Sete-Estrelo escrita por sabrinavilanova, Nathymaki


Capítulo 3
Capítulo Três - A Pirate's Life For Me




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Se havia um consenso geral entre os construtores de navios era que o Plus Ultra era o melhor e mais magnífico deles. De acordo com a terminologia dos navios, este se enquadrava na classe de um galeão, feito especialmente para a marinha portuguesa e tomado por um famoso pirata de renome muitos anos antes. Era um navio redondo de alto bordo, do tipo da nau, mas com algumas características diferentes: quatro altos mastros empunhando suas velas negras se estendiam pelo convés. Cordas eram lançadas do alto e devidamente amarradas em seus lugares pela amurada, mantendo a sustentação e o equilíbrio. O casco lustroso cortava os mares com precisão e agilidade, imprimindo a rapidez com que mais nenhum outro navio se equiparava. Aberturas, agora tapadas por suas portinholas, tinham seus lugares bem demarcados, apresentando a quantidade de canhões que podiam ser disparados em batalha. Nos fundos, os aposentos do capitão — que no momento se encontravam trancados ― tinham o lugar ideal para o caso de necessitar se defender de um motim e o posto do leme onde a mágica acontecia. Do convés inferior mal se ouvia as vozes altas por alguma discussão típica emergindo em meio as redes estendidas e os suprimentos necessários. 

Na proa, uma figura esculpida se destacava em uma madeira clara a qual contrastava gritantemente com as velas negras, vigiando atentamente o caminho azul que se estendia diante deles. Uma mulher de belas feições e corpo esbelto que findava em uma sinuosa cauda. Maçãs do rosto esculpidas à perfeição acompanhadas de uma expressão intensa que fazia com que todos aqueles que ousavam encará-las por muito tempo recusassem e desviassem depressa o olhar. Havia um quê de intimidador na postura e no brilho que aqueles olhos pareciam emitir. Diziam as lendas que aqueles ousados ou tolos o suficiente que avistavam o navio e sua figura de proa reluzente, passavam a agir de modo estranho, com uma fascinação sem precedência, quase como se estivessem hipnotizados. Depois disso, nunca mais eram vistos. Suas almas, as histórias contavam em vozes roucas e sussurradas a luz reluzente de uma lamparina, eram levadas, absorvidas pelo navio que abandonava os corpos a repousarem eternamente no fundo do mar. 

Era claro que havia quem duvidasse de tais lendas, os murmúrios dos alucinados em nada pareciam verdadeiros aos ouvidos dos mais corajosos. Só que não deixava de ser verdade que aquelas histórias, escutadas entre botecos mal-cheirosos e becos sujos, incitavam os mais curiosos a procurarem o navio, tentando com tudo o que tinham entrar para aquela tripulação chamada de amaldiçoada. Não era de se impressionar que não voltassem, metade deles não conseguia sobreviver às provações e outros morriam de medo, fugindo de suas vidas moribundas. 

Talvez por isso fosse tão difícil achar novos marujos para a tripulação. Os medrosos desistiam facilmente. Homens se jogando ao mar não eram novidade dentre aqueles que tinham aquela embarcação como seu lar. Lar, Shouto pensou certa vez, nunca tivera um. Não queria que aquele fosse o seu. Não que fosse se tornar. Era apenas uma porta aberta, uma passagem para a tão desejada liberdade.

Mas havia algo estranho naquele navio, não poderia negar. O som do contorcer das cordas, da água batendo no casco do navio. Tudo era tão estranhamente pacífico que não se impressionava ao ver homens e mulheres vendo-o daquele jeito tão… tão afetuoso. 

Naquela tarde, por exemplo, os esfregões dançavam sobre o piso do convés de maneira desritmada, mostrando o descontentamento de ambos os homens que estavam ali, prontos para mais um dia de trabalho. Era verdade que nenhum dos dois tinha ilusões sobre como era a vida em um navio, sabiam que nem sempre haveria uma aventura para fazer com que seus corações batessem acelerados, a adrenalina correndo em suas veias, os pulmões queimando no alívio de uma boa luta. Mas não podiam negar que esperavam que as coisas no tão temido Plus Ultra fossem um pouco mais animadas. A começar com festejos, quem eram eles senão homens amargurados que necessitavam de uma boa festa? A agitação acalorando seus corpos, o rum aquecendo seus corações. A possibilidade de usufruir das principais vantagens de ser um pirata era excitante até para os homens de Deus, o gozar do tempo em que festejavam, deixando todo o peso das suas vidas para trás.

