Harry Potter e o Retorno de Voldemort escrita por Mason Mackenzie


Capítulo 4
Mason contra-ataca




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A imagem se dissolveu, envolvendo-o em um turbilhão de coisas sem sentido. 

Não demorou quase nada para que um novo ambiente se formasse ao seu redor, tomando a forma de uma floresta. Grandes pinheiros cresciam do chão pedregoso e coberto de folhas secas, tão altos que mal se podia ver o céu. Um enorme penhasco se elevava às suas costas.

Deu um pequeno passo, apenas para se assegurar de que, desta vez, tinha o controle dos próprios movimentos. Ao fazê-lo, viu de relance a sombra de um animal correndo para o meio das árvores, assustado com a sua aparição. Seria aquilo um gambá? Era difícil dizer. O lugar era muito escuro. 

Sua cabeça doía. Ainda avistava vagamente em meio à escuridão duas pequenas órbitas vermelhas o encarando, perfurando-o como a ponta de uma faca. Claro que isso só podia ser mais um de seus devaneios. Afinal, a imagem era tão assustadora que era difícil ignorá-la, ainda mais em tão pouco tempo. Mas o negrume da floresta era tão intenso que, se aqueles olhos estivessem de fato ali, com certeza ele os notaria.

O vento da noite soprou em seu rosto, arrepiando os seus cabelos. Se comparado ao sonho anterior, o fato era realmente intrigante, pois parecia bastante real. Agora podia não apenas se mover, como também sentir as coisas, não só o vento como também o chão sob os seus pés. Isso o fez pensar se estaria, de fato, sonhando. Seria loucura pensar que não, pois, em menos de meia hora, estivera em três lugares completamente distintos. Dois dos quais ele não fazia a menor ideia do que fossem. Harry não sabia onde, nem porque estava ali.

Porém, não teve muito tempo para tentar descobrir. Algo chamou a sua atenção.

Aconteceu tudo muito rápido. Primeiro veio o ruído, em seguida, uma labareda e, por fim, o baque. Uma árvore caíra no chão, poucos metros à sua frente.

Sua primeira reação foi levar a mão à varinha. Puxou-a de dentro do bolso da blusa e manteve-a firme, apontando para a direção de onde vira as chamas surgirem e se apagarem quase que no mesmo instante.

Lumus!, disse, mas as palavras se formaram apenas em sua mente. Não conseguia emitir sons. Estava, de fato, sonhando. A informação não foi tão agradável quanto deveria pois, se era sonho, era um tipo muito estranho. Detestava não saber o que estava acontecendo com ele.

Ficou ali parado, de varinha na mão, desafiando a escuridão por alguns minutos. Porém, nada de novo aconteceu. E então sentiu que deveria averiguar o que derrubara a árvore. Só precisava dar alguns passos para frente e chegaria ao lugar, mesmo que não enxergasse muito bem o caminho.

 Não teve muita dificuldade. A luz da lua conseguia adentrar, mesmo que tenuamente, as frestas das copas e suavizar o negrume. Conseguiu distinguir a silhueta do grande tronco caído no meio dos que estavam de pé. Finas linhas de fumaça dançavam sobre uma de suas extremidades, provenientes de um amontoado de cinzas.

Harry procurou a sua volta pelo responsável por aquilo, mas a única pessoa ali era ele, isso era inegável. Ele se aproximou cuidadosamente do monte enfumaçado, intrigado. Podia sentir o calor que ele emanava. Colocou uma das mãos entre as cinzas e, para seu grande susto, descobriu que não estava necessariamente sozinho.

Um pequenino pássaro, sem penas e com o bico e patas douradas e olhos negros, piou no momento em que ele o tocou. O animal estava soterrado pelas cinzas. Ergueu-se no ar imediatamente.

O bichinho era engraçado. Parecia que havia acabado de sair da casca, pequeno e pelado, com suas minúsculas asinhas sem penas mexendo-se freneticamente e, por incrível que pareça, mantendo-o estável no ar. Outro fato curioso era que ele parecia emanar quase que uma luz própria, pois era muito fácil discerni-lo em meio à escuridão que o envolvia. A ave soltava um ruído agudo semelhante a um piado, ou o mais próximo disso, que Harry achou estranhamente familiar. Era cativante e inocente. Quase surreal.

Ainda contemplava o animalzinho, meio encantado, quando este se pôs a se locomover no ar e soltar aqueles “pios” repetidamente, como um chamado. Seria loucura pensar que a ave queria dizer para que ele a seguisse? Pois era o que parecia.

Havia algo na figura do animal e em seus ruídos que envolviam Harry de uma maneira estranha, e ele teve uma imensa vontade de segui-lo; em partes por achar que era aquilo que o bichinho queria, e em outras por simples curiosidade. Decidiu fazê-lo, tomando cuidado com por onde caminhava.

O caminho pelo qual o animal o guiou era íngreme e soturno. Os vestígios de céu, que eram poucos, tornaram-se quase zero. Se o lugar ficasse um pouco mais escuro, ele seria incapaz de enxergar o que quer que seja, exceto o pássaro. Ele era impossível de se perder de vista, brilhando fracamente, como um ponto de paz em meio ao caos.

Era incrível como a avezinha, aparentemente tão frágil, era capaz de se locomover tão perfeitamente quanto daquela forma. Era como se o vento a carregasse, o que não seria difícil devido ao seu tamanho. Não existia nenhuma dificuldade que a atrapalhasse.

