que pensar numa maneira de voltar para a China. Se há uma entrada, há uma saída. A lei é essa.

*_*_*_*_*_*

Pavlónia, no lado de dentro do muro

Presente

A Líder dos Justiceiros olhou para o Dragão com a expressão de espanto a moldar-lhe o rosto.

— C-como é que sabes o meu nome?! Nós nunca nos vimos! – Mas a expressão de surpresa desapareceu, dando lugar a um sorriso compreensivo. – Mas já ouvi falar muito de ti. Não como cavaleiro, mas como o melhor namorado que alguém pode ter. Fora isso, só ouvi falar dos teus dotes de luta.

Ryuho olhou para a moça à sua frente com cara de desaprovação, mas logo de seguida, esboçou um sorriso calmo e descontraído.

— Claro que te conheço. Samantha Johnson, a melhor amiga da Akemi.

Seiya e Haruto entreolharam-se confusos.

— Vocês conhecem-se? – Resolveram perguntar.

— Sim. Quer dizer… mais ou menos. – Respondeu Samantha, com toda a calma do mundo, sempre a exibir um sorriso gentil. – Sou a melhor amiga da namorada dele. Pelo menos aqui.

Ryuho, apesar de parecer calmo, estava extremamente nervoso. Se Samantha estava ali, Akemi não estava muito longe. Só queria saltar para o pescoço da Líder e bombardeá-la com todas as perguntas possíveis e imaginárias. De acordo com os sonhos que tinha à noite, as duas eram amigas inseparáveis e enfrentaram juntas todo o tipo de atrocidades. Mas por outro lado, tinha que manter o autocontrole, pois ainda tinha que ir salvar Atena. Mas de uma coisa ele tinha a certeza: assim que Akemi aparecesse no seu campo de visão, estivesse onde estivesse, estivesse com quem estivesse, ele iria correr na sua direção, abraçá-la com toda a força, beijá-la com toda a intensidade e mostrar-lhe que ele estava ali, a sussurrar-lhe ao ouvido a dizer-lhe que estava tudo bem.

O punho cerrado de Seiya não parava de tremer. Ele só queria que a Justiceira o levasse até Saori para salvá-la o mais depressa possível e cravar a flecha da sua armadura no peito de Hera, e vê-la morrer para se certificar de que a ameaça estava neutralizada.

— Podes esquecer. – Disse Samantha, interrompendo os seus pensamentos, como se os tivesse dito em voz alta. Todos a olhavam enquanto desprendia a sacerdotisa e vendo-a fugir sem se importar com o que aparecesse à sua frente, sem compreender o que a Líder estava a dizer.

— O que é que tu queres dizer com isso? – Seiya resolveu perguntar, fingindo nem desconfiar do porquê da fala da Líder. Será que ela detinha algum poder de telepatia?

— Vamos andando, não fazem nada aqui parados. Nem vocês nem eu.

E soltou uma risada leve e adorável. Estava estampado nos seus olhos que ela era uma moça amorosa e simpática, apesar do estatuto social. No entanto, o Sagitário ainda queria uma resposta para a sua pergunta. – Samantha? Posso chamar-te assim? – Ao perceber que a resposta à sua pergunta era positiva, continuou. – O que é que querias dizer com esse “Podes esquecer”?

— Isso? Hum… Podes esquecer a possibilidade de lutares contra a Hera. Ela não está nem um pouco interessada em nenhum de vocês, Cavaleiros.

— Os outros deuses malignos que tentaram invadir a Terra também não tinham o mínimo de vontade de lutar contra mim. E eu matei-os a todos. A Hera é só mais uma.

Samantha encolheu os ombros.

— Tu lá sabes.

— Desculpa?

— Foi como ouviste. Tu não vais lutar contra a Hera. Quem o vai fazer é a Atena.

Ao ouvir aquilo, Seiya cerrou os dois punhos e perguntou com voz forte:

— E o que é vocês pensam que podem fazer para me impedirem?!

— Vocês quem? O que é que tu pensas que sabes sobre mim, ou sobre os da minha Elite?

Seiya não respondeu. De facto, não sabia nada. Mas resolveu dizer o que lhe parecia ser o mais provável.

— Vocês são da Elite mais alta e são Líderes de não sei o quê.

Samantha riu-se.

— Ao menos sabes isso. Deves ter visto as nossas estátuas na Muralha do Templo.

— Na quê?! – Perguntaram os três em uníssono.

— Sim. Aquela muralha protege o templo da Hera e a Ágora das Sacerdotisas. E quem é que foi o safado que resolveu lá pôr os pés?

Seiya e Ryuho olharam para Haruto, que corou instantaneamente.

— Foste tu?

— Sim. – Haruto respondeu e explicou-se. – Eu não sabia de nada disso. Eu apenas ia pedir informações.

— Que informações? Eu posso responder às perguntas que tiverem. É natural terem alguma dúvida. E não se preocupem, eu não vos vou mentir em nada. Levantar falso testemunho vai contra os meus princípios. Claro que depende da situação, mas vocês perceberam.

