Saint Seiya Ómega, a Saga de Hera escrita por Ane Soph


Capítulo 2
A inimiga aparece




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787405/chapter/2

Local desconhecido

Uma rapariga de olhos verdes e cabelos louros ondulados dirigiu-se a duas campas no topo de uma colina com um relvado cheio de flores. Perto dela havia um lago cristalino.

— Olá Elisabeth, olá Peter. Desculpem por nem eu nem a Akemi termos vindo ontem. É que tivemos que ficar a treinar horas extras e não pudemos vir. Espero que estejam felizes aí no céu.

Perto das campas havia um piano e várias árvores. A rapariga tocava e vários sons saiam das árvores.

Mas subitamente parou de tocar.

— Justiceira? O que é que estás a fazer aqui? Isto é o território dos Indomáveis! - Mas quando reparou nas campas, arrependeu-se de ter usado aquele tom tão acusador. – Estavas… desculpa.

Assim que ouviu o seu nome, virou-se para uma mulher esbelta com longos cabelos louros. Esta usava uma mascarilha preta com três marcas magenta de garras no olho direito e um traje de guerra que era constituído por um corpete de um metal raro magenta escuro, uma minissaia de couro que na parte da frente só tapava as zonas íntimas e uma tiara que tapava uma parte da testa.

— Deixa estar, Comandante. Então e tu? Não estavas a fazer os planos de batalha?

— Estava. Mas senti umas presenças estranhas. Tu não?

Ela encolheu os ombros.

— Senti, mais ou menos. Porquê?

— Por nada. Eu só acho que são… Os cavaleiros de Atena.

— Aqui em Pavlónia?

— Pelos vistos sim. A Hera deve tê-los trazido para cá. Mas a única coisa que vão fazer é andar aos círculos. E quando derem por si, Atena já vai estar morta.

— Um tanto cobarde. Não achas?

— Sim, mas a ideia não foi minha. A Hera nunca devia ter confiado uma tarefa tão grande ao incompetente do James.

Era suposto as duas mulheres continuarem a conversar, mas foram interrompidas por cosmos enormes, mas não superiores aos delas.

Quando estavam prestes a sair, viram-se cercadas por 4 homens: Seiya de Sagitário, Shun de Andrómeda, Shiryu de Balança (Libra) e Hyoga de Cisne.

— Estão a olhar? – Perguntou a Comandante.

— Ouve lá, Mulher Maravilha, para quem é que tu pensas que estás a falar? – Perguntou Hyoga. A pergunta apenas fê-la cruzar os braços e inclinar a cabeça para a esquerda.

— Eu acho que estou a falar para 4 cavaleiros. – Virou-lhe as costas, mas logo de seguida voltou a encará-lo. – E só mais uma coisa: se voltas a chamar-me “Mulher Maravilha” ou se voltas a dirigir-me qualquer outro insulto, faço-te ir ver a tua mãe numa viagem só de ida. Fiz-me entender?

— Co-como te atreves a mencionar o que quer que seja relativamente à minha amada mãe?!

— Como te atreves a chamar-me “Mulher Maravilha”?

E voltou a virar-lhe as costas. Com exceção da Justiceira, todos a olhavam perplexos pela sua audácia, mas não lhe dirigiram a palavra. Para sair de onde estava, passou por Seiya e Shun. Quando encarou o último, ficou a olhá-lo diretamente nos olhos durante alguns momentos, ação esta que o deixou um pouco desconfortável.          

— Conheço-te de algum lado? – Perguntou ela ao fim de um tempo.

— Aaaaaaaa… Acho que não. Porque é que me estás a perguntar isso?

— Por nada. Apenas penso que já te vi antes.

— Eu acho que nos conheces a todos – Disse Seiya.

— Não estou a falar nesse contexto, Sagitário. Claro que eu sei quem vocês são.

— Então para quê tanto mistério? – Perguntou.

A Comandante estava prestes a responder, mas pensou duas vezes, virando-se para a Justiceira, que se encontrava encostada a uma árvore com os braços cruzados completamente alheia à conversa.

