Sono Eterno escrita por Nat Rodrigues


Capítulo 7
Anhangá


Notas iniciais do capítulo

Oi pessu. Desculpe, fiquei um tempo sem aparecer pq desanimei kkk Mas emr espeito a quem ainda lê, vou terminar a história sim! Queria avisar que esse cap possui alguns gatilhos e qualquer semelhança com a realidade (confinamento, onde de ataques, preconceito) não é mera coincidencia uhashuashusa Boa leitura!



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Aviso de gatilho: violência

A noite já caíra sobre a escola de magia e bruxaria, tornando tudo tão breu quanto o futuro se parecia. A maioria dos alunos estavam confinados em seus salões comunais e dormitórios, enquanto os professores se revezavam entre reuniões e vigílias. Pela manhã que se seguiu, vinte bruxos designados pelo ministério da magia chegaram com a ideia de fornecer proteção aos alunos, entretanto, mais pareciam ser soldados prontos para entrar em combate ou maltratar qualquer bruxo que resolvesse sair da linha. 

Tornando o ambiente ainda mais desagradável, o silêncio pareceu preencher cada pedra do castelo. Um silêncio tão cortante quanto uma lâmina recém afiada, apontada para o pescoço de todos, causando um enorme desconforto. Durante as refeições, poucos eram os alunos que conseguiam se alimentar normalmente, sendo estes aqueles que vez ou outra soltava comentários sobre como já estava na hora de outro animal misterioso aparecer e acabar com a “escória” do mundo bruxo. Até mesmo os fantasmas pareciam ter se recolhido para algum canto do castelo, não aparecendo para importunar nenhum aluno.

 Hogwarts era como um retrato preto e branco. E, cada novo acontecimento, se assemelhava a um dementador, que vinha e sugava os pensamentos positivos. 

— Ian, eu não posso aceitar essa situação! Já vai fazer 24 horas que eles interrogaram Claire e Fernanda. Eu conheço a Claire, ela nunca teria feito algo assim de propósito… - Dara andava de um lado para o outro dentro do salão comunal da Lufa-Lufa. Não ter notícias de sua amiga a fazia ficar ansiosa. 

— De propósito não, porém… - Ian comentou com a voz baixa. Não acreditava que Claire fosse a assassina (principalmente porque, caso fosse, haveria dois assassinos diferentes na escola), mas não havia como negar que toda a situação deixou a garota como suspeita.

— Nós temos que investigar por nós mesmos. - Dara decidiu, ignorando a fala de seu veterano. — Podemos refazer os passos das meninas, ou tentar decifrar o que significa o próximo trecho da profecia. 

— Se formos fazer isso, temos que ter cuidado redobrado. Não podemos chamar atenção do assassino, nem de todos que vieram reforçar a segurança de Hogwarts. É… É muito arriscado. 

— Arriscado. - Dara repetiu sentindo um gosto amargo na boca. — Não posso perder mais amigos para esse assassino louco, Ian. Você tem uma coruja, certo? Vamos enviar uma carta para as garotas da sonserina, pedindo ajuda. - Decidiu enquanto pegava um pedaço de pergaminho e começava a escrever.

— Nos comunicarmos por carta é muito perigoso, já que é a única prova física que liga a morte das meninas. - Ian murmurou incomodado. Estava preocupado com sua colega de casa. Ela estava claramente agindo pela emoção, e isso poderia a por na mira das investigações, ou pior: Na mira do assassino. — E se uma das garotas da sonserina for o assassino? Temos que tomar cuidado. 

Com um suspiro cansado, e remexendo o cabelo azul em sinal de frustração, Dara concordou. Teria que esperar a manhã chegar para ir até a diretora Mcgonagall e perguntar por mais novidades. 

