Sono Eterno escrita por Nat Rodrigues


Capítulo 8
Dúvida que corrói


Notas iniciais do capítulo

Oi pessu ♥ Queria agradecer aos últimos comentarios, me deram um combustivel q vcs n imaginam!! Alterei um coisa no final do capítulo, fiquem atentos. Boa leitura!



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O caminho até a Floresta Proibida não foi fácil para nenhum dos dois grupos, apesar dos motivos diferentes. Mary, Melanie e Ian foram parados duas vezes, e, em uma delas, Ian precisou usar o feitiço confundus em um auror, para que passassem por ele sem levantar mais suspeitas. Já Lisbeth, Dara e Elizabeth, por seguirem por um caminho mais longo, próximo ao lago, não foram interrompidas por ninguém, porém, na metade do percurso, perto de uma das maiores torres do castelo, Dara parou de andar abruptamente, encarando um ponto branco entre as folhagens.  

— Figo? - Murmurou para si mesma, indo em direção ao ponto branco.

— O que você está fazendo? Precisamos chegar logo na floresta, antes que algum professor nos veja. - Elizabeth a repreendeu. Estreitou os olhos para a direção que a lufana ia, e acabou por segui-la. Lisbeth apenas deu de ombros e foi até elas. 

— Essa coruja… - Dara abaixou-se. O ponto branco na verdade se tratava de uma bela coruja de penas brancas e cinzas. O bico pontiagudo estava arranhado e as patas escuras, como se alguém (ou algo como um ácido) tivesse queimado sua pelagem. — É Figo, a coruja do Ian. Ela está morta? - Indagou confusa. — Ian vai ficar arrasado quando descobrir… - Lamentou-se. 

— Do Ian? - Lisbeth perguntou. Levantando a cabeça, observou melhor o local. — Mas essa é a torre da Grifinória. - Indicou apontando para o alto.

Elizabeth sentiu sua respiração travar. Pelas marcas no animal, ele pareceu morrer agonizando, como se estivesse envenenado. Lembrou-se que a conclusão que chegara junto de Melanie era que o veneno inicial poderia estar impregnado nas cartas, assim, faria sentido a coruja se contaminar e também morrer. Mas, se isso fosse verdade… Como a coruja teria sobrevivido a primeira carta, mas não a segunda? Além disso, se Figo pertence a Ian… Seria ele o assassino? Mas porquê? Ele nunca aparentou ser alguém violento a esse ponto, ou mesmo se parecia com um assassino. Mas julgar pelas aparências não era válido ali, afinal, assassinos não andam com placas escritas “ei, gosto de matar pessoas”; se basear nisso seria estupidez. Nenhum motivo parecia bom o suficiente para levar o garoto a fazer isso, nada disso parecia plausível. Ele estava ajudando nas buscas ou só estava junto para atrapalhá-las? E onde estaria a ligação dele com o Anhangá? Eram muitas dúvidas, como peças de um quebra-cabeça que não se encaixam, formando uma figura dismórfica, irreconhecível. 

Seria também Ian alguém dismórfico e irreconhecível? Para descobrir, Elizabeth precisava ir até ele, mesmo que isso custasse sua vida. Afinal, outras cinco garotas corriam esse mesmo risco e só ela sabia parte da verdade.

— Não podemos perder mais tempo aqui, vamos. - Elizabeth chamou apressando-as. Ponderou se devia ou não contar o que descobriu, mas... Até que ponto confiar? Nada garante que Dara ou mesmo Lisbeth não sejam cúmplices.

Apesar de contrariada, Dara deixou Figo onde estava e as garotas voltaram a se encaminhar para a floresta. A situação aumentou a perturbação que Dara sentia. Mesmo não tendo todas as informações que Elizabeth tinha, a lufana era uma das mais próximas a Ian e era notável como o comportamento do veterano estava diferente de uns tempos para cá. Mas, com tantas coisas acontecendo, e todo o clima diferente da escola, era normal ele não estar o mesmo, já que ela mesma não se sentia igual. Entretanto, Dara estava mais ativa, protetora e preocupada, já ele, parecia cauteloso e de certa forma abatido. Será que já sabia do estado de sua coruja, e por isso negara a ideia de mandar uma carta na noite anterior? Precisava encontrá-lo para tirar essa história a limpo.