Entretanto, o único sentimento que lhes acometia o corpo era nada além da frustração de levar os dias tediosos com a barriga. Não que fosse realmente um desperdício de tempo, não, com certeza não. Era um trabalho, podiam ser porcos vagabundos, mas ainda tinham um resquício de dignidade para se prontificarem ao  trabalho. E voilà, a limpeza estava em suas mãos. Esfregões eram melhores companheiros de que remos, por isso, não reclamavam de jeito nenhum. E Shouto não podia negar que o silêncio das tardes no convés do navio eram de um prazer inigualável — pelo menos, considerando que a calmaria era um tesouro para o rapaz, que havia se acostumado com os gritos de Endeavor desde pequeno —, ter aquilo já lhe bastava. Porém, seus momentos de deleite ao sentir o vento do oceano assoprar seus cabelos ruivos e a leveza que ele tocava a sua pele eram sempre curtos demais, considerando que seu companheiro de trabalho era um patife tagarela. Todoroki não sabia se aquilo o deixava irritado ou apenas cansado, talvez os dois.

Mas quando o pronunciar das palavras chegava aos seus ouvidos, Shouto não conseguia conter a curiosidade em relação àquele rapaz. De certo não era inglês, seu sotaque o entregava. Por isso, deixou-se escutar apenas um pouco mais o falatório descontrolado do homem de cabelos claros. Sentiu o olhar sobre si e percebeu que ele havia feito uma pergunta.

— Não me interesso pelos prostíbulos que você costuma frequentar — respondeu, desviando o olhar. Ouviu-o soltar um muxoxo descontente, voltando sua atenção ao objeto em mãos.

— Você não vai conseguir muito com esse mau-humor — ele disse, colocando o esfregão no balde. — Estamos no mar, Vossa Alteza, não há muito o que fazer além de conversar.

Shouto revirou os olhos, dispensando as palavras com um gesto de mão. Não precisava de conselhos de um idiota como aquele. Lambeu os lábios e jogou a cabeça para o lado, numa tentativa falha de relaxar o pescoço. As costas ainda doíam com os ferimentos de dias atrás e, mesmo que tentasse ignorar, nada podia fazer quando o suor corporal tocava a pele machucada, fazendo com que ardesse como o fogo do inferno. O braço perfurado, nem se falava. Contorcia-se e atrapalhava seu trabalho com o esfregão, dando-lhe como lembrança dos dias atarefados nada além de noites em claro. Porém, a dor era algo que aprendera a suportar, era necessário no lugar do qual saíra, e mesmo que no momento tudo que quisesse fosse soltar uma exclamação irritada e pedir por algum bálsamo, sua expressão se encontrava longe de demonstrar.

Olhou de relance para Denki, engolindo em seco a arrogância que sabia que tinha — herança de seu tão maravilhoso pai. Parou o que fazia, virando-se totalmente para o outro homem.

— De onde você é? — perguntou, como se a resposta ríspida de momentos antes não fosse nada. Viu Kaminari franzir o cenho, deixando os lábios ondularem em um sorriso amigável. — Digo, onde nasceu? Você não é inglês, sei disso.

— Venho de Portugal, Vossa Alteza — respondeu, simplesmente, sem dar mais explicações do que aquilo significava.

— Mas fala mais de uma língua além do português...

— Inglês, espanhol e francês. — Cortou-o, voltando o olhar para as águas a sua frente. Shouto finalmente se deu a oportunidade de observá-lo, a forma como se trajava não era apropriada para ocasião alguma além daquela, mas o rapaz não podia falar muito, eram marinheiros, não nobres, apesar de que Todoroki tinha suas suspeitas. — Aprendi quando criança, as aulas particulares que tive são de boa utilidade para situações em que tenho que conversar com pessoas como você, meu caro. 

— Não brinque — resmungou. — Era aristocrata então? Não vejo outra possibilidade senão essa para que alguém tenha aulas particulares de outras línguas. Você deve ser um daqueles patifes nobres que não fazem nada o dia inteiro além de resmungar sobre política e tomar chá.