Enquanto isso, no salão comunal da Sonserina, os alunos haviam começado uma discussão séria, com duelos, sem se importar se algumas pedras de granito fossem destruídas com a potência dos feitiços lançados. Chegou a tal ponto que os professores logo se alarmaram e invadiram o local, para pôr fim ao que quer que estivesse acontecendo. Era quase nítido a linha imaginária que separava os alunos: aqueles que concordavam com as mortes e aqueles que achavam isso um absurdo. Elizabeth nunca havia se imaginado num cenário como aquele; sentia-se nauseada após ouvir seus colegas de casa falando e se não fosse pela intervenção dos professores, provavelmente teria saído do salão comunal para vomitar o pouco que havia conseguido comer no jantar. 

Após serem repreendidos, os alunos foram para seus dormitórios. Porém, a intervenção fora como jogar um pano molhado dentro de uma fogueira: apagou algumas chamas, mas o restante do fogo continuava a crepitar. Isso ficou claro quando, pela madrugada, Lisbeth invadiu o quarto de Mary e a arrastou até o espaço comum dos sonserinos. A espera das duas estava Philip Tribiane, sentado confortavelmente em um dos sofás de couro preto, enquanto brincava com sua varinha, passando-a entre os dedos, em aparente tédio. 

— Vocês cheiraram pó de flu, por acaso? O que pensam que estão fazendo? - Mary disparou irritada após Lisbeth indicar que ela devia sentar no sofá de frente para Philip. O garoto parou de brincar com a varinha e ajeitou a postura no sofá, encarando Mary com evidente interesse. 

— Você achou que eu não ia perceber? - Philip começou a falar com a voz carregada de desprezo. Mary sentiu sua respiração travar. — Pensa que eu esqueci o que fez comigo quando conversávamos com aquele inúteis da Lufa-lufa? Não, não. Você é uma criança, mas me estuporou perfeitamente. O que me fez avaliar suas habilidades, é claro. Não era a toa que tinha aceito você como aliada. Estou disposto a te perdoar, mas primeiro… Diga-me Mary Killian, de que lado estava durante a discussão mais cedo? 

Apesar de ter ideia sobre o que Philip falava, a cabeça de Mary estava uma confusão. Sentia-se ameaçada, e sabia que se não desse a resposta que Philip queria ouvir, levaria alguma punição. Ver que Lisbeth estava junto dele não ajudava a manter a garota mais calma, principalmente porque ela era uma das possíveis assassinas, e o olhar impaciente que depositava sobre Mary era incômodo. Porém, Mary sabia que sua aparência também incomodava em algum grau, principalmente aliada a personalidade “lunática” e “sombria” que tentava atribuir a si mesma, portanto, tentou usar disso para manter uma falsa postura calma. Não podia denunciar o medo que sentia em seu âmago. 

— Não acha um pouco desesperado me ameaçar pela madrugada? - Provocou. Lisbeth riu nasalado descrente com a ousadia da garota e o sorriso prepotente de Philip se desfez, dando lugar a uma face rígida. 

Sangue-ruim insolente. - Philip murmurou acertando a face de Mary com força. A garota ficou em choque com a agressão, perdendo toda a compostura. 

— Se… Se você já sabia, porque me perguntou? - Mary falou. Não fazia sentido ele perguntar sua opinião sobre a morte das garotas mestiças se tinha descoberto que ela era uma (e um possível alvo, levando em conta tudo que já acontecera).

— Não é óbvio? Temos um assassino a solta. Se for você, podemos te aceitar, apesar de seu sangue ser uma mistura vira-lata. - Lisbeth se pronunciou. Mary ofegou, descrente do que ouvia. 

— Vocês… Vocês são repugnantes. - Resmungou. — Eu sinto nojo de sermos da mesma casa. - Proferiu com lágrimas brilhando em seus olhos. Philip levantou novamente a mão para acertá-la, mas acabou deixando-a parada no ar, pois a porta do salão comunal foi aberta, revelando Fernanda Rolon. 

