Vida Nova escrita por Veronica Baum


Capítulo 6
Capítulo 6




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Fico encolhida no canto do bar, onde o balcão encontra a parede, tentando ficar invisível. Olho em volta, apenas observando, o Porão é um bar balada típico, mas com um palco no fundo da pista, ao lado fica a cabine do dj. Existem dois bares, um próximo da entrada a esquerda, onde estou encostada, e um pequeno ao lado da cabine do dj, algumas mesas ficam espalhadas a direita e antes da pista. O som está alto, o suficiente para dançar e curtir, mas não o suficiente para abafar conversas.

Seguro no meu copo como se minha vida dependesse dele, é um drink qualquer que Cat pediu para todos, como vamos tocar temos consumação no bar, e depois desse drink eu provavelmente só vou pegar água. Me sinto como um peixe fora d’água, tocar no palco, tudo bem ótimo, interagir com pessoas, nem tanto. O maior problema é que tenho medo, medo das consequências, mas também tento lembrar e colocar na cabeça que Ivan não está aqui, e eu não devo nada a ele.

 Uma música começa a tocar, uma voz rouca feminina grita nas caixas e Cat aparece na minha frente toda animada, me puxa para a pista e começa a dançar.

 - Eu amo essa música! – ela balança com a música, que cai no refrão, mais devagar, e então volta, a voz rouca cantando. Cat pega minhas mãos e as levanta tentando fazer com que eu dance. Eu rio, e balanço junto com o som, alguma coisa nessa música faz eu me sentir irreverente, não ligar para os outros, e logo estou dançando e pulando junto com Cat e gritando com a música, mesmo sem saber a letra. Olho em volta e vejo que Annika, Libby, Maggie e Tash estão lá, também dançando e cantando e animadas. Fico ainda mais feliz de não ver Anna, por mim a veria só no palco e já está ótimo.

 - Uhul! – a música acaba, e já entra outra, Cat ainda animada, ela se aproxima e grita no meu ouvido, - viu, Hole, uma banda feita na maior parte de mulheres! Só um homem. – ela sorri para mim animada e faz joinhas com as mãos, o que parece completamente fora de contexto para Cat.

 E assim, com apenas uma música eu tinha quebrado uma barreira, estava me divertindo, dançando, pulando e cantando com as meninas, enfrentando meu maior medo, só ser eu mesma. A música parou, e a primeira banda entrou no palco, continuamos curtindo, sem preocupações, nem parecia que a próxima banda seria nós. O estado leve e tranquilo durou pouco, porque logo eu vi Anna no começo da pista, me encarando, seus olhos emanando ódio, podia senti-la.

  - Libby! Libby! – grito e a cutuco para que tenha sua plena atenção. Ela olha para mim, inclino a cabeça na direção de Anna, ela aperta os olhos naquela direção e posso ver a raiva emanando também, me aproximo de seu ouvido e digo, - precisamos urgentemente de outra vocalista. – ela concorda com a cabeça.

  - Vamos começar a procurar, mas em segredo, - ela se afasta e olha para mim, fazendo um ponto, - se Anna descobre que estamos fazendo isso eu nem sei o que pode acontecer.

    Eu chacoalho a cabeça com indignação, Libby está certa, tudo precisa ser em segredo, o que é ridículo considerando que quem começou a banda fui eu e Anna foi literalmente a última integrante, só porque nossa última vocalista se mudou.

     Cat me cutuca e eu viro para ela, abaixo a cabeça para poder ouvi-la.

    - É hora de ir backstage. Quebra a perna! E Rock on!!! – ela sorri para mim e faz os chifrinhos com a mão. Eu olho em volta e vejo que todas as meninas captaram o recado, vamos para o camarim nos preparar. Olho em volta para onde Anna estava pronta para avisa-la que é hora, mas ela já não está mais lá, só posso esperar que ela tenha ido para o camarim.

    Não sei o que estava esperando, mas claro que ela estava no camarim e mais, batendo o pé e olhando no relógio.

            - Vocês estão atrasadas. – diz com aquele tom de nojo e superioridade que nunca vai embora.

            - Para o que Anna? Para beijar seus pés? – diz Libby com sarcasmo. Anna faz uma careta e fica quieta, sabendo que não está com razão.

            Preparamos nossos instrumentos, cada uma afinando, treinando acordes, Anna faz exercícios para as cordas vocais e Libby fica batendo suas baquetas em absolutamente tudo, com Anna olhando feio. Suprimo uma risada e me sinto leve, sim nervosa, mas leve e em paz, é isso que eu nasci para fazer. Está na hora, saímos do camarim pela porta que leva ao palco, dou aquele primeiro passo, e um holofote me cega, sinto seu calor esquentar meu corpo.

            É isso, esse é o meu momento.

            Toco um último acorde, e então silêncio. Logo seguido por aplausos, gritos e assovios, parece um sonho, olho para a plateia, mas mal consigo enxergar com tantas luzes, só sorrio e levanto a mão em agradecimento e despedida. Que sensação, estava em êxtase. Desci do palco ainda naquela brisa, estava alta, mas sem nenhuma droga, guardei meu baixo e sai do camarim, mal tinha dado um passo, Cat colidiu comigo.

            - AH MEUS DEUSES, PARABÉNS ISSO FOI INCRÍVEL, VOCÊS SÃO INCRIVEIS!!! – Ela beija minha bochecha e passa para abraçar e beijar todas as outras meninas. Annika faz o mesmo, igualmente animada.

            - é isso! Obrigada por nos representarem, continuem. Ah! Maravilhoso! – grita Annika dando pulinhos de alegria.

