Helena correu silenciosamente pela mata fechada, arco em riste, pronta para atirar suas poderosas flechas. As folhas e galhos surrando sua face e abrindo cortes nas bochechas coradas pelo esforço, quando, de repente, sentiu uma batida no coração que a lançou para longe e a atirou contra um tronco caído.

Assustada, buscando o caçador que a atacava, Helena se ergueu do chão sujo, vendo que sua caça fugia com o barulho.

— Quem está ai? – Indagou furiosa preparando uma flecha. Olhou para o próprio peito para ver que tipo de arma tinha sido usada e não encontrou nada, nem mesmo sangue em sua pele.

Surpresa com a dor que havia sentido e por não encontrar sujeira, mal pode acreditar no que seus olhos viam quando, em seu campo de visão, apareceu um homem muito belo, com rosto angelical e asas brancas nas costas. Em suas mãos um arco dourado era exibido.

— Eros – Helena rosnou entendendo tudo o que estava acontecendo.

— Helena – Falou imitando o tom dela e achando graça – Quanto tempo.

A mulher baixou o arco, ainda em fúria. Conhecia aquele Deus idiota, e sabia o que ele tinha acabado de fazer com ela. Ele já o havia feito antes.

— Quem é desta vez? – Indagou – Um antílope? Um veado?

— Oh, não – Eros fez um gesto com as mãos – Deixe disso. Eu não sou mau assim.

— Claro que não – Ironizou com o arco desarmado mas ainda sem baixar a guarda.

Há alguns anos, Eros tinha se apaixonado por uma ninfa da floresta e a seguia pela mata. Helena, caçava algum alimento e disparou uma flecha contra um animal. A ninfa passou na frente da arma disparada no mesmo momento. Eros ficou furioso, culpando Helena por todo o ocorrido e, mesmo depois dela jurar sua inocência, ele lhe prometeu vingança.

Dias mais tarde, a garota caçava com um amigo de infância quando Eros apareceu e flechou os dois. Apaixonados, riram a tarde toda no lago, sua paixão era real e forte. Quando deixaram as águas, o Deus incitou uma cobra a ir picar o rapaz, que morreu agonizante na frente da amada.

Agora, vendo Eros piscando seus olhos de forma inocente, Helena sentia o mais profundo ódio enraizado em seu peito.

— E pode me falar o que veio fazer aqui? – Questionou – Além de me fazer morrer de fome.

— Eu vim – Se aproximou dela com um sorriso malicioso – Te dar um amor proibido.

— O que? – Perguntou surpresa.

— Vai se apaixonar por alguém que não pode ter – Explicou com falsa tristeza – E sofrerá tanto por isso...

Helena armou seu arco e disparou uma flecha veloz contra o Deus, que desapareceu rindo. Mais uma vez, Eros se vingava dela por algo que nem mesmo tinha sido proposital. Sem forças, Helena se curvou e chorou sobre as folhas caídas das árvores, liberando suas mágoas para a floresta.