Harry Potter e o Retorno de Voldemort escrita por Mason Mackenzie


Capítulo 3
As Lápides de Prata




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Harry teve de ler a carta de novo, para ter certeza de que não imaginara aquelas palavras.

Se a primeira leitura já lhe apertara o coração, a segunda simplesmente o esmagou. A mão que segurava a carta tremeu, mas ele a forçou para mantê-la firme. As palavras abriram um enorme buraco em sua mente, e não conseguiu pensar em nada. Pois nada parecia fazer sentido.

Sua primeira reação foi lançar um olhar inquisidor à Dumbledore. Era bom que o velho tivesse uma ótima explicação para aquilo tudo.

Mas a moldura estava vazia. O ex-diretor não se encontrava mais lá.

— Harry? – indagou Hermione, achando estranha a reação do amigo. Harry avançou em direção ao retrato, ignorando a garota.

— Professor! – gritou, tentando conter o afobamento. – Professor!— gritou mais uma vez, já que não houve resposta.  – PROFESSOR DUMBLEDORE! – desta vez, segurou a moldura e a sacudiu, como se esperasse assim intimidar o homem que deveria estar ali.

Ainda estava atormentado demais para pensar em algo concreto. Seria possível que aquelas palavras dissessem o que ele temia? Tentou fingir que não. Instintivamente, coçou a cicatriz em sua testa. Não porque ela o incomodara, como sempre fazia naquelas ocasiões, mas sim por maus pressentimentos. E o fato de Dumbledore ter desaparecido só intensificou essa sensação.

Afinal, McGonagall lera a carta para ele pouco antes de eles chegarem. Dumbledore estava ciente de seu conteúdo, tinha certeza. Harry percebera o desconforto que o retrato tentava conter enquanto eles conversavam. Por que mais desapareceria tão de repente? Por bons motivos é que não era.

Continuou a chamar o velho professor freneticamente. A cada segundo sem resposta, mais difícil era ignorar seus pressentimentos. Estava tão atordoado que mal assimilou quando Hermione decidiu se juntar a ele e chamar inútil e desesperadamente pelo ex-diretor.

A amiga havia acabado de ler a carta que ele deixara sobre a mesa. A princípio, ficou boquiaberta mas, após reler aquelas malditas palavras, ficou ainda mais assustada do que Harry. Aquela carta só servira para fortalecer o que ela já temia em relação ao bilhete.

Os dois chamaram por Dumbledore por quase um minuto, mas de nada adiantou. O estardalhaço foi suficiente para acordar todos os ex-diretores em suas molduras, que começaram a cochichar e resmungar uns com os outros, incomodados com aquele alvoroço. Mas nenhum deles lhes seria útil. De quase duzentos ex-diretores, o único de quem eles necessitavam havia sumido.

— Ok, ok. Vamos manter a calma – concluiu Harry, depois que os pensamentos começaram a se assentar. Era inútil continuar gritando pelo professor pois, se ele os ouvia ou não, estava decidido a ignorá-los. Ele se afastou do quadro e se sentou em uma cadeira próxima, pensativo, mirando a carta que Hermione deixara cair no chão.

— Mas isso é uma loucura! – foi a primeira coisa que Hermione conseguiu dizer após chegar a mesma conclusão que o amigo. – Simplesmente loucura, Harry. Só pode estar se referindo a...

Voldemort! Eu sei – ele concordou, sem precisar esperar que Hermione completasse a frase. Colocar aquilo em palavras fez com que todo seu mau pressentimento parecesse tomar forma física e lhe envolver. O nome ecoou como se ele evocasse um fantasma.

Houve silêncio. Não por que eles não tivessem nada pra falar, muito pelo contrário. O fato era que os dois se encontravam divagando sobre a mesma pergunta: Como?

— O que será que isso significa? – quis saber Hermione, finalmente decidindo quebrar o silêncio. Tinha tanto medo da resposta que adiou ao máximo fazer a pergunta.