            Minhas bochechas doem de tanto sorrir, toda aquela felicidade, não consigo conter, e me sinto além de plena, transbordada de sentimentos, se existia alguma dúvida antes, não existia mais. Vamos todas conversando e gritando animadas para o bar pegar águas, várias pessoas aleatórias nos param no meio do caminho elogiando e só querendo dizer o quanto gostaram. Não consigo não sentir o que tudo isso é. Uma vitória.

            Até Anna por alguns minutos deixou de lado sua persona horrível e estava sorrindo e agradecendo as pessoas, conversando com o resto da banda, rindo, relembrando momentos do show, mesmo que tivesse acabado de acontecer. É uma sensação incrível, e sinceramente, estava começando a achar que estava viciada nessa nova droga, porque já queria de novo. E de novo. E mais um pouco se possível.

            Depois de drenar algumas águas voltamos para a pista, e eu posso jurar que era como se estivesse no palco novamente, só seguindo a música, balançando com ela, sem reparar a minha volta. Natural, estou no meu elemento. A próxima banda entrou e pareceu tão rápido quanto o nosso show, sabia que estava no final quando Cat e Erick, que estavam na pista com a gente, desapareceram para o camarim.

            E assim entendi tudo. Cat entra no palco, a primeira e única, sua roupa refletindo o holofote, com todo aquele visual dark e agressivo, porém com olhos claros e cabelos brancos, ela parece um anjo caído, maravilhosa e perigosa, sedutora. Ela ergue seus olhos para a plateia, levanta uma sobrancelha como questionando algo. Todos vão a loucura, gritando e assoviando, ela abre um sorriso maléfico. Sabe o quanto está linda, o quanto controla a plateia toda, estão todos, incluindo eu, em transe.

            Ela pega sua guitarra, que estava nas costas presa pela alça, e ela é uma flying v rosa cheia de glitter, completamente feminina, e ainda assim imponente. Cat abre o show com um solo incrível de guitarra, todos torcem e gritam animados, não tem o que dizer, apenas que sua performance foi surpreendente. O resto da banda entra, e eles começam a tocar, Max tem uma voz única, todo o som da banda é maravilhoso, e não consigo evitar fico de queixo caído.

            Sei que são sempre bons assim, pois toda a plateia está pulando e cantando junto, até se formou um daqueles círculos onde as pessoas ficam correndo e se batendo. Eu olho para Libby e como se ela sentisse, retorna o olhar. Sua expressão espelha a minha, só arregalamos mais os olhos uma pra outra como que dizendo, ‘você acredita nisso?’, e voltamos a encarar o palco. Hipnotizadas.

            Cat é extraordinária, Max é perfeito, Erick maravilhoso, Victor incrível. O conjunto inteiro é surpreendente. Já estava no céu depois da nossa performance, agora, de estar presenciando isso, estava no espaço, e flutuando. O show acabou rápido demais, como todos os outros, mas deixou a atmosfera vibrando, quase saindo faíscas, igual quando o tempo fecha e você sente que uma tempestade vai vir. O ar está eletrizado e eu pareço um elétron energizado pulando de um lado para o outro.

            Quando eles aparecem de novo na pista estão todos suados e sorridentes, também altos da energia que é estar no palco. Estou tão animada que pulo em cima deles, abraçando cada um e dizendo o quão incrível foi esse show. Algo completamente diferente e esquisito para mim, mas nesse momento tão natural. Cat me aperta e pula junto comigo, mesmo estando muito mais alta que eu, quando Annika vem abraçá-la para parabenizar eu passo para Erick, o abraço animada e diferente dos outros ele me segura por um tempo maior e me dá um beijo na bochecha, então eu me afasto, mas ele continua com sua mão na minha cintura. Não sei como me sentir, mordo o lábio nervosa e confusa.

            Tash encontra meu olhar e como só ela sabe fazer, me salva, mesmo sem eu saber que precisava ou queria ser salva.

            - Vamos comemorar! – Tash grita e me puxa para bar, onde pede shots de tequila. Enquanto nossa turma ainda não chega no bar, ela olha para mim, abaixa o rosto e o tom de voz, - você está bem? Pareceu confusa com Erick.

            - Sim, - eu concordo, - não sei o que devo sentir.

            - Como assim? – ela pergunta, enquanto o bartender coloca copinhos na nossa frente e um pratinho com sal e fatias de limão.

            - Bem, não me senti incomodada, como acho que deveria, mas de novo, isso é como eu pensava com Ivan, sabe. Toda possibilidade de gerar uma briga me assustava, - digo, os olhos de Tash suavizam e ela acena a cabeça, comunicando que entende, - mas também não senti nada bom, sabe? Aquela adrenalina, ou eletricidade, calor de quando alguém que você gosta te toca. É confuso. – confesso. Tash balança a cabeça como se estivesse organizando seus pensamentos, e então tenta.

            - Olha, é tudo muito novo e cedo ainda, talvez não seja o momento de nada assim, e também, mesmo que seja, ou quando for, não sentimos isso por todos, só os especiais. Então não se cobre assim, ok? Deixe os sentimentos fluírem, não são todos que precisam ser entendidos e dissecados.

            Sorrio para ela, como Cat, Annika e Libby, Tash está certa, e me sinto abençoada de ter apoio de tantas mulheres incríveis, me sinto segura, finalmente.

            - E então, vamos virar ou não? – grita Cat, e vejo que todos os copinhos estão cheios, eu jogo a cabeça para trás e rio, bem, se essa não é uma boa oportunidade eu não sei qual seria. Pego meu copinho e o levanto.

            - Às mulheres! – grito.

            - Às mulheres! – todas minhas companheiras gritam e viramos os copos sincronizadas.


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