O caminho subia floresta adentro, ficando mais difícil, escuro e assustador. Começou a estreitar e ficar tão perigoso e sorrateiro devido aos obstáculos escondidos entre as sombras que Harry chegou a pensar que precisaria abandonar a perseguição ao pássaro, o que lhe deixava desconfortável por dois motivos: o primeiro deles era que, se perdesse a ave de vista, não saberia como voltar e, consequentemente, ficaria preso no meio da desconhecida floresta a mercê de seja lá o que fosse; o segundo, por mais que fosse estranho, era de que tinha a sensação de que o bichinho o conduzia exatamente para onde ele deveria ir.

Mas ele nem precisou se preocupar tanto pois, pouco tempo depois, outra labareda se acendeu alguns metros à sua frente e se extinguiu tão rápido quanto surgiu, levando o pássaro despelado e de bico dourado consigo.

A escuridão voltou a envolvê-lo por completo. Solitário em meio ao caos, Harry ficou imóvel, abismado e, de certa forma, decepcionado com o repentino desaparecimento da ave. Afinal, seguira o pássaro por tanto tempo para que ele simplesmente desaparecesse e o abandonasse no pior lugar possível? Ele queria crer que não.

E creu certo.

Poucos segundos após as chamas sumirem galhos e folhas secas foram quebrados em algum lugar ali perto, pisoteadas por alguém que Harry não conseguia ver. Subitamente sua mente foi tomada pela imagem do homem de cabelo quase grisalho e olhos vermelhos que encontrara há uma hora atrás e temeu que fosse ele quem estivesse ali. Mas logo veio o alívio, se é que aquilo era alívio, pois uma voz feminina perguntou:

— O que foi isso? Quem está aí? – a voz esperou por uma resposta mas, quando esta não veio, ordenou: – Lumus!

A fonte de luz irrompeu de uma varinha empunhada por uma garota que acabara de sair de trás de uma árvore robusta a sua direita. A luminosidade provinda do objeto era fraca e azulada, mas iluminava bem o rosto da jovem bruxa. Era muito bonita, com cabelos cacheados e castanhos, olhos azuis e traços finos. 

A varinha estava apontada diretamente para Harry, o que o fez prender a respiração apreensivamente. Mas, mesmo ele estando completamente visível, a garota parecia não enxergá-lo, pois virou a varinha para outra direção.

— Apareça – pediu ela, investigando outro local.  Harry ainda tentava se recuperar do susto que levara quando outra voz, agora masculina, ordenou às suas costas:

Lumus!

Outra fonte de luz irrompeu de outra varinha. Harry girou nos calcanhares para observar quem a segurava.

Um jovem alto e de cabelos castanhos despenteados encontrava-se apontando a varinha em sua direção. Seus olhos eram azuis iguais aos da garota.

O nariz de Harry e a ponta da varinha quase se encostavam mas, por mais que isso iluminasse completamente o seu rosto, o rapaz que a apontava o enxergava tanto quanto a outra bruxa. Ele simplesmente apontou a varinha para outra direção e disse:

— Vimos o que você fez, não adianta se esconder – era perceptível um certo tom de alarme em sua voz grossa. – Mostre-se.

Harry ainda prendia a respiração, sem a menor ideia de o que estava acontecendo. Não conseguia falar ou se comunicar com os dois indivíduos que o rodeavam e que inexplicavelmente não conseguiam enxergá-lo.

Os bruxos continuaram patrulhando o local atrás de quem produzira aquelas chamas por mais algum tempo enquanto Harry apenas os observava, ainda tentando entender qualquer coisa que fosse. Somente depois de vasculharem cerca de cinco vezes cada tronco e pedaço de rocha que pudessem esconder o causador do fogo é que eles se renderam. A mão da garota que segurava a varinha abaixou lentamente.

— Não tem ninguém aqui, Mason – disse ela, em conclusão. – Acho melhor continuarmos.

— Eu vi fogo surgir aqui – disse o rapaz alto, que Harry deduziu chamar Mason, desconfiado. Ainda mantinha a varinha erguida. – Você também viu.

— Não vi nada – contestou ela. – Eu te disse que ouvi algo. Quem viu alguma coisa foi você.

Mason não retrucou. Estava ainda concentrado em encontrar o responsável por aquilo que vira, pois tinha certeza de que vira algo. Isso era incontestável para ele, independente do que a garota quisesse que ele pensasse.

— Se você quiser continuar aqui procurando por alguém que você não vai encontrar, que fique. Eu vou terminar de pegar alguns galhos e vou embora.

A garota fez menção de deixar o local, e só quando já começara a se afastar é que o rapaz a chamou:

— Anna... – Ele deu uma última verificada nas árvores com a sua varinha. – Espere, eu vou com você.

Com a varinha ainda em punho, Mason seguiu a garota para dentro de uma trilha. Harry demorou meio segundo para decidir acompanhá-los.

O caminho pelo qual seguiram era ainda mais íngreme do que a trilha pela qual Harry seguira a pequena ave, sozinho. Porém, desta vez a caminhada era muito mais fácil já que ele conseguia enxergar o trajeto devido às luzes provindas das varinhas.

O casal recolhia pedaços de gravetos secos que encontravam pelo caminho, juntando-os em um monte carregado pelo braço cuja mão estava desocupada. Escolhiam o material a dedo, como que em busca do tipo de madeira mais ideal para se queimar em uma fogueira. Enquanto faziam isso, discutiam um com o outro sobre assuntos dos quais Harry, devido a distância, compreendia apenas algumas palavras soltas ou, em poucos casos, sentenças incompletas.

