Colégio Basílius escrita por ericrj05


Capítulo 2
Prólogo - As Fendas




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JUAN

Paris

Pouco mais de 15 anos atrás

As ruas estavam frias, escuras e sem vida, totalmente diferente do habitual da encantadora cidade luz de algumas horas atrás.

Quando Juan chegou na rua do teatro não pôde acreditar no que via. Dada a profissão que tinha já estava acostumado a ver cenas ruins, mas aquilo estava muito pior que o padrão. Dezenas de corpos humanos mortos, cobertos de sangue, muitos deles feridos por mordidas ou arranhões de criaturas que deveriam ser enormes. Partes do corpo faltando, membros separados dos corpos e largados a metros de distância e partes de carne mastigada que não podiam nem mesmo ser identificadas. Alguns corpos estavam pálidos, com veias enegrecidas em destaque por todo o corpo e olhos brancos e vazios arregalados. Um ataque de monstros havia acontecido ali e os escombros dos prédios e outras estruturas que desmoronaram durante o ataque estavam por toda a parte, como se espalhados por uma explosão e embaixo dos destroços, mais corpos.

A rua estava literalmente sem vida, com exceção da equipe de investigação que chegara há pouco. Embora houvesse faixas de restrição de acesso por todo o lugar, não haviam curiosos corajosos ou sem noção o suficiente para chegar perto dali, nem se intrometer nas investigações no local ou testemunhar sobre o que acontecera. Qualquer vida que esteva ali perto no momento do ataque certamente foi extinguida.

— Estas coisas estão ficando cada vez mais frequentes... e cada vez piores. — Juan comentava para si mesmo antes de se voltar à sua equipe — Procurem por sobreviventes, sejam eles humanos ou não. Enquanto isso eu preparo o campo de reprodução para sabermos melhor o que houve e impedir este local de se tornar uma aberração o quanto antes. Estou surpreso de ainda não ter se tornado uma, dada a gravidade da situação. — Confuso com algo ele esfrega os dedos na fina barba que voltava a nascer em seu queixo. Juan tinha uma pele morena e músculos não muito bem definidos, que não o fazia parecer magro e nem forte. Embora fosse um homem adulto, ainda era jovem se comparado ao restante da equipe a qual liderava.

Juan e qualquer um dos outros em sua equipe podia sentir a total ausência de vida naquele lugar, mas por obrigação tinham de procurar por possíveis sobreviventes. Enquanto parte da equipe buscava cautelosamente por sinais de vida, Juan montava um campo de energia ao redor do local do incidente. Quando a busca é encerrada sem nenhum resultado positivo o campo é ativado e uma camada de energia azul e branca começa a subir e cobrir o local em um gigantesco domo.

Dentro do domo de energia, após seu total fechamento, o terrível cenário da tragédia começa a desaparecer e então é substituído por imagens de energia azul e branca da mesma cena, como um holograma. As imagens de energia começam a se mexer, fazendo as reproduções das pessoas mortas começarem a se mover, saindo do total estado inanimado de morte para movimentos de agonia, alguns tremiam, outros seguravam suas feridas ou tentavam sair de baixo das rochas que os amassavam, era possível ver todos chorando e gritando, mas a reprodução não tinha som para que fossem ouvidos. Pedras de escombros começam a se mover e a subir, flutuando de volta para seu local original e reconstruindo as estruturas destruídas, todo o estrago começa a se desfazer e retornar ao que era antes, mais rápido do que os olhos podiam acompanhar. Juan usava os resquícios de energia daquele lugar para rebobinar a cena de tudo o que acontecera ali até que a cena do resultado caótico do ataque se transforma em uma rua animada, com pedestres caminhando com expressões alegres, bicicletas indo e vindo, de volta à bela vida noturna cotidiana dali.

Com um estalar de dedos Juan pausa a reprodução que retrocedera até um momento de normalidade e com outro estalar ele faz a cena começar a seguir em frente, em velocidade natural, para que ele e sua equipe pudessem assistir tudo o que acontecera horas atrás e identificar onde, quando e como tudo foi iniciado. A rua estava movimentada, nos períodos de final de ano a cidade era sempre vibrante e cheia de energia. Pedestres, carros e bicicletas iam e viam por todos os lados. Algumas pessoas caminhavam cheias de bolsas de compras, outras apenas com um copo de café na mão. A rua estava muito bem iluminada, com lojas adornadas com luzes brancas e folhas verdes, até mesmo as árvores se vestiam com colares de lâmpadas que piscavam. O teatro daquela rua estava atraindo bastante gente naquela noite e isto também dava vida a todo o entorno para que famílias e grupos de amigos pudessem se divertir nas companhias uns dos outros em praças e bares.