— Vens ou ficas?

Sem dizer uma palavra, saiu do canto onde estava e acompanhou a Comandante, mas parou para encarar Hyoga:

— Se a Comandante é a Mulher Maravilha, então… tu deves ser o Abominável Homem das Neves.

— Como te atreves? – Perguntou visivelmente irritado e surpreendido pela ousadia da rapariga à sua frente.

— É simples: sou a Líder dos Justiceiros. Mais conhecida como Justiceira. – E virou as costas aos quatro cavaleiros à sua frente, juntando-se à Comandante. E antes que qualquer um tivesse tempo de piscar os olhos, as duas mulheres já tinham desaparecido.

 - Quem eram aquelas? – Perguntou Shiryu.

— Duas almas cujos pais tiveram um enorme mau-gosto na hora de lhes escolher os nomes. – Disse Seiya. – Quer dizer, uma chama-se Justiceira e a outra chama-se Comandante.

— E se esses não forem os nomes delas? – Questionou Shun, metendo-se na conversa. – Sei lá, podem ser pseudónimos ou nomes artísticos.

— Porque é que dizes isso? – Perguntou Hyoga.

— Não sei, mas a Comandante… ela lembra-me alguém.

— PAI! – Gritou uma voz de rapaz acompanhada por vários passos.

— Ryuho? O que é que fazes aqui? – Perguntou assim que viu o filho acompanha do por Souma, Yuna e Haruto. Todos pareciam confusos.

— Onde é que nós estamos? – Quis saber a única rapariga que lá se encontrava.

— Sabemos tanto como tu. – Respondeu Seiya.

— Alguma coisa me diz que elas sabiam. – Referenciou Hyoga.

— Elas quem? – O mais confuso era Souma.

— Talvez isto nos ajude. – Disse Ryuho que tinha encontrado um diário atrás das sepulturas. – Ora vejamos… “Comecei a escrever este diário quando me tornei uma Líder.”

— Que história é essa dos líderes? – Perguntou Haruto.

— Não sei. – Respondeu Yuna. – Ryuho, continua a ler.

 Ele assim fez e avançou para a próxima página que tinha um desenho do campo florido onde se encontravam e no rodapé uma legenda.

— "Se encontraram este “Guia Turístico Desinteressante” num lindo campo paradisíaco com duas campas perto dele…

BEM-VINDOS A PAVLÓNIA! Ao território dos Indomáveis, para ser mais exata.”

— Pavlónia? – Perguntaram todos em uníssono.

— Aaaaaaaa… Talvez tenha uma explicação por aqui algures. – E folheou uma página. – Ora aqui está. Pavlónia é um sistema planetário localizado na Via Láctea a vários milhares de anos-luz do Sistema Solar. Este sistema planetário foi criado pela minha deusa Hera, que o governa de maneira honrada e justa. Mas nem todos concordam".  Acho que já temos uma pequena noção daquilo com que estamos a lidar.

— Ela escreveu isso? “Acho que já temos uma pequena noção daquilo com que estamos a lidar.”?

— Souma! Deixa-o ler sossegado!

— Tem lá calma, Yuna. Estou só a brincar.

— Ok… tudo bem. Pergunta ao Seiya, ao Shun, ao Hyoga e ao Shiryu se eles também querem brincar. Ryuho, continua.

— Ok… - Na folha, havia uma pirâmide onde estava organizada a hierarquia de Pavlónia. Primeiro havia uma mulher muito bonita, de cabelos compridos, lisos e rosas, com olhos verdes e uma pequena seta a apontar para ela. – “Esta é Hera, deusa da união, da família, do casamento e protetora das mulheres casadas. Esposa de Zeus e madrasta de Atena.”

Seiya começou a ficar apreensivo. Apesar de não saber o porquê, sabia que o nome da sua amada não estava lá escrito apenas por mera coincidência.

— Aaaa… olhem: eu acho que o nome da Saori não está aí escrito por acaso. – Disse, mesmo no último segundo antes de Ryuho continuar a ler.

