Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 39
Algumas coisas vão se complicar




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Quim deixou os quatro em frente à casa do Cebola e foi embora devolver o carro. Mônica teve que voltar para casa, pois tinha saído escondida sendo acobertada por Durvalina. Magali e Cascão também tiveram que ir embora, ficando somente Cebola e Manezinho.

— Eles não vão te procurar aqui.

— E seus pais?

— Hã... bem... eu moro sozinho.

— Quê? – o outro levou um susto, pois não era todos os dias que via alguém tão novo morando só.

Cebola explicou brevemente sua história enquanto preparava o café da manhã para os dois. Para sua sorte, o inquilino passava os finais de semana na casa dos pais e só voltava domingo bem tarde.

— Eu queria poder ver minha família. – o rapaz disse antes de cravar os dentes com gosto no misto quente. Há tempos ele não colocava uma delícia daquelas na boca! Na organização, o café da manhã era um mingau de aveia sem gosto com um naco de pão seco.

— Melhor não. Quando eles perceberem que você fugiu, vai ser o primeiro lugar onde vão te procurar. Você pode ficar aqui por um tempo até a poeira abaixar. Depois vou entrar em contato com sua família pra ver o que a gente faz.

Como tinha algum tempo antes dos seus amigos chegarem, ele arrumou para seu hóspede o quarto que era da Mariazinha. A cama era da sua irmã, que seus pais alternativos tinham comprado para quando ela ficasse crescida o suficiente para não precisar mais do berço.

— Você pode dormir aqui. Durante o dia é tranquilo ficar pela casa, só tome cuidado pra ninguém te ver. De noite tem o inquilino, mas ele não sai muito do quarto. Ainda assim fica de olho.

— Valeu mesmo, cara! Nem sei como agradecer!

— Tranquilo. Eu lembro quando você andava com Titi, Franja e Jeremias. Eram a turma do bermudão. – o outro deu risada.

— Cara, eu lembro muito bem deles! Faz tempo que a gente não se vê. Como eles estão?

O rapaz explicou o rumo que cada um tinha tomado, deixando Manuel triste ao saber da Morte do Titi. E como ele também estava muito cansado por tudo aquilo, Cebola o aconselhou a dormir até a hora do almoço. Isso ia deixá-lo melhor.

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— Como ele está, senhorita? – Toni perguntou a Agnes que saía do quarto do hospital.

— Inconsciente. – respondeu.

— Alguma pista do sujeito que invadiu a organização?

— Nenhuma até agora.

Ele ficou muito aliviado com a resposta. Se não achassem o Cebola, também não iam achar o Manezinho. Agnes foi embora e ele ficou ao lado da cama do presidente mais por dever do que qualquer outra coisa. Sua vontade era sair dali correndo para encontrar Denise e ter notícias de Manezinho, mas fazer isso poderia prejudicar os três.

Uns dez minutos depois, Boris entrou no quarto e o rapaz levantou para cumprimentá-lo.

— Como ele está?

— Até agora não reagiu, senhor.

— Acho que o choque foi demais para os nervos dele. Melhor que descanse. Mas você não precisa ficar o tempo inteiro ao lado dele.

— Bem... é que eu...

— Pode ir, rapaz. Tire um dia de folga. Sei que a companhia dele não te agrada nem um pouco e tem razões para isso.

Ele agradeceu e saiu dali feliz por ter ganhado um pouco mais de liberdade. Ainda assim procurou ser cauteloso e voltou para a organização. Boris parecia ser boa pessoa, mas ele não sabia se podia confiar nele. Eles podiam estar esperando que ele fosse atrás do Manezinho. Era preciso ter muita cautela. 

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Conforme fora instruído, o inspetor vigiava Penha constantemente. A moça não dava um único passo naquele colégio fora das suas vistas. A não ser, é claro, quando ia ao banheiro. Só que até aquele momento, ela não tinha feito nada contra as regras. Se ela não fazia nada, ele também não podia fazer.

Uma coisa que ele notou era que ela sempre mexia no véu como se estivesse incomodada. E devia estar mesmo porque fazia um calor daqueles. Até ele suava por debaixo do uniforme.