— Ok, para começar, porque é que as sacerdotisas parecem tão desesperadas só de verem uma pessoa do sexo masculino? – Perguntou Haruto.

— As sacerdotisas trabalham como servas da Hera. Limpam o seu templo, as domus dos Líderes, tecem as suas roupas, preparam-lhe as suas refeições, entre outras coisas. Como na Grécia Antiga, tinham e têm que ser virgens. Porque se são elas que trabalham para a Hera, fazem-lhe comida, roupa, limpam o templo… têm que ter as mãos limpas. Não podem ter andado por aí a mexer em certos sítios, se é que me entendem. – Explicou. – E como não dá muito jeito andar dos Territórios para o templo todos os dias, existe uma ágora reservada somente para elas perto dos seus locais de trabalho.

— Elas ganham bem? – Perguntou Ryuho.

— Pois… em Pavlónia não existe dinheiro propriamente dito. A Hera acredita que o dinheiro é um veneno que afeta os seres humanos, visto que é a causa de vários dos Sete Pecados Capitais, principalmente a avareza. Mas não é só isso, na Terra, o que é que uma pessoa não faz por dinheiro? Desde roubar 5 libras da carteira do pai até matar cinquenta pessoas num assalto a um banco. Além disso, o dinheiro é o responsável por vários problemas existentes a nível mundial, principalmente a corrupção e as desigualdades sociais. Por isso, a Hera resolveu não… incluir o dinheiro no modo de vida de nenhum Pavloniano. Cá, nós trocamos uns produtos por outros. Tipo, as sacerdotisas trabalham para a Hera e têm comida, roupa, casa, água, tempo livre. Isso é um direito que qualquer pavloniano tem. Seja um civil, seja um membro do exército. Por falar em exército, eu posso explicar-vos como ele funciona. Acho que têm o direito de saber.

— Porquê? – Perguntou Seiya.

— Todos os membros do exército, acima do Quarto Escalão, conhecem as técnicas de combate de todos os Cavaleiros de Atena. Por isso, eu acho que é justo vocês, no mínimo, terem as bases das nossas.

Samantha ficou uns segundos em silêncio, pensando numa forma rápida e eficaz de dar as informações aos Cavaleiros, mas Seiya cortou o silêncio.

— Podes começar.

A Líder suspirou.

— Para começar, o que é que vocês sabem sobre Pavlónia em geral?

— Pavlónia é um sistema planetário que a Hera governa. – Começou Ryuho.

— Já é um bom começo. Esse sistema planetário que a Hera governa tem oito planetas e uma estrela, assim como vocês têm o Sol. E é dentro desse “Sol” que nós estamos. E sim, o Sol de cá é azul e é chamado de Vasílissa Pagóni, que significa "Rainha dos Pavões" Por favor, evitem fazer perguntas. Eu quero ser direta. Voltando ao exército, existem cinco Escalões de treino: Os do quinto Escalão, que fazem parte da família, mas não estão em ativo, porque ainda são apenas aspirantes. O treino dura seis anos e é só o pior Escalão que existe à face de qualquer território porque é igual para todos, independentemente do Esquadrão. Mas isso não precisam de saber. O Quarto é que já difere consoante o Esquadrão. Saõ como soldados rasos, mas já têm controlo sobre o cosmo. E a seguir vem o terceiro Escalão. Não subestimem ninguém a partir daqui. Só para terem noção, o mais fraco que existiu, que acabou por morrer por não aguentar o treino, tinha o cosmo de um Cavaleiro de Prata.

— E as fulanas que estão a guardar o Portão? – Ryuho estranhou um pouco. Pelo que Sanantha lhes dizia, não havia ninguém com um cosmo inferior ao de um Cavaleiro de Prata, o que era preocupante. E aquelas amazonas?

— São umas cobardes. – Respondeu a Líder. – Elas desenvolveram uma técnica que esconde mais de 55% dos seus cosmos. E assim apanham os seus oponentes de surpresa. Elas são do Terceiro Escalão, mas o que mereciam mesmo era irem parar aos Homens Mortos.

— Podemos saber o que é isso?

—E um pequeno planeta, bastante longínquo dos Territórios, deve ser mais ou menos do tamanho da vossa Lua. É para lá que vão todos os que são perigosos para o bem-estar na sociedade Pavloniana, independentemente do Território. Normalmente violadores, adúlteros, criminosos dos mais perigosos que podem existir. Os mais fraquinhos vão para as masmorras, que funcionam como um purgatório. É igual para homens e mulheres. Aqui não há cá essa coisa de “o homem é que é o melhor e a mulher vai limpar a casa”.

— Podes continuar a falar sobre o exército? – Perguntou Seiya, ainda tenso.