— Não és o único. – Acrescentou Shun. Todos pareciam concordar.

—-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Num Templo longínquo…

Uma mulher com longos cabelos lilases acabara de acordar de um desmaio e sentia-se zonza.   

— Estás confortável, Atena?

Ao ouvir o seu nome, a deusa levantou o rosto e observou o belíssimo templo onde se encontrava. Tentou levantar-se para poder contemplá-lo mais atentamente, mas percebeu que tinha os membros presos a alguma coisa: a uma espécie de trono dourado com várias pedras preciosas a enfeitá-lo.

— Estás confortável, Atena? – Voltou a perguntar uma voz doce.

Saori olhou na direção de uma lindíssima mulher com um vestido grego branco com vários efeitos dourados, digno de uma deusa. Pelo cosmo, entendeu logo de quem se tratava.

— Hera. Minha madrasta…

—Bem-vinda a Pavlónia. A tua sepultura, para ser mais exata.

Saori sorriu levemente.

— Acho que não. Eu acredito que os meus cavaleiros me virão salvar.

Hera também sorriu.

— Então eu vou certificar-me de que eles não virão a tempo. – Disse ela elevando o cosmo.

Atena também queimou o cosmo a fim de criar uma barreira que a protegesse do ataque, mas o cosmo de Hera era bem mais assustador e gigantesco do que pensava. Quando percebeu que a única coisa que podia fazer era receber o fortíssimo golpe que vinha na sua direção, fechou os olhos com força e esperou que o ataque lhe arrancasse a alma do corpo, já que não tinha quaisquer meios de defesa.

Ao fim de dez segundos, percebeu que o golpe não vinha nem por nada, por isso começou a abrir os olhos lentamente e percebeu que uma barreira verde-transparente a protegia.

Hera parecia tão surpreendida quanto ela.

— Eles vieram. – Pensou Saori. Mas ao olhar à sua volta apenas viu a sua madrasta, por isso analisou o cosmo da barreira e não conteve um “Ah!” de surpresa quando percebeu o responsável por aquela proteção.

— Como é que isto é possível? – Gritou Hera quando percebeu que o seu próprio cosmo estava a proteger a deusa que queria matar. – Isto… Isto não pode estar a acontecer! A não ser que…

— Oh não. Ela não pode descobrir…

Mas o mal já estava feito. Hera suspirou pesadamente.

— Atena… O que fizeste foi... imprevisível. Ouve, eu sou a deusa da união, da família, do casamento…  e já fui traída e humilhada diversas vezes pelo meu marido, teu pai. Como tal, tornei-me a deusa protetora das mulheres casadas. Por isso é que o meu golpe não te atingiu.

— Madrasta?... – Saori estava receosa, mas não entendia o porquê. Pelos vistos, Hera não lhe podia fazer nada.

— Atena, ouve-me. Mesmo que eu seja uma deusa à qual devas considerar uma inimiga tua, do teu planeta Terra e dos humanos que vivem nele, eu apoio sinceramente e do fundo do meu coração, a tua união de matrimónio com…. – Hera tocou a mão da enteada e soube quem era o homem com quem ela se casou. – Seiya de Sagitário*, não me surpreende. Mas não te preocupes, o amor que vocês sentem um pelo outro é puro e genuíno. Nem mesmo o teu pai poderia fazer o que quer que fosse para o mudar. Além disso, não foste tu que te casaste, Atena. Foi a mulher na qual tu reencarnaste, ou seja, quem se casou foi Saori Kido.

— Hera…

— Não te iludas. Ainda te considero uma inimiga, e mesmo que eu não te possa matar, os meus subordinados mais poderosos e honrados terão o privilégio e o orgulho de o fazer. E eu vou ficar a assistir. Não sei se sabes, mas a tua existência é uma humilhação ao meu nome. Na mitologia, o teu pai, Zeus, mostrou a todos os deuses que não precisava de mim para nada, nem mesmo para gerar um filho. E teve-te através da sua coxa**. Aquilo foi uma humilhação tão grande. E ele fez aquilo como se nada fosse. Como se eu nem sentimentos tivesse. Por isso, a filha preferida dele é quem paga.