— Não sei – respondeu Harry, nervoso. Não queria expor o seu pior temor. – Mas, pelo visto, Dumbledore sabe... – a frase foi encerrada com o garoto voltando a encarar a moldura vazia.

Seu sangue ferveu. Não por Voldemort, mas por Dumbledore. Havia demorado tanto a aceitar que o homem lhe omitira tantas informações que a simples desconfiança de que ele continuasse o fazendo o irritou. Depois de tudo que ele fizera e passara, Dumbledore ainda guardava segredos.

Tentou raciocinar rápido. Olhou para Hermione em busca de apoio, mas o olhar desfocado da garota só lhe indicava que o seu cérebro não parava de trabalhar em cima das palavras lidas em busca de respostas. Era típico de Hermione. Procurou em seus próprios pensamentos algo que lhes fosse útil, alguma informação que deixara passar despercebida. Algo em que pudesse se agarrar e usar de âncora por um mundo de paz e sem preocupações.

— Mas... Nós destruímos as horcruxes – comentou Hermione em voz alta, em concordância aos pensamentos de Harry. – Nós vimos ele morrer. Você o matou! – continuou, nervosa. – Vimos o corpo caído no chão... Foi levado para a câmara dos mortos...

Era isso! Aí estava a sua âncora.

A última frase o remeteu a uma conversa que tivera com Monstro mais cedo, a pedido de Hermione. A providência que tomara, mesmo que ainda desacreditando de qualquer mal apenas por aquele mísero bilhete, veio a calhar.

— Ele está morto! – disse, saltando de sua cadeira. – Ele está morto, Mione! Podemos acreditar nisso. Com certeza é loucura sim, mas de nossas cabeças. Já estávamos atormentados por outra coisa. Interpretamos errado. Ele está morto! – falou tudo aquilo rápido demais, e nem ele mesmo pode ter confiança em tudo o que dissera. Mas queria acreditar, por tudo no mundo, que dizia a verdade.

— Mas Harry...

— Você mesma deu a resposta. Nós temos o corpo. Está em meio aos outros – aquilo era metade do que lhe dava segurança, pois a outra metade estava a critério de Monstro. Omitiu essa parte. – Se ainda existisse vida ali, alguém já teria notado.

Aquilo era verdade, afinal. Contra sua vontade, Harry teve uma vaga lembrança de como Narcisa Malfoy enganara o seu mestre e lhe confirmara a morte de Harry mesmo ele ainda estando vivo. Ignorou a lembrança o mais rápido que pôde.

Hermione concordou lentamente mas não ficou mais calma, isso era evidente. Se nem Harry se convencera cem por cento do que dissera, a amiga se convencera ainda menos. Mas era algo em que ela também poderia se agarrar.

Estavam prestes a direcionar a discussão para outros pontos de vista quando, em alguma torre do castelo, os sinos tocaram. Lúgubres e ressoantes.

Eram dezoito horas. Os funerais haviam começado.



O Salão Principal estava lotado.

Duas carreiras de bandeiras negras farfalhavam e pendiam do teto, todas contendo o brasão dourado de Hogwarts em seu centro. As mesas e cadeiras haviam sido retiradas, permanecendo apenas o trono dourado e de espaldar alto pertencente ao diretor, desocupado. Os archotes estavam apagados, e o ambiente era iluminado pelas chamas de velas seguradas pelos ocupantes do Salão. O brilho descontínuo das luzes, somado ao silêncio do luto, dava uma sensação de angústia mas, ao mesmo tempo, era reconfortante.

Harry e Hermione chegaram ao saguão no momento em que uma procissão marchava para fora do Salão. Mesmo com todos aqueles pensamentos perturbadores na cabeça, aquele não era o momento adequado para se pensar nisso. Harry devia isso aos falecidos, e estava decidido a lhes pagar a dívida.

