Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 36
Uma visita especial


Notas iniciais do capítulo

O capítulo de hoje é tenso. Se segurem nas suas cadeiras!



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Dias depois, as obras e a arrumação na casa do Cebola terminaram. Alguns móveis tiveram que ser reparados, como o sofá que estava com o tecido todo manchado, outros precisaram de um bom verniz e as roupas de cama e mesa foram lavadas. Ele também precisou comprar um colchão novo porque o antigo tinha se deformado.

Pelo menos os eletrodomésticos puderam ser aproveitados. A geladeira não estragou e a máquina de lavar estava em bom estado. Também tinha fogão, liquidificador, batedeira e microondas, assim como copos, talheres, pratos, panelas e demais utensílios de cozinha. Felizmente seu duplo soube ser cuidadoso na hora de embalar e pouca coisa tinha se quebrado. Lá pelo dia vinte e cinco de setembro, tudo estava pronto para a alegria dele.

— Rapaz, deu um trabalhão, mas valeu a pena! – Cascão falou ao ver a casa pronta e mobiliada. Não estava perfeito, mas podia ser melhorado com o tempo.

— Finalmente. Nessa noite vou dormir numa cama de verdade! Nem acredito! E vai ser cama de casal!

Mônica conseguiu deixar a casa mais bonita e aconchegante trazendo algumas toalhas novas, enfeites e até um tapete bonito que ela conseguiu a um preço baixo porque tinha um defeito pequeno que foi disfarçado colocando a mesa de centro por cima. Ela também arrumou um aspirador de pó.

— Poxa, não precisava ter comprado... – Cebola falou quando ela lhe trouxe o eletrodoméstico.

— Eu não comprei, peguei lá de casa mesmo.

— Seus pais vão dar falta!

— Não vão não. A Durvalina deu um jeitinho de fazer ele parar de funcionar. Minha mãe não gosta de consertar as coisas, sabe? Quando algo quebra, ela prefere jogar fora e comprar outro. Aí foi só fazer ele funcionar de novo e trazer pra cá.

— Mesmo assim...

— E não se fala mais nisso, tá bom? Pros meus pais foi tipo comprar docinho na padaria, não pesou nada.

Tudo estava pronto, finalmente. Mesmo sabendo que aquilo não era para ele, Cebola estava gostando da experiência de morar sozinho ainda que só por um tempo. Seu duplo com certeza ia gostar também.

— E aí, cara? Quando você vai entrar no escritório do Sr. Malacai? – Cascão perguntou quando seu pai virou as costas.

— Nesse domingo. Melhor fazer isso de uma vez pra não perder tempo. Tomara que tenha uma pista pra ajudar a achar a torre inversa.

— Rapaz, mal posso esperar pra achar essa tal de torre inversa, deve ser doido demais!

— Põe doido nisso! – Cebola não sabia o que ia encontrar naquele mundo, mas se lembrava de como tinha sido no seu e não foi nada chato. Ele nunca tinha morrido tantas vezes num mesmo dia.

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Magali estava colocando alguns sacos de lixo na calçada para o lixeiro levar no dia seguinte quando uma garota se aproximou.

— Hã... oi... – ela cumprimentou sem jeito. Magali respondeu naturalmente.

— Oi, Cascuda. O que tá pegando?

— É que a mãe do Cascão falou que ele tá aqui...

— A gente tá ajudando Cebola a dar um trato na casa dele. Tá ficando muito legal.

— Você... er... pode chamar ele pra mim?

O rosto da Magali ficou sombrio por uns instantes, mas ela conseguiu se recompor.

— Você pode ir até lá, a porta tá aberta.

— Obrigada. – Cascuda foi até a porta da casa e bateu. – Oi?

Cebola veio lhe atender e ficou surpreso ao vê-la.

— Puxa, sua casa ficou muito bonita! Aquele verde abacate estava uma tristeza.

— Eu também detestava aquilo. Você quer falar com o Cascão?

— Quero sim, por favor.

— Ô Cascão, vem cá que tem visita pra você! Pode entrar e fica a vontade. Só não ofereço nada porque ainda não fiz o supermercado...

— Tudo bem, só quero falar rapidinho com ele.

Cascão veio atender e se surpreendeu ao ver Cascuda na sala do Cebola. Ele ficou um tanto desconfortável porque Magali passou por eles rapidamente e olhando para o outro lado. Que situação chata!

— Oi, tudo bem?

— Tudo tranqüilo. Eu tava ajudando o Cebola a arrumar a casa dele.

— Eu vi e ficou bonito. Foi você quem fez esses lustres?

— Como adivinhou?

— Ah, você sempre foi habilidoso com essas coisas!

Ele corou com o elogio.

— Bom, eu não vou demorar muito. Só queria te chamar pra gente ir ao cinema amanhã. Meu namorado vai viajar.

— É que a gente marcou uma festinha amanhã pra comemorar a nova casa do Cebola, sabe...

— Podemos ir depois de amanhã? Vai ser muito legal!

— Bem... – ele hesitou. A forma como Magali tinha passado por ele pouco antes não saía da sua cabeça.

— Vai ser legal, você pode até escolher o filme.

Por fim ele resolveu abrir o jogo.

— Cascuda, o que tá pegando? Não é legal você querer sair comigo enquanto namora outro cara!