— Então vais matar-me só para teres a tua vingança?

— Não. Porquê? Estás com medo?

— Eu não tenho medo da morte. Mas não posso morrer aqui.

— Nesse caso estás com azar. Preciso do teu planeta.  Mas não só, já retirei Mercúrio e Vénus do Sistema Solar.

— Então foste tu…

— Sim. E se eu não retirar a Terra, não conseguirei retirar Marte, Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno.

— O planeta Terra é o único que tem condições para que haja manutenção de vida nele. Para que queres os outros?

— Deixa-me explicar-te. – Hera fez um movimento com a mão direita e o templo ficou às escuras. Apareceu uma espécie de holograma que mostrava Pavlónia como sistema planetário: uma estrela azul e oito planetas em órbita. – Estes são os meus Sete Reinos. Claro que não os posso governar a todos de uma só vez, por isso criei os Sete Esquadrões: os Comandantes, os Justiceiros, os Indomáveis, os Feiticeiros, os Sanguinários, os Lobisomens e os Tritões. A cada planeta (costuma ser chamado Território), atribuí um Esquadrão, que tem um representante e governador, mais conhecido como Líder.

— Se os Esquadrões são sete, para que é que precisas de oito planetas? – Perguntou Atena.

— O oitavo e último planeta, aquele pequenino ali ao fundo é o exílio para os que quebram o Protocolo de Honra, mais conhecidos como Homens Mortos.

— Porque é que lhes chamas de Homens Mortos?

— Porque aos meus olhos e aos olhos dos meus súbditos, eles estão mortos.

Saori ficou assustada. A sua madrasta sempre foi autoritária e impiedosa, mas ela tinha exagerado.

— Está bem, tens um grande império; mas o que é que ele tem a ver com o Sistema Solar? E porque é que o queres?

— Os Líderes têm como função garantir a prosperidade e o bom funcionamento das normas nos seus respetivos territórios. E sempre fizeram bem o seu trabalho. No entanto, a prosperidade só aumenta e antes que os territórios comecem a ficar sobrelotados, tenho de os expandir. E para isso só preciso de me apoderar do teu planeta, e dos outros todos. Como tu disseste e muito bem, a Terra é o único planeta com condições para gerar a vida. Por isso, vou dividi-lo em sete partes iguais: uma para cada território.

— E os humanos que vivem na Terra?

— Vou lavar-lhes o cérebro, de modo a que esqueçam as suas origens e torná-los meus aliados no exército. Sete mil milhões de habitantes. Mais mil milhões de soldados para cada território.

— Vais escravizar a humanidade…?

— Não. Tu estás em Pavlónia. Cá não há escravatura. Todos são livres e recebem a recompensa pelas suas ações. Não estamos no teu planeta imundo cheio de impurezas. Devias deixar-me fazer isto.

— Não vou. O que disseste é verdade, a humanidade não é perfeita. Mas dentro dela, existem tantos homens e mulheres que amam e são amados. Queres mesmo transformá-los em parte do teu exército? Queres transformar crianças em máquinas de guerra?

Hera vagueou pelo templo.

— Crianças... Seres verdadeiramente puros usados como escapatória para tudo. Quantas vezes isso não acontece… no teu mundo, não deixam entrar, e muito menos ajudar os pobres e rejeitados que caíram na desgraça, para proteger as crianças. Por favor, Atena. Proteges a Terra para quê? Mais vale deixares que os deuses destruam a humanidade.

— Não vou deixar!!

Hera esbofeteou o rosto delicado de Saori, deixando uma marca vermelha, bem visível e bem feia. Até se notavam as marcas dos sete anéis que Hera usava em apenas cinco dedos da mão direita.

— O Europa tinha razão. Tu és demasiado descuidada. Até podes ser chamada de retardada.

— Como é que sabes da Guerra contra Pallas e Saturno?

— Eu vejo tudo… - Disse, mostrando um espelho contornado por ouro maciço e decorado com esmeraldas, jades e safiras.