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Mon dieu! Eu vou cozinhar aqui dentro! – Penha falou balançando o véu para ver se refrescava um pouco. Era seda pura, da melhor qualidade e foi importada da China. Ainda assim esquentava como um forno.

— Pelo menos tem ar condicionado aqui, senão estaria pior.

Parra mim não está adiantando!

Normalmente Penha não iria à biblioteca aos domingos. Na verdade, ela não iria dia nenhum. Só que havia um trabalho importante para ser entregue na segunda-feira e tinha que ser feito à mão porque os professores não aceitavam nada impresso. E precisava ter referência bibliográfica com livros de verdade. Não fosse isso, bastava pesquisar na internet e imprimir como qualquer pessoa civilizada faria. Sofia lhe ajudava procurando nos livros e destacando os trechos para ela copiar.

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O sujeito observava as duas de longe e reparou que elas estavam sozinhas na biblioteca, além da bibliotecária. Quase ninguém ia à escola aos domingos.

“Hum... ela está bem desconfortável mesmo com o ar condicionado. E se eu...” ele teve uma ideia e resolveu colocá-la em prática. Vigiar aquela garota todos os dias estava ficando cansativo e ele resolveu dar um fim naquela tarefa chata.

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Sofia estava folheando mais um livro quando parou de repente.

— Ué, desligaram o ar condicionado?

— Como é? Isso não pode ser possível! Eles querrem me matar de calor?

— Não seria melhor a gente voltar mais tarde?

Serria, mas eu não querro mais adiar esse trabalho idiota. Vamos terminar.

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As duas continuaram a pesquisa, mas pelo visto aquela francesa falsificada não ia ceder tão facilmente. Ela até tentou tirar o lenço e sua amiga não deixou, lhe falando qualquer coisa que a fez voltar ao trabalho ainda que de má vontade.

Penha não ia tirar o véu com aquela garota por perto, por isso ele resolveu fazer outra coisa. O homem foi chegando sorrateiramente e observou que ela estava destacando os trechos do livro bem de leve com o lápis para que Penha fosse copiando. Bem... aquilo podia ser considerado contra as regras, não podia?

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Tudo o que Penha queria era terminar logo aquele trabalho e ir para casa vestir roupas mais confortáveis. A cada minuto que passava estava mais quente e o suor escorria pelo seu rosto sob o véu.

— Ei, você! Está danificando o patrimônio da escola! – um inspetor falou rudemente fazendo as duas saltarem de susto.

— Do que está falando? Ela não está danificando nada!

— Está rabiscando os livros e isso é contra as regras!

Penha olhou o livro e só viu alguns riscos muito leves que Sofia tinha feito para que ela soubesse onde copiar.

— Nós vamos apagar depois. – tentou negociar.

— Acha mesmo que vão conseguir deixar o livro como estava antes? Que ele não ficará danificado? Você virá para a diretoria agora mesmo, mocinha!

— Mas... mas... eu tô ajudando ela com o trabalho e...

— Está desobedecendo as minhas ordens? Eu te mandei para a diretoria! Você levará dois dias de suspensão por ter danificado os livros da escola. E não quero ouvir mais nada!

Sem outra escolha, Sofia teve que seguir o inspetor deixando Penha furiosa e desolada porque ia ter que pesquisar e terminar aquele trabalho sozinha.

— Quanto a você, termine logo esse trabalho. Aqui não é lugar para vadiagem. – o inspetor disse antes de sair da biblioteca.

Se pudesse, ela teria gritado de raiva. Mas como não podia, só lhe restou continuar pesquisando.

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Depois que mandou aquela garota para a diretoria, ele voltou rapidamente e viu que Penha ainda continuava debruçando sobre os livros e morrendo de calor. Era só uma questão de tempo.

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“Droga, eu não consigo me concentrar!” reclamou enxugando o suor da testa com o lenço.

Ela levantou-se alguma vezes e nada resolveu. A biblioteca não estava só quente como também abafada. Como já não estava mais aguentando, ela tomou uma decisão drástica e tirou o véu da cabeça só por alguns instantes, já que estava sozinha e sem nenhum inspetor por perto. Um erro do qual ela ia se arrepender amargamente.