A sonserina estava com suas roupas amassadas e o rosto rígido, sem expressão. Apesar disso, uma aparente apatia era possível ser sentida ao observá-la. Seu rosto estava escuro abaixo dos olhos, como alguém que fica muito tempo sem dormir; os lábios, que outrora já foram cheios e rosados, estavam sem cor e com pequenas feridas; as mãos fechadas em punho, com tanta força que mesmo não tendo unhas grandes, machucavam a sua palma. Havia sido escoltada parte do castelo até ali após ser liberada das acusações, mas entrou no salão comunal da sonserina sozinha. Tudo que acontecera era muito irreal para si, nem mesmo quando descobriu o mundo da magia ficara tão confusa com todas as novas informações, quanto estava agora. A sede de vingança queimava em seu interior, mas o luto pelas vidas perdidas ainda falava mais alto, deixando-a triste. Ainda havia também os olhos flamejantes que vez ou outra sentia observá-la, mesmo que isso não fizesse sentido algum. Se deparar com a cena de dois colegas coagindo uma terceira assim que entrara, só fez com que a sensação de peso nas costas aumentasse ainda mais. 

— Fer-fernanda… - Mary gaguejou, e, aproveitando-se da distração de Philip, levantou do sofá e se afastou dos dois sonserinos com quem conversava antes. 

— Ora se não é a possível assassina… - Philip comentou colocando em seu rosto um sorriso frio. 

Lisbeth, porém, se sentiu acuada ao ver a garota. Apesar de não saber o porque, tinha medo de Fernanda. Mais de uma vez, enquanto observava seus colegas de casa pelo castelo, sentiu uma vibração diferente partindo dela, algo perigoso e quente como um carvão abrasado, e, apesar disso, toda vez que interagia com a veterana, Fernanda se mostrava gentil. As duas eram consideradas estrangeiras ali: Lisbeth vinha da França e Fernanda do Brasil, o que já dizia muito sobre não serem tão bem aceitas entre os ingleses. Mas, ao contrário do movimento de alianças que Lisbeth fazia para se manter protegida entre os alunos, tudo o respeito que Fernanda possuía, conquistara por ela mesma. Como que uma chama constante, que não tem medo de medir forças para continuar acesa. Vê-la abatida daquela forma era desconcertante; seu exemplo de força parecia fraco. Avaliou então que Philip e sua violência desmedida não eram justos, mas ao menos era uma forma de proteção. 

— O que aconteceu? - Fernanda perguntou. 

— Se foi liberada, é sinal que não encontraram provas contra você… - Philip ignorou sua pergunta. — Então você volta a ser lixo, igual essa aqui. - Completou colocando a mão no ombro de Mary e apertando com tanta força, que a garota se encolheu. 

O que se seguiu, Fernanda não soube explicar. Queria fazer o garoto engolir suas próprias palavras, ou mesmo fazer sua língua apodrecer, como uma lição para que ele entendesse que separar as pessoas por conta do sangue era estúpido, mas antes que pudesse tomar alguma atitude, um alto som de assobio perpassou por todo o salão, seguido da materialização de um estonteante veado a sua frente. Não se parecia com um feitiço patrono, já que os pelos do animal eram brancos e espessos como um dia intenso de neve. Seus chifres não eram como o de um veado comum, pois estavam cobertos do mesmo pelo branco, e ainda havia um cheiro forte de sangue que o acompanhava. O animal bufou para Philip, Lisbeth e Mary, que caíram no chão assustados. Depois, virou-se para Fernanda. Foi então que ela viu a quem pertencia os olhos flamejantes que vinham a acompanhando, e antes que pudesse formular qual criatura mágica era aquela, o assobio se repetiu, de forma mais aguda, fazendo os três sonserinos no chão fecharem os olhos com força e tamparem seus ouvidos. Quando o barulho cessou, não havia mais veado e nem Fernanda dentro do salão comunal. 

***

Assim que a manhã chegou, Dara e Ian rumaram para a sala da diretora. A lufana não conseguiu descansar nada, e indo até lá, sentia que ao menos estava fazendo alguma coisa; Ian a acompanhava para seguir as regras de que nenhum aluno deveria andar sozinho pelo castelo. Assim que viraram o último corredor, surpreenderam-se ao ver Minerva Mcgonagall conversando com Lisbeth Louviere e Mary Killian. As duas sonserinas pareciam energéticas enquanto falavam, mas Minerva não dava atenção. 