Um tanto quanto alheia às preocupações das duas garotas, Lisbeth tentava acompanhar o passo até a floresta, mesmo que seus pensamentos estivessem tomados pela ideia dos colegas terem descoberto sua origem, e, até então, não terem feito nada com essa informação. Passou tanto tempo escondendo isso de todas as formas que era estranho ver que isso não parecia ter relevância. De certa forma, com as mortes e o desaparecimento de outra aluna, realmente essa questão foi deixada em segundo plano. Então, porque a própria Lisbeth não conseguia se desfazer disso? Conhecendo a sociedade bruxa, como conhecia, era seguro achar que não sofreria preconceito daquelas pessoas? Não, não era. Por isso, seguia junto deles. Havia sim a motivação de descobrir quem estava por trás das mortes, e também a possibilidade de salvar Fernanda, mas Lisbeth ponderava suas escolhas colocando a si mesma como centro. Afinal, se não fizesse isso por si mesma, ninguém mais faria. E foi pensando nisso que quase correu de volta para o castelo quando seu grupo chegou à entrada da Floresta Proibida. 

O céu limpo e luminoso não chegava até a floresta. Suas árvores altas e densas, impediam os raios solares de adentrar, tornando o ambiente escuro e úmido. Os galhos retorcidos de algumas árvores pareciam trazer faces em agonia ou membros do corpo distribuídos aleatoriamente, como se alunos desobedientes que invadiram a floresta ficassem presos em sua entrada como um severo aviso de “Não Entre”. Aliado a isso, o barulho que o vento fazia ao passar pelas folhas se assemelhava a um uivo triste; isso, se não fosse um lobo ou mesmo um lobisomem andando perto dali, já que a floresta abriga diversas e perigosas criaturas. Até mesmo o odor que a floresta transpirava aparentava um alerta, tendo uma mistura de diferentes ervas e sangue, parecido com o cheiro deixado por Anhangá quando invadiu o salão comunal da Sonserina. A lembrança fez a respiração de Lisbeth se acelerar, assim como seus batimentos cardíacos; os olhos raivosos e quentes da criatura eram vívidos em sua memória, como se ele ainda estivesse na sua frente. Pelas pesquisas que o grupo fizera na biblioteca, Anhangá era um espírito livre, mas que poderia ser invocado a depender do bruxo que realizava o chamado. E, estranhamente, sua energia irradiada a lembrava de Fernanda, mas não queria pensar nisso nesse momento. Adentraram a densa floresta, e seu corpo começou a tremer involuntariamente. 

— Precisamos ir nessa direção para encontrar os outros… - Dara apontou para o oeste. O chão estava coberto pelas folhas caídas do outono, ao ponto de não verem onde pisavam, o que era uma desvantagem caso se perdessem. 

Não era a primeira vez que Dara invadia a Floresta Proibida; sua mãe era herbologista e o pai especializado em trato das criaturas mágicas, o que a fez entrar em contato desde pequena com esse universo natural, tendo sempre um encanto especial por isso. Quando mais nova, no primeiro ano que frequentava Hogwarts, acabou se envolvendo numa discussão e como detenção foi até a Floresta Proibida ajudar o professor Neville Longbottom a procurar uma planta específica, que só nascia ali; o intuito do castigo era assustar, mas Dara deslumbrou-se com a diversidade da flora e da fauna ali presentes, e desde então dava um jeito de ir até lá, sem ser vista. Ainda não conseguira formar um mapa do local, mas ao menos sabia se guiar.

Por um momento, o som do vento cessou e as três garotas só conseguiam ouvir o farfalhar das folhas que pisavam, acompanhado do murmúrio que Lisbeth repetia baixinho para si mesma como um mantra “eu não quero morrer, eu não quero morrer, eu não quero morrer…”. 

Até que um grito rouco assustou-as. 

— O que foi isso? - Lisbeth perguntou alarmada. Alguns vultos de animais passaram por elas, como se fugissem de onde viera o barulho. As três se olharam preocupadas e sacaram suas varinhas, ficando em posição para se defender. Porém, logo mais ouviram vozes conversando. 

—… Você está bem? Eu não vejo nada. - Parecia-se com a voz de Mary. 

— T-tem um… Cava-valo… - Dessa vez, era uma voz masculina como a de Ian. 

Com um aceno de cabeça, Dara, Elizabeth e Lisbeth foram até as vozes. Realmente, lá estavam Melanie, Mary e Ian. O garoto estava caído no chão, com um corte em sua perna, como se tivesse se machucado com uma armadilha para ursos, e, junto ao grupo de alunos, três testrálios adultos os observavam, curiosos. 

Mon Dieu*! - Lisbeth murmurou apontando a varinha para a perna de Ian. Sangue escorria em abundância, e a perna estava suja de folhas, assim como sua roupa.

