Colégio Basílius escrita por ericrj05


Capítulo 6
Intro 02 - Jay: Colegas de quarto




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787065/chapter/6

Jay



Embora estivesse morando em um lugar diferente a rotina de Jay era basicamente a mesma de antes. Ainda faltava alguns dias para que o semestre começasse, portanto precisava se ocupar de alguma forma que era a mesma de sempre.

Assim como no prédio em que morava, as quadras de treino daquele colégio tinham bonecos de combate similares aos que usava, até mais aprimorados. Mesmo sem ter recebido sua arma encantada Jay visitava as quadras de treino para praticar golpes físicos com os bonecos que regiam com uma inteligência artificial bem melhor que os do seu antigo prédio.

— É isso aí! Agora sim as coisas estão melhorando. Os bonecos daqui são menos otários, mas ainda não são o suficiente. — Ele comenta consigo mesmo, animado com a reação do boneco, que desvia de seu soco e logo após tenta lhe desferir um, porém errando. Por mais que o boneco tivesse errado, aquela reação era mais do que a dos bonecos que usava antes, que apanhavam sem fazer nada por várias vezes até decidirem reagir um golpe ou outro com "tapinhas de criança", como dizia Jay.

Quando não estava nas quadras, saía para andar pelas ruas as quais já estava acostumado para dar uma olhada nos cachorros ou olhar feio para os garotos os quais já estava cansado de brigar. Já não era mais uma criança e não queria ser visto por aí sendo lambido por cachorros ou em brigas sem sentido. Jay não era um garoto ruim, mas tinha uma personalidade explosiva e um comportamento que para alguns poderia ser bastante desagradável, o que acabava gerando muitos conflitos, mas em algum lugar lá no fundo tinha uma certa percepção de empatia e responsabilidade.

Naquele dia Jay havia passado por algumas ruas escuras da periferia da cidade. Aquelas ruas atraíam jovens e adultos interessados em comprar substâncias mágicas ilícitas. Algumas eram formadas por substâncias banidas para que cientistas incrementassem seus experimentos de forma ilegal, outras eram utilizadas diretamente no corpo para causar sensação de prazer. Às vezes eram usadas até mesmo na rua, deixando pessoas largadas aos chãos ou em casas abandonadas enquanto suas mentes se ocupavam em uma realidade distorcida.

A rua do antigo prédio de Jay era próxima daquela região e ele sabia que de vez em quando os vendedores dessas substâncias tentavam atrair crianças para pedir que transportassem mercadorias aos seus clientes em troca de doces ou outros agrados. Isso acabava fazendo com que elas voltassem mais e mais, o que acabava deixando-as muito expostas àquelas coisas e tornando-as parte do negócio seja como fornecedores ou consumidores. Jay se lembrava de quando era criança e fora chamado por um rapaz de uma dessas casas em ruínas para levar um daqueles vidrinhos brilhosos para um amigo dele em outra rua, mas ele nunca aceitara. Por mais que Phillip não fosse muito presente, eles conversavam bastante e ele o ensinava muito sobre o que evitar para não ter problemas, como aquelas ruas ou brigas com vizinhos... bom, pelo menos uma parte dos ensinamentos Jay conseguiu aprender. Por conta disso Jay decidira passar por aquela região também, apenas para garantir que nenhuma criança desavisada pudesse ser usada pelos traficantes mal intencionados naquele dia.

Mas aquele lugar tinha muito mais do que isso. Festas aconteciam naquela região, atraindo gente de diversos pontos da cidade e com diversos estilos diferentes, que se concentravam aos finais de semana, feriados e principalmente durante as férias do colégio. Haviam pessoas de pele pintadas com tatuagens em um pedaço ou outro do corpo e alguns em quase toda a pele, cabelos de diversas cores, cortes e formatos e também aqueles que vestiam roupas escuras de materiais estranhos, roupas curtas e rasgadas, às vezes cheios de espinhos e correntes enquanto outros gostavam de se vestir de forma colorida e luminosa, com calças florescentes e camisas estampadas, às vezes ostentavam até caudas, asas e orelhas no topo da cabeça. No caso de alguns essas partes eram naturais, eram híbridos, mas a maioria usava adornos para parecer meio-humano e meio-qualquer-coisa. Ao mesmo tempo em que as pessoas daquele lugar pareciam tão sombrias e fechadas eram também bastante coloridas e animadas, mas para Jay isso nunca fez diferença já que seus olhos, por algum motivo mágico até então irreversível, não enxergavam cores, prendendo-o em um mundo preto e branco desde que se entende por gente.