— Tem certeza que não está descrevendo a si próprio? — brincou, com um sorriso travesso no rosto. — Não tenho nem mesmo uma dúzia de moedas, muito menos terras para ser considerado aristocrata. Só tive a sorte de ser enxerido demais para fazer amizade com os filhos do dono da casa em que minha mãe trabalhava. Esse sim podia ser chamado de nobre. A propriedade dele era grande o suficiente para ter um grande vinhedo, tomei muito dos vinhos advindos daquelas uvas doces, aliás. Posso sentir o gosto até hoje, pena que não teria condições de pagar por eles.

— Então, como veio a se tornar um porco imundo como o resto de nós? — Os dentes amarelados se fizeram presentes quando a alta gargalhada saiu pela garganta do marujo, enquanto esse jogava uma das pernas para trás da outra. 

— A vida é injusta demais para os pobres como eu, rapaz. Ou você vive assim ou você morre de fome. — Ele tirou um cantil e levou aos lábios sem muita hesitação, oferecendo-o um gole logo depois. — E você, de onde veio?

— Acredito que não há lugar algum que eu possa dizer senão o mar. 

— Vago como eu esperava. — Riu-se, segurando novamente o bastão do esfregão. — Me faz imaginar se conseguiria soltar um pouco essa sua língua travada com um pouco de bebida. E por um pouco, me refiro a vários e vários barris.

Shouto sorriu curto e tomou o cantil das mãos dele, sorvendo um longo gole enquanto era assistido por olhos arregalados.

— Lamento frustrar o seu plano, mas confio na minha resistência e jamais cairia para algo tão fácil quanto o álcool. 

— Vai mudar de ideia bem rápido quando chegar aonde estamos indo.

— E como pode ter tanta certeza? Ninguém nem sequer menciona coisa alguma, como você pode saber de algo?

— Porque, meu amigo teimoso, ao contrário de certas pessoas, meus ouvidos estão bem abertos para possíveis informações. — o loiro bateu as botas no piso, como se desejasse criar um ruído de tambor. Shouto revirou os olhos para aquele teatro todo e aguardou. — Tortuga! A grande terra do rum e das belas damas. Tenho certeza que meu ambicioso plano se realizará lá, afinal, como um marujo pode resistir em meio a tantas tentações? Me dê algumas horas e um bom bar e veremos o que sairá ao final.

— Duvido que vá acontecer algo. Nunca perto de você, pelo menos. 

— Você é muito desconfiado para um rapaz dessa idade. Mas… espere e verá, tenho muitas habilidades. Acredito que você não resistirá por uma noite que seja.  E quem sabe, pode até chegar o dia em que você irá precisar delas...

Shouto abriu a boca para contradizê-lo, porém foi interrompido por gritos animados vindos de um pequeno círculo que se formava no lado oposto ao que estavam. Todos aqueles que deviam estar cumprindo suas tarefas se aproximavam para assistir e logo seus urros animados e instigadores se juntavam a aglomeração.

— Mas que merda? O que há com essa gente? 

— Só tem um jeito de saber não é mesmo? — Kaminari ergueu as sobrancelhas. — Venha, Vossa Alteza, vamos até lá descobrir. — E saltou na frente, assobiando animado. Shouto pensou em não segui-lo e retornar aos minutos de paz anteriores, porém como o patife bem lhe esfregara na cara, ficar de ouvidos abertos nos acontecimentos do navio não era de todo uma péssima ideia. E foi por isso, apenas por isso, que o seguiu pelo convés.

A causa de toda a gritaria logo se tornou clara. Dois marinheiros discutiam em altas vozes, um deles ostentava um nariz sangrento e o outro tinha uma expressão tão zangada que ninguém ousava se aproximar. Kaminari observou a cena por meros segundos e se virou para cutucar um dos que incentivavam a briga.

— Com licença, companheiro — cumprimentou, dando-lhe um sorriso travesso ao tocar em seu ombro. — Eu seria muito grato se o senhor me dissesse o que aconteceu aqui exatamente. 

O homem olhou para sua mão com ares quase rabugentos na face. Não era de se surpreender que tivessem medo dos marinheiros daquele navio. Viu-o deixar os ombros caírem, desistindo da sua decisão de ignorá-lo.