Ela ficou sem jeito e chegou mais perto.

— É que, sei lá, tenho pensado muito em você!

O coração dele bateu mais forte.

— Sério?

— Claro! Fico pensando se a gente não podia dar mais uma chance, sabe...

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— A Cascuda tá mesmo aqui? – Mônica perguntou em voz baixa. As duas estavam na área de serviço.

— Tá sim e acho que vai fisgar o Cascão. Porcaria, nem tive a chance de falar com ele! E agora?

Mônica também não sabia o que fazer porque ela não podia apenas mandar Magali ir até a sala e beijar o Cascão na frente da outra. Mas ficar sem fazer nada também não era bom.

— O que tá pegando lá na sala, gente? – Cebola perguntou.

— A Cascuda tá dando de cima do Cascão e acho que não tem jeito. – Mônica falou desanimada e Magali parecia à beira do choro.

— Calma que eu vou cuidar disso. Mas olha, Magali, você precisa criar coragem e chegar no Cascão, senão a Cascuda vem e cráu!

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— Olha, isso tá indo meio depressa, sei lá... – ele falou com o rosto ainda mais vermelho porque ela tinha colocado as mãos em seu peito e seus rostos estavam muito perto. Dava até para sentir seu hálito misturado com um cheiro bom de perfume.

— Eu ainda gosto de você, Cascãozinho! Meu namorado é boa pessoa, mas não faz meu coração bater forte como você faz.

— Glup! Eu... eu...

Ela se aproximou mais ainda e encostou os lábios nele, num beijo suave. Cascão suava, suas pernas tremiam e ele não sabia o que fazer. Era ao mesmo tempo agradável e assustador, algo que ele não sabia definir.

— Opa, foi mal... – uma voz falou fazendo com que Cascuda se afastasse depressa. Era Cebola passando pela sala com uma caixa nas mãos.

— É... tranqüilo, véi... – Cascão falou muito sem jeito e Cascuda também estava com vergonha porque esqueceu que estava na casa de outra pessoa.

— Bom, eu já vou indo. Depois a gente se fala, tá? – Ela lhe deu um beijo na bochecha e saiu rebolando discretamente, lhe dando um último olhar antes de atravessar a porta.

Cebola pôs a caixa no chão e falou com a cara zangada.

— Ô, porque você tá inventando de ficar com a Cascuda agora?

— Peraí, eu não inventei nada! Ela é que veio, foi chegando e... – Mônica entrou na sala e parecia muito aborrecida.

— O que houve? – Cebola quis saber.

— É a Magali. Ela viu esse assanhado aí beijando a Cascuda e foi embora muito chateada!

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Magali foi andando pela rua com as lágrimas escorrendo pelo rosto. Fim de jogo e ela nem teve a chance de jogar. Cascão foi fisgado pela Cascuda e não havia nada que ela pudesse fazer. Tentar investir nele solteiro era uma coisa, mas ela nunca ia dar de cima de um rapaz que estava namorando.

“Burra! Tonta! Palerma!” ela xingou a si mesma de todos os nomes ruins que conhecia e foi direto para o quarto. Mingau se aconchegou ao seu colo e ela o abraçou chorando como criança. Ela tinha perdido, numa tacada só, o amigo e o rapaz de quem gostava porque foi uma tola ao não perceber o quanto ele era importante na sua vida.

Era a segunda vez que isso acontecia. Primeiro foi Quim, depois o Cascão. Alguém tão ruim como ela merecia mesmo ficar sozinha.

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— E aí, amore? – Denise perguntou. Ela estava esperando Cascuda na esquina.

— Ele tá caidinho por mim!

Denise vibrou de alegria, mal acreditando que seu plano tinha dado certo.

— Vocês já estão namorando agora?

— Não, mas eu dei um beijo nele. Bom, quase, né porque aquele chato do cobaia chegou na hora errada. Ah, tudo bem! Domingo a gente vai ao cinema e aposto que vai ter mais!

— E a Magali?

— Ah, ficou com aquela cara feia, né?

— E vai ficar mais ainda quando vocês saírem no domingo e aparecerem namorando na segunda!

Não era intenção da Cascuda fazer Magali sofrer, ela só queria o Cascão. E ela ficou um tanto desconsertada ao lembrar de que ele não tinha realmente aceitado seu convite, uma vez que eles nem mesmo combinaram um horário para se encontrar. Quando falou isso para Denise, ela apenas deu de ombros.

— Ele não aceitou porque não teve chance. Depois você liga pra ele e os dois combinam.

— E se a Magali criar caso?

— Criar caso do quê se eles nem estão namorando? E depois desse beijo, duvido que ele vai olhar pra ela de novo!

As duas foram embora rindo e comemorando. Cascuda até já pensava em qual roupa ia usar para ficar bem bonita para o seu futuro novo namorado.

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Cascão ficou na defensiva.

— Peraí, eu não beijei ela não! Foi ela que me beijou.

— E você deixou! Se o Cebola não tivesse chegado na hora certa, vocês estariam no maior assanhamento agora!

— Calma, Mônica. Brigar também não adianta.

— Mas a Magali ficou tão chateada! Melhor eu ir falar com ela e... – Cebola discordou.

— Acho que ela precisa ficar um pouco sozinha. Amanhã vocês conversam.

Mesmo contrariada, Mônica concordou e acabou indo embora