Primeiro ouvira o rapaz insistir para a garota que ele realmente havia visto alguma coisa, mas ela não estava muito afim de se convencer e não fez questão de esconder, fazendo-o desistir do assunto. Depois, mudaram o rumo da conversa para algo diferente e que, em meio a diálogos desconexos, Harry compreendeu se referir à Hogwarts. Tinha certeza que eles haviam dito algo sobre a batalha ocorrida na noite passada, e algo sobre não terem podido ajudar. Na verdade, parecia mais um lamento do que uma discussão. Harry acelerou o passo para se aproximar, afim de escutar melhor, mas o assunto já havia mudado quando chegou perto. Falavam agora sobre algo que ele não entendia muito bem, mas que tinha a ver com escudos e espadas. Provavelmente falavam de outra forma de guerra ao invés da travada por varinhas.

Neste ponto, a trilha se alargou e a claridade do luar surgiu entre as árvores. Harry já não suportava mais subir o íngreme caminho, que o levava sempre para a esquerda, quando finalmente chegaram à parte mais alta da floresta. A lua agora estava inteiramente visível, brilhando por trás de um tronco tombado que bloqueava a trilha.

— Isso não estava aqui quando saímos – disse Mason, alto o suficiente para que Harry pudesse ouvi-lo sem nenhuma dificuldade. Demorou um pouco para entender que o rapaz se referia a árvore caída.

— O vento deve tê-la derrubado. Venta muito aqui em cima.

Mason não pareceu muito convencido. Aliás, ele não era do tipo que parecia se convencer facilmente, isso dava pra perceber. O rapaz apontou sua varinha iluminada para o tronco.

Mobiliarbus! — ordenou ele.

O pedaço de árvore caído voou pelos ares, desaparecendo de vista por trás da beira do penhasco que se revelara por trás dele. O tronco guardava um pequeno espaço plano de terra onde as últimas árvores encerravam a floresta. No lugar havia uma pequena barraca aramada ao lado de um segundo tronco, muito menor do que o que fora arremessado ao ar, deitado sobre a terra.

A garota depositou os galhos e gravetos que ela e Mason carregavam sobre o chão em frente ele, apontou sua varinha para a madeira seca e ordenou:

Incendio!

O fogo queimou a lenha imediatamente, dando vida a uma mísera fogueira. Suas chamas eram instáveis devido ao vento.

— Acho que isso vai nos aquecer por hoje – disse ela, sentando-se sobre o tronco.

Mason ainda examinava desconfiado o local e ignorou o comentário da bruxa. Depois de alguns inúteis minutos gastos na procura de uma ameaça inexistente, ele se sentou ao lado da garota. 

Iniciaram uma conversa baixa, abafada pelo som das rajadas de vento que castigavam o alto do penhasco. Porém, não tiveram tempo de chegarem a um assunto pertinente, pois suas vozes se calaram no instante em que um galho se quebrou na floresta, muito próximo de onde estavam.

A reação de Harry foi tão rápida quanta a deles, pois os três viraram-se imediatamente na direção da origem do som. Ou melhor, dos sons. Pois mais galhos estavam sendo quebrados, como se alguém os pisasse.

O fato era que havia alguém os pisando. A figura surgiu languidamente, de forma quase monótona, por detrás de uma árvore. Uma das últimas árvores. E se aproximou no mesmo passo lento. Dramático. Ao contato do primeiro raio de luar, a figura até então desconhecida tornou-se uma mulher.

Bellatrix Lestrange, foi o primeiro nome que veio à mente de Harry, fazendo-o surtar. Voldemort estar vivo era até considerável, mas aquela mulher... Ele a vira explodir! Não, era impossível.

Mas a mulher que saía de trás da árvore e se aproximava era mais velha do que Bellatrix, ele logo percebeu. Possuía cachos grisalhos em meio a cabeleira negra e volumosa e a pele apresentava meia dúzia de rugas que não eram características da outra bruxa. Tirando isso, eram até muito semelhantes. Harry não sabia quem ela era.

Mason e a garota, por outro lado, sabiam. Ambos se colocaram de pé imediatamente ao primeiro contato com o rosto enrugado da mulher de cachos negros e grisalhos. Ergueram as varinhas defensivamente. Seus olhos demonstravam um misto de surpresa, raiva e medo.

A mulher, que agora Harry percebeu também segurar uma varinha, ergueu-a também em sinal de defesa e rodeou-os vagarosamente, mantendo um intenso contato visual com o casal até parar à beira do penhasco. Mesmo que o silêncio fosse arrepiante e pesado, muita coisa parecia ser dita naqueles olhares.

— Ora, ora, ora – as palavras saíram da boca da mulher, finalmente. Frias como o ar que era soprado. – Se não são os meus sobrinhos prediletos— abriu um enorme sorriso amarelo e falso.

A bruxa esperou por uma resposta, mas os dois que a encaravam pareciam muito assustados para fazê-lo. Ela prosseguiu:

— O pequeno Mason e sua queridinha irmã Annabeth. Há quanto tempo, não? – houve uma breve gargalhada estridente e mal jeitosa. – Pensei que estivessem mortos. Que decepção!

E outra gargalhada, desta vez mais intensa.

— Pois sentimos o mesmo – respondeu a garota, cujo nome era Annabeth, finalmente encontrando voz pra responder alguma coisa.

A bruxa parou de rir imediatamente.

— Como nos encontrou? – perguntou Mason, sabendo que aquela era a coisa mais sensata a se fazer, e não insultos. Sua voz sugeria um certo desespero. – O que está fazendo aqui?

— Matando a saudade, não é óbvio? – perguntou ela ironicamente, tentando parecer séria. Mas a expressão de que achava graça daquilo tudo estava estampada em seu rosto. – Tudo bem, nunca fui capaz de demonstrar sentimentalismo por vocês. Não consigo mentir.

— O que está fazendo aqui? – repetiu Mason, hostilmente, ignorando a tentativa da mulher de fazer piadas.

— Tanto faz – disse ela, dando de ombros. Apertou a varinha em sua direção. – Eu vim para que nós pudéssemos ter uma... conversinha. Coisas de família, se é que me entendem.

