Hermione estava levando os pratos pra cozinha. Tirava a louça do jantar de cima da mesa e logo Harry, seu irmão, postou-se a ajudá-la. Ele estava no pequeno apartamento que a irmã residia, havia passado mais um dia cuidando da sobrinha e a irmã se oferecera para fazer seu prato favorito em agradecimento ao favor: macarronada.

Hermione tivera que ir ao serviço em seu dia de folga, num fim de semana, e por não ter se programado para isso, não tinha ninguém pra ficar com sua filha, então recorrera mais uma vez à seu irmão mais novo: Harry Potter. Ele adorava ficar com a menina e a menina adorava passar o dia com o tio.

— Está cansada? — ele perguntou para a irmã que estava com uma expressão enigmática no rosto.

— Acho que sim. Um pouco.

— O que está passando na sua cabecinha? Estou tentando adivinhar, mas não consigo. E olha que eu sei de tudo que se passa aí dentro!

— É vidente, por acaso? Trate de deixar minha mente em paz. Privacidade. — ela brincou.

— Vidente não... prefiro bruxo!

— Ok, bruxo. Me deixe em paz!

— Nossa, está nervosinha?

— Não, estou só brincando mesmo.

— E essa carinha... tem algo de errado acontecendo?

— Não. Só... isso está ficando cada vez mais frequente. Me chamarem assim, de uma hora pra outra. E nem sempre eu tenho como ir assim do nada, tenho uma filha. E ao mesmo tempo eu não posso dizer não, porque tenho uma filha! Não posso ser despedida.

— Você não vai ser despedida, Mione. Vai ser promovida, por isso te chamam pra ir resolver os problemas assim de uma hora pra outra!

— Seria ótimo começar a ganhar mais... mas preciso de tempo com minha filha, alguém pra ficar com ela quando estou fora!

— E você não tem?

— Tenho. Tenho você, e quando não puder?

— A Cho e o Ced?

— Sim, tenho eles. Eles são incríveis. — Ela disse voltando a se sentar à mesa e Harry fez o mesmo.

— Eles amam muito essa menina. — Harry disse olhando para menina que estava sentada no sofá falando com Cho por chamada de vídeo.

— Sim. É um grude que só! Tenho medo de ser trocada até! — ela brincou.

— Isso jamais! — ele riu.

— Os dois são tão bonzinhos comigo. Com nós duas. Desde que eu engravidei eles são extremamente bondosos conosco.

— Sim. Eles a amam tanto!

— Amam. Amam como se fosse deles! Me ajudam tanto sempre... queria que pudessem ter um bebê também.

— Eles vão ter! Eu sei que vão!

— Você é tão esperançoso! — ela disse orgulhosa do irmão.

— Eu aprendi com os melhores, meus irmãos mais velhos: Hermione e Cedrico.

— Credo, assim parece que somos idosos!

— Pra mim são.

— Vamos voltar ao assunto de Ced e Cho, ok? — ela mudou de assunto já que aquele sempre terminava em discussão.

— Como será que eles estão?

— Bem. Quase sempre ligam.

— Faz tempo que não os vejo!

— Eles estão bem. Focados no trabalho agora, mas bem.

— Sinto falta de ter vocês em casa...

— É, eu também...

— Por que você não...

— Harry! — ela o interrompeu — Por favor, não vamos falar disso, ok?

— Tudo bem. Vamos falar de outra coisa: quem é Ronald Weasley?

— O que? Do que você está falando? Harry Potter? — ela ficou nervosa e o irmão riu alto.

— Eu vi, no seu celular... e a Luna me disse pra falar disso com você.

— Luna? Como assim a Luna? Desde quando você tem contato com a Luna? E por que viu meu celular? Harry, pode ir explicando tudo direitinho!

— Calma, doida! Você deixou seu celular aqui, esqueceu. E sua filhinha linda me disse que podia jogar nele enquanto você não estivesse, então eu deixei. Monitorei tudo, é claro. E enquanto ela jogava... chegou uma ligação dele que ela recusou rapidamente. E olha... devo dizer que ela é bem espertinha, leu o tal de Ronald quase mais rápido que eu e já recusou, disse que você pediu pra ela fazer isso.

— Sim, eu pedi.

— Só que ela não sabia me dizer quem era, então eu tomei a liberdade de pegar o número da Luna no seu celular e perguntar quem era. Óbvio que ela sabia, ela sabe tudo de você!

— Mas que invasão de privacidade!

— Não é invasão se você contou à ela. — defendeu Luna.

— Estou falando de você, seu cara de pau!

— Eu sou seu irmão! Tenho o direito de saber!

— Não tem não!

— Enfim, Luna me disse que é um cara que gosta de você e você não dá chance pra ele, mas devia dar...

— Eu não devo dar chances a ninguém, eu tenho mais o que fazer!

— O que por exemplo? — ele perguntou agarrando o braço da irmã que havia se levantado para se retirar.

— Uma filha pra criar, por exemplo. Sozinha, caso não lembre também.

— Sabe o que sua filha disse quando você foi?

— O que? — ela sentou-se novamente, curiosa.

— Eu perguntei se ela ficava chateada quando você tinha que sair pra trabalhar e ela me disse que não.

— Disse?