— Mas nós vimos! Existe realmente outra câmera secreta aqui em Hogwarts! - Mary insistiu.

— A senhorita Rolon já foi retirada das acusações, e o Auror Tribiane foi bem efusivo enquanto a avaliava. Inventarem que há outro animal mágico pelo castelo só vai atrapalhar as investigações. - Minerva foi irredutível. - Ainda mais depois de toda a bagunça que fizeram ontem em seu salão comunal. Querem perder mais pontos?

— Vocês já acabaram as investigações? Onde está Claire? - Dara interrompeu a discussão. Minerva suspirou cansada. 

— Senhorita Skhander ainda está sob avaliação, e isso é tudo que posso falar. 

C'est*… - Lisbeth começou a falar em francês por conta de seu nervosismo. — Isso é porque... O pai dela era um comensal da morte?! Injuste!* Os filhos não tem culpa das ações dos pais!

— Isso… - Minerva franziu a testa, surpresa pela sonserina saber dessa informação. — Isso não vem ao caso senhorita Louviere, senão a senhorita também estaria isolada para as investigações. Chega dessa discussão sem sentido, vão para suas aulas, todos vocês. - Deu o caso por encerrado, e saiu dali, deixando os quatro alunos sozinhos. 

Lisbeth se sentiu exposta. Não tinha conseguido dormir depois do que acontecera na madrugada, e por ela teria ido naquele momento avisar algum professor, mas Philip ameaçou ela e Mary a não contarem para ninguém o que tinha acontecido até que ele entendesse a situação (o que, se fosse realmente esperar, demoraria muito). As duas decidiram sair pelo amanhecer para não levantar suspeitas no garoto, mas não contavam com a falta de credibilidade que Minerva deu ao acontecimento; a baderna causada pela Sonserina na noite anterior era um dos principais motivos pela descrença em suas falas. E agora, mais pessoas sabiam sobre sua família ter se envolvido com Você-Sabe-Quem. Era um de seus maiores segredos, já que não pode frequentar as aulas na escola da França porque a rejeitavam; foi acolhida em Hogwarts, e investigou todos aqueles que também tinham ligação com ex-comensais da morte (daí descobrira sobre Claire), e viu como aqueles que todos tinham conhecimento do envolvimento eram maltratados e decidiu que não queria isso para si mesma, escondendo de todos. Estava tão concentrada na ideia de que agora seria atacada por isso, que demorou um tempo para perceber que Mary contava a Dara e Ian o que havia acontecido na noite anterior. 

— Um veado branco com olhos de fogo? - Ian repetiu a descrição tentando lembrar onde já tinha ouvido sobre isso. — Se parece com uma criatura mágica do Brasil, o Anhangá. 

— “Olhos flamejantes”.... Não tem um trecho da profecia que fala sobre isso? - Dara indagou.

— Merlim… O que você se lembra desse Anhangá, Ian? - Mary indagou. 

— Para ser sincero, quase nada. Mas conheço um livro na biblioteca que descreve melhor sobre as criaturas mágicas de cada país. 

— Vamos lá. - Decidiram e Lisbeth acabou por seguí-los. 

Poucos eram os alunos dentro da biblioteca, a maioria estava tomando café da manhã ou se preparando para a primeira aula do dia. Dois aurores guardavam as portas de acesso, e os revistaram antes de permitir suas entradas. Foi uma revista estranha, pois além de procurarem objetos afiados ou mortais, olharam em cada pequeno bolso, como se buscassem resquícios de ingredientes ou ervas, o que fazia sentido olhando para o parâmetro geral de que as duas alunas morreram envenenadas. Depois, os quatro se dividiram entre as enormes prateleiras, afoitos para encontrar alguma pista que fosse sobre o paradeiro de Fernanda -e, quem sabe, ajudar a poupar mais uma vida. O que não sabiam é que não estavam sozinhos nessa busca: Elizabeth também revirava os livros com a ajuda de Melanie Mempsy, a corvina que recitara a profecia de Lilith. 