Estava ali. Mais uma vez o sorriso debochado. Mason e Annabeth também apertaram suas próprias varinhas.

— Não temos nada a ser conversado. Não com você – disse Mason em desafio. Aparentemente, a última frase da mulher surtira efeito sobre os dois.

— E quem disse algo sobre vocês? Eu tenho coisas a dizer. E isso já é suficiente. 

— Não queremos ouvir. Vá embora, enquanto ainda pode – disse o bruxo.

— Uhuu, isso é uma ameaça, Mazinho? – debochou a mulher. – Parece que você aprendeu a deixar de ser um chorão mimado. Talvez Dumbledore tenha feito algum bem a vocês, afinal...

O nome o afetou tanto quanto a Harry. De repente, ele sentiu um interesse ainda maior por aquelas pessoas e o que estava acontecendo. Mason abrira a boca para soltar uma resposta, mas a bruxa logo o interrompeu, aumentando o tom de voz.

— Mas o fato é, vocês querem ouvir. Ahh, e como querem! Vão dizer que nunca quiseram saber o motivo disso tudo? O motivo do que aconteceu com sua família, caindo um por um, até que restassem apenas vocês?

O brilho de interesse no olhar dos dois foi quase que imediato. A bruxa registrou o fato, prosseguindo, contente:

— É uma história bem interessante, até. Mas longa. Muito longa. Me sentaria se eu fosse vocês.

Os dois dispensaram o conselho, permanecendo de pé, imóveis. Seus lábios tremiam, reprimindo todos os insultos e coisas que gostariam de gritar para aquela mulher naquele momento. Queriam que fosse embora, mas o desejo era tão grande quanto à curiosidade que lhes açoitou.

— Pois bem, a escolha é de vocês – a mulher conteve o amarelado sorriso e a ansiedade antes de iniciar. – Por onde devo começar? Ah, sim. O patético irmão do avô de vocês. Antenus. Sei que já ouviram falar dele.

Mason e Annabeth não concordaram nem discordaram, apenas continuaram atentos às palavras da bruxa. Ela prosseguiu sem delongas:

— Eu e seu tio-avô nos conhecemos há muitos anos, quando estudávamos em Hogwarts. Ele era fora apaixonado por mim desde que me lembre, e fez de tudo para chamar a minha atenção. A minha maldita atenção, que ele esteja no inferno por isso! – a bruxa fez uma pausa para se recompor. – No início, enquanto eu ainda era inteligente, fui relutante. Mas ele era charmoso demais. Tanto quanto o seu sangue o permitia, já naquela época surtindo efeito sobre ele... Começamos a namorar no meu quinto ano. Ele já estava no sétimo.

"Certo dia, encontrei Antenus conversando com Sebastian, o avozinho de vocês. Estavam empolgados. O assunto era uma relíquia de família que haviam descoberto existir, com poderes fantásticos e cujo paradeiro era desconhecido. Quando o questionei sobre do que se tratava e de onde haviam obtido a informação, os dois simplesmente afirmaram não ser algo que tangesse à mim. Que era um assunto de família. E como eles glorificavam essa maldita família!— mais uma vez precisou interromper a narrativa para se recuperar. – Como eu ia dizendo, passados alguns dias, Antenus veio me procurar. Faltava apenas um mês para que ele encerrasse em Hogwarts e, assim que isso ocorresse, ele me abandonaria para partir em busca dessa tal relíquia. Ele viera me dizer que não ficaríamos mais juntos. E como eu o odiei por isso!

“Sentimentos são algo abominável. Depois de ter amor transformado em ódio profundo pelo abandono, jamais quis tornar a tê-los. E tudo de bom que eu ainda sentia, seja por Antenus ou por seu maldito sangue, me deixaram para sempre.

A história era contada de forma tão fria e lenta que tudo que a mulher dizia parecia, de certa forma, horrível. Mason e Annabeth continuavam escutando, atentos, sem relaxar nenhum músculo sobre os punhos das varinhas.

— O ano terminou, e Antenus partiu – continuou ela, no mesmo tom. – Minhas férias só serviram para que, atormentada pelos sentimentos ruins, eu me tornasse mais rancorosa. Retornei à Hogwarts mudada, desejando que pudesse canalizar tais sentimentos e me aliviar um pouco de seu peso. Então, em uma certa noite na sala comunal da Sonserina, ouvi dois garotos conversando a respeito de um aluno do sétimo ano que estava reunindo seguidores para as artes das trevas. Abençoados sejam aqueles garotos! Pois aquilo era tudo o que eu mais queria. Me ofereci imediatamente.

Mason retesou o punho sobre a varinha. Seu olhar era intraduzível.

— Depois de algumas reuniões secretas em uma sala nas masmorras, eu já havia conquistado a confiança de meu lorde – era incrível o quão carregado de orgulho estava essa última frase. – Certa noite, ele me pediu para permanecer em sua presença após o fim de uma reunião. Quando todos haviam se retirado, ele se aproximou de mim com olhar de cobiça dizendo que sabia o segredo da família de vocês, assim como eu. Sabia sobre a busca de Antenus por uma tal relíquia misteriosa. Ele a queria. Ah, como ele a queria! Mal pude acreditar que estava tratando desse assunto com meu lorde, mas seu interesse me atiçou. Ele queria que a relíquia fosse roubada. E queria que eu o fizesse por ele. Em nome de lealdade. Mas, acima de tudo, por vingança. Roubar de Antenus o que lhe roubara de mim. Era perfeito. Aceitei a missão, e jurei que daria minha vida para encontrá-lo.