— Sim. Ela me disse que sabe que você precisa trabalhar pra cuidar dela e poder dar tudo que ela precisa, tudo que ela quer.

— Sério?

— Sim, disse que a mãe dela é trabalhadora.

— Jura? — ela sorriu, estava contente.

— Sim. Você acha mesmo que ela quer que você fique nessa pra sempre? Trabalho, casa e só? Acha que ela não ficaria feliz em ver você com alguém?

— Não é isso, Harry...

— O que acha? Que é cedo?

— Não...

— Então é o que?

— Eu não sei. Não estou preparada! E eu nem conheço esse cara.

— Nunca vai conhecer ninguém se não der oportunidade. E se não for esse, pode ser outra pessoa. Só precisa se permitir! Você é uma mulher tão linda, tão inteligente, merece tanto ser feliz!

— Eu sou feliz!

— Merece ser cada dia mais! Pense no que estou te dizendo, com carinho. Ok? Aproveite sua juventude!

— Agora parece você o irmão mais velho! — ela disse tentando mudar de assunto.

— Mamãe! — a voz mais infantil e doce da casa chamou, e com ela uma garotinha correu para perto da mãe com o celular nas mãos.

— Diga, Rose.

— O Dindo quer falar com você!

Então Hermione a colocara sentadinha no seu colo para que pudesse ver o irmão na tela do celular que sua filha segurava.

— Oi, Ced. Tudo bem, como está? — Hermione disse.

— Tudo sim, Mione.

— Rose disse que quer falar comigo.

— Quero! Ela disse que ficou com Harry hoje, só queria dizer que lá pro fim dessa semana eu entro de férias, assim que precisar de alguém pra ficar com ela, estou aqui. Estamos né, amor?

— Pra Rose e Mione? Estamos sempre! — respondeu Cho aparecendo na tela também, sempre com um sorriso alegre no rosto. — Oi, comadre. Tudo bem?

— Tudo sim, Cho.

— E ninguém vai falar comigo não? — Harry se pronunciou.

— O que você está fazendo aí, seu pilantra? — Cedrico perguntou.

— Olha como fala comigo!

Antes que Cedrico respondesse, Rose bocejou.

— Acho que está na hora de dormir. — Hermione disse — Enquanto vocês brigam, vou colocar minha filha na cama!

— Eu não estou com sono, mamãe!

— Já está tarde, filha!

— Mas eu não quero ir dormir!

— Se não for dormir agora, não vai ter energia pra brincar com a mamãe amanhã. Não é isso que me disse que mais gosta de fazer? — Cho disse.

— Foi sim, Dindinha.

— Então, vai dormir. Amanhã você tem o dia todo com sua mãe!

Então Rose se despediu e Harry e Hermione também. Desligaram o celular.

— Mamãe, eu vou escovar meus dentinhos e esperar seu beijo de boa noite, tudo bem?

— Tudo, pode ir.

Antes de sair, Rose abraçou Harry e lhe deu um beijo de boa noite. Assim que a menina desapareceu, Hermione disse:

— Ela disse que gosta de ficar comigo. Viu como não posso deixar de tê-la como prioridade?

— E não vai deixar! Mas se deixar de priorizar você em primeiro lugar, logo não terá cabeça pra cuidar de ninguém! — Harry respondeu.

— Quer dormir aqui? Rose dorme comigo e você fica na cama dela.

— Pensei que não ia oferecer!

Hermione ajeitou as coisas na cozinha e acabou por lavar a louça toda pensando no que Harry tinha lhe dito. Sua cabeça não parou de trabalhar um segundo sequer.

Quando terminou tudo, Harry já estava acomodado no sofá novamente, assistiria tv antes de ir pra cama, então ela se despediu dele e foi para seu quarto, onde encontrou Rose acordada, coberta dos pés ao pescoço.

— Mamãe, você demorou.

— Está acordada ainda, filha?

— Você esqueceu meu beijo de boa-noite!

— Oh, meu amor. Me desculpe! Mamãe estava lavando a louça e acabou se esquecendo. Gostou de ficar com o tio Harry hoje?

— Sempre gosto de ficar com o tio Harry!

— Que bom, minha filha. O tio também gosta de ficar com você!

— Eu sei, mãe. Ele me disse! Mas eu gosto mais de ficar com você!

— Eu também gosto mais de ficar com você.

— Mais do que com qualquer outra pessoa?

— Muito mais!

— Eu também, mamãe.

— Você perdoa a mamãe por ter que ir trabalhar hoje? — Hermione perguntou sentando-se na cama.

— Sim. Eu sei que você vai trabalhar por nós duas, mãe.

— Mas hoje não era meu dia de trabalhar.

— Eu sei, isso foi muito chato. Mas o tio Harry me disse que faz isso pra que eu possa ficar feliz mais tarde.

— Ele disse?

— Sim. Então tá tudo bem.

— Você está feliz agora?

— Se você estiver eu também estou, mamãe! — aquelas palavras pesaram e muito no coração de Hermione.

— Eu estou feliz de estar aqui agora com você, meu amor.

— Eu também, mãe! — Rose disse se aninhando à mãe. — Boa noite. Eu te amo.

— Boa noite, meu amor. Eu também te amo.