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Foi mais ou menos que a Cinderela se sentiu antes do baile

Era o dia do baile.

O baile do dia dos namorados tinha realmente chegado.

Hinata não tinha esperado sobreviver até a sexta-feira, mas ali estava ela, em seu quarto, vendo Sakura andar de um lado a outro durante um monólogo energético, ou seja, mais um dia normal, ou tão normal quanto poderia.

Depois da cena no corredor, Naruto reconfirmou o – ugh – encontro que eles teriam, enquanto Hinata lutava para se manter de pé e com dignidade. Saiu, cumprimentando seus amigos do time e, basicamente, todas as pessoas que encontrava, lembrando a parte estúpida do cérebro de Hinata que, ao contrário dela, ele era um atleta, lindo, popular e incrível. Quer dizer, ele tinha tirado 89 no teste, com apenas dois dias de estudo.

Não havia uma chance sequer daquela noite dar certo. Hinata era formada em muitos clichês, obrigada, e sabia como terminava. Provavelmente com um balde sangue de porco caindo em cima da sua cabeça enquanto as líderes de torcida riam dela, e Naruto tirava fotos para publicar no Facebook.

Hinata, totalmente racional e lúcida, também ignorava o fato de que algumas líderes eram realmente legais, como a loira que dividia a mesa de laboratório com ela, com a amiga de Sakura que sempre lhe dava o bolinho extra do almoço. E, claro, Naruto, que tinha sido um perfeito cavalheiro naquela semana, e jamais faria algo do gênero.

Mas, em meio a um surto, Hinata ligou para Sakura, e agora a rosada estava em seu quarto, monologando sobre como aquele seria o baile de suas vidas.

— ...e você vem me enchendo o saco há uns quatro anos para isso acontecer e agora que tem a chance está simplesmente dando para trás igual uma covarde? Será que eu vou mesmo precisar te amarrar e te jogar dentro de uma limusine para você não fugir do Naruto, sendo que já foi um sacrifício enorme convencer o Sasuke a dar carona para eles todos esses dias, e ficar aguentando aqueles dois depois do treino porque o Naruto insiste em ficar com o meu namorado mesmo eu obviamente precisando mais dele do que aquele garoto ridículo? – respiro – Olha, hoje não, Hinata, hoje nós vamos colocar vestidos lindos, maquiagem, comer alguma coisa não calórica e dançar até nossos pés doerem, e depois nós quatro vamos naquela lanchonete chique tomar milkshake depois do baile, e provavelmente vocês vão dividir o mesmo copo porque depois de hoje vai tudo dar certo, é dia dos namorados e nossos sonhos estão se tornando realidade e...

— Que? – Hinata realmente não estava escutando.

— O que? – Sakura se virou, aparentemente perdida nos próprios pensamentos. Depois de fitar o rosto confuso de Hinata, deu um sorriso amarelo, voltando a se sentar com uma cara muito suspeita – Nada. Nada, eu só estava pensando alto. – disfarçou de um jeito que a morena realmente não acreditou muito – Sério, por que está com medo? É tudo que você sempre quis!

— Eu sei! – concordou, sentando e puxando uma almofada – Mas não precisava ser tudo um grande clichê desse jeito. Quer dizer, o que faria um garoto incrível e lindo e talentoso e inteligente como o Naruto se interessar por mim? – ergueu a sobrancelha.

— Sei lá, seus peitos? – Sakura desviou do travesseiro arremessado, rindo – Brincadeira, amiga! Você claramente não se vê do jeito certo. Tem muitas qualidades. – sua voz estava sincera – E mesmo que seja só, hm, um acordo entre vocês – hesitou, rolando os olhos – pensa que você vai ir no baile do dia dos namorados com um acompanhante. Bem melhor que servir ponche sozinha, não é?

Hinata não tinha resposta para aquilo.

Suspirou, porque Sakura estava certa – e ela não admitiria. Seus maiores medos estavam concentrados em sua insegurança, timidez e falta de experiência. E se desse tudo errado? Se o vestido rasgasse, ela caísse com o salto, derrubasse refrigerante nele? Tudo era possível.

— Quer saber? Eu nem quero tanto ir. Vou ficar em casa e assistir alguma coisa na televisão. – decidiu, se levantando da cama em direção a TV, mas Sakura e puxou e a jogou de volta.