― O novato com o nariz sangrando ali disse que ter mulheres no navio é péssimo, é o mesmo que pedir pra ser abençoado com azar — resmungou. 

— Para a infelicidade dele — outro marinheiro, este mais animado que o de cara fechada se meteu na conversa, narrando o acontecido e se deliciando com a situação toda. —, a imediata Ochako passava por ali naquele exato momento.

 Os olhos de Shouto percorreram a figura da mulher tatuada de antes que só agora percebia estar ali. Desde o ocorrido no porto, ele havia aprendido que subestimar aquela garota era um erro sem precedentes, por isso quase teve pena do pequeno marinheiro que parecia se perder na sombra que ela lançava. Sua face permanecia fria, mas aqueles que sabiam identificar viam ali a raiva contida em seu interior. 

— Então, o esquentadinho ali socou o novato para defender a sua honra? — perguntou Kaminari.

O outro riu e passou os braços pelo ombro deles, fazendo-os se inclinar para a frente.

— Acho que você não entendeu ainda, companheiro — falou ainda risonho. — Está vendo aquele estrago no rosto do pobre rapaz? Foi ela quem fez. 

E foi nesse exato momento que a boca da mulher se abriu e sua voz se projetou por todo o convés, de modo que qualquer um que ainda não soubesse do ocorrido, de certo agora não teria justificativas.

― Escuta aqui, seu merdinha — e se aproximou, cada passo que dava para perto fazia o novato se encolher, até estar perto o suficiente para puxá-lo pela gola da camisa surrada de modo a estarem cara a cara. —, mulheres no navio. Algo contra que eu deva saber? Porque eu posso muito bem dar um jeito para que você se sinta mais confortável! O mar é mais confortável para você, babaca? Posso providenciar isso agora mesmo. Ei, você — e apontou para o marujo que ainda tinha os braços ao redor de Shouto e Denki. —, leve esse traste ao convés para que se despeça e o ajude a desembarcar do navio. O nosso amigo aqui deseja fazer um tour pelo fundo do oceano e eu certamente irei atender aos seus últimos desejos.

A esse ponto, já não havia cor alguma na face do novato. De fato, Shouto pensou, nem mesmo a alma dele ainda parecia residir em seu corpo. O esquentadinho, como Kaminari o chamara — mas cujo nome era, na verdade, Bakugou Katsuki —, apenas observava a tudo, braços cruzados e um sorriso enorme e satisfeito nos lábios, divertindo-se à beça com a dura que aquele cabeça oca estava levando. Nada mais  que o merecido, afinal, ele mesmo atraíra essa sina para si no momento em que abriu a boca para tecer tal comentário.

— Afastem-se, por gentileza. Deixem-me passar — um rapaz ruivo falou, passando rapidamente por entre as pessoas. — Deuses! — exclamou. — Eu não posso deixar vocês dois sozinhos por uns minutos que já arrumam uma confusão nova? 

— Eijirou, querido — Ochako falou, semicerrando os olhos com uma expressão facial que dizia: “Sério? Agora mesmo? Eu estou tentando enxotar um bastardo asqueroso aqui.” E Kirishima revirou os olhos, num gesto claro de “não ligo.” —, pensei que estava tirando um cochilo. 

— E tinha como com toda essa gritaria que vocês criaram? — Bufou, colocando as mãos na cintura. — Vamos, solte o rapaz. O coitado não merece morrer por ser um imbecil. 

— Na verdade, eu estava pensando em fazê-lo nadar — ela respondeu, dando de ombros, como se aquela fosse uma explicação totalmente lógica.

— Fica na sua, cabelo de merda. Não tá vendo que ela está quase concluindo o serviço? — Bakugou se pronunciou, andando até o novato e puxando-o pelo colarinho pelo convés. — Você vai se arrepender de falar merda, seu bosta!

— Katsuki! — falaram, em uníssono, seguindo-o até a amurada, na tentativa de impedi-lo — ao menos, um deles tentava. 

— Ei, quem tem que fazer isso sou eu! — Uraraka concluiu.

— Esses dois, francamente — disse Eijirou, negando com a cabeça. — Katsuki, ponha o imbecil no chão! E é a última vez que eu vou falar. — Os olhares se encontraram em uma competição acirrada e Katsuki o olhou como se estivesse falando a coisa mais estúpida do mundo. Kirishima arqueou as sobrancelhas em desafio, e logo o loiro raivoso soltou o parasita.