Jay não frequentava nenhuma daquelas festas. Já havia tentado, mas sempre que chegava perto de se enturmar com alguém acabava ficando nervoso, embora não admitisse, e voltando para casa. — "Esses caras e essas minas só se enturmam com alguém se tiver um estilo esquisito igual ao deles. Eu não vou cortar a droga no meu cabelo, nem as minhas roupas. Não mesmo!"— Preferindo se enganar de que aqueles grupos eram muito fechados, pouco receptivos e até mesmo estranhos demais em vez de reconhecer que tinha certa dificuldade em se aproximar.

Quando finalmente concluiu sua ronda por aquelas ruas, lembrando antigas memórias que tinha de cada uma delas, decidiu retornar ao colégio para comer de graça no horário do almoço.

As férias haviam sido assim, praticando seus socos com os bonecos de treino e caminhando pela cidade, sempre sozinho. A cada dia que passava e o início do semestre se aproximava mais alunos começavam a aparecer no colégio, mas Jay não queria entrar em contato com nenhum deles. Cresceu em uma casa sozinho, por mais que tivesse supervisão, então já estava acostumado em ter somente a si mesmo como companhia. Talvez, quando seus colegas de quarto chegassem, ele começasse a se enturmar.

— "Desde que não sejam merdinhas inúteis." — Ele pensava a respeito de com quem teria que dividir o dormitório. — "Não quero ficar perdendo tempo com pseudo-caçadores. Quando as aulas começarem precisarei me misturar com os melhores, assim como eu."

Depois de alguns dias o colégio parecia ter se tornado um outro lugar. Estava movimentado, cheio de vozes e passos nos corredores. Olhando pela janela de seu dormitório Jay podia ver grupos e mais grupos de alunos e professores agrupados conversando lá em baixo ou caminhando pra lá e pra cá. Até mesmo conhecia alguns professores já tendo-os visto na maioria das vezes nas festas de aniversário de Phillip, mas também no supermercado, em lojas do centro, em ruas escuras comprando frascos suspeitos, no hotifruti, por aí.

Uma semana antes do início das aulas chega o primeiro colega de quarto de Jay no início da manhã. No momento em que ele chegara Jay ainda estava deitado no quarto, mexendo no celular, e fora surpreendido pela porta sendo aberta de repente. O garoto arrastava duas malas marrons de rodinha, sendo uma bem grande e a outra nem tanto, e em suas costas uma mochila branca que se fechava com laços em vez de zíperes. Ele havia notado Jay ao entrar, mas o cumprimenta apenas depois de se virar e fechar a porta.

— Hey, bom dia. Parece que já cheguei tendo um colega de quarto. Fiquei com medo de chegar aqui e ter de ficar um tempão sozinho, hehe. Eu me chamo Jonas e você? — Ele comenta amigavelmente, com um tom de piada e sorri no final. Escolhera um dos outros quartos restantes sem muito rodeio, já que eram todos iguais, e logo em seguida abria as malas para começar a guardar suas coisas em seu novo armário. Assim como Jay, Jonas era um garoto alto, mas não tanto, de cabelos brancos e ouriçados, porém com expressões completamente diferentes. Enquanto Jay tinha um rosto emburrado e sobrancelhas sempre franzidas, Jonas tinha uma fala tranquila e bastante educada e carregava um sorriso amigável no rosto. Em ambos os pulsos tinha diversas pulseiras de cores variadas com frases as quais Jay não conseguia ler daquela distância.

— Hum, é! — Jay responde sem vontade e o encara de cara feia quando ele entra de surpresa no quarto. — "Esse idiota mal chegou e já está dizendo que tem medo de ficar sozinho? Eu preferiria mil vezes ficar sozinho a ter que dividir um dormitório com esse merdinha." — Sem se preocupar em parecer rude, Jay o ignora ainda no meio da frase e volta a mexer em seu celular sem se apresentar para ele.

Jonas nota a grosseria e desinteresse de Jay em se comunicar, decidindo deixá-lo em paz na companhia de seu celular enquanto continua a arrumar os pertences em sua mala no armário. Antes de o garoto terminar de arrumar suas coisas Jay decide sair do quarto, ainda calado, para não ter de correr o risco de ele iniciar outro papo depois da arrumação.

Jay desce pelas escadas do prédio do dormitório que estavam mais cheias do que nunca. Com alunos novos e veteranos, altos e baixos, gordos e magros, conversando pelos cantos ou até mesmo nas próprias escadas com suas mochilas ainda nas costas e malas nas mãos, como se preferissem colocar o papo em dia e se conhecerem melhor antes de arrumar as coisas no quarto. Enquanto descia conseguia ouvir parte das conversas de amigos que não se viam desde o semestre passado e também novas amizades que se formavam agora em outras conversas. Estavam todos tão animados que Jay consegui sentir a alegria no ar, o que lhe causa um leve arrepio e o fazia passar as mãos nos pelos dos braços.