— Mas nada disso! – ela era assustadora quanto se irritava – Pois vai ficar aí mesmo enquanto eu separo seu vestido, e nós vamos fazer as unhas! – Hinata estremeceu enquanto ela a encarava – Do pé também. — completou, e foi o suficiente para a Hyuuga soltar um gemido lamurioso e implorar por misericórdia.

Sakura caminhou para o armário, do outro lado do quarto, abrindo com toda a liberdade e familiaridade do mundo – não foram poucas as vezes que a Haruno teve que fazer aquele tipo de intervenção. Mexeu nas araras com muito vigor.

— O que está procurando, afinal? – Hinata alfinetou – Eu nem tenho um vestido. Ops, parece que vou ter que cancelar.

— Há, até parece. – Sakura puxou um saco de plástico com o olhar triunfante – Até parece que você não teria essa belezinha guardada desde os doze anos, por favor, Hinata.

— Droga. – resmungou. Ela realmente tinha mandado ajustar seu antigo vestido, em uma esperança vazia de aquele ano ser diferente.

Durante as quatro horas que se seguiram, Hinata foi exposta a todo tipo de tortura que ela secretava ansiava desde sua pré-adolescência. Sakura fez com que pintassem as unhas e passassem uma argila estranha na cara, enquanto ouviam músicas pop no computador.

Quando a noite começou a cair, a garota finalmente sentiu o peso do que aquela noite significava para ela. Finalmente o baile do dia dos namorados. Onde ela não iria sozinha – mais, onde ela iria com o capitão do time, lindo, inteligente, atencioso e engraçado. Nada do que ela esperava, diga-se de passagem.

Naruto era um clichê ambulante, com o pequeno detalhe de que não era arrogante ou babaca. Ele era normal, e bastante agradável. Foi um aluno dedicado e era tão charmoso que Hinata tinha dificuldades de lembrar sem corar – e atrapalhar a maquiagem. Quando imaginaria que aquilo realmente aconteceria com ela?

— Estou com fome. – resmungou quando Sakura terminou de trabalhar em seus olhos.

— Nem começa, só vamos começar mais tarde, depois que eles passarem para nos buscar. – a rosada retrucou.

— Aliás, quando você resolveu trazer todas suas coisas para cá? – pontuou, desconfiada.

— Está brincando? – Sakura riu, debochada – Te conhecendo como eu conheço, sabia que teria um surto a tarde toda. Uma mulher prevenida vale por dois. – Hinata quis acertar alguma coisa na amiga, mas acabou rindo também, porque era verdade – Agora coloca seu vestido enquanto eu termino de secar o cabelo, vai.

A morena suspirou, levantando-se e tomando cuidado com o cabelo todo enrolado em uma trança. Enquanto esperava, rolou um pouco das redes sociais, vendo fotos de pessoas com quem não conversava, inclusive um post do próprio Naruto, com o time no último jogo. Ele estava bem na frente, com o uniforme estampado, e tinha algumas milhares de curtidas.

Hinata riu sozinha lembrando-se de como costumava achar que ele era só mais um atleta convencido – “costumava”, quer dizer, aquilo tinha acontecido no começo da semana. Era possível quebrar a cara tantas vezes em tão pouco tempo? Quer dizer, ela merecia, por julgar tanto as pessoas.

Deixou o celular de lado, ainda pensativa, enquanto vestia sua roupa. Não gostava dos modelos longos, e sua mãe tinha ajudado a escolher um vestido que fosse mais sua cara. Não tinha babados, mas era rosa, com uma fita e de alças, bordado no busto. Quando se olhou no espelho, sorriu, porque sentia-se como uma protagonista dos livros de romance que estavam em sua cabeceira.

Pegou os saltos e, com uma prece rápida, calçou, rezando para durar até o final da noite. Sakura saiu do banheiro com o cabelo preso no alto, também com o vestido em mãos, e soltou um assovio.

— Uau, Hina, você está linda! – abriu um largo sorriso – Parece uma princesa.

— Obrigada. – corou.

— Esse vai ser o melhor dia dos namorados de todos! – saltitou, correndo para se arrumar.