— Sim. Nós, Justiceiros somos os defesas no campo de batalha porque a nossa arma principal é o escudo. Mas não é por isso que somos os mais fortes. Quem ocupa esse lugar no pódio são os Comandantes. Com a Líder que têm não é nada de surpreendente. Eles são os estrategas principais. No que toca a estratégia militar, têm um nível de QI superior ao de qualquer outro Esquadrão. Os Indomáveis são os atacantes e transformam o teórico em prático. São a força bruta, mas não são nenhuns desmiolados. São chefiados por uma mulher bastante responsável, que sabe muitíssimo bem o que a vida custa e que é capaz de tudo para cumprir os seus objetivos. Que também veio da Terra. Sem contar com os Tritões e os Lobisomens, todos os Líderes, no momento, vieram da Terra. A Hera quis assim porque eles sabem melhor do que ninguém quais são os problemas existentes no mundo onde cresceram, e assim, evitam que esses problemas ganhem raízes aqui. Só a Comandante é que ninguém sabe de onde vem. Nem ela própria sabe.

—  Nunca tentaste voltar? - Perguntou Haruto.

— Não. Na Terra, eu não era nada e só tinha a minha irmã na vida. Por isso, levaram-nos às duas. Nunca considerei em voltar porque tenho tudo o que preciso aqui: os meus amigos, as minhas propriedades e além disso, vou casar-me em breve com um homem que conheci aqui. Eu amo-o e voltar para a Terra, significaria perder tudo o que tenho em troca de nada. Voltando ao exército, depois vêm os Lobisomens. – E não pôde deixar de sorrir abertamente. – Basicamente é um Território cheio de criaturas da Mitologia Grega, mas os Lobisomens são os mais abundantes e um dos únicos racionais, por isso, são eles quem mandam. Depois vêm os Feiticeiros, e os seus métodos de combate são à base de magia. E antes que se ponham a dizer que eles são uns autênticos cobardes, ou isto ou aquilo, pensem duas vezes. Eles são muito mais fortes e honrados do que parecem. A magia é um estratagema que só eles conseguem resolver. É bastante complicado, mas são bastante poderosos. Imaginem a magia dos livros de Harry Potter que era usada para lutar, só que nível hard/impossível. Como disse anteriormente,eu não sou Pavloniana. Na verdade, eu sou inglesa, mas fui raptada há 21 anos. Eu e a minha irmã. Um homem chamado Freddie levou-nos para o Território dos Comandantes e obrigou-nos a treinar para nos tornarmos amazonas. Era simplesmente desumano, os treinos, as condições em que vivíamos, a animalidade* do Freddie, mas não quero falar sobre isso. Depois também existem os Sanguinários, que são o que o próprio nome indica. São Sanguinários. São os que têm estilo de luta mais agressivo, e aceitam sempre um combate corpo a corpo. Para eles, tudo é uma desculpa para verem sangue. Nem pensem em julgá-los por isso. E por fim, existem os Tritões. Eles usam água salgada como instrumento de batalha. Não é ridículo como vocês estão a pensar que é. Além disso, eles vivem e treinam debaixo de água, o que faz deles, os mestres em velocidade, porque a água é mais densa que o ar, e quando vêm à superfície, o Aquiles parece uma lesma. Por falar em coisas nojentas…

Estavam perto do Portão que dava para a Montanha dos Líderes, que era guardado pelas Amazonas às quais Samantha chamava de “cobardes”.

— Abram o portão! – Ordenou a Líder.

— Quem é que vai passar? – Perguntou a que estava à esquerda. Era uma bela mulher, loura, com olhos azuis. Ainda assim, o seu rosto era moldado por uma expressão de desprezo, desconfiança e frieza.

— Eu e eles. – Respondeu a Líder.

— Não posso autorizar.

Samantha respirou fundo.

— Abre o portão. – Voltou a pedir, num tom calmo, com um tique de impaciência.

— Nesse caso, eles não passam.

— Ouve uma coisa, Lara, eu sou tua Líder. Só para o caso de te teres esquecido. Tu deves-me lealdade e obediência, assim como eu te devo auxílio, quando o solicitares. Agora, deixa-te de merdas e abre esse maldito portão.

— Sem contar com os membros do exército de Pavlónia, ninguém passa por nós. Qualquer invasor é visto como ameaça e deve ser aniquilado.

— Então nós derrotamos-te a ti e à tua amiga. – Proclamou Seiya.

As amazonas puseram-se em posição de ataque.

— Que assim seja.

— Não nos ajudas? – Perguntou Ryuho, esperando que a Líder dos Justiceiros os ajudasse a passar aquele obstáculo.

— Eu só recebi ordens para vos servir de anfitriã. E façam um favor à Feiticeira. Ela disse para nós termos cuidado convosco, Cavaleiros, porque não são inimigo de que de possa zombar. Por favor façam jus às palavras dela. E mais: a Hera não falou em lutar contra os meus súbditos. Além disso, não quero ganhar fama de traidora. Não são precisos mais.

— Como é que disse?... – Perguntou a outra amazona.