— A Pallas também odiava os humanos, mas aprendeu a amá-los. Tu também podes fazer o mesmo.

— Eu amo os humanos. Os que residem em Pavlónia, claro. Ouve, eu tenho grandes planos para os que vivem na Terra. Quero torná-los verdadeiramente úteis. E não vai ser alguém como tu que me vai impedir.

— Eu tenho cavaleiros poderosos que me protegem e que protegem e Terra. Já te disse que não vou deixar que nada de mal aconteça aos terráqueos. Vou protegê-los, mesmo que custe a minha vida.

Hera bufou. Já estava farta daquela conversa fiada e só queria ver-se livre de Atena. Como não podia matá-la, chamou todos os Líderes pelo cosmo.

“Como eu consegui bater-lhe, talvez consiga magoá-la um bocadinho mais.”, pensou.

— Então… tu disseste que irias proteger aqueles terráqueos imundos.

— Eles não são imundos.

— Só se for para ti!

Hera desferiu um soco no estômago de Saori tão forte que ela tossiu sangue, que escorreu pela boca e sujou o vestido branco que usava. 

— Acredita em mim, Atena. Os Líderes vão acabar contigo e quando isso acontecer, nada me irá impedir de destruir a Terra.    

— Podem sempre existir cavaleiros que tentem salvar a Terra, mesmo que Atena morra. – Uma voz feminina ecoou pelo templo e um cosmo poderosíssimo fez-se sentir.

—  Feiticeira…

Apareceu uma mulher ruiva de olhos verdes. Os seus trajes eram da mesma cor que os seus olhos. Subentendia-se muito facilmente que era uma Líder, apesar de parecer bastante nova.

— Hera, Atena. – Começou fazendo uma referência às divindades. – A que se deve a minha presença?

— Onde estão os outros?

— Estão a chegar. Mas isso não responde à minha pergunta.

— Quando for para falar, falo uma vez. Aí, quem ouviu, ouviu. Quem não ouviu, ouvisse.

A Feiticeira soltou um pequeno riso.

— Hera… Misteriosa como sempre.

— Contigo posso abrir uma exceção, mas só porque és a única que me pode ajudar.

— E do que é que precisas? Quer dizer, tu normalmente não precisas de ajuda para nada. És sempre tão orgulhosa…

— Desta vez é diferente. Eu queria matar Atena com as minhas próprias mãos, mas afinal, não posso. Ela está casada.

— A sério? A Atena está casada? Interessante. Isso quer dizer que não a podes matar.

— Era sobre isso mesmo que queria falar contigo. Eu consegui bater-lhe e dar-lhe um soco. Mas quando fui atacá-la com o meu cosmo, em vez de a atacar, o meu cosmo protegeu-a.

— Muito bem. Por favor, ataca a Atena, usando o mesmo ataque que usaste para tentar matá-la.

Hera olhou friamente para Saori e queimou o cosmo, usando o mesmo ataque. Que criou a mesma barreira.

Atena mantinha uma postura firme e pensava numa maneira de sair dali. Por mais que confiasse nos seus cavaleiros, ela percebeu que tinha de ganhar um pouco de autonomia.

Olhou para a cadeira onde estava amarrada e sentiu que era uma força invisível que a mantinha lá presa. Talvez o seu cosmo de deusa fosse capaz de destrui-la, dando-lhe a liberdade do movimento e de matar Hera antes que uma nova Guerra fosse iniciada.

Já tinha feito com que Seiya sofresse bastante por conta da sua covardia e dos seus fracassos, e não queria que isso voltasse a acontecer. Saori chorava constantemente em segredo quando ele sofria e chorava ainda mais quando sentia o seu cosmo a esvaziar até desaparecer. E isso já tinha acontecido duas vezes. Desde que se casaram, quer dizer, ainda antes disso, a alegria dele era a alegria dela e a tristeza dele era a tristeza dela. E vice-versa. Mas quando o via daquele jeito deplorável, todo ensanguentado, a cair para os lados e tudo mais, era horrível. E Seiya só ficou a saber daquela angústia toda após o seu matrimónio. E a partir daquele dia, ele jurou que Saori nunca mais iria sofrer. Porque ele amava-a. E quem ama procura a felicidade do outro. Custe o que custar.