Eles se integraram ao grupo quando os últimos ocupantes do Salão deixaram o lugar. Hermione conjurou duas velas e entregou uma a Harry, passando um dos braços pelo braço esquerdo do amigo. Em silêncio e cabisbaixos, atravessaram as grandes portas de carvalho e deixaram o castelo.

De algum lugar do terreno provinha uma melodia suave e distante, como um devaneio. Ele nunca ouvira uma música fúnebre tão bonita quanto aquela, exceto, é claro, o canto da fênix para Dumbledore. Era difícil deduzir dali, mas o som parecia vir de algum lugar da Floresta Proibida.

Harry até pensara que estivesse imaginando o som no início, mas percebeu que Hermione também o ouvia, pois seu olhar estava meio hipnotizado. Pelo menos assim a garota poderia se distrair e não pensar naquilo que tanto os atormentava, embora a força com que ela apertava o seu braço demonstrasse que ela ainda ponderava sobre o assunto. Outra prova de que a música era real é que ela se intensificava à medida que caminhavam.

O caminho pelo qual seguiam era cercado por tochas acesas. Embora caminhassem devagar, não demorou muito para que Harry percebesse para onde ele estava os levando. Caminhavam em direção ao lago. Mais especificamente, em direção ao túmulo de Dumbledore.

A procissão começou a descer pelos jardins. Embora o fogaréu tivesse sido finalmente contido, os gramados estavam queimados e com grandes crateras. Pedaços das paredes do castelo se acumulavam em montes de escombros. As árvores estavam sem vida.

E uma delas, em especial, chamou a atenção de Harry. O grande tronco contorcido estava seco e despido de folhas, curvado para um dos lados. Poderia parecer loucura, mas a árvore aparentava estar doente.

Mal constatara o fato quando outra coisa chamou sua atenção. À beira do lago havia diversos borrões negros dispostos em linha reta ao lado do mármore branco que cintilava ao luar. A princípio era impossível distingui-los, mas, ao se aproximarem cada vez mais, tais borrões adquiriram a forma de corpos, deitados sobre uma espécie de mesa de pedra.

A cena tomou conta das emoções de todas as pessoas que marchavam em direção ao lago. Só agora Harry podia ter uma ideia da quantidade de mortes que toda a batalha causara. A visão de todos aqueles corpos encheu os seus olhos de lágrimas, mas nenhuma lhe escapou pela face.

Finalmente a procissão alcançou o seu destino. Um vento frio inundou o local. O Lago estava calmo, a Floresta silenciosa e os únicos sons que se ouviam, além da melodiosa música, eram os soluços de choro que haviam recomeçado. As fileiras de corpos estavam divididas entre os dois lados do túmulo de mármore, fazendo com que a massa de pessoas carregando velas se dispersasse em busca dos corpos de seus entes falecidos.

Harry e Hermione puseram-se a procura dos corpos de Fred, Lupin e Tonks, mas nem precisaram se esforçar. Estes eram os primeiros à esquerda do túmulo de Dumbledore.

Não só por isso, era quase impossível não perceber a aglomeração de pessoas ruivas em torno das três mesas de pedra. Os dois caminharam lentamente até o local e se acrescentaram ao grupo.

Hermione se soltou do braço de Harry e, antes que ele se desse conta, já estava envolvido num quente abraço com a pessoa que ele mais desejava naquele momento: Gina. A garota se jogara nos seus braços no momento em que o vira. Ele apertou-a com força, sentindo cada centímetro de seu corpo, e seu rosto se enterrou em seus lisos cabelos ruivos, envolvendo suas narinas em um perfume maravilhoso.

E, de repente, todos os sentimentos ruins que ainda carregava se extinguiram. O contato com a pele de Gina e o cheiro de seu perfume tornaram-se uma única e intensa sensação que se espalhou por todo o corpo, dirigindo-se especialmente para a região de sua virilha e fazendo Harry sentir, momentaneamente, um leve desconforto causado pelo seu corpo endurecendo contra sua calça. Passara tantos meses sem a presença da namorada que não podia se culpar por aquilo, mas o momento era tão obscenamente inapropriado que a excitação desapareceu tão rápido quanto surgiu.