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Mônica, Magali e Cascão chegaram de uma vez na casa do Cebola, todos morrendo de curiosidade para saber se ele tinha descoberto alguma coisa. Eles ainda estavam eufóricos por causa da pequena aventura daquela manhã e Cebola apenas sorria. Eles realmente não sabiam onde estavam se metendo...

— Nossa, se meus pais descobrem uma coisa dessas... – Magali começou rindo.

— Haha, os meus iam ter uns dez infartes! – Mônica disse.

— Os meus iam me fazer tomar banho duas vezes por dia. Argh!

— E aquele rapaz, quem é ele? – Mônica quis saber.

— É o Manezinho. O Tonhão ajudou ele a fugir da Vinha e ele tá escondido aqui em casa agora. 

— Ah, ta! Mas fala aí, o que você descobriu? – Magali quis saber, pois eles não aguentavam mais de curiosidade.

Cebola os levou até a sala de jantar e mostrou sobre a mesa os itens que tinha conseguido. Magali pegou a pena e ficou de boca aberta.

— É a mesma pena que eu achei no quarto da Mônica quando... er... – ela ficou sem jeito para completar a frase, mas todos entenderam.

— Era isso que tava no cofre do velhote? – Cascão também estava curioso e Cebola contou para eles tudo o que tinha acontecido antes de eles se encontrarem. Mônica quase chorou.

— Você ia mesmo pular daquele prédio? Seu doido!

— Você ia virar pizza de asfalto! – Magali também estava chocada.

— Calma, gente. Eu sou imortal. Ia doer pra caramba, mas depois ia ficar tudo bem.

— E como você conseguiu chegar lá em baixo sem esborrachar no chão? – Cascão perguntou.

— Alguma coisa agarrou minha camisa. Quando fui olhar, já tinha ido embora e só ficou isso.

Era uma pena bem preta mesmo, lisa e bonita. E maior que aquela que foi encontrada no quarto da Mônica. Devia ter pelo menos trinta centímetros.

— Dá uma sensação esquisita segurar essa pena. – Magali disse.- Você não tem ideia do que seja?

— Mais ou menos, acho que deve ser de um anjo.

— Anjo de asa negra? – Mônica falou. – Achei que só tivessem asas brancas. Será que esse aí é do mal?

— Qualé, anjo nem existe! – Cascão também segurou a pena.

— Ué, depois do que a gente viu até agora, não duvido de mais nada. – Magali retrucou e Cebola pegou a pena de volta.

— Aí eu não sei, só sei que ele me salvou de levar um baita tombo. Se eu tivesse caído, teria apagado e já era.

Como não podia dizer mais nada sobre a pena, Cebola mostrou os outros frutos do seu saque. Cada um pegou uma folha para ler e Cascão ficou com um pouco de medo da chave de ossos.

— Véi, me diz que isso aí é osso de galinha, pelamordeDeus!

Os outros também estavam assustados ao ver uma chave feita com ossos de verdade. Cebola venceu a repulsa e a segurou entre os dedos. Era parecida com a do mundo original, também imitando a marca de IOR.

— O que essa chave aí abre? – Mônica perguntou.

— Umbra.

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Penha chorava o pranto mais sentido de todos os tempos como se tivesse perdido todos os membros da sua família, sendo na verdade perdeu somente os cabelos.

Agnes olhava a moça com os olhos faiscando de raiva e os lábios retorcidos.

— Quem fez isso com você?

— Três inspetores junto com um velho feio de barba branca.

A moça chegou à casa da Agnes aos prantos e só depois de um bom chá calmante pode contar o que aconteceu. Ela tinha cometido o erro de tirar o véu da cabeça e um inspetor pegou no flagra.

Não adiantou chorar e nem implorar, o sujeito a levou até a sala onde cortavam e tingiam os cabelos das meninas. Lá dentro estavam mais dois inspetores e um velho de barba branca que a olhava de um jeito muito estranho.

— Senhor, essa moça foi pega com os cabelos totalmente fora das regras! Ela não os cortou e estava sem véu!

— Isso é muito grave! Mocinha, você devia saber que é contra as regras ter cabelos tão grandes assim. Você devia estar usando o véu.