— "Não vou me contagiar com essa idiotice. Caçadores precisam lidar com monstros e esses risinhos bobos não vão ajudar em nada." — Ele continua descendo, agora com mais pressa. Ao finalmente chegar no térreo acaba esbarrando em um rapaz na porta de entrada do prédio que tentava entrar ao mesmo tempo em que Jay tentava sair.

— Au! Cuidado, cara. Anda sem pressa, o colégio está cheio hoje. — Diz o garoto com cabelos escuros presos em um pequeno coque atrás da cabeça. Assim como vários outros alunos que chegavam hoje ao colégio ele carregava malas consigo.

— Cuidado você, porra! — Jay grita frustrado e o olha com uma feição extremamente irritada, empurrando-o de propósito dessa vez, seguindo em frente para fora do prédio dos dormitórios e indo em direção ao Bloco A.

O garoto não cai com o empurrão de Jay, mas se desequilibra em alguns passos para trás. Tanto ele quanto outros ali perto encaram Jay indo embora de forma confusa e indignada com a sua reação.

— "Idiotas. Eu não quero ninguém no meu caminho. Com o tempo eles vão aprender a me respeitar como o melhor caçador do colégio e sair da droga da minha frente." — Pensava furiosamente e ao mesmo tempo ansioso se imaginando no lugar de destaque o qual se achava merecedor.

Já dentro do Bloco A seguia para o refeitório para tomar o café da manhã do colégio ainda dentro do horário. Não queria ter de gastar seu dinheiro com comidas de lojas privadas.

O ambiente no refeitório não era muito diferente do que vira nos corredores e escadas do prédio de dormitórios. Os alunos, veteranos e novatos, se reencontravam e conversavam uns com os outros, compartilhando as alegrias e experiências que tiveram durante as férias. Com o refeitório lotado fora difícil para Jay encontrar uma mesa para se sentar sozinho e pouco tempo após se sentar uma dupla de amigos aparece para dividir a mesa com ele.

Insatisfeito, Jay arranca com força mais um pedaço de seu sanduíche e se levanta para continuar comendo enquanto caminhava para fora dali. Mais uma vez, em seu constante e tedioso déjà vu, Jay decide caminhar pela cidade já que as quadras de treino do colégio provavelmente estariam cheias de amigos contentes conversando sobre suas férias encantadas.

Ao meio dia ele já estava farto de tanto caminhar por aquela cidade que já conhecia de cima à baixo e resolve retornar ao colégio para almoçar e em seguida voltar ao seu quarto, mesmo que tivesse de aturar um colega de quarto chato e fracote.

De barriga cheia pelo delicioso almoço que tivera no refeitório, o rapaz zangado sobe de volta ao seu quarto. Já estava começando a se familiarizar com os caminhos daquele colégio, caminhando automaticamente pelas direções corretas ainda que sua cabeça estivesse distraída com outros pensamentos. Chegando lá ele se surpreende mais uma vez. O terceiro, e felizmente último, aluno que estaria usando aquele dormitório havia chegado durante sua ausência e pior... estava conversando animadamente com Jonas, fazendo-o pensar o quão chato seria ter de aturá-los conversando um com o outro ao longo do semestre, já que as cortinas que separavam os quartos talvez não fossem o suficiente para abafar todo o bla-bla-blá que seria produzido ali.

— Ali está ele, Wenner. Este é o nosso colega de quarto o qual lhe falei. — Jonas avisa ao garoto com quem conversava, apontando para Jay. — Ele acordou mal-humorado, mas espero que agora possamos nos conhecer melhor. — Novamente ele exibe mais um sorriso simpático, na intenção de animar as coisas e criar uma integração entre os três.

— Ah, mas nem fodendo! Só pode estar de brincadeira. — Reclama Jay Hosen enquanto franzia as sobrancelhas e tombava a cabeça para o lado, vendo que seu mais novo colega de quarto era alguém que conhecera mais cedo . O idiota desatento o qual se esbarrara na saída do prédio no início da manhã.

Wenner, o garoto de cabelo escuro e preso com um relógio aparentemente caro no pulso, o encara com uma expressão séria, quase tão descontente quanto a de Jay, embora parecesse evitar sinais de hostilidade. Nenhum dos dois se cumprimenta, apenas se encaram por alguns segundos até que um se cansa do rosto do outro. Jay fecha as cortinas de sua parte do dormitório e se joga em sua cama como um meteoro, sem se preocupar em tirar os sapatos, e saca o celular do bolso para ter algo com o que se distrair que não fosse seus colegas de quarto.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado por ler :)
Se você gostou não esqueça de votar e deixar um comentário.
Siga a página do Colégio Basílius do Facebook para informações e curiosidades.

https://www.facebook.com/colegiobasilius/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colégio Basílius" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.