"O ano se encerrou e, com a formatura de meu lorde, não havia motivos para que eu voltasse à Hogwarts. Abandonei-a sem pensar duas vezes, obstinada a cumprir o que prometi. Meus pais morreram pouco tempo depois disso, me deixando definitivamente sozinha no mundo. Nada mais podia me impedir agora de buscar meus objetivos.

“Durante quase um ano, nada progredi em minha busca por Antenus. Eu não fazia ideia de onde ele estava. Não sabia como chegar até ele. Até que… Ele veio até mim. 

“Era uma noite de tempestade quando ele bateu na minha porta, com as roupas rasgadas e encharcadas e o rosto ferido. Seu sorriso de felicidade ao me ver foi o sorriso que mais odiei em toda minha vida. Ele pôs-se a dizer que encontrara a relíquia, e que agora poderíamos ficar juntos de novo. Nunca deixara de me amar. Nunca deixara de me amar!— a bruxa deu uma breve risada histérica, como se achasse graça do sentimento do homem. – Parece piada, não é? Pois é isso que ele gostava de fazer. Rir dos meus sentimentos. Mas, desta vez, eu é quem riria. Faria de tudo para garantir isso. E fingir aceita-lo de volta foi o meu primeiro passo.

“Ele me pediu em casamento naquela mesma noite. Em casamento. Mais uma piada? Talvez. Mas eu estava disposta a fazer dele um peão em seu próprio jogo. Nos casamos poucos dias depois e, em seguida, ele me chamou para acompanhá-lo no resgate da relíquia no local onde ele a encontrara, pois não aguentaria me deixar de lado como da última vez. Tarde demais para me dizer isso, seu verme!— gritou ela, de repente, xingando o homem que ela provavelmente via refletido pela semelhança genética em Mason. 

"Para completar a minha vingança, bastava comunicar ao meu lorde sobre a descoberta da relíquia e onde esta poderia ser roubada. E foi exatamente o que fiz. Nunca o vi mais satisfeito! No dia seguinte, Antenus me levou até um pequeno povoado chamado Godric's Hollow... – Harry se surpreendeu ao ouvir esse nome, mas ninguém pode perceber a sua reação. A bruxa continuou contanto a história sem interrompê-la. – Era impossível saber onde o Lorde das Trevas estava, mas eu podia sentir a força de sua presença nos acompanhando, provavelmente sob o efeito de algum feitiço de desilusão ou algo do tipo... Enfim, isso não vem ao caso.

“Antenus me levou até diante de um grande rochedo margeado por um lago minúsculo, que ficava atrás daquele povoado. Não havia nada de anormal no lugar, e sei que por um momento o Lorde das Trevas se enfureceu pensando que o burro do tio de vocês havia se enganado. O que não me surpreenderia, para falar a verdade! Mas talvez ele não fosse tão burro assim. Pelo menos não naquela vez, porque ele parecia saber o que estava fazendo. Ele conjurou uma espada e com ela espetou o dedo, fazendo uma passagem se abrir nas rochas em contato com o seu sangue. Seu maldito sangue!

“Que seja. Entramos pela fenda e encontramos um lago enorme por dentro da caverna. Atravessamos o lago até chegarmos à sua margem e depois seguimos por um corredor que dava numa câmara vazia. Antenus cravou a espada em uma das paredes e uma porta surgiu no lugar. Atrás dela havia uma outra câmara muito maior. Tão grande quantos as riquezas ali dentro.

“Era um verdadeiro tesouro. Estava cheia de objetos de ouro, prata, e outros metais preciosos que eu se quer conhecia. Mas nada daquilo pareceu chamar a atenção de seu tio. Ele foi quase que diretamente em direção a um escudo de ouro que estava na parte central da câmara e a segurou nas mãos. Estava fascinado. Olhava para o objeto como nunca olhara para mim!

Nesse momento a bruxa cuspiu em sinal de repúdio. Demorou algum tempo para retomar a compostura e continuar:

— Imediatamente soube que aquela era a maldita relíquia que ele tanto amava. Senti tanta raiva que poderia tê-lo matado eu mesma num piscar de olhos – Mason e Annabeth demonstraram desconforto. – Mas não tive tempo de ter nenhuma reação, pois naquele mesmo instante o Lorde das Trevas surgiu ao meu lado. Imobilizou Antenus com uma maldição e ordenou que eu os deixasse, sem questionamentos. Não tive escolhas a não ser obedecê-lo. Mas posso garantir que nada me fez mais feliz do que lançar aquele último olhar para o seu tio e vê-lo aterrorizado enquanto a maldição o torturava. Sua face beirava a loucura – A frase foi dita em meio a uma risada maliciosa da bruxa. – É a última imagem que tive dele na vida. E, sem dúvidas, a melhor lembrança que tenho.

Houve uma pausa dramática, em que o casal de irmãos se encarou em um misto de sentimentos, entre eles raiva, tristeza e curiosidade. Foi Mason quem quebrou o silêncio, dizendo:

— Deixou que Voldemort o matasse?

— Não é óbvio? E teria o ajudado, se ele tivesse me permitido – respondeu ela friamente. – Esperei-o do lado de fora da caverna até que, depois de algumas horas, ele saiu de lá. Sozinho. A caverna desapareceu e Antenus nunca mais saiu de lá. Que ele apodreça eternamente naquele inferno!

Os irmãos se calaram por um breve segundo, ignorando o último comentário.

— E para onde Voldemort levou o escudo? – perguntou Annabeth, cautelosamente. Harry achou a pergunta um tanto quanto estranha, mas viu nos olhos dos irmãos que havia um certo interesse naquela pergunta, embora a garota tentasse disfarçá-lo.

A bruxa também pareceu notar, pois demorou alguns segundos para responder.