Quanto a Pavlónia, eram os Líderes que a governavam, por isso a morte da madrasta não iria causar nenhum impacto que precisasse de atenção. Pelo que se foi feito entender, Hera só estava ali a enfeitar.

O seu raciocínio foi interrompido quando um punho cerrado lhe socou o estômago com uma força abismal, que a fez tossir mais um pouco de sangue e que manchou mais um pouco do vestido.

Saori olhou para Hera, que parecia bastante furiosa e de seguida olhou para a Feiticeira que estava a ler o que parecia ser um livro de feitiços flutuante, enquanto lhe tirava anotações que eram registadas por uma pena de pavão e escritas no seu antebraço esquerdo.

Atena começou a queimar o cosmo aos poucos, de forma a passar despercebida. No entanto, à velocidade com que o cosmo era queimado, iria demorar até que a barreira fosse desfeita.

Enquanto se tentava libertar, estava atenta ao que acontecia à sua volta.

Quando a voz da Feiticeira se fez ouvir, o seu corpo estremeceu e por pouco não parou o que estava a fazer.

— Então é assim: o teu cosmo é inútil contra Atena, assim como contra qualquer outra mulher casada, mas isso não se aplica quando existem divórcios, traições e adultérios voluntários. Tu não podes usar o cosmo porque não te vai valer de nada, mas podes usufruir de qualquer outra força física, como os punhos.

— Então posso torturar a minha querida enteada até ela morrer. – Concluiu Hera, aproximando-se perigosamente de Saori e agarrando firmemente o seu pescoço.

— Não. Até a usar força física existem restrições. O teu cosmo foi desenvolvido para proteger as mulheres casadas, logo não o podes usar contra elas. Mas se pudesses usar a tua força física para matares uma pessoa… isso não faria sentido. Não te esqueças de que o teu cosmo é a tua força interior, é como um universo em expansão que vive dentro de ti. E tu fazes parte dele, quer dizer, ele é que faz parte de ti. Mas a força física também vive e está ligada à tua força psicológica. Se ambas estão ligadas, porque é que podes usar uma por tua livre e espontânea vontade e a outra é-te completamente inútil? Claro que podes bater em alguém, como pudeste verificar ainda há pouco, mas apesar de tudo, tu ainda és a protetora das mulheres casadas, podes bater-lhes e torturá-las, mas só até chegarem a meia morte. Depois disso, nada podes fazer.

Hera tinha largado o pescoço de Saori para poder prestar mais atenção às palavras da Feiticeira, mas não o deveria ter feito.

— E se eu vos facilitasse a vida? – Perguntou a deusa da família, tentando voltar a agarrar o pescoço de Atena. Não o conseguiu fazer porque uma mão segurava o seu pulso.

— Deves estar a sonhar se pensas que eu vou morrer pelas tuas mãos, ou pelas dos teus subordinados. – Saori fitava a sua madrasta com um olhar ameaçador, mas de seguida, olhou para a outra mulher que se encontrava no templo. – Sem ofensa, Feiticeira. – E voltou a encarar a deusa à sua frente. – Eu não sei o que me vais tentar fazer a seguir, mas eu garanto-te de que vou dar a resistência necessária.

— Vamos ver até quanto é que ficas a achar que és a maior.

Hera estalou os dedos da mão que estava a tentar segurar o pescoço de Atena e o templo voltou a ficar às escuras durante alguns segundos, mas as luzes reacenderam-se. O trono tinha desaparecido e Saori percebeu que os seus trajes tinham mudado: a parte de cima era igual, mas também tinha um body dourado feito com um metal qualquer. A parte de baixo era só uma cauda branca, mas ao menos do joelho para baixo, as suas pernas estavam tapadas, com umas botas de um salto bastante alto. Na sua mão esquerda estava um escudo maior do que o da sua kamui e na mão direita estava uma espada com aproximadamente dois metros de comprimento.

