Noites na Escuridão escrita por Johnny Johnson


Capítulo 10
23 de Janeiro




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   Semanas se passam, ele sai do banheiro e olha para o calendário ao lado da geladeira, todos os dias que passaram foram riscados. Como de costume, com controle na mão decidiu-se ligar a televisão, mas reluta e não liga. Lembrou-se que só passa coisas ruins e olha para um rádio empoeirado no canto e conecta na tomada e acha uma estação que estivesse passando músicas de sua época ou até mais antigas para escutar naquele momento.
   Johnny acha uma estação que estava transmitindo os últimos segundos da música “My Way” de Frank Sinatra. Logo em seguida, o locutor de rádio começa a falar sobre informações que estão acontecendo no Brasil. Faz comentários que iniciaram novos protestos e manifestações para aumento dos salários dos professores e que não recebem há meses.
   Porém, o mais surpreendente mesmo é que está acontecendo nas greves, além das brigas e prisões. As pessoas estavam usando máscaras roxas e casacos pretos iguais o Johnny, pois viram aquele vídeo espancando os ladrões e virou uma forma de resistência ou símbolo. O locutor faz comentários também sobre que relembra de muitos anos atrás de um caso de um garoto que usava a mesma vestimenta e assassinou cinco adolescentes que virou um dos casos nacionais mais comentados naquele tempo que era do Johnny Johnson.
   Atualmente, levantam a hipótese que o rapaz mascarado se inspirou na história do Johnny e as pessoas lutando pelos seus direitos também. Ao escutar tudo isso, ele sorri meio encolhido, não se importando muito, mas feliz e com vergonha pelo que está acontecendo por ter sido notado. Ele termina de escutar suas músicas clássicas e vai embora para se encontrar com Kimberly.
   Chegando atrás da escola, onde marcaram o encontro. Os dois têm breve diálogo entre si:
— Oi. –ambos se cumprimentam.
— Como está sendo suas férias? –Johnny pergunta.
— Está indo bem, só estando em casa mesmo. E você? Está bem? –ela segurando uma sacola.
— Estou tentando, como sempre.
— Sei que é difícil se adaptar no futuro, eu que nasci pouco tempo nem consigo. –olha para ele achando que está cansado. Você está triste ou com fome?
— Eu não sinto fome, da pesar que faz tempo que não como nada.
— Toma aqui para você. Comprei esses salgadinhos para você. –entregando-o uma sacola cheia de salgados.
— Obrigado por isso. Está sem comida lá mesmo.
— Está sem máscara, se sente bem com isso?
— As pessoas ficam me olhando, mas me sinto sim. Posso ser eu mesmo. Só queria ter uma vida normal.
— Algo que todos nós gostaríamos. –o abraça – Tenho que ir, eu tenho que voltar para casa. Por favor, se cuide. Até mais.
— Até –falando triste e vendo-a embora.

   Saindo de trás da escola, olhando para o chão, repara crianças brincando na praça que estava no outro dia. Caminhando até que fica parado, relembrando da infância que não teve, só vendo as crianças brincando e ele querendo brincar, mas não pode por vários fatores: idade, rosto desfigurado e não sabe se iriam aceitá-lo ou não. Mesmo sendo um assassino, mesmo tendo catorze anos, ainda era uma criança com traumas por dentro.
   Voltando a caminhar, Johnny chega até ao orfanato e se encontra com a Wendy. Ela o viu e sai correndo, abraçando-o e logo em seguida diz:
— Oi, Johnny. Pensei que não viria. –com sorriso no rosto apertando-o.
— Desculpe-me o atraso, fui pegar algo para comer. Como você está?
— Estou bem, hoje brinquei de amarelinha e fiquei brincando com os brinquedos.
— Que bom. Fico feliz que esteja feliz. –sorrindo para ela.
— Na verdade estou feliz por ter vindo aqui, ninguém me visita. –voz com tom de triste.
— Quando puder eu sempre irei te visitar.
— O que é isso na sacola? É de comer? Posso comer?
— Sim é comida, vou te dá um. –rindo por várias perguntas.
— Obrigada, você é uma pessoa boa. –diz enquanto comia.
— Eu apenas faço o bem. Aprendi que se você for fazer o bem, seja o primeiro a fazer, se for fazer o mal tenha certeza que será o último a fazer.

   Retirando uns salgados e dando para ela, afinal, mesmo não tendo nada para comer ele compartilha. Colocando uns pães de queijo em sua mão, ela começa a comer. Quando de repente, aparecem pessoas na rua falando que ele estava fazendo em dá comida para aquela criança era errado. Começam uma discussão e a criança fala que conhecia ele, mas não acreditaram na palavra dela, não tendo credibilidade.
   Por ter rosto desfigurado, ser magro e meio curvado, Johnny educado se explica que a conhecia sim. Porém, começa os pedestres pararem para discutir também quase partindo para agressão e ele não queria isso. Não queria fazer violência por um mal entendido, além do mais estava sem seu armamento, sem isso o tornava indefeso.
   Discutindo com ele, o empurram e pede para parar perdendo a paciência. Porém, começam a bater nele fazendo-o cair no chão e recebendo chutes das pessoas, não sabendo lutar corpo a corpo, também não queria machucá-los. Wendy tenta afastá-los, mas uma das cuidadores do orfanato improvisado a retira do local no colo, enquanto gritava e chorava dizendo Johnny.
   Ela o alegrava, mantinha a única sanidade que ainda existia nele indo embora. Os chutes e a discussão o fizeram voltar a ser uma criança, indefesa, perdida no mundo como sempre se sentiu. As pessoas pararam de chutar ele, segurando a sacola ainda, se levantou e começou a correr para a floresta e as pessoas desistiram no meio do caminho.
   Chegando à cabana, ofegante, com dor, evitando chorar mais uma vez, coloca a sacola amassada no balcão perto da pia na sala. E vai ao banheiro mais uma vez, fecha a porta e fica lá dentro durante umas horas até que escurecesse. Depois disso, ele sai com uma camiseta de manga comprida azul e de banho tomado, andando com o corpo todo dolorido, principalmente no rosto, nas costas e na barriga.
   De calça jeans ainda, por não encontrar uma calça que coubesse em seu corpo por ficar larga. Então, olha para o calendário novamente expirando pega a sacola de salgadinhos, mas quase todos estão amassados, esfarelados e alguns dão para comer. Derrama todos no prato e senta à mesa, ajeita os farelos dos salgados e põe em pé a única coxinha que não tinha sido pisoteada. Inspira e expira de com força e começa a cantar:
— Parabéns... Parabéns... –sua mão começa a tremer – Para mim... –ficando nervoso – Nessa... Nessa data... –olhos cheios de lágrimas – Querida... Muitas feli... Feli... Ci... Dades –tendo dificuldade em falar – Muitos anos... De vida... –não aguenta e se desaba em lágrimas.


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