— Tsc. — Foi tudo o que saiu de sua boca, ele voltou para o lado de Ochako que se ocupava em fuzilar o novato semi-desmaiado no convés.

― Você. — Apontou para Bakugou. — Tem que lidar com esse estresse; e você — dessa vez para Ochako. —, não se incomode com ele, não está aqui a tempo o suficiente para saber que não pode subestimá-la. — Andou até onde os dois se mantinham e pousou a mão no ombro de cada um, apaziguador, para a infelicidade dos companheiros que adorariam ver a imediata acabar com a raça do novato, como havia acabado com a deles a seu tempo.

Mas claro que o Katsuki não se conteria, muito menos se impediria de ter a última palavra naquela situação. Virando-se uma última vez para o novato, lançou um aviso:

― Ô, você, seu merdinha, repita isso de novo e eu vou colocar você para dormir com a pólvora. E ela pode acabar acendendo no meio da noite sem que ninguém perceba como ou por quê.

— E isso vale para todos vocês. — Kirishima se voltou para os demais marinheiros ali reunidos. — Se tiverem qualquer problema com a nossa Ochako aqui, sugiro que guardem isso bem.  Não queremos ninguém atirado ao mar, não é mesmo? — Riu, envergonhado. — Mas lembrem que vocês sempre podem demonstrar seu descontentamento ao Capitão. 

E sorriu com malícia ao girar os calcanhares para voltar ao convés inferior, arrastando um Katsuki raivoso e uma Ochako irritada consigo.

Os marujos restantes aglomeraram-se novamente para discutir o ocorrido, dois deles se destacando do círculo para ajudar o novato desmaiado. Shouto se virou para Kaminari, que ria da cena, pensando se aquela tripulação era repleta de esquisitos e assustadores, como seu Capitão o era. E por falar nele…

— Onde estava mesmo o Capitão que não apareceu durante uma confusão dessas?

— Trancado na cabine como no restante dos dias, não é mesmo? — Denki revirou os olhos. — Mas tenho uma leve impressão de que ele já está habituado a esse tipo de cena, acho que não daria tanta atenção a uma briga tão insignificante. De qualquer forma, às vezes, eu penso que você não é tão observador quanto faz parecer. Pensei que a essa altura já teria notado que o único momento em que o vimos foi na manhã da nossa chegada. 

Shouto franziu a testa diante tal constatação, percebendo que de fato não vira os chamativos cabelos verdes e muito menos ouvira sua voz ecoar por parte alguma do navio. Estava há uma semana a bordo e não havia o menor sinal do temido Capitão Midoriya em parte alguma. Como se este fosse o próprio fantasma que mencionavam nas lendas.

Balançou a cabeça para afastar o pensamento. Lendas não passavam de histórias bobas contadas por aqueles que temem. Acreditar nelas não o levaria a lugar algum. Porém, por que não conseguia ignorar aquela semente de dúvida que agora se encontrava plantada em sua mente? Ergueu os olhos para o local onde as portas da Cabine do Capitão se encontravam cerradas e tentou engolir a sensação de que havia algo escondido por ali. Algo estranho pedindo para ser descoberto. E seria ele a fazê-lo.

⚙⚙⚙

— Ouvi dizer que um certo navio foi avistado no Porto da Viúva.

A mesa do chá estava posta, o cheiro doce das ervas se espalhavam no ar e os bolinhos recheados tinham uma aparência de dar água na boca. Sentados frente a frente, o homem de feições pouco amigáveis observava a garota erguer o bule e servir o chá nas xícaras com a habilidade adquirida de quem fazia aquilo muitas vezes.

— Sabe que não gosto de charadas e enrolações. Não passam de uma perda de tempo.

— Ora, meu senhor, tenho certeza de que sabe a que navio me refiro. Só há um que importa no fim, não é? Aquele. O Plus Ultra e suas velas negras parecem estar tomando os mares novamente. — Ela pousou a xícara à sua frente e acrescentou dois cubos de açúcar. Ele mexeu o líquido, observado atentamente por aqueles olhos dourados e desconcertantes que pareciam quase ávidos a acompanhar seus movimentos. Levou a porcelana aos lábios, concentrado, sorvendo a bebida enquanto analisava a informação que lhe era oferecida.