Após toda a bagunça que os sonserinos causaram em seu salão comunal, Elizabeth não conseguiu ignorar a situação e seguir com sua vida (como fazia na maioria das vezes), já que as mortes e a tensão dentro da escola continuavam a atravessar seu futuro e a perturbar. Decidiu então juntar as informações que possuía e ir em busca de outras para dar fim a essa nova época de escuridão que assolava Hogwarts; para isso, lembrou que antes da morte de Lilith, a profecia havia sido dita e uma reunião entre os professores foi feita junto com a outra aluna envolvida nisso: Melanie. Não foi difícil encontrar a corvina no salão de refeições, já que era uma das únicas que possuía o cabelo longo loiro com as pontas esverdeadas, contrastando o verde do azul de seu uniforme, além da maioria dos alunos ficarem afastados dela, como se a garota fosse anunciar outras mortes. Isso deu espaço para que mesmo Melanie sendo de uma família puro sangue, começassem a se referenciar a ela de forma grosseira, além de dar apelidos sobre sua aparência, por usar óculos e ter o peso acima do que a sociedade bruxa impunha como ideal. Portanto, Elizabeth não precisou de muitos argumentos para a convencer a contar tudo o que sabia, para que pudessem procurar mais pistas, já que desde que recitou a profecia e soube da morte de Lilith, Melanie sentia-se conectada com a situação e ajudaria no que fosse possível.

Elizabeth sabia que Natalie havia perdido suas memórias, sido morta por envenenamento, e que os pontos que a ligavam a Lilith, eram: o terceiro ano, serem mestiças e as cartas. Melanie contou que Claire, sua companheira de casa e ano, estava sendo mantida com os professores não mais para as investigações, mas para proteção, já que se baseando nesses pontos anteriores, ela poderia ser um alvo, e acrescentou que Lilith também havia sido morta por envenenamento. Mas, o curioso da situação é que nas duas vezes as poções usadas foram a “Morto-Vivo”, que por si só apenas coloca a pessoa em estado dormente, o que exigiu o uso de outro tipo de envenenamento anterior. Isso fez Elizabeth se lembrar da situação que encontrou Natalie na grama, com sangue em suas roupas e a enfermeira explicando que a lufana ficara assim por aspirar algo tóxico e que se não a tivessem levado até a enfermaria, ela provavelmente teria morrido antes. Com isso chegaram a uma única conclusão: As cartas recebidas vinham com o veneno inicial, que depois de aspirado se alastrou no corpo das garotas, deixando-as debilitadas, e a poção “Morto-Vivo” vinha como complemento, impedindo o corpo de reagir e se curar, causando suas mortes. Constatar isso as deixou enojadas e tristes, pois evidenciou que as mortes foram propositais e que o assassino sabia muito bem o que estava fazendo. Mas também as deixou determinadas a buscar mais informações, ignorando o fato de que perderiam aula caso ficassem ali na biblioteca (o que era um grande feito tendo em vista que as duas não gostavam de matar aula em nenhuma situação).

Com isso em mente, se juntaram para analisar os versos da profecia. O primeiro, parte-se o fio do destino e a união de sangues sofre, associaram às mortes. Já o segundo, parecia mais enigmático: Olhos flamejantes são tão certeiros quanto a ruína da rejeição. A qual rejeição ele se refere? Olhando para a sociedade bruxa, as duas garotas poderiam citar diferentes tipos de rejeição, desde a supervalorização de bruxos como Merlim, e a desvalorização de Morgana -colocando o homem como centro, até a exclusão ainda latente de famílias não-puras (a começar com o uso do termo “puro”), ou mesmo rejeições mais diretas e ofensivas, como a que Melanie estava vivenciando. Entretanto, a menção aos olhos flamejantes fez Elizabeth se lembrar de outro dia que enquanto tomava banho, ouviu suas colegas de casa conversarem no banheiro sobre um suposto veado branco que havia aparecido andando sobre o lago. Por isso, quando os outros quatro alunos entraram na biblioteca em busca do livro sobre criaturas mágicas, ele já estava sendo usado por Elizabeth e Melanie. 