Gina estava bastante abatida. Seu rosto estava mais pálido do que o de costume, e seus olhos vermelhos tentavam disfarçar que chorara ao longo do dia. Não disse nada para Harry. Apenas seu abraço já era conforto o suficiente.

O restante da família Weasley estava na mesma situação. Alguns menos do que outros. Hermione se juntou em um abraço à Rony, também silenciosamente. Não havia nada que se pudesse falar naquele momento. 

A sra. Weasley nem percebeu a chegada de Harry, tamanha devoção que lançava sobre o rosto do filho. Fred estava disposto sobre a pedra como se dormisse, com os braços cruzados sobre o peito e as mãos fechadas em torno de uma rosa branca. Os corpos de Tonks e Lupin seguiam o mesmo padrão, assim como todos os outros cinquenta corpos.

Harry encarou o casal com emoção. Tentou segurar as lágrimas enquanto prometia, silenciosamente, que faria de tudo para proteger o filho deles, seu afilhado.

Ted ficará seguro!, garantiu a eles.

A música havia cessado em algum momento, mas Harry não notara em qual. Assim que todos já estavam acomodados ao lado dos corpos, uma voz, vinda de algum lugar às suas costas, disse, em tom baixo, porém alta o suficiente para que todos a escutassem:

— É com imensa tristeza que hoje, dia dois de maio de mil novecentos e noventa e oito, nos despedimos de muitos amigos, pais, filhos, irmãos... alunos, funcionários, aurores...– a voz era vagamente familiar. – Na verdade, vos digo que, agora, nenhum desses títulos diz nada. Pois hoje todos tornam-se sinônimos para um único: guerreiros!

Harry se virou. Um homenzinho com simples vestes escuras e cabelos em tufos estava de pé sobre um improvisado pódio de pedra. Ele o reconheceu quase que imediatamente. Tratava-se do mesmo bruxo que presidira o funeral de Dumbledore e o casamento de Gui e Fleur. As pessoas começavam a se virar também para ver de quem era aquela voz, que continuou:

— E guerreiros não temem a morte! Aliás, atrevo-me a dizer que dela se orgulham. – A cada frase dita, o homem fazia uma pausa dramática. – E tenho certeza de que assim estes guerreiros a acolheram. Seus nomes podem até ser esquecidos, mas não os seus feitos. E estes feitos serão consagrados e passados adiante por cada um e cada uma aqui presentes, e por todos os outros que aqui não estão, mas que ouvirão suas histórias e desfrutarão eternamente do mesmo bem conquistado neste dia histórico. O dia em que as forças do bem se mostraram prevalecentes ao mal crescente, provando, mais uma vez, que até nos momentos mais sombrios, é possível se encontrar a luz.

A última frase fez com que Harry se lembrasse imediatamente de Dumbledore. Ele havia dito algo bastante semelhante alguma vez, e pensou se ele e o homenzinho já havia trocado aquelas palavras. Quando se deu conta, estava encarando fixamente o mármore branco que guardava o corpo do homem em quem pensava. A lembrança de Voldemort violando-o avolumou-se em sua mente e teve dificuldades de redirecionar a atenção pras palavras do homem que discursava.

— ...se morreram aqui foi para que nós pudéssemos estar hoje vivenciando novamente a paz em nosso mundo. E é com nossa eterna gratidão que eles seguirão para a verdadeira paz. E nela descansarão.

Uma espécie de fumaça branca começou a sair de debaixo das mesas de pedra no momento em que o homem se calou. A fumaça se espalhou para os lados e tomou conta dos corpos, fazendo com que as pessoas ao seu redor dessem um passo para trás. Harry teve tempo de ver, pela última vez, os rostos petrificados de Fred, Lupin e Tonks antes que a fumaça os cobrisse por completo.

Todas as mesas estavam agora envolvidas em névoa. O chão começou a vibrar lentamente. Poucos segundos após, a fumaça diminuiu e se extinguiu. O tremor parou.