Uma das mãos estava cerrada em punho enquanto o líquido quente descia pela garganta e o seu deleite era acompanhado atentamente pelo olhar da mulher ao seu lado, trajando roupas chamativas demais para o resto da tripulação. Alguns arriscariam que ela era uma prisioneira, pronta para ser deflorada pelo capitão. O que os novos tripulantes não sabiam, é que aquela jovem estava longe de ser inocente. Muito pelo contrário, era mais perigosa do que pensavam. 

Os olhos maliciosos estreitaram-se quando a xícara de porcelana foi colocada sobre o pires e ela esperou pacientemente até que ele lhe desse atenção mais uma vez. 

— Quando? 

— Há uma semana ou é o que dizem os rumores. — Um sorriso satisfeito surgiu em sua face ao vê-lo finalizar a bebida. As mãos atravessaram a pequena mesa e tomaram para si o recipiente ainda quente, girando-o com habilidade e conhecimento nas mãos. — Hmm… 

— Então aquele tolo finalmente vai tomar uma iniciativa? Duvido que consiga contornar a situação após tanto tempo. Sete anos se passaram sem o menor sussurro, então por que agora?— os lábios se curvaram descontentes.

— Ah, mas houveram sussurros, meu senhor. Talvez essa seja a chance dele. — a garota comentou, levantando-se, as saias em suas cores chamativas arrastando no tapete. 

— Impossível, ele não poderia se desfazer das cicatrizes do passado tão facilmente. — O tom tomou um ar mais autoritário enquanto os dedos se contraíam em um sentimento de irritação que surgia em seu corpo. — Duvido muito que consigam achar o que querem. 

— Acredito que as peças do quebra-cabeça estejam se juntando, milorde — ela comentou, jogando a cabeça para trás. — As marés estão se movendo depressa e os astros dizem que o encontro das almas do passado é inevitável. A questão é, meu senhor estará pronto para agir quando o momento chegar?

— Então, que venham! — vociferou, batendo o punho sobre a mesa. — Se as águas não estão ao nosso lado, nós faremos nossos próprios aliados. 

Ela riu, deixando os ombros caírem, e largou a xícara, passando os dedos pelo baralho adornado que se encontrava ao lado do bule. Os dedos traçaram as cartas, acariciando cada uma como um amante o faria.

— O que acha de vermos o que lhe espera no futuro? 

⚙⚙⚙

Havia um quê de encantador após tanto tempo navegando em avistar um pequeno montículo de terra se avolumando no horizonte. Era a excitação de atingir o seu destino, o ruído animado das vozes dos demais tripulantes, o vento passando por seus corpos. Porém, apesar do barulho do chão sendo pisoteado e dos gritos de Ochako, ditando comandos para que logo mais desembarcassem, ainda era de um grande alívio escutar o “terra à vista” de um dos marujos de prontidão, sua voz vinda dos céus como um deus a anunciar sua meta. 

A maior parte da tripulação correu a popa, exclamando animados com a proximidade, fazendo planos e comentando em altas vozes sobre as garotas que logo aqueceriam suas camas. Shouto se juntou a ele apenas para conferir o que o esperava naquele lugar de maravilhas tão prometidas e Kaminari se juntou a ele, pois não tinha mais tarefa alguma a cumprir além de irritá-lo com uma tagarelice incessante. 

— É isso, Vossa Alteza. — bateu em seu ombro animado, os olhos adquirindo um brilho malicioso de prazer. — Espero que esteja com os bolsos preparados, pois chegamos ao nosso destino. Seja bem vindo a Tortuga!


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Notas finais do capítulo

PÃO DIA, PESSOAS!

Como cês tão? Já começamos assim tão exclamativos pois, olha só, estamos no terceiro capítulo de Sete-Estrelo!!! O tempo passou rápido.

Então, o que estão achando? E, mais, o que acharam desse capítulo aqui? Sabemos que as coisas ainda estão meio paradas, é uma verdade que não podemos esconder -_-, mas vamos lá, o que estão achando do menino Shouto e suas lerdices?

Votos e comentários são muito bem vindos :). Expressem suas opiniões, deixem-nos saber como a história está indo!

Bom, acho que é isso.

Até a próxima.



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