— Vamos, Atena. Mostra-me o que vales.

— Eu não posso usar estas armas.

— E porque não? Acredita em mim, essas armas vão dar-te imenso jeito. É o escudo da Justiceira e a espada da Indomável.

— Estas armas nem sequer são tuas. – Saori deitou-as ao chão e chamou o seu báculo. Com ele seguro nas suas mãos, queimou o cosmo.

— Vamos lá ver do que és capaz…

E as duas começaram a lutar. A Feiticeira apenas observava, já que Hera não lhe tinha dado nenhuma ordem. Ao longe, sentiu os cosmos de mais dois Líderes: o Tritão e o Lobisomem. Só faltavam a Comandante, a Indomável, a Justiceira e o Sanguinário.                      

—----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

No território dos Comandantes

A Líder, tal como fazia todos os dias, entrou na sua enorme e luxuosa suíte e sentou-se no banco da sua cómoda, olhou para o espelho, tirou a sua mascarilha e fitou os seus olhos azuis cheios de mistério. E, todas as vezes sem exceção, a sua mente encheu-se de perguntas, tais como: quem sou eu? Como é que eu vim aqui parar? Quem é que eu tenho na vida para além dos meus leais súbditos? Qual é o meu nome?

Agora tinha uma nova dúvida: porque é que sentiu borboletas na barriga quando olhou o cavaleiro de Andrómeda diretamente nos olhos dele?

De repente, uma pequena imagem invadiu a sua mente: ela e Shun estavam os dois abraçados num canto de uma cidade qualquer. Juntamente com a imagem, veio uma dor de cabeça tão forte que a fez gritar e cair de joelhos no chão.

Quando a dor acalmou, a Comandante levantou-se com alguma dificuldade e voltou a sentar-se. Pôs a mão no peito e o seu coração batia descompassadamente. Por uma vez, sentiu-se assustada e voltou a lembrar-se da imagem. Não se lembrava de alguma vez ter sido abraçada, ou de alguém a olhá-la com tanto carinho, amor e preocupação. Mas havia um homem, que ela odiava com a sua vida, que a olhava como se ela fosse alguma espécie de banquete irresistível ao paladar. 

— Olá… Comandante…

Fala-se no Diabo, ele aparece… ela bufou de raiva quando ouviu aquela voz fria e horrorosamente perseguidora à porta do seu quarto. Como sempre, deitou ao chão um frasco de cristal e repôs a sua máscara antes que ele entrasse.

— O que é que se passa, minha amada? – Perguntou ele deslizando a ponta do indicador pela cintura da mulher ao seu lado. – Não estás feliz por me ver?

— Não. Agora faz um favor a ti mesmo, desopila do meu território e volta para os teus queridos Sanguinários!

— Ah, Comandante, Comandante… Quando é que percebes? Tu amas-me. Só que ainda não sabes.

— Ah, James, James… Quando é que percebes? Tu vives numa ilusão. Só que ainda não sabes.

— Olha! A única iludida aqui és tu! – Gritou ele agarrando-lhe os ombros e agachando-se para lhe beijar o pescoço, mas antes que os seus lábios tivessem tempo de lá se aproximarem, sentiu um soco firme debaixo do seu queixo que lhe partiu ambos os maxilares e alguns dentes.

— Faz um favor a ti mesmo, desopila do meu território e volta para os teus Sanguinários!  É assim tão complicado?!

James tentou mandar-lhe um “Hás de cá vir”, mas a boca doía-lhe tanto que nem a conseguia abrir, e a única coisa que se ouviu foi uma tentativa de fala tão sopinha de massas que a Comandante não resistiu e aproveitou a cena para gozar com ele, fazendo uma conchinha com a mão direita e encaixando-a na orelha.

— Hã? É o quê? Nunca mais vais tocar-me? Nunca mais vais falar comigo? Nunca mais vais olhar para mim? Nunca mais te vais aproximar da minha pessoa? Obrigada! – Para o deboche ser ainda maior, ela deu-lhe um beijinho na ponta do nariz e levantou-se para se ir embora. – Este é o dia mais feliz da minha vida!