— Puta que pariu. – Sussurrou Samantha, ao perceber que tinha dito a última parte em voz alta. Sem pensar duas vezes, começou a queimar o cosmo. – Lamento, mas vocês ouviram demais.

Numa questão de milésimas, duas granadas foram libertadas dos dois punhos cerrados da Líder e foram direcionadas às amazonas, explodindo os seus corpos. Uns segundos depois, predominava o cheiro a carne queimada, que saía dos cadáveres das mulheres (ou o que restava deles). A Justiceira abriu os portões.

— Lamento informar, mas vamos ter de ir a pé.

Eles não pareceram importar-se. Só queriam chegar ao seu destino.

— Agora vais ganhar fama de traidora. – Lembrou Ryuho.

— Eles tinham que ficar a saber a qualquer altura.

— Mas tu vais trair a Hera? – Perguntou Seiya.

— Eu não. Mas sei quem vai.

*_*_*_*_*_*

Pavlónia, templo de Hera

A Indomável foi a segunda Líder a entrar no templo. Primeiro tinha entrado James, juntamente com a sua irmã-gémea: Scarlett. Provavelmente foram acorrentar Atena, como Hera lhes tinha mandado, mas depois disso, saíram para fazer não sei o quê, mas a Líder não quis saber. Os Sanguinários eram um pouco estranhos. Não ressentia qualquer tipo de preconceito para com os membros daquele Esquadrão. Ela só achava isso. Quer dizer, ela era muito amiga do Líder, apesar de o ter humilhado há pouco, mas ele fazia a mesma coisa. Sempre sem a intenção de ofender, já que o assunto era esquecido nos cinco segundos a seguir.

O templo estava muito mal iluminado, apenas fazia lembrar as masmorras. A Feiticeira, assim como os restantes Líderes, sem contar com a Comandante e com Samantha, estavam lá fora. Tinha pedido para falar com Atena a sós, e todos souberam respeitar a sua vontade, desde que não se demorasse. Hera devia estar nos seus aposentos. Ao fim de uns metros a andar, conseguiu ver quem procurava: Atena. Ali estava ela: mesmo no fundo do templo, na divisão mais longe da entrada. A deusa estava pendurada pelos braços, aos prantos e aos gritos, a tentar debater-se, a fazer uma careta de pura tortura, com o corpo quase todo tapado pelas pesadas correntes dos Sanguinários. Era como se estivesse presa a uma teia de aranha. Foi ali que a Indomável percebeu o porquê de Hera ter pedido para se usarem aquelas correntes: eram as mais pesadas, resistentes e torturantes de Pavlónia. O que se queria dizer com torturantes: se usassem as correntes para amarrar quem quer que fosse, cada região do corpo que lhes tocasse, seria como ter a pele e a carne a serem arrancadas e devoradas por dezenas de cães vadios esfomeados com dentes feitos de ferros em brasa, e mesmo que quisesse, a pessoa não morria, pois, a dor era irreal. Atena tinha os braços, o tronco, o pescoço, os ombros e as pernas presas pelas correntes. A distância dos seus pés ao chão eram aproximadamente 50 centímetros. Quando queria, Hera sabia ser cruel.

A Líder suspirou e caminhou em direção ao seu piano, que se encontrava mesmo do lado direito da deusa, mas ela nem a tinha notado. Sentou-se no banco e ficou a observar Atena durante uns segundos. Voltando a suspirar, levantou a mão direita e o corpo de Atena levitou mais de um metro, mas ela não parecia ter notado. Com o seu poder de telecinesia, que todos os que estavam acima do Quarto Escalão tinham que saber desenvolver, afastou levemente as correntes do corpo da deusa, impedindo que estas lhe tocassem. Ela abriu os olhos e olhou diretamente para a Líder.

— Obrigada. – Disse.

A Indomável não abriu a boca e olhou para o seu piano e tocou o solo de uma música do bom rock clássico que ela adorava. O que não sabia era que Atena também tinha bom gosto. O seu coração estremeceu assim que ouviu a deusa cantar em voz baixa.

— Mamã, acabei de matar um homem
  coloquei uma arma na cabeça dele,
  apertei o meu gatilho, agora ele está morto
E sem se aperceber, cantou com a divindade.
— Mamã, a vida tinha acabado de começar,
  mas agora eu fui e joguei
  tudo longe ...

— Agora canta só tu. – Pediu Saori, mas não foi ouvida. Ainda assim, a única voz que se ouviu foi a da Indomável.
— Mamã, ooh
  Não quis fazer você chorar
  Se eu não voltar amanhã
 Continue, continue
 Como se nada realmente importasse
 
Tarde demais, chegou a minha hora
Envia arrepios na minha espinha
O corpo está doendo o tempo todo
Adeus pessoal, eu tenho que ir
Tenho que deixar todos vocês para trás e encarar a verdade
Mamãe, ooh
Eu não quero morrer
Às vezes eu gostaria de nunca ter nascido
 

Bohemian Rhapsody, Queen

E antes que desse por isso, a Líder entregou-se às lágrimas e chorou amargamente. Saori apenas observava. Não sabia como reagir. O seu coração falhou uma batida assim que viu a Indomável levou uma mão ao rosto e retirar a máscara, que era o que lhe dava o seu típico ar medonho.  Saori prendeu a respiração ao olhar aqueles olhos lilases húmidos, carregados de doçura da lindíssima ninfa que se encontrava do seu lado direito.

