Noites na Escuridão escrita por Johnny Johnson


Capítulo 9
A Esperança




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   De manhã no dia seguinte, com as feridas já curadas, sem ter dormindo e cansado, levanta-se em direção ao banheiro e lava seu rosto. Liga à televisão, sozinho sua única companhia é escutar vozes através da TV. Já de manhã mesmo passando notícias de assassinatos entre casais e diz para si mesmo sozinho:
— Só passa coisa ruim na televisão, nada de cura de doenças ou coisas boas. Só desgraça e tragédia. –coloca no mudo e deixa só as imagens passando.

   Querendo entender o motivo das pessoas terem se tornado tão violentas, ele olha para o relógio da sala marcando 8h23min decide sair sem máscara e sem as luvas. Porém, com sua vestimenta toda manchada e rasgada, fica em pé parado perdido em seus pensamentos. Sai da cabana encapuzado para que ninguém vejam seu rosto desfigurado para algum lugar.
   No outro lado da cidade, uma menina de oito anos a caminho da sua escola sozinha, com sua mochila consumida pelo tempo em suas costas. Todas as crianças entrando pelo portão, mas ela contorna a escola tendo árvores um local onde ninguém pisava. Ela bate palmas baixinho, e não acontece nada. Bate palmas novamente, e dentro de uma caixa de papelão sai um filhote de cachorro com raças misturadas abanando o rabo e alegre em sua direção. Menina passando a mão na cabeça e fazendo carinho e diz:
— Bob, como você está?! Tudo bem com você? –ela olha para dentro da caixa e observa que a comida dele acabou – Vou pegar mais comida da escola e trazer para você, fique aqui como sempre! –o deixa e vai para a escola.

   Enquanto isso, Johnny caminhou durante três horas chegando numa praça que ficava no meio da rua, se escondendo atrás da única árvore encapuzado sentado, pois ficando em pé levantaria suspeitas para os moradores do local. Do outro lado da rua, existia uma escola chamada “Escola Municipal Padre Martin Madrazo” do lado de fora uma quadra de esportes. Era a mesma escola em que ele estudou.
   Conforme o sol quente esquentava local, de casaco sentindo-se calor, abria o zíper e tirava o capuz deixando a mostra o seu rosto puro. Crianças e adolescentes chegavam a frente à escola esperando que o portão fosse aberto. Evitando ser visto por eles ficando atrás da árvore observando quem descia dos ônibus e de outros meios de transporte. Quando um ônibus para e tampando a visão de quem desceu sem saber quem era, o veículo logo em seguida vai embora e revelando-se que era Kimberly, a única garota entre todos os alunos usando casaco preto aberto com uniforme por baixo. Com seus cabelos castanhos soltos caminhando olhando para baixo evitando contato visual para longe dos adolescentes ficando reclusa até que abrissem os portões.
   Sentada e encostada na parede da escola perto do portão, a vista Johnny e abre um sorriso e ele faz gesto com a mão de querer conversar com ela e Kimberly responde também usando as mãos para depois da aula para se encontrarem atrás da escola. Balança a cabeça como um sim e ela sorridente adentra na escola.
   Nesse meio-tempo, a criança na escola com sua amiga no intervalo, comendo biscoitos conversavam:
— Você viu aquele episódio dos Jovens Titãs na TV? Foi muito fofinho que Estelar fez para o... O que você está fazendo? –observando à amiga pegando muitos biscoitos da escola e guardando na mochila.
— Estou levando para uma pessoa.
— É pra um garoto? –insinuando que era para um namorado.
— Quase isso. –dá uma risadinha.

Quando um trio tendo dois meninos e uma menina que perturbava sempre ela por causa de sua roupa, vendo que ela estava fazendo diz alto:
— Aí, estão roubando biscoitos aqui! Não sabia que podíamos pegar mais biscoitos.
— E não pode! –responde a inspetora - Abra a mochila! –toda envergonhada quase chorando - Devolve tudo que pegou para o pote! –ela devolve chorando em silêncio e é leva advertência. Como toda escola, os alunos bons levam broncas dos professores, inspetores e até diretores. Enquanto os que implicam, machucam os outros não fazem nada com “medinho” do que pode acontecer com eles fora da escola.