Quando se viu longe do quarto, correu na direção de uma casa de banho e lavou a cara, mas principalmente a boca.

Ficou mais uns minutos a rir-se da cara de James e da figura que ele tinha feito. Mal podia esperar para contar aos outros membros da sua Elite. Ainda bem que os Sanguinários estavam à procura de outro Líder. Aquele simplesmente não prestava para nada. Só servia para ocupar espaço e gastar oxigénio.

Mas voltou ao mundo real quando Hera a chamou pelo cosmo para que ela e os outros líderes viessem ter ao seu templo. Além disso, tinha-se esquecido de avisar a sua deusa sobre a aparição repentina dos Cavaleiros de Atena. Era para ter ido logo à presença da sua deusa assim que saiu do território dos Indomáveis, mas antes disso tinha que voltar ao seu território e pensar bem naqueles segundos onde apenas olhava os olhos do primeiro homem que, sem ela saber o porquê, mexeu com ela a sério: Shun de Andrómeda. Ter perguntas e não ter respostas era algo a que ela não estava nem um pouco habituada.

Mas mesmo com tudo aquilo a corroer-lhe a mente, ela continuava a ser a Líder dos Comandantes: o esquadrão mais forte e honrado de toda a Pavlónia.

—-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Território não identificado

Ela tinha entrado nos seus aposentos, logo de seguida fechou as janelas e trancou as portas. Depois dirigiu-se a uma parede tapada com uma cortina negra que rapidamente desapareceu mostrando o desenho de uma selfie que ela tinha tirado com a mãe, com o pai, com o irmão mais velho, com a namorada dele, e com a sua melhor amiga.

Tal como a Comandante, também ouviu um chamado de Hera pelo cosmo.

— Pelos vistos é hoje. – Ela sentiu um nó na garganta. – Vou voltar para casa. Mal posso esperar. – E começou a chorar. – Estou a morrer de saudades vossas.

Caindo de joelhos chorou amargamente pela enorme falta que sentia da sua família, dos seus amigos, e… do amor na sua vida.

Lembrou-se do chamado, recompôs-se e partiu rumo ao templo da sua futura ex deusa. Ela ia mesmo traí-la. Já tinha feito as malas e tudo.

Voltou a abrir a janela, e com um triplo salto mortal saltou do 4º andar e assobiou, chamando Cleópatra, o seu Pégaso (fêmea).

A jovem, antes de ir para o templo, resolveu ir dar uma volta pelo território onde se encontrava, passou pelo Deserto dos Lamentos, pela Cachoeira Encantada, pela montanha dos Opositores e por mais um monte de locais.

Mas havia um sítio em particular onde ela queria ir, acontecesse o que acontecesse. À medida que se aproximava do topo de uma colina com um relvado cheio de flores e com um lago cristalino ali perto, sentiu vários cosmos que não era suposto lá estarem.

— Merda. – Sussurrou. – Eles já devem ter sentindo o meu cosmo.

—-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

— Q-que cosmo esmagador é este? – Perguntou Yuna, assim que sentiu uma força assombrosa ali por perto.

— Era como o daquelas mulheres. – Disse Seiya.

De repente, uma forte rajada de vento fez-se sentir e o tal cosmo ficou ainda mais forte, e no segundo a seguir um Pégaso negro rasgava os céus e nele estava montada uma mulher com longos cabelos escuros, lisos e lilases. 

Continua


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Pois… não sei se fui só eu, mas notei uns olhares diferentes entre o Seiya e a Saori durante o Ómega, por isso resolvi juntá-los, já que são um dos meus shipps preferidos. E não. Eu não vou pôr aquele clichê de o Kouga ser o filho deles. Mas faria sentido se fosse, no universo CDZ.

**Esta é uma delas. Também existem outras versões do nascimento de Atena, na mitologia.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Saint Seiya Ómega, a Saga de Hera" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.