As mesas com os corpos haviam desaparecido. Em seu lugar, tudo que restaram foram lápides de prata, posicionadas horizontalmente contra o chão.

A sra. Weasley se afundou nos braços do marido e começou a chorar profundamente. Gina apertou o abraço em que estavam. Rony se fechou em volta de Hermione. Gui e Fleur fizeram o mesmo. Carlinhos, Percy e Jorge se consolaram mutuamente.

Uma lágrima finalmente escapou de seus olhos e escorreu pelo rosto, enchendo-lhe dum profundo sentimento de perda. Sentiu-se intensamente triste.

O som de trombetas ecoou pelo local. Secando as lágrimas, Harry tentou decifrar de onde vinha.

Não foi difícil encontrar seus emissores. À orla da Floresta Proibida, centauros estavam reunidos em um pequeno bando. Cerca de dez deles mantinha uma grande e curva trombeta negra pressionada contra os lábios enquanto eles as sopravam. Teve certeza que eram eles também os responsáveis por aquela música fúnebre.

Assim que o cortejo das criaturas acabou, Harry os viu darem as costas e se embrenharem novamente na Floresta. O movimento de retorno fez com que ele tivesse a atenção roubada por um homem robusto, mais alto do que os humanos normais, recostado em um dos troncos de uma árvore. Como que acompanhando os centauros, Hagrid virou-se, mancando, e sumiu através das árvores.

Era estranho que o guarda-caça estivesse se comportando daquela forma. Mas Harry não pôde pensar muito sobre o assunto no momento. O luto ainda era pesado.

Desviou sua atenção para os pequenos retângulos prateados que adornavam os locais das sepulturas. Com muito esforço, conseguiu ler o que estava escrito sobre a lápide mais próxima:

 

Em memória de Fred Weasley

01/04/1978

02/05/1998

 

As lápides de Lupin e Tonks continham as mesmas gravações. Porém, com os nomes e as datas de nascimento de seus respectivos donos.

De repente, Harry não queria mais ficar ali. Tudo aquilo estava lhe causando certo mal. Saber que nunca mais veria o rosto de qualquer um dos três era demais pra ele.

Mas tinha de respeitar a família de Fred, que também era sua família. Sair dali agora seria embaraçoso e difícil de explicar. Decidiu manter-se firme.

A sra. Weasley se ajoelhou diante da lápide do filho. Ergueu a varinha e, em meio aos soluços, conseguiu pronunciar o feitiço:

Orc...chi...deous!

Uma coroa de orquídeas surgiu sobre a plaqueta prateada. A mulher repetiu o mesmo gesto para Tonks e Lupin, e estes também tiveram suas lápides coroadas pelas mesmas flores.

Dalí se passou um bom tempo de silêncio absoluto, marcado por intenso pesar. Quando o silêncio já estava ficando quase que sufocante para Harry, uma voz o interrompeu:

— Bom... – disse a voz, em alto e bom som. Harry se assustou, assim como muitos outros. A voz era da professora McGonagall, que subira em cima do mesmo pódio utilizado pelo homenzinho em seu discurso. Ela continuou: – Levem o tempo que quiserem. Espero-os às vinte e uma horas, no Salão Principal. Tenho... algo realmente importante a lhes dizer.

Aquela frase poderia ter causado estranheza em muitas pessoas, mas estas estavam tão envolvidas em seu luto que nem se importaram. Mas Harry a compreendera, não só ele como Hermione. A garota o encarou quase que imediatamente.

Ela sabe... – falou, devagar, quase que sussurrando. Hermione apenas assentiu, com o olhar aflito. Os dois observaram a mulher se juntar ao Ministro da Magia e subirem em direção ao castelo, apressados e, aparentemente, engrenados em uma conversa um tanto quanto séria.

— O que foi que disse? – perguntou Gina, afastando a cabeça de seu peito. A garota parecia confusa.