   Ao entardecer e no outro bairro, os alunos do Padre Martin saíam e Johnny atrás da escola numa rua escondida pelo os prédios e árvores na espera de Kimberly. Chegando-a perto dele diz:
— Oi! Você está bem? Está sem máscara por quê?! –falando com sorriso e preocupada.
— Estou bem sim e estou sem máscara porque quero ser eu mesmo... Mesmo eu não aceitando essa aparência.
— Para com isso, eu gosto do jeito que você é. Como e por que você me achou? –percebendo que ela o respeitava diferentemente de todos.
— Como estive no seu corpo durante um tempo, compartilhamos algumas memórias e emoções. Então, lembrei que você estudava aqui. E também quero fazer umas perguntas sobre como é o mundo hoje.
— Pode fazer! –diz meio tímida apoiada no muro da escola.
— Eles descobriram o que aconteceu com seu pai?
— Não e nem vão descobrir. Pode para próxima.
— Espero... Ele trabalhava em quê? A polícia chegou rápido naquele local.
— O meu pai... Digo o Júnior... Ele trabalhava desenvolvendo uma inteligência artificial para o governo que ia ajudar as pessoas nos hospitais. Foram 23 testes, mas não terminou. Por isso.
— Entendi mais ou menos... Mas okay... Você acha que... Estou com medo de perguntar.
— Pode perguntar, não tenha medo.
— Por que as pessoas se tornaram mais violentas que antigamente?
— Por mais que ache que a pergunte seja idiota ela não é. Eu não sei direito, mas acho que é para se sentirem superiores aos outros, apontando uma arma, batendo também. Mas como o mundo se expandiu com a tecnologia, cada um tendo um celular, o jeito de humilhar piorou. –em questão de segundos, Johnny calmo muda o humor.
— Eu fico irritado, nada mudou! Passaram-se anos as pessoas discutem uns com os outros, não se respeitam, não respeitam nem a opinião dos outros. Tudo sendo motivo de piada.
— Ei! Acalma-se! Não fica nervoso, nem todos são assim. Eu estou aqui como exemplo.
— Desculpa, é que não aceito como as coisas são... Perdoa-me... –disse acalmando-se.
— Tudo bem fica calmo. Estou aqui.

Deixando uma brecha do seu pulso à mostra e observa marcas de machucados e questiona Kimberly:
— O quê aconteceu com seu braço? –ela logo puxa manga do casaco para cobrir.
— Nada não... Eu caí da bicicleta outro dia. –olha para o céu, segundos após Johnny também.
— Kimberly...
— Oi.
— Por acaso... Acredita nas coisas que Luis falou? Se Deus existe por qual motivo ele deixa as pessoas sofrerem e outras sendo perversas tendo comida. Coisa que outras não conseguem ter? Eu não sei se acredito... –questionando sobre uma divindade.
— As pessoas costumam a se agarrar nessas coisas para se sentirem bem com elas mesmas, da pesar dos pecados que cometem. Tipo meu pai indo a Igreja, mas cobiçando a mulher do próximo e traindo. Mas deve existir um mundo onde só tem coisas boas que nem ele disse sobre o multiverso, lembra?
— Multiverso? Não sei que é isso.
— Ele disse que se Deus existe, o multiverso também, em outra Terra as pessoas são mais felizes, onde tem versões da gente parecidas ou diferente. Onde você não sofreu.
— Se existir espero que eu tenha uma vida boa nessa outra realidade. Mas não acredito nessas coisas de ficção ou bíblica.
— Onde você está morando?
— Numa cabana no meio daquela floresta e sim, eu sei que é longe daqui. Mesmo assim, eu vim a pé.
— Só para conversar comigo? Que fofo da sua parte. –ela meio se cora, mas ele nem nota.
— Na verdade... Às vezes só queria alguém me esperando em casa, se preocupando comigo como minha mãe fazia. –voz trêmula.
— Entendo. –olhando para o céu – Johnny você tem celular?
— Aquele aparelho que parece uma televisão pequena? Sim, eu não sei mexer direito.
— Então faça download do WhatsApp e me adiciona.
— Download?! Whats o quê? –perguntando por não saber o que era e ela ri.
— Vou te dá meu número e você pode me ligar. –abre a mochila e dá uma folha só com número dela anotado – Procura um ícone de um telefone e me liga, pode ser a cobrar mesmo, não tem problema.
— Vou tentar aprender. –responde com receio por não saber mexer no aparelho.
— Tenho que ir, está ficando tarde e minha mãe ficará preocupada. Liga-me.
— Eu ligarei. –deixando-o sozinho indo em direção para o ponto de ônibus.

   Enquanto isso, a menina de oito anos saía da escola junto com outros alunos após o término da aula. Ela triste caminha em volta até a parte de trás da escola com marcas de lágrimas em seu rosto e olhos avermelhados. O cachorro sai da caixa latindo e lambendo ela abanando o rabo cheio de felicidade. Ela abre a mochila e tem algumas migalhas e uns biscoitos quebrados e diz:
— Pode ficar com meu lanche, Bob. –ele começa a comer e lamber os biscoitos quebrados da mochila.

   Ela fazendo carinho nele, ventos batendo nas folhas das árvores caindo lentamente sob o chão.  Falando para ele:
— Somos iguais não é Bob? Você não tinha alguém e eu também não. Agora temos um ao outro.