— O que é? – Perguntou a Líder.

— Tu és tão bonita. Pareces uma ninfa. Os teus olhos são tão gentis, e tão cheios de…

— Não digas mais nada. – Interrompeu ela. – A quem é que tu achas que eu imponho autoridade com esta carinha de neném?

— A tua beleza é altamente invejável e tu estás a rejeitá-la. Para quê?

A Indomável riu-se à gargalhada.

— Desculpa. Tu estás a dizer que eu pareço uma ninfa e que deveria mostrar a minha beleza, ao invés de a esconder atrás de uma máscara. Porque é que não dizes isso às tuas amazonas?

Saori sentiu como se um peso ainda mais pesado do que as correntes lhe caísse em cima do corpo. O que é que ela tinha feito durante a merda da sua vida?

— Não dizes nada? – Perguntou a Indomável. – Se é para isso, eu continuo: eu uso máscara desde que entrei no Quinto Escalão por minha livre e espontânea vontade. Sinceramente é horrível: no inverno, é como se tivesses a cara tapada por um bloco de gelo e no verão, é como se tivesses um ferro em brasa colado à cara. Olha só o que as tuas amazonas passam.

— Eu nem desconfiava que isso alguma vez acontecia… eu sempre pensei em banir essa lei.

— E baniste-a? Mas é claro que não. Estavas sempre fechada no teu templo a fazer não sei o quê. – Enquanto falava, a Indomável tocava Fül Elise, de Beethoven.

Saori prestava atenção à clássica melodia que a Líder tocava, sentiu-se meio zonza, mas não desmaiou. Apenas a observava, mas uns segundos depois, olhou para o teto do templo e perguntou para si mesma: “O que é que eu fiz durante a merda da minha vida?”. Não era bonito da sua parte usar um linguajar calão, mas já nem se lembrava disso. Apenas queria uma resposta para a sua pergunta. Voltou a olhar para a Indomável, e esta misturava uns pós da cor do seu cabelo e outros pós brancos misturados com algo parecido com vaselina. Quando a mistura ficou pronta, ela aplicou-a nos lábios e espalhou-a como se fosse um gloss.

— Tu estás a usar isso, tipo batom?

— Sim. Algum problema?

— Não. É que, para mim é estranho ver uma guerreira preocupar-se com a sua aparência.

— Porque tu estás em Pavlónia, querida. Os conceitos de machismo e feminismo não existem. Um homem e uma mulher são vistos como iguais. Só por dizer que as mulheres têm uma vagina e os homens têm um pénis. Cá, uma mulher tem orgulho de ser uma mulher e um homem tem orgulho de ser um homem. Nós guerreiras não escondemos a nossa feminidade. Usamos vestidos, acessórios, arranjamos o cabelo, fazemos essas coisas todas. E ainda lutamos. Acredito eu, melhor que as tuas amazonas, porque nós temos vida para além do mundo do exército. Muitas guerreiras são casadas e têm filhos. Eu não tenho filhos, nem sou casada, mas se há uma coisa que eu sei é: o simples facto de teres alguém para amar, torna-te mais forte, porque queres proteger essa pessoa, e quando queres proteger alguém, mais forte ficas.

Saori percebeu que, de facto, ainda tinha muito que fazer na Terra, por isso tinha que sobreviver. As chances de sair dali viva eram baixas, mas existiam, por isso não iria desistir da vida.

— Indomável?

— Sim?

— Tu queres proteger alguém?

Ela ficou uns segundos calada.

— Sim.

A deusa sorriu, mas o sorriso foi substituído por uma careta, seguida por um grito, assim que sentiu algo sólido e escaldante a perfurar-lhe o corpo, arrancando-lhe pele e carne. Saori tentou debater-se, mas não o conseguiu. O seu corpo parecia ter sido esmagado e um grito mais alto que o anterior se ouviu assim que o corpo de Atena foi de encontro ao chão. Até se viam várias rachas que a queda causou, mesmo debaixo do corpo da deusa. Ela olhou para a Indomável, que acabava de recolocar a máscara. Esta sorriu maquiavelicamente e preparou-se para deixar o templo.

— Não te preocupes. Isto não tarda vai acabar.

*_*_*_*_*_*

 Pavlónia, do lado de fora da Muralha do Templo

Yuna encontrava-se em pose de meditação. Tentava usar o cosmo para se contactar com algum dos Cavaleiros desaparecidos, mas não o conseguia.

— Tiveste sorte? – Perguntou Souma.

— Não.