— Você caiu em uma armadilha? - Elizabeth perguntou desconfiada. Mas o garoto não parecia se importar com isso, sua atenção voltada para os animais adiante. 

— Estávamos indo encontrar vocês… - Melanie começou a falar. Em sua mão, um pedaço de tecido, que parecia ter sido arrancado de sua saia. — Mas nos atrasamos aqui. Acho que tinha algum tipo de alucinógeno na armadilha, porque Ian insiste em falar sobre cavalos, sendo que estamos sozinhos. - Terminou de explicar fazendo uma atadura para estancar o sangue. 

— Eu… Não estou alucinando! - Ian se defendeu. A voz saiu rouca e assustada. Os olhos ainda fixos nos animais. — Eles são esqueléticos, a pele é escura e tem asas parecidas com a de um morcego… Se parecem com…

— Testrálios. - Dara completou sua fala, com um sorriso triste enquanto observava os animais. Dali, ela e Ian pareciam ser os únicos a poder vê-los. E, em verdade, isso era o que mais assustava Ian: estar enxergando-os. 

Testrálios são conhecidos como símbolos da jornada entre a vida e a morte, já que apenas aqueles que já presenciaram a morte e a elaboraram, ou seja, tiveram um entendimento emocional sobre a perda, são capazes de vê-los; apesar da aparência melancólica, são animais dóceis e fiéis. Um grupo grande desses animais habita a Floresta Proibida, além de ser também aqueles que puxam a carruagem que leva os alunos da estação de trem até a escola. Entretanto, por sua peculiaridade, poucos são aqueles que percebem sua presença.

— O quê? - Mary perguntou confusa.

— São animais visíveis apenas a quem já viu a morte. - Elizabeth respondeu séria. Havia estudado sobre eles, mas não era capaz de vê-los. Sua varinha estava empunhada, e parecia analisar a situação com cuidado, os pensamentos num emaranhado de possibilidades. 

— Ah… Sinto muito. - Melanie pediu ajeitando os óculos com certa vergonha por ter julgado a situação. Ajudou Ian a levantar, enquanto Mary se abaixava para ver a armadilha. 

— Eles não vão fazer mal, só estão curiosos. - Dara argumentou. — Podemos seguir, se sua perna estiver bem, Ian. 

Antes que o garoto pudesse responder, Elizabeth virou-se para a lufana e com certa raiva contida na voz, impôs: 

— Explique porque consegue vê-los. 

— O-o quê? - Dara atrapalhou-se, sem entender a situação. De imediato Melanie achou insensível a forma que a sonserina perguntou sobre algo tão pessoal, mas arregalou os olhos quando entendeu a linha de raciocínio usada por Elizabeth. 

Obviamente assassinos já presenciaram a morte. 

— Quem você viu morrer? - Lisbeth questionou. Apesar de não ter a raiva que Elizabeth tinha, ou as mesmas suspeitas, estava realmente curiosa sobre a situação. Dara se sentiu acuada; morte nunca foi um assunto fácil para si, principalmente uma tão simbólica como a que proporcionou a visão dos animais. Os olhares acusatórios e intimidadores também não ajudavam para que se sentisse mais à vontade, além da varinha apontada para si como uma ameaça. 

— Minha avó… - Disse num fio de voz. — Ela morreu antes que eu pudesse vir para Hogwarts, mas eu só consegui ver os testrálios ano passado. Eu… Era muito ligada à ela, e foi difícil entender que a perdi. - Finalizou e suas palavras transpareciam sinceridade, assim como a lágrima solitária que desceu por sua face. 

— E você? - Elizabeth manteve a postura rígida ao se direcionar para Ian, a varinha posicionada para atacar a qualquer momento. O rosto de Ian estava pálido, e a fisionomia assustada deu lugar a uma cansada. Fechou os olhos, numa expressão de dor e sua respiração ficou pesada. 

— Você está bem? - Mary perguntou preocupada. Havia percebido que apesar da armadilha parecer antiga, tinha uma camada de alguma substância verde entre os dentes que penetraram a pele do garoto. 

— Eu perguntei o porquê você consegue vê-los. - Elizabeth foi inflexível. Aproximou-se do lufano, deixando sua varinha a um palmo de distância apenas. 

A tensão gerada no ambiente era grande como  um campo de quadribol. A insistência de Elizabeth fez com que Dara e Lisbeth se lembrassem da coruja morta, próxima a torre da Grifinória, gerando suspeitas ainda maiores. A ideia que antes parecia irreal, ganhava tons de realidade. Com certo nervosismo, as garotas passavam seu olhar de Ian para Elizabeth, esperando o desfecho daquela situação. 