   A paz reinou durante aqueles segundos, mas felicidade de pobre sempre dura pouco.
   De repente, os garotos que contaram para inspetora que estava pegando os biscoitos aparecem e perguntam para ela o que está fazendo. Sentada a garota se levanta tentando esconder e proteger o cachorrinho atrás dela, mas ele sai correndo em direção a eles com sua inocência querendo brincar.
— Será que ele quer brincar comigo? –pegando ele do chão e segurando.
— Larga ele! Larga ele! –com ciúmes e medo do que podia acontecer.
— Você que manda. –solta o filhote e cai no chão batendo o corpo e tenta se levantar com dificuldade e a garota desesperada vai até o cachorrinho.
— Bob, você está bem? –pega no colo.
— Me dá ele, ele está bem sim.
— Não! –defendendo seu filhote.
— Me dá ele agora! –tira do colo a força o cachorrinho.
— Por favor, só que eu peço fique longe dele! –desesperada vai para cima deles, mas um o empurra fazendo cair no chão.

   Eles jogam novamente o cachorro no chão, e veem ela caída chorando e não conseguindo fazer nada. A menina tempo todo chorando e soluçando, quando ela olha para o lado, uma pessoa. De baixo para cima olha para ela chorando e para o bicho, essa pessoa era Johnny em choque vendo aqueles dois garotos assassinando um cachorro indefeso na base de chutes. Tremendo paralisado com lágrimas escorrendo de seus olhos, olha para menina e pede para ficar de costas para o que estava acontecendo, tampar os ouvidos e fechar os olhos. Não sabendo direito o que seria o certo a fazer, faz o que ele pediu sentada ali, com rosto vermelho chorando tampando as orelhas e com olhos bem fechados enquanto Johnny ia à direção deles.
Não sabendo o que aconteceu naquele um minuto, o minuto mais demorado de sua vida. Ela abre os olhos devagar e só ver Johnny ensanguentado com o cachorro em seu colo e diz:
— Vamos enterrar ele. –ela quase olha para trás – Não olhe para trás! -dizendo para ela não ter medo.

   Carregando o filhote morto dentro da caixa de papelão que morava, para outro lugar que tivesse terra e árvores. Depois de cavar um buraco e enterrá-lo pediu para ela fazer suas últimas palavras e ela diz chorando:
— Não sei que dizer meu cãozinho... Você esteve comigo, me fez companhia quando eu não tinha ninguém. Fazia-me feliz todos os dias abanando seu rabinho e lambendo meu rosto. Espero que papai do céu cuide bem de você, onde tenha um paraíso só para cachorros brincando. Espero que papai do eu cuide de você, Bob. Você... Você fará muita falta para mim.

   Johnny vendo aquilo emocionado parado em silêncio com lágrimas saindo do seu rosto. Após isso, querendo levar para casa com segurança pergunta:
— Onde você mora?
— Eu moro logo ali descendo a rua. –apontando para uma casa grande e acabada no final da rua.
— Você sempre vai sozinha para escola? –ela balançando a cabeça com sinal de “sim” chorando e esfregando o olho.

Chegando ao local, deixando na frente do portão, se agacha e diz:
— Não tenha medo, está bem? –olhando para ela - Qual seu nome?
— Wendy. –ainda com voz assustada.
— Então, Wendy, sou Johnny. Eu quando puder, passarei aqui para vê-la se está bem. Tudo bem? –balançando a cabeça novamente.
— Moço. Por que o seu rosto é diferente? –tímida com marcas de choro.
— Pessoas, as pessoas nunca gostaram de mim. Para me machucarem fizeram isso comigo.
— Por quê?
— Eu não sei... Sinceramente eu não sei. Acho que foi por ser eu mesmo. Agora vá já para dentro. Devem está preocupada sua família. –ela baixa a cabeça correndo e entra.

   Do lado de fora, ao lado do portão, repara uma placa que não tinha percebido desde então escrito “Orfanato Castelo Arco-Íris” e percebe que Wendy na verdade era órfã e se arrepende do que falou.
   Voltando para a floresta, caminhando e perdidos em seus pensamentos. Abre a porta da cabana, todo sujo de terra e sangue e claro, entristecido. Se sentido sozinho liga a televisão às vozes dos repórteres para fazer companhia. Vai ao banheiro começa a tira peças de roupa, seu corpo magro, esquelético fica a mostra. De calça, se olha no espelho e escuta algo que chama atenção que faz voltar para a sala. Os repórteres contam que receberam uma gravação dentro de um carro, que uma pessoa de máscara roxa bateu em bandidos e aleijou um deles. Escrito em baixo “Herói ou vilão?”. Ele dá um sorriso assistindo o que estava transmitindo, mas logo sorriso desaparece ao ver suas mãos sujas de sangue e entra em conflito com suas emoções e começa a chorar pelo que tinha feito mais cedo.


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