A amazona olhou à sua volta. Todos os Cavaleiros que estavam com ela queimavam o cosmo com intensidade e direcionavam todo o tipo de ataques ao muro. Mas os ataques voltavam sempre para o atacante. Shun estava deitado no chão, com uma parte da armadura destruída, Shiryu e Hyoga pareciam exaustos, mas o Cisne soltou um grito de guerra e queimou o cosmo.

— EXECUÇÃO AURORA!!!

E o que aconteceu a seguir já era de prever: o muro absorveu o ataque e devolveu-o ao dono, que não conseguiu evitá-lo.

— AAAAAAHHHHHH!!!! – O corpo do Cavaleiro foi arremessado para longe dali, devido ao poderosíssimo ataque.

— HYOGA!!!! – Gritaram todos ao verem o que estava a acontecer com o Cavaleiro. Apressaram-se a ir ao seu encontro, e quando se chegaram mais perto dele, viram-no completamente debilitado, a tentar levantar-se com toda a dificuldade. Tinha o corpo coberto por uma camada de gelo que lhe dificultava os movimentos. Souma tratou de usar as chamas para aquecer o corpo de Hyoga. Este levou a mão ao abdómen e sentiu um líquido quente.

— Merda! – Disse em voz alta. Olhou diretamente para o ferimento meio profundo que não parava de sangrar. Sem pensar duas vezes, tirou a t-shirt azul que usava e “enfiou-a” dentro do ferimento, numa tentativa de estancar o sangue. Se seguida, socou o muro. – Esta porra não desaparece nem por nada!

 - Calma, Hyoga! – Disseram Shiryu e Souma, segurando-lhe o punho que ainda tocava na Muralha.

Ficaram uns segundos em silêncio, mas só não ficaram lá durante mais tempo porque um Pégaso castanho escuro voou por cima da Muralha. Nele, estava montado uma mulher que alguns conheciam. Aquele poderoso cosmo não os enganava. Shun levantou-se e olhou para cima. O Pégaso começou a descer graciosamente e era a Líder dos Comandantes quem montava o animal. Ela pareceu surpreendida por vê-los ali.

— Saudações. – Disse, e olhou para Shun sem que ele percebesse. Ao perceber a confusão estampada nos rostos daqueles que estavam à sua volta, continuou a falar. – Presumo que tenham vindo do meu Território para aqui com o propósito de derrotar a Hera e salvar a Atena. Só gostaria de saber como o fizeram.

— Porque queres saber? – Perguntou Souma.

— Porque a única maneira de atravessar territórios é através dos portais e apenas os Líderes sabem como abri-los. Ou isso ou através de uma  Óti mas enónei. A Indomável, por acaso, deixou-vos passar para aqui?

— Duvido. – Respondeu Ryuho. – Ela abriu um portal, mas eu quase não passei.

— Estou a ver.

— Só uma pergunta: o que é uma Óti Mas arései? – Perguntou Souma.

—  Óti mas enónei. Significa “que nos une”. Alguma vez ouviram falar em mitologia nórdica?

— Sim.

— Então devem saber o que é um Bifrost. Basicamente são a mesma coisa.

A Líder ficou uns segundos calada e pensativa. Discretamente, voltou a olhar para Shun e a seguir, continuou a falar.

— A Atena está do lado de dentro do muro, no topo da Montanha dos Líderes. É tipo as Doze casas, mas aqui, apenas existem sete. Cada um é guardado por um Líder e para atravessarem a sua domus terão de o derrotar. Neste momento, estão todos reunidos no templo da Hera. É tudo o que precisam de saber. Por agora.

— De qualquer forma, temos que destruir a merda deste muro. – Bufou Hyoga com a cara fechada.

A Comandante encolheu os ombros.

— Eu estava a pensar em abrir-vos um portal para o lado de dentro desta muralha, mas se querem morrer a tentar destrui-la…

— Desculpa? – Shiryu, que era o mais sensato do grupo, achava aquilo um tanto estranho. Se tivesse que adivinhar o que se passava na cabeça da Comandante, haveriam duas opções: ou ela estava a conduzi-los para uma armadilha, ou estava a pensar em trair Hera. Não era mais fácil deixá-los a morrer ali?

— Foi como ouviste.

— Porque é que estás a fazer isto?

— Porque me apetece. E antes que eu me esqueça, a Atena está a poucos segundos de morrer.

Os Cavaleiros imediatamente puseram-se em posição de ataque.

— Se me matarem, eu não vos poderei abrir o portal, e assim, inevitavelmente, a Atena morre. Assim como os outros Cavaleiros que estão lá dentro. Se me deixarem viva, eu levo-vos lá para dentro, voltam a ver os vossos amigos, e todos juntos, veêm a Atena morrer. E depois disso, vocês serão os próximos.

— Bando de otários. – Concluiu Souma. – Até parece que têm hipóteses contra nós.

A Líder queimou o cosmo e posicionou-se, dirigindo o ataque ao Leão Menor.

— Comando Ascendente!!

Antes que Souma tivesse tempo de reagir, biliões de choques causados por um guiser de tasers, mesmo debaixo dos seus pés invadiram o seu corpo.