— Vai me atacar se eu não responder? - Ian desafiou. Firmou seu olhar na sonserina. Elizabeth perdeu a compostura, já que não era essa a resposta que esperava. Ele estava assumindo a culpa dos assassinatos? 

Antes que pudesse tomar alguma atitude, Ian tornou a fechar os olhos, e seu corpo tombou para o chão, desacordado. 

— Ian! - Dara chamou, indo até o corpo do amigo. Mary, que estava ao seu lado, percebeu que a perna onde o garoto havia se ferido estava ganhando uma coloração esverdeada, como se estivesse apodrecendo. — Ian, você consegue me ouvir? - Dara voltou a chamá-lo, dessa vez segurando o rosto do garoto em seu colo. Mas não houve resposta. 

Elizabeth estava petrificada na posição anterior, com a varinha vacilando em sua mão. As dúvidas se pareciam com ácidos, corroendo seus pensamentos, com uma rapidez assustadora. Por mais que tudo apontasse para o lufano desacordado, ainda não parecia certo ou mesmo possível que ele fosse o causador da bagunça que acontecia em Hogwarts. E, agora, com ele desacordado, não teria as respostas que queria. 

— Precisamos levá-lo para a enfermaria, ou ele vai perder a perna! - Melanie argumentou. Lisbeth e Mary concordaram rapidamente, mas Dara e Elizabeth ainda pareciam relutantes. 

Era inegável que o que quer que estivesse junto da armadilha, era o causador do estado de Ian. Observando o machucado, e a forma que estava tomando, Dara tinha uma ideia do que poderia estar acontecendo. Lembrava-se de um dia, algum tempo atrás, em que conversava com Claire na biblioteca sobre as poções mais difíceis de se fazer e raras de se encontrar, e as duas ficaram certo tempo conversando sobre a poção Lignum Vitae, conhecida como “Árvore da Vida”, por ser uma forma de revertê-la, transformando a pessoa infectada em  diferentes tipos de plantas, a depender de como a pessoa foi em vida. Por séculos foi usada como punição entre os bruxos do Brasil, mas a mãe de Claire havia lhe contado que por sua complexidade de reversão, foi abolida. Parecia coincidência demais Claire não ter aparecido ainda, mesmo já tendo sido liberada das acusações, assim como Fernanda, e agora o lufano estar infectado com algo tão complexo e desconhecido, que só alguém com grande conhecimento em poções, poderia produzir. Se não encontrassem o antídoto a tempo, Ian poderia se transformar para sempre numa árvore. 

Alheia a essa preocupação, Elizabeth resgata na memória uma das últimas aulas de feitiço que tivera. Lembrava-se do professor explicando sobre legilimência e oclumência, feitiços ligados a conseguir ou impedir alguém de entrar em sua mente e ler seus pensamentos ou sentimentos, além de até mesmo conseguir projetar memórias falsas, e de como ficou praticando por dias, a fim de se tornar uma bruxa mais forte, que ninguém conseguiria manipular através disto. O exemplo dado pelo professor, serviu como um combustível amedrontador, já era um artifício usado por Voldemort durante a Segunda Grande Guerra bruxa, contra Harry Potter. Sabia que ainda não era capaz de impedir alguém de entrar em sua mente, e que muito provavelmente precisaria de mais prática para executar o feitiço perfeitamente, mas nada a impedia de tentar invadir a mente de Ian. Não sabia se havia um histórico de bruxos que se prejudicaram por fazer o feitiço sem ser um legilimente, ou mesmo que tiveram êxito, mas estava prestes a descobrir. 

— Alguns riscos valem a pena. - Decidiu em voz alta. As garotas olharam para ela, sem entender o que estava dizendo, mas isso não importava. Estava na hora de sanar suas incertezas.

***

Tradução do francês:

Mon Dieu: Meu Deus. 

***

Vidas correm perigo, e você só pode escolher um: Quem é o assassino? 

Ian, Claire, Fernanda, Lisbeth, Elizabeth, Dara, Mary.

Vidas correm perigo, escolha duas pessoas para salvar.

Ian, Claire, Fernanda, Lisbeth, ELizabeth, Dara, Mary, Melanie.


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Notas finais do capítulo

Pois é, essa é provavelmente a ultima vez que vcs votam, por isso, peço que escolham DUAS pessoas pra salvar hehe Mas estou curiosa mesmo é com as teorias que envolvem o assassino. Vc já tem certo quem acha q é? Alguma suspeita do q levou a começar as mortes?
Ansiosa pelas respostas e feliz por ter vc como leitor(a)! Beijão!



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