— Nada... Eu não disse nada – respondeu ele na mesma hora. Sua cabeça voltou a ficar à mil.

Então a professora sabia de algo. E, pelo visto, o Ministro também. Como é que não pensara nisso ainda? Afinal, ela lera aquela carta para Dumbledore. Julgando pelo tom em que a professora concluíra sua última fala, as especulações dele e de Hermione só poderiam estar corretas.

E, de repente, todo aquele alvoroço estava de volta à sua mente. Sentiu o corpo ser invadido por uma inquietação crescente e que o assustou mais do que poderia admitir. A perspectiva de que Voldemort não estivesse morto era insuportável.

Mas ele está morto!, era tudo em que Harry se agarrava. Seu corpo estava no castelo. Havia pessoas por toda parte ao seu redor. Estava seguro e rodeado pelos outros corpos... Foi então que percebeu um enorme erro em sua linha de raciocínio, e a tormenta tomou-lhe conta dos sentidos. Já era tarde demais.

Tentou gritar por Hermione, mas já estava impossibilitado disso. Houve um enorme estrondo dentro do castelo, que ecoou por todo o terreno e, ao atingir os ouvidos de Harry, derrubou-o no chão. Sua visão ficou momentaneamente distorcida e, por fim, tudo escureceu.



A escuridão condensou-se em uma névoa negra, que o encobria por completo. Não enxergava nada à sua frente. Estava parado em algum lugar indefinido. E ali ficou durante vários minutos.

Então, as sombras finalmente começaram a se dissolver, lentamente. Por uma fração de segundos desesperadora, pensou que estivesse caindo de algum lugar muito alto. Mas, na verdade, estava voando.

O lugar em que voava era desconhecido para ele. Havia uma floresta rodeada por grandes montes abaixo de seu corpo enevoado. Movia-se rapidamente. O vento batia em seu rosto com muita força, mas não conseguia sentir o resto do corpo.

Depois de muito tempo, ou talvez quase nenhum, moveu-se sem medir esforços para se desviar do cume da montanha à sua frente. Mas aquilo fora totalmente inconsciente, porque Harry não tinha controle de si.

Além do cume, um pequeno vilarejo surgiu, ao longe. A lua iluminava os telhados das casas. Harry acelerou o voo, sem saber como, e, em questão de segundos, encontrou-se sobrevoando o aglomerado de construções pertencentes ao lugar. Agora ele podia ver com clareza as casas agrupadas de forma desordenada e uma igrejinha solitária em frente uma praça completamente deserta.

O corpo impeliu-se automaticamente para baixo.

Mergulhou em um beco estreito, entre duas casas. Virou-se em uma rua pequena, depois virou novamente por entre duas casas. Ficou perambulando sem percurso definido durante algum tempo, até que finalmente chegou a uma rua estreita que findava na praça da igreja. A diferença dessa para as tantas outras ruas era que nela havia um homem.

O homem andava calmamente na calçada, assobiando uma melodia inaudível. Tinha cabelos escuros salpicados de grisalho, assim como a barba por fazer. Seus olhos eram pretos.

Harry sentiu o corpo estagnar ao avistar o andarilho, mas mal teve tempo de constatar o fato. Assim que o restante do corpo se materializou, a névoa que o rodeava se reuniu, como uma nuvem densa e negra, e voou descontroladamente na direção do homem, derrubando uma lata de lixo no caminho. O homem se virou para ver de onde vinha o ruído, mas não conseguiu reagir.

A nuvem o acertou diretamente no peito, com tanta força que o impacto lançou-o bruscamente em direção ao chão. Parecia inconsciente. 

Harry tentou correr em socorro ao homem, mas alguma coisa o impedia de se mover. Ficou ali, parado, enquanto observava o homem se erguer com muita dificuldade e levar as mãos trêmulas ao rosto, acariciando-o. O terror veio assim que ele as tirou.

Seus olhos, que antes eram pretos, estavam agora vermelho vivo.


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