A equipe de investigação assiste pacientemente a reprodução da cena,procurando por detalhes como pessoas ou movimentações suspeitas,até que um clarão púrpura ilumina o céu, seguido por um tremor. — Um relâmpago? — Dizia Juan olhando para cima, deduzindo o que aquela luz poderia ter sido, já que o limite de altura do domo não chegava a reproduzir o céu. As pessoas se assustam com o tremor. Algumas caem, outras se apoiam no objeto ou amigo mais próximo e então se observam, com um olhar de susto e confusão, talvez tivesse sido um terremoto. Antes mesmo que os caídos pudessem se levantar, outro clarão seguido de outro tremor se manifesta e então outro e mais outro, diversas vezes seguidas. No último clarão e tremor, uma fenda se abre no ar bem alto, na altura aproximada de um prédio de dez andares e ao mesmo tempo uma ruptura tão grande quanto um caminhão se abre no chão da rua, engolindo as pessoas que estavam mais perto e não puderam reagir rápido o suficiente para se afastar.

A reprodução, em tons de branco e azul, começa a se tornar escura, com tons de cinza e reflexos em vermelho. Criaturas escamosas e aladas surgem da fenda aberta no alto e outras rastejantes saem do subsolo através da ruptura no chão. Todas se movimentando furiosamente em direção às pessoas, atacando-as enquanto se desesperavam e começavam a correr para onde quer que fosse, mas independentemente de para onde corressem, ninguém conseguia evitar ser atacado mais cedo ou mais tarde. Hordas de criaturas continuavam saindo tanto do céu quanto do chão, atacando a todos que encontravam, mastigando-os, carregando-os para o céu e soltando-os de volta ao chão para fazê-los amassar com o impacto ou arrastando-os para as profundezas do subsolo. As lojas foram invadidas pelas pessoas em busca de abrigo, assim como os bares, os restaurantes, mas as portas, as grades de ferro e as paredes de concreto eram destruídas pelos monstros como se fossem de vidro.

Na rua, uma mulher corajosa protege a si e seu filho de serem atacados por uma daquelas coisas no momento da investida, criando ao seu redor uma barreira mágica. Em sua mão direita ela segurava um cetro e após se defender com a barreira ela expele o monstro para longe. A atenção dos outros monstros se volta para ela, que decidem atacá-la em bando. Sua barreira lhe protege novamente por alguns segundos, mas então ela se quebra com o excesso de golpes simultâneos recebidos dos diversos monstros, que a devoram com violência, brigando egoistamente para conseguir um pedaço de seu corpo e com a criança não foi diferente.

Do alto de um poste, uma flecha é disparada para dispersar os monstros que se amontoavam nos restos que antes foram uma mãe e um filho. A flecha congela uma criatura ao contato, bem como uma pequena área do solo ao redor, fazendo com que ficasse presa e os outros se afastem,mas enquanto preparava uma segunda flecha o jovem que estava no alto do poste é agarrado e levado pro céu por uma das criaturas aladas.Outra criatura, cheia de inveja, tenta roubar o jovem para si e numa disputa de cabo-de-guerra entre os monstros, acabam por partir o  garoto ao meio e logo perdem o interesse pelo corpo partido,deixando-o cair enquanto voavam em busca de outra presa.

A equipe de investigação assistia pacientemente, sem expressar espanto, mas uma sobrancelha franzida aqui e uma boca torcida ali demonstravam um pouco de desgosto ou indignação em seus rostos. De vez em quando alguém anotava algo do que vira em um bloco ou prancheta, guardando registros. Juan caminhava pela cena vendo tudo de perto, as vezes pausando, retrocedendo ou avançando, atrasando ou acelerando a reprodução para conseguir bons detalhes.Era como se estivesse dentro de uma realidade virtual.

O massacre continua, até que uma rajada de luz dourada cai de forma bruta naquela rua, como um cometa. O impacto da queda do que quer que tenha caído ali empurra e desequilibra os monstros e os mais próximos são queimados pela luz, fazendo com que suas peles escamosas evaporassem até que desaparecessem completamente. Quando a luz se dissipa, a silhueta de um homem adulto salta do local de impacto atacando as criaturas rastejantes mais próximas. Todo seu corpo estava coberto por uma forte energia dourada.

Os seres vis se desintegravam com apenas um golpe de seus punhos, cobertos por uma forte massa de energia, e depois de limpar uma quantia considerável de monstros no solo ele salta ao ar para atacar os monstros alados, golpeando-os um após o outro, impulsionando-se no próprio ar ou em outros monstros após cada golpe sem precisar retornar ao chão.