— Mas eu estava, monsieur! Só tirei um pouco porque estava fazendo muito calor e...

— Basta! Não quero saber de desculpas! Você descumpriu as regras, tem que arcar com as consequências.

Dois inspetores a seguraram, cada um pelos braços. O terceiro segurou seus pés enquanto o velho cortou seus cabelos. Ao invés de cortar somente a metade, ele cortou tudo sentindo um sádico prazer com os gritos daquela jovem.

Ele acabou tosando seus cabelos deixando muitas falhas e até feriu um pouco seu couro cabeludo.

— Eu tirei o véu um pouquinho, só um pouquinho! Estava muito calor e eu não aguentava mais! – Penha se justificava toda hora.

— E Sofia?

A moça fungou e contou o que tinha acontecido com a amiga antes.

— Eu não a vi depois disso, deve ter ficado lá no colégio ou mandarram ela emborra. Eu não entendo por que forram tão severros comigo!

Mas Agnes entendeu muito bem o que tinha acontecido e fechou as mãos com tanta força que as unhas teriam ferido sua pele se fossem compridas. Aquele velho miserável fez aquilo com a Penha esperando atingi-la. E tinha conseguido. Ela podia tolerar qualquer insulto contra si mesma, mas nunca contra Penha. Era a única pessoa no mundo inteiro com a qual ela se importava de verdade e não aceitava que ninguém a ferisse.

Berenice acompanhava tudo encostada na ilha de granito que fazia divisa da cozinha com a sala de jantar e segurava uma pequena travessa contendo um tiramissu que ela comia de colher. Ela saboreava o doce enquanto olhava tudo com uma frieza desconcertante.

— Garota boba. Se você conhecesse algumas das minhas doenças, ia ter razões para chorar de verdade. – falou entre uma colherada e outra.

Agnes procurou não se importar com a inconveniência de sua hóspede, pois ainda precisava dela.

— Calma, Penha. Não se preocupe. Tudo vai ficar bem.

— Meus cabelos... eles vão demorrar séculos parra crescer de novo! Eu não querro estar feia desse jeito quando chegar o dia.

— Eu também não ia querer isso. – ela virou-se para Berenice e pediu. – Berenice, você pode mudar o corpo das pessoas com o poder da sua vontade, não pode?

A mulher deu de ombros.

— É. Posso. Por quê?

— Pode fazer com que os cabelos da Penha cresçam de novo?

Ela fez uma careta de desagrado. Ajudar as pessoas não fazia parte da sua política. Se bem que era só fazer crescer um pouco de cabelo, não curar uma doença.

— Que seja. Só que depois vou querer mais dessa torta. – ela pôs a colher na boca e aproximou-se da Penha segurando a travessa com uma mão e encostou na cabeça dela a mão livre.

A moça sentiu uma coisa asquerosa e desagradável que não soube definir. Um calor estranho espalhou por sua cabeça e ela sentiu os fios de cabelo crescendo rapidamente e caindo pelos ombros e costas até chegarem até a cintura.

— Pronto. – a mulher falou voltando a comer e Penha agradeceu várias vezes.

Merci! Merci! Eu poderria te dar um beijo, mas...

— Argh, faça isso que eu te encho de furúnculos. E não esqueçam da minha torta! Esse troço é muito bom

Penha também agradeceu Agnes lhe dando um grande abraço.

— Tudo vai ficar bem agora. Vá lavar o rosto. Depois iremos ao salão aparar as pontas do seu cabelo.

Oui! Não demorro!

A moça foi correndo para o lavabo e Agnes voltou-se para Berenice, que tinha terminado o tiramissu e estava lambendo a travessa.

— Berenice...

— Que foi agora?

— Eu estava pensando... por acaso você não teria alguma doença nova que ainda não testou antes?

A mulher levantou a cabeça, limpou a boca com as costas da mão e respondeu.

— Eu sempre tenho doenças novas.

— Não gostaria de testá-las? Um pouco de diversão cairia bem, não?

Ao invés de responder, a mulher deu uma risada rouca e desagradável. Era claro que diversão sempre caía bem!

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— O que é Umbra? – Mônica quis saber.