— Não estava com ele quando voltou. Nunca mais o mencionou na minha presença, e nunca tive coragem de perguntar o que ocorrera – ela os encarou com curiosidade. – Não me digam que também querem encontrar essa desgraça de escudo?

Os garotos piscaram, nervosos, mas não responderam. A bruxa não se impressionou.

— Típico de sua família. Não me surpreende nem um pouco – mais uma pausa. – Mas talvez vocês desistam da ideia se souberem o que aconteceu com seu avô... E com o seu pai...

Agora ela tocara realmente na ferida. Os dois ficaram vidrados. A bruxa deu mais uma gargalhada seca.

— Isso mesmo. Continuem se comportando que eu conto o resto da história, queridinhos. Onde é que eu estava mesmo? Ah, me lembrei. Depois de todo esse ocorrido, pela primeira vez na vida me senti realmente livre de tudo que me prendia a Antenus e sua maldita família. Estava livre para poder me dedicar ao meu amo.

“Mas eu estava enganada. Poxa, como eu estava enganada! Pois foi o próprio Lorde das Trevas que me ordenou que eu permanecesse junto de sua família, pois o sanguezinho de vocês era muito precioso. Eu deveria retornar para junto de seu avô e dar-lhe a notícia de que meu querido marido havia desaparecido, sem nunca mencionar a ninguém o que acontecera de verdade. Eu deveria me manter próxima de Sebastian e me assegurar de que ele nunca trilharia os passos do irmão em busca daquele tesouro sem que meu lorde fosse informado. Relutei infinitamente em fazer isso, pois tudo o que mais queria era me ver livre de sua família. Mas eu havia me tornado parte dela pelo casamento, e aquele era o desejo de meu lorde. Eu deveria obedecê-lo. Então, fiz um voto perpétuo.

"Os dez anos que se seguiram foram horríveis. O Lorde das Trevas havia desaparecido pouco depois de me dar essa missão, e não tivemos contato de novo por quase uma década. A pior década de todas as que vivi! E tudo por culpa do avô de vocês, que me infernizou durante todo esse tempo. Não passava de uma cópia mais jovem e mais infeliz do irmão que, depois de tanto tempo desaparecido, fez com que todos concluíssem o óbvio. Antenus estava morto, e agora todos sabiam. Me esforcei ao máximo para fazer o meu papel de viúva indignada, mas não conseguia deixar de achar graça de todo o sofrimento que um homem tão miserável quanto seu tio estava causando. Ele não merecia todo aquele sentimento. Não mesmo!

A frase foi encerrada com uma tosse seca, que fez a garganta de Harry doer. A bruxa retomou a narrativa.

"Quando todo esse luto terminou, mudei-me para uma casa vizinha a de seu avô, onde ele morou sozinho por alguns anos até que se casasse com a sua avó. A criança veio poucos anos depois do casamento. Um bebê chorão que importunava toda a vizinhança, isso é o que o pai de vocês era.

“Finalmente, depois de longos e angustiantes anos, o meu lorde reapareceu. Me senti viva de novo. Ele entrou em contato com seus seguidores e passamos a nos reunir novamente. E foi em uma dessas reuniões que eu, em particular, informei à ele, como eu havia prometido, que Sebastian sondava a ideia de encontrar a relíquia da qual Antenus buscava quando desapareceu e descobrir o que ocorrera de fato com o irmão.

“Aquilo incomodou meu Lorde, mesmo ele estando agradecido pelo ótimo serviço que eu vinha prestando. O incômodo foi tão grande que ele precisou tomar uma atitude. Sem me permitir questionar, ordenou-me que eu fizesse que Sebastian ficasse sozinho em sua casa durante uma tarde. E, claro, foi o que eu fiz. Convidei sua avó para levarmos o papaizinho de vocês para um passeio enquanto Sebastian estivesse trabalhando no depósito de casa. Quando voltamos, a porta da casa havia sido arrancada e seu avô estava morto no chão.

Ali estava, mais uma vez, a frase causando o efeito que a bruxa esperava. Os irmãos estavam frustrados. Uma lágrima escorreu do olho de Annabeth. Porém, não era de tristeza, mas sim de raiva. Mason cerrava o punho fortemente sobre a varinha.

— A culpa é sua! – acusou ele entre os dentes. – Deixou que Voldemort o matasse. Sabia de tudo o tempo todo...

— Não, não, Mazinho. Não! Eu não sabia que ele iria matá-lo – disse a bruxa, como se sentisse ofendida por aquilo. – Se eu soubesse... Teria ficado para assistir.

O sorriso que a mulher abriu foi o mais amarelo até então. Sua frieza era extremamente incômoda.

— Vá pro inferno! – gritou Mason, finalmente libertando todo o sentimento que vinha reprimindo. – Estupefaça!

A bruxa arrebatou o feitiço com facilidade, pois a raiva de Mason deixava sua mão que segurava a varinha trêmula, fazendo o feitiço fraquejar. Deu uma risada zombeteira.

— O bebezinho ficou com raivinha, foi? Espere só até ouvir o resto...

— Calada! Não queremos ouvir mais nada de você – ele insistiu. – Estupefaça!

Mais uma vez, o feitiço foi bloqueado. Com um movimento rápido de varinha, a bruxa imobilizou o corpo de Mason.

— Tolo, tolo... Você ainda não entendeu que a opinião de vocês não importa? Eu vou continuar, queiram vocês ou não.

“Então, como eu ia dizendo antes da interrupção grosseira e deselegante do meu sobrinho querido, depois que o avô de vocês morreu, continuei a viver com a sua avó e seu pai. Fazia parte do meu voto nunca deixá-los enquanto meu Lorde precisasse. Porém, sua vovozinha não durou muito... Morreu pouco anos depois, em uma depressão profunda pela morte do marido que ela nunca superara.