— AAAHHHHHH!!

Os restantes olharam preocupados para Souma e de seguida olharam para a Comandante. Esta estalou os dedos da mão direita e ajudou o Leão Menor a levantar-se. Com uma voz rouca sussurrou no seu ouvido: “Isto é só uma amostra de 10%. Não te atrevas a subestimar ninguém a partir do Terceiro Escalão. Eu só fiz com que o período de reabilitação causado pelo ataque durasse uns segundos, mas podias ter ficado de cama até aos 80”. E afastou-se dele. Voltou a queimar levemente o cosmo e abriu os braços. De seguida, girou o braço direito no sentido inverso ao dos ponteiros do relógio três vezes. À terceira, voltou a deixar os braços abertos, como no início. Com isto, formou-se uma circunferência com sete metros de diâmetro, cujo interior ganhou vários tons claros de azul.

— Este portal só vos vai levar ao lado de dentro do muro. Depois disso, da minha parte, estão por vossa conta.

Todos concluíram que a Comandante estava do lado deles e os Jovens Cavaleiros agradeceram-lhe. No entanto, quando foi a vez de Shun atravessar o portal…

— Tu ficas aqui. – Ordenou a Comandante, agarrando-lhe firmemente o ombro esquerdo, impedindo-o de dar mais um passo.

O portal fechou-se.

*_*_*_*_*_*

Pavlónia, templo de Hera

Ainda presa às correntes, Atena estava tão fora de si que mal conseguia manter-se acordada. Só conseguiu perceber seis indivíduos à sua frente.

— Não achas que pegaste demasiado pesado com ela? – Perguntou a Feiticeira, esperando uma resposta vinda pelo único Sanguinário que ali se encontrava.

— Apenas fiz o que me mandaram. – Respondeu ele, com toda a frieza que tinha. – E Hera… como é que a vamos matar?

— Como quiserem. Mas quem a vai atacar primeiro sou eu.

O báculo de Atena estava longe da dona, ainda sujo de sangue e pó. Ela sentiu o corpo ser puxado para cima e o templo ficou às escuras. Quando a claridade voltou, percebeu que estava a usar o seu vestido branco, manchado com o seu sangue.

— Acho que estes trajes são teus. – Disse Hera, queimando o cosmo, com o sorriso igual ao da Bellatrix Lestrange (enquanto torturava Hermione em Harry Potter e os Talismãs da Morte, parte 1). – AHHH.

Mas foi interrompida por um pontapé no estômago, forte o suficiente para a fazer recuar uns passos. Para espanto de alguns, Atena estava com o báculo na mão direita e deixou o cosmo queimar até as correntes serem reduzidas a pó. Quando os seus pés voltaram a tocar no chão, ela estava em pé. Nas regiões anteriormente tocadas pelas correntes, estavam as marcas vermelhas, representantes da tortura à qual foi sujeita.

— Vamos, Hera. Não foste tu que disseste que querias que eu desse tudo o que tinha?

A deusa do casamento sorriu de canto.

— Fui eu sim. – E queimou o cosmo. – FORÇA!

Os dois báculos chocaram um contra o outro e causaram uma enorme explosão.

— HERA! – O Líder dos Tritões desesperou-se, assim como os outros todos, mas foi o único a manifestar-se.

— Não se atrevam a interferir! – Gritou ela. – Nem deixem que os Cavaleiros interfiram! MATEM-NOS SE FOR PRECISO! Fiquem de guarda lá fora e que nenhum terráqueo se ache sequer no direito de ver o meu templo de perto.

— SIM! – Gritaram os Líderes.

Num movimento rápido, Hera tirou cinco dos seus sete anéis que se encontravam na mão direita e atirou-os para a entrada do templo.

Quando lá chegaram, os Líderes acharam estranho estarem lá os anéis que Hera usava e que só os tirava quando achava necessário.

A Feiticeira retirou um dos anéis: este era prateado com a forma de uma pena e tinha uma enorme pedra verde-escura.

— Acham que isto vai ser mesmo necessário? – Perguntou.

— Acho melhor irmos para as nossas respetivas Domus. – Disse o Lobisomem.

— NÃO! FIQUEM AQUI! Se os cavaleiros aparecerem, eles que vejam a sua preciosa deusa a morrer.

— Mas não tinhas dito que não querias que eles sequer vissem o templo de perto? – Perguntou James.

— Isso podias dizer-me tu! – Hera falava e gritava enquanto lutava contra Atena, que parecia ter acumulado tudo o que queria dar e a deixar-se explodir.

— Desculpa?!

— Eu só me lembro de te ter pedido para me trazeres a Atena. Não falei em Cavaleiros. E deixei bem claro que era para matar quem fosse preciso. Ainda mais tu, que adoras matar e ver sangue.

Os outros Líderes olhava para o recém-descoberto traidor, visivelmente chocados.

— O que é que queres dizer com isso?!