— É a parte mais escura de uma sombra. – Magali respondeu. – Acho que é o limbo, lugar de transição, algo assim.

— Esse lugar não fica nesse mundo. – Cebola completou e os olhos do Cascão brilharam.

— Fica em outro planeta? A gente vai pra lá de nave (ai)? – Magali lhe deu um soco no braço.

— Fica em outra dimensão, pateta.

— A Magali tá certa. É outro plano de existência.

Foi difícil explicar isso para quem nunca acreditou em sobrenatural e Cebola achou melhor que eles vissem por si mesmos quando a hora chegasse. No momento, eles tentaram estudar as folhas que ele tirou do cofre. Cada um pegou uma folha para analisar e assim ganhar tempo, mas não estava resolvendo muito. Ninguém conhecia aquela escrita e Cebola tinha medo de pesquisar na internet e ser rastreado.

— Mó cabuloso isso aqui, véi! Tá tudo em grego!

— Acho que isso não é grego, Cascão. Pra mim são só rabiscos. – Magali levantou-se para esticar as pernas. Mônica e Cebola também estavam cansados de pensar sem chegar à solução nenhuma. 

Eles quebraram a cabeça até chegar a hora do almoço e cada um ter que ir embora para casa. Antes que seus amigos fossem embora, Cebola convidou.

— Já que a gente não tá conseguindo nada com isso, por que a gente não aluga uns DVD’s pra assistir essa tarde? Tivemos um dia muito doido!

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Após vários dias sem conseguir falar com Toni, Denise resolveu procurar Cebola para ver se ele lhe dava alguma ideia do que fazer. Foi assim que ela viu aqueles três saindo da casa dele e cerrou os punhos com raiva ao ver Cascão e Magali andando de mãos dadas e cheios de sorrisos. Quando eles se beijaram, ela tirou uma foto com o celular e correu para a casa da Cascuda.

— M-mas... m-mas... o Cascão ia ficar comigo! Ia até me chamar pra sair hoje e... – a moça falou tremula quando Denise lhe mostrou a foto.

— Bem, acho que isso não vai mais rolar. – ela falou pegando o celular de volta antes que a amiga o jogasse no chão de raiva.

— Você tinha falado que a Magali não ligava de o Cascão ficar comigo!

— Sim, ela falou isso mesmo.

— E agora tá ficando com ele?

Sem perder tempo, ela destilou mais veneno.

— A Magali nunca gostou de perder, isso é certo. Aposto que ela ficou com ele só pra não vê-lo feliz com você. – a outra levou um susto.

— Acha mesmo?

— Claro! Ela só queria tirá-lo de você e conseguiu. Quer apostar quanto que daqui a um tempo ela vai dar um chute nele?

— Que coisa horrível! Acha mesmo que ela faria isso?

— Conhecendo aquela ali como conheço, não duvido nada. É por isso que você não pode desistir assim tão fácil.

— Nem pensar! Não vou brigar por causa de moleque! O Cascão ficou com ela porque quis! Se ela der um chute depois, problema dele. Não vou me rebaixar desse jeito por ninguém.

Ela não esperava ouvir aquilo, mas viu que insistir era inútil. Cascuda não era do tipo que saía por aí brigando por causa de rapazes.

— Seja como for, a gente não devia aceitar uma traíra como ela entre nós.

— “Traíra”? Também não é pra tanto. O Cascão não é meu namorado.

— Mas ela sabia que você gosta dele. – Cascuda ainda não estava certa.

— Isso é...

— Se ela gostasse dele de verdade ainda vá lá, mas ela só ficou com ele de pirraça. Ela nunca gostou de você desde criança. Esqueceu de como ela era rude com você?

Daquilo Cascuda nunca esqueceu. Magali normalmente não mexia com as meninas, mas sempre lhe dirigia olhares ameaçadores, debochava, jogava bolinhas de papel na sala de aula e teve uma vez que grudou chiclete nos seus cabelos. Aquela magrela parecia ter uma birra especial por ela.

— Você tá certa, Denise! Não importa o que a Mônica fale, não podemos aceitar uma garota assim andando com a gente!

Denise deu um sorriso perverso. Seu plano de vingança não correu como esperado, mas deu o resultado que ela queria.


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