 "Seu pai tinha nove anos quando isso aconteceu. Sendo a única parente viva que lhe restara, fui obrigada a continuar a criá-lo. Foram anos difíceis, mas que felizmente melhoraram quando ele recebeu a carta de Hogwarts. Pude ficar sozinha de novo. Uma solidão que eu tanto queria desde a morte de Antenus, e que nunca pudera desfrutar. Mas havia chegado. Nesses sete anos seguintes, em que Downey só retornava para a casa nas férias, pude me dedicar completamente ao Lorde das Trevas.

“Estava tudo indo bem, até o momento em que seu pai se formou. Para minha surpresa, ele descobrira que sua família era o que é. Estava muito cheio de si por isso. Conseguira ficar ainda mais arrogante do que já era, aquele sujeitinho imundo. Imediatamente, o Lorde das Trevas me ordenou que o vigiasse de perto, pois temia que Downey seguisse os mesmos passos do pai e do tio.

"Mas ele não demonstrou interesse em fazê-lo. Pelo menos, não no início. Alguns anos se passaram para que o temor de meu Lorde se concretizasse. Downey já estava casado com a mãe de vocês, e vocês dois já haviam nascido. Primeiro veio o Mazinho, uma das crianças mais insuportáveis que eu já conheci. Vivia chorando e nunca estava satisfeito com nada. Depois veio essa mocinha aí, para piorar a choradeira. Mas vocês não tiveram muito tempo para conviver com o seu papaizinho... Provavelmente nem se lembram dele. Isso tudo é culpa dele, afinal! Poderia ter vivido uma vida longa e feliz com vocês, se não tivesse sido tentado pela mesma atração misteriosa que levara o seu pai e seu tio a buscarem pela relíquia maldita, e que também os levara a morte. Então, o que não é surpresa, poucos dias depois e após cumprir o meu serviço informando ao meu Lorde sobre o interesse de Downey, ele foi encontrado morto não muito longe de sua casa, enquanto ia comprar comida pro bebê...

— CALA A BOCA! – estourou um dos irmãos, mas desta vez foi Annabeth. O grito ecoou pela noite enquanto Mason se contorcia tentando se livrar do feitiço que o prendia. A garota, tomada pela raiva, ergueu a varinha em direção a bruxa, mas a adversária foi mais rápida.

Expeliarmus!— disse com sua voz seca. A varinha de Annabeth saltou de sua mão e voou em direção a floresta. – Você sempre foi uma garota muito estúpida. Cuidarei de você depois. Mas, agora, eu tenho que lhes contar o final da história... 

Harry sabia que a garota queria fazer mais uma objeção, mas o fato de estar desarmada enquanto uma varinha era apontada para ela fez com que ela se contesse. A bruxa prosseguiu sem interrupções.

— Sua mãe era uma mulher muito frágil, não durou nem um ano sem o seu pai. O que fez restar para mim... Exatamente! Vocês dois – mais uma vez o sorriso amarelo. – Mas não precisei me preocupar com vocês por muito tempo.

"Era noite de dia das bruxas quando, naquela mesma aldeia em que Antenus havia me levado há tantos anos atrás, um bebezinho maldito e sem nenhum talento supostamente derrotara o Lorde das Trevas. Pelo menos é o que diziam. Mas com certeza vocês já conhecem essa história... O fato é que eu sabia que não era verdade! Mesmo que todos falassem o contrário. Eu sentia que meu amo ainda estava vivo. A marca em meu braço ainda estava visível, mesmo que muito deformada. Então, sabendo que meu Lorde precisava de minha ajuda, não pensei duas vezes antes de abandoná-los e ir atrás dele para ajudá-lo a reunir forças. Sabia que vocês não sobreviveriam por muito tempo sem mim, então não estaria quebrando o meu voto. Tranquei vocês dois dentro daquela casa velha e parti.

“Mas, evidentemente, não encontrei sinal de meu Lorde. Após quase treze anos de busca, não obtive sucesso algum, até o dia em que o senti. Minha marca voltara a ser o que era. Na verdade, estava ainda mais viva do que já estivera. E soube naquele momento que o Lorde das Trevas retornara.

Harry ficava cada vez mais surpreso com a história. Aparentemente, até ele estivera envolvido em toda aquela loucura.

— Ele nos convocou. Estava mais forte do que nunca. Ao questionar-me sobre o porquê de eu não estar mais ao lado de sua família, eu disse que os havia abandonado à morte. E que, àquela altura, sua família já não existia há uns bons anos – a bruxa fez uma pausa. – Mas parece que me enganei, não é mesmo?

A pergunta ficou no ar por um longo tempo, mas ninguém respondeu. O silêncio foi quebrado com uma outra pergunta, desta vez de Mason, que ainda se retorcia para se livrar do feitiço de imobilização.

— E como foi que nos encontrou, afinal? Se achou que estávamos mortos...

— Eu vou chegar lá agora, senhor precipitado – a bruxa pigarreou e prosseguiu. – Bem, só descobri que não haviam morrido ontem. Então, confesso que ainda estou um pouco surpresa que tenham sobrevivido. Mas talvez este meu erro tenha sido útil, no fim das contas...

— Como assim? – quiseram saber os dois ao mesmo tempo. A bruxa levantou a mão como que pedindo para não ser interrompida.

