O sol da manhã ardia na rua, as flores da primavera balançando suavemente com a brisa leve que percorria o ar. Cristina Andrade, uma bela jovem, com cabelos lisos, compridos e loiros, olhos azuis como o céu e corpo magro e bem definido chorava compulsivamente no banheiro de seu rico apartamento.

— Cristina, me desculpe. Eu não quis fazer isso com você. Eu sei o que pareceu, mas eu te amo.

Douglas falava com a madeira branca e firme após gritar com sua noiva quando ela o confrontou sobre uma mensagem incriminando-o de uma traição. Cristina se escondia no cômodo atrás da porta sem respondê-lo.

— Eu me arrependendo das coisas ridículas que eu fiz - Falou ele engasgado com as lágrimas - Mas eu estou arrependido da forma como falei com você.

— Vai embora - A garota pediu com voz embargada e reprimindo um soluço.

— Oh, Deus, por favor, eu te amo tanto - Douglas resmungou, se afastando pelo corredor curto e deixando Cristina em paz.

Cristina ficou com o ouvido na porta, escutando o noivo se afastar com passos vagarosos. Ele não queria aquilo e ela também não.

Entretanto, doía muito. As lágrimas salgadas corriam pelos olhos azuis e pingavam na camiseta cor de rosa que ela usava. Não queria abrir aquela porta nunca mais, não queria ver Douglas ou ouvir sua voz… Mas ele podia estar falando a verdade. Podia estar arrependido ou ela mesma tinha entendido toda a história errado.

— Espera! - Cristina gritou saindo do banheiro. Não podia deixar que eles acabassem daquele jeito. O homem, alto, com a barba feita, cabelos escuros penteados para trás, olhos castanhos e estreitos, virou para ela com esperança no rosto quadrado.

— Ei sabia que me perdoaria - falou abraçando a mulher.

Cristina sentiu uma pontada no peito. Ele sabia que ela o perdoaria? O que isso queria dizer? Quando ele a traiu ele já sabia que ela o perdoaria? A confusão provocou mais uma onda de lágrimas.

— Não sei se quero me casar mais - Confidenciou.

— Como? - A voz era nervosa, o tom próximo de quando ele gritara com ela, minutos antes - E sua avó? Pobre Maria de Lourdes, ela está tão doente, tão fraquinha... O que ela mais queria era ver você se casando, Cris.

Aquilo era verdade. A avó estava velhinha, era possível que não sobrevivesse a mais um ano. Cristina suspirou nos braços do homem, se esquivando do aperto.

— Tem razão...

— Vamos manter a data, amor - Pediu dando um beijo na bochecha salgada da mulher.

— Mas eu vou mudar a madrinha - Sentenciou, recebendo um aceno positivo de cabeça e um dar de ombros com uma indiferença forçada.

***

— Oi prima - A voz estridente de Cristina gritou pelo telefone, ajudando a despertar Ágata de seu sono.

— Oi - Resmungou de volta. Era o pior jeito de se começar o dia, ela tinha um verdadeiro horror da prima: Cristina era perfeita e ganhara na loteria genética, além de ser simpática com todos e linda, ainda tinha sorte no amor, um emprego maravilhoso, um corpo perfeito e todos gostavam dela.

— Então, tudo pronto pra você vir pra fazenda hoje à noite? - Podia ver a prima sorrindo do outro lado da linha. Sua voz tinha um tom diferente, mas não identificou o que podia ser – Nós vamos chegar lá em algumas horas.

— Sim - Respondeu lembrando que deveria ter comprado a passagem no dia anterior - Depois aviso a tia que horas devo chegar.

— Legal – Comemorou - Sabe, Ágata, preciso te pedir uma coisa.

— Pode falar - Sentou na cama, vendo que não conseguiria mais dormir aquela manhã ensolarada. Olhou seu rosto no espelho do outro lado do quarto bagunçado e a visão foi de total desagrado para a garota: cabelos castanhos amassados e em pé, olhos remelentos e inchados e baba seca colada na bochecha.

— Minha madrinha deu pra trás de última hora - Contou com um suspiro enquanto Ágata ia para o banheiro, afastando os lençóis do seu corpo rechonchudo - E levou o padrinho junto.

— Puxa, faltando poucos dias pra cerimônia, que mancada - Reclamou escovando os dentes.

— Eu queria saber se você gostaria de ser minha madrinha de casamento - Convidou animadamente fazendo com que a prima se engasgasse com a pasta com sabor de menta - E você podia levar seu namorado junto, pra quebrar o galho - Ágata então se engasgou com a escova de dentes. Merda. Não tinha contado para a família que tinha terminado com Bernardo e não pensou que aquilo seria tão importante. Iria contar na janta aquele dia, comentar como algo bobo, sem dar ênfase, apenas comunicando o fato. Agora tinha um problema.

— Claro - Foi sua resposta automática sem pensar nas consequências.

— OBA! – Cristina gritou do outro lado da linha - Nos vemos de noite, não se preocupe com sua roupa ou com a dele, tenho tudo aqui pro casamento. Só espero que você caiba no vestido... Qualquer coisa eu ajusto - Tagarelou.

— Está bem - Falou para a outra ouvindo a ligação sendo encerrada com um toque. Enxaguou a boca com a água corrente da torneira e lavou o rosto, retirando as sujeiras que a incomodavam há pouco e encarou seus olhos injetados no espelho sujo.

Eles tinham terminado fazia apenas uma semana e ela sabia que não tinha dito nada para a família porque tinha esperança que eles voltassem. Saiu do banheiro e olhou ao redor: seu quarto estava uma bagunça, sua cozinha estava uma nojeira e sua sala era uma verdadeira zona de batalha.

Se sentiu patética e sem coragem de arrumar qualquer coisa e foi se vestir e tomou um café demoradamente, esperando a hora para poder sair para o trabalho.