Assim como foi feito com os outros que reagiram com algum tipo de habilidade mágica, as criaturas voltaram sua atenção para ele,decidindo atacá-lo em bando. No momento da emboscada ele se protege com um escudo de energia dourada ao seu redor, resistindo à alguns ataques. Depois de sua barreira receber alguns golpes ele a explode,fazendo com que a energia liberada no estouro queime e afaste todos os monstros que lhe rodeavam.

Ao se livrar daquele grupo de monstros que o amontoava ele parte para cima de outros, que recuam e decidem parar de atacar, como se soubessem que enfrentá-lo seria em vão e então, com os rostos voltados pra cima, parecem começar a uivar numa espécie de chamado. O homem dourado os observa com estranhamento por algum tempo, até que por sua expressão ele parece se dar conta de alguma coisa e ao olhar para cima vê algo que o espanta, mas seja lá o que fosse não estava em altura suficiente para que fosse reproduzido no domo.

Ao ver o que quer que aquilo tenha sido, o homem corre imediatamente para dentro do teatro na esquina, deixando um rastro de luz dourada no caminho que se tornava mais intenso a cada passo. Poucos segundos após sua entrada no teatro, feixes de luz dourada radiam pelas portas e janelas do estabelecimento, mas são rapidamente ofuscadas por uma forte e intensa luz vermelha que vinha do céu e ilumina todo o domo, fazendo com que toda a equipe de investigação cobrisse os olhos instintivamente por um tempo. Quando a luz vermelha se desfaz,gradativamente, todos os monstros haviam desaparecido. Os mortos continuavam como estavam e os que estavam vivos, feridos e chorando em agonia haviam morrido depois do clarão de luz vermelha. Prédios se racham e se destroçam como se a luz tivesse danificado suas estruturas, caindo aos pedaços no chão e em cima dos corpos. O mesmo acontece com o teatro que se despedaça em ruínas vazias, mas sem vítimas no interior.

A reprodução continua por um tempo, mas nada de novo acontece, fazendo com que a cena parecesse uma imagem fria e congelada. A equipe continua assistindo a cena ociosa por mais algum tempo,esperando para ter certeza de que mais nada aconteceria a partir dali e quando julgam que haviam assistido o suficiente começam a discutir sobre o ocorrido.

A energia de luz que reproduzira as cenas dentro do domo começa a se dissolver e se concentrar numa pequena esfera na mão de Juan, do tamanho de uma maçã. Quando toda a energia é absorvida, a equipe estava de volta ao local do incidente em sua versão original e a esfera de Juan, que absorvera a reprodução de energia, se parecia muito com um globo de neve, uma versão portátil de um ambiente real.

O grupo discorre sobre o que acabaram de ver e no meio da discussão sobre o ocorrido uma das investigadoras manifesta indignação.

— Uma equipe investigou ontem um incidente resultante de fendas iguais à estas e hoje já temos um outro caso do mesmo. Seja lá o que estiver causando estes desastres, está ficando cada vez mais intenso e não teremos condições de continuar suportando esse tipo de ataque senão descobrirmos logo como prevê-los. Nesse ritmo como saberemos senão haverá outro ataque deste amanhã e onde?

— O conselho tem de fazer alguma coisa sobre isso. Estou farto de esperar toda a desgraça acontecer e só poder tomar providências depois de já estarem todos mortos. — Diz outro membro da equipe de investigadores, que é respondido por Juan. — Ao menos um caçador competente apareceu para tentar dar conta da situação, embora tenha sido muito pra ele.

— Hei,mais respeito com os mortos! — Exclama Juan, irritado com a colocação de seu colega de trabalho que de certa forma menosprezava o esforço dos caçadores que apareceram na reprodução tentando reagir sem sucesso. — Sei que estão todos muito indignados, mas nós sabemos que o conselho está escasso de bons caçadores. Vamos fazer nossa parte e tentar entender como surgem estas fendas. Precisamos descobrir como estas coisas chegam aqui para que tenhamos um tempo de reação forte o suficiente para evacuar os civis e combate-las caso aconteça de novo ou até mesmo impedir a chegada delas. — Ele para de falar por um instante, respirando bem fundo enquanto guarda o globo no bolso antes de dar a última ordem.

— Vamos levar o que coletamos ao laboratório e trabalhar nisto logo. A Equipe B ainda tem muito trabalho a fazer aqui. Antes de partirem ele dá uma última olhada no desastre ao seu redor com um aspecto desanimado e reclama em voz baixa para não ser ouvido, com a mão na frente do rosto. — Esta droga está realmente saindo do controle. Eu deveria mesmo ter me formado em arquitetura. — Ele lamenta cansado, antes de transformar seu corpo em uma massa de energia azul que salta para longe dali como um cometa.



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Notas finais do capítulo

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