— Continuando... Ontem a noite, meu Lorde convocou todos seus seguidores para comparecermos imediatamente à Hogwarts. A batalha já havia começado. Ao encontrar-me com ele, tudo o que ele quis de mim foi que o assegurasse de que vocês estavam realmente mortos. Nunca o vi tão desesperado. Era como se sua vida dependesse disso. Atendendo ao seu pedido, pela primeira vez desde que os abandonei, retornei ao povoado em que morávamos para ter a certeza de que os restos mortais de vocês permaneciam trancados naquela velha casa abandonada. Porém, encontrei-a vazia e imunda, com a porta da frente arrombada, assim como a do quarto onde eu os havia trancado. Não havia nenhum resto no lugar. Alguém os havia tirado de lá. Vocês haviam sobrevivido.

“Aparatei novamente para Hogwarts, temendo o castigo que sofreria quando meu Lorde descobrisse. Ficaria furioso comigo. Como eu podia ter falhado dessa forma? Sentia que meu voto me consumiria a qualquer momento. Mas, para minha enorme surpresa e alívio, quando me reuni com os outros na Floresta e comuniquei ao Lorde das Trevas que vocês haviam escapado, ele não se zangou. Pelo contrário, na verdade. Ficou de certa forma satisfeito com a notícia. Ordenou-me que os encontrasse imediatamente. Se não os dois, pelo menos um. Disse ser crucial que eu o fizesse, e que o sangue de vocês nunca tivera tanto poder...

“Mais uma vez a droga desse sangue!!!

“Saí imediatamente da Floresta, desnorteada, mas disposta a encontrá-los, mesmo não tendo ideia de por onde começar. Porém, não precisei pensar muito no assunto pois, assim que eu cheguei aos terrenos da escola, adivinha quem eu vejo? Sim, exatamente quem eu mais precisava: vocês! Era sorte demais para ser verdade, mas mesmo depois de dezessete anos eu nunca esqueceria desses irritantes rostinhos de vocês. E foi exatamente esses rostinhos que eu vi saírem correndo de dentro do castelo em direção à Hogsmead e aparatar...

— Para essa floresta – concluiu Annabeth, sofregamente. – Você apenas nos seguiu.

— Pelo visto você ficou mais esperta, heim? – zombou a mulher.

Annabeth não disse nada. Mason ainda se debatia contra o feitiço.

— E pelo visto você não, não é? – tentou rebater ele, mais confiante do que realmente estava. – De que adianta nos levar agora, se o seu queridinho Lorde está morto?

— Ora, qual é? Nós três sabemos que isso não é verdade.

A mulher esticou o braço e levantou a barra da blusa, revelando a marca negra tatuada sobre a pele. Não era bem a marca comum dos Comensais. Aquela estava estranhamente deformada, como se a tatuagem tivesse tentado se fechar e se transformar em uma cicatriz. Mas ainda existia.

— Assim como o meu lorde, ela não desapareceu. Apenas está extremamente fraca e danificada. E ele também.

Aquilo definitivamente foi a parte da noite que mais atormentou Harry. Mason e Annabeth não responderam absolutamente nada.

A bruxa tapou novamente a sua marca-cicatriz. Tentando aliviar um pouco a tensão que se abateu, começou a falar como quem não quer nada:

— Sabe, acho que vocês não devem ficar tão zangados no fim das contas. Sua família era insuportável. Fizemos um favor pra vocês impedindo-os de os conhecer...

Sua maldita! — gritou Annabeth, voltando a se descontrolar e esquecendo o fato de estar desarmada. 

— Não tem o mínimo respeito pela sua tão adorável tia, não é mesmo, garota? Sabe, eu não me importo se você gosta de mim ou não... Sempre gostei menos de você mesmo – a bruxa começou a alterar o tom de voz, movimentando a varinha de forma ameaçadora. – E como o Lorde das Trevas só precisa de um de vocês... Vai ser um prazer poder acabar com você – Houve um breve segundo de silêncio em que a varinha da bruxa foi apontada diretamente para Annabeth. – Avada Ked...

— Estupefaça!

 O final da maldição jamais pode ser ouvido. Mason, embalado pela necessidade de proteger a irmã, conseguiu finalmente se soltar do feitiço que o prendia e apontar sua varinha para a bruxa que o lançara. O raio de luz vermelha que saíra de sua varinha atingiu a bruxa em cheio no peito, arremessando-a para trás e jogando-a do alto do penhasco para a escuridão do vale às suas costas. A varinha da bruxa caiu há poucos metros de Harry.

Annabeth olhou assustada para Mason, sem entender o que havia acontecido. O irmão continuava com a varinha apontada para onde a bruxa estivera. Sua respiração estava alterada e seu olhar sem foco.

— Mason! - exclamou ela, assustada – O que você fez?

O rapaz olhou para a sua varinha e a abaixou. Sua fisionomia se alterou.

— Ela ia matar você, assim como fez com nossa família.

— Mas foi você quem a matou!

— Sério que você vai se apiedar dela agora, Anna? Depois de tudo que ela nos contou? Ela merecia coisa muito pior, se você quer saber.

Finalmente a lágrima de ódio que o garoto tanto segurara escapou-lhe dos olhos, agora misturadas a um sentimento de vingança. Secando a lágrima com a manga do casaco, ele se abaixou e pegou a varinha da mulher em suas mãos.

— Quantas vidas inocentes essa varinha já deve ter tirado? – perguntou para si mesmo, sentindo repulsa por segurá-la. Caminhou até a beira do penhasco e a arremessou o mais longe que conseguiu. – Bom, pelo menos teve algo positivo em toda essa história...

Annabeth concordou com a cabeça, lentamente. A voz de Mason estava fraca. Ainda tentavam assimilar tudo o que ocorrera.

— Agora nós sabemos onde o escudo está – concluiu o garoto.

Nesse momento tudo escureceu e, enquanto os pés de Harry deixavam o chão, ele viu os olhos azuis de Annabeth se transformarem em duas órbitas vermelhas.

Depois, mergulhou em uma profunda escuridão. 


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