Salut*— Lisbeth cumprimentou as duas quando percebeu que usavam o livro que queria. — Vocês ainda vão demorar?

— Como é? - Elizabeth respondeu grosseira sem entender a pergunta. Lisbeth aproximou-se pensando em como explicar que queria o livro, mas deu um passo para trás e arregalou os olhos quando viu “Anhangá” escrito na página aberta, e a figura do veado que havia visto, desenhada. 

— Encontrou alguma coisa? - Mary apareceu tocando o braço de Lisbeth, mas estremeceu quando viu a figura no livro também. O medo que havia sentido na madruga ainda lhe era bem vívido. 

— Vocês estão pesquisando sobre o Anhangá também? - Melanie perguntou curiosa com a reação das garotas. As duas sonserinas apenas assentiram. — Por quê? 

— Nós… Nós vimos isso. - Mary se obrigou a responder. 

— O quê?! - Elizabeth assustou-se.

Antes que pudessem responder, Dara e Ian se aproximaram do grupo, segurando um livro idêntico ao que tinham aberto sobre a mesa de madeira. 

— Se isso for verdade, estamos perdidos… - Melanie se lamentou, mas Elizabeth deu um pequeno e disfarçado cutucão em suas costelas. Não confiava naqueles quatro alunos que estavam na sua frente, então não sabia o quanto poderiam compartilhar sobre suas descobertas.

Ao contrário da atitude defensiva de Elizabeth, Mary e Lisbeth não se importaram de contar tudo que havia acontecido na madrugada, o que só aumentou as preocupações do grupo. Certamente a segunda parte da profecia dizia sobre o Anhangá, mas, se fosse verdade o que o livro sobre criaturas mágicas brasileiras trazia, Anhangá é uma perigosa criatura intimamente ligada às florestas, que pode assumir diferentes formas de animais, predominando a do veado branco; costuma punir caçadores, enganar pessoas, as sequestrar e matá-las, além de ser reconhecido como um mau-agouro por trazer desgraça a quem o vê. 

— Se ele levou Fernanda, ela corre muito perigo. Precisamos ir até a Floresta Proibida. - Dara constatou. 

— A Floresta Proibida? - Ian indagou temeroso. Desde que lera sobre a criatura estivera ainda mais quieto do que sempre fora. 

— Anhangá é um espírito da floresta. Ele deve ter levado Fernanda até lá. - Elizabeth explicou, concordando com Dara. 

— Ma-mas… Se ele traz desgraça, não é seguro irmos. E pode ser ele que está matando os alunos! - Mary alegou. 

— Duvido muito que seja ele quem matou Natalie e Lilith, mas não posso garantir sobre Fernanda, por isso que temos que ir até lá. 

— Vamos. - Dara determinou, mesmo que os outros não parecessem animados com a ideia. 

Decidiram se dividir em dois grupos para levantar menos suspeitas, e combinaram desculpas para caso algum professor ou auror tentasse impedi-los de seguir até a Floresta. Os grupos ficaram divididos entre: Mary, Melanie e Ian; Lisbeth, Dara e Elizabeth, e, assim, os seis alunos caminhavam até o que poderia ser sua morte. 


***

Tradução do francês: 

—C’est: Isso é

—Injuste: Injusto

—Salut: Oi/Olá


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Notas finais do capítulo

Pois é, ninguém ainda morreu, mas já deu uma boa afunilada de quem é o nosso assassino, hehe, vc consegue adivinhar?
Se leu até aqui, muito obrigada ♥ Boa semana, e espero q se cuide durante esse período difícil que estamos vivendo



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