— Quando eu e os outros membros da tua Elite fomos ao teu território, uma hora depois da reunião acabar, tu estavas nos teus aposentos e eu disse para vires ter ao meu templo porque precisava que me fizesses um favor. Não me digas que já te esqueceste.

— Eu nem sequer sei do que estás a falar!

— SABES SIM!

— No dia em que tu e os outros Líderes foram ao meu território por causa da reunião? Há trinta e seis dias? Depois disso, eu passei o tempo todo com a minha irmã. Fui para a casa dela, assim que a reunião acabou porque ela queria apresentar-me o seu novo namorado. Podem perguntar-lhe se quiserem.

— Vá la, James, arranja uma desculpa melhor. – Protestou a Indomável, que estava a prender os cabelos em duas tranças de boxeadora. – Eu conheço a tua irmã o suficiente para saber que ela tem um coração de pedra rija o suficiente para nem sequer reparar num tipo com meio metro de pau.

Mais uma explosão fez o templo estremecer e alguns escombros e poeiras caíram do teto. Um enorme pedregulho ia caindo mesmo em cima de Hera, mas uma flecha atravessou-o, fazendo com que ele se desfizesse e pequenos fragmentos. O Líder dos Lobisomens abaixou o arco e olhou em volta: Hera e Atena continuavam a lutar. Ambas estavam sujas de pó e sangue, principalmente Atena, mas nenhuma parecia importar-se com isso. Apenas estavam focadas uma na outra. O estranho era que Atena estava com a energia toda e há um minuto atrás parecia prestes a virar cadáver.

*_*_*_*_*_*                                                                                   

Pavlónia, do lado de dentro da Muralha do Templo

— SHUN! – Yuna gritou ao ver o portal fechar-se mesmo à sua frente, e Shun não o tinha atravessado. – E agora?

— Não desesperes. – Aconselhou Souma. – O Shun é um Cavaleiro Lendário. Ele desenrasca-se.

— Sim, vamos acreditar nele. – Incentivou Hyoga. – Ouviram isto?

Mesmo longe do sopé da Montanha dos Líderes, a explosão não passou despercebida e os Cavaleiros correram na direção do portão, e lá estavam os corpos das amazonas mortas. Yuna não aguentou olhar para aquilo e fechou os olhos com força.

— Que horror.

Foi quando sentiu uma mão segurar na sua.

— Vamos. – Disse Souma.

— Sim.

E correram em direção de uma enorme escadaria que subia em espiral.

Um pouco longe dali, na Terceira Domus, que tinha o brasão dos Indomáveis à entrada da habitação…

— SAORI!

— Calma, Seiya, ela ainda não morreu. – Confirmou Samantha. –Não te desesperes, que a Hera não pode matar a tua esposa.

— A TUA QUÊ?! – Ryuho e Haruto não acreditaram no que estavam a ouvir.

— Vocês não sabiam? Mais ou menos um ano depois de Atena o ter salvo da maldição de Hades ela, melhor dizendo, a Saori Kido e o Seiya casaram-se. Às escondidas, mas foi extremamente fácil para a deusa do casamento descobrir. Não te preocupes, Seiya, porque nesse ramo, a Hera protege-vos. Mas isso não a impede de vos mandar matar aos dois.

— Então que raio de apoio matrimonial é esse?

— Quando um morrer, morrem os dois. Assim ficam juntos para sempre. Na vida e na morte.

Apesar da fala ligeiramente cómica, e mesmo que estivesse a correr, Seiya estava petrificado. O mais íntimo dos seus segredos tinha sido descoberto. Na verdade, os seus companheiros Lendários também sabiam, assim como a sua amiga de infância, Miho e a sua melhor amiga, a amazona de prata Shaina de Ofiúco. Mas de resto, ninguém sequer desconfiava. E agora que fora descoberto pelos seus futuros inimigos, eles não teriam o mínimo de problemas em espalhar, ou até tirar proveito da situação, e isso teria um enorme impacto na sua vida futura.

E o pior era que o problema não era apenas seu. Saori também estava incluída nisso e a sua reputação como deusa sofreria um golpe tremendo. O lado positivo era que Saori já não tinha que suportar aquele maldito fardo, já que tinha sido ele que causara as várias inseguranças que ela tinha a respeito do casamento escondido entre deusa e humano, mas Seiya prometeu ajudá-la a carregá-lo, e como qualquer marido que ama a sua mulher, sempre cumpriu a sua promessa de bom grado.

Continua…


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Notas finais do capítulo

* em termos filosóficos (teoria deontológica de Kant), a animalidade de uma pessoa corresponde à sua natureza biológica, ou seja, os desejos sensíveis. Por outras palavras, faz as coisas só porque lhe apetece, sem se importar com o que é certo e errado.
Qem acham que é ou são o(s) traidor(es)?
No que toca a Pavlónia, eu vou pondo a informação a respeito aos poucos, para não parecer muito enfadonho e enjoativo.
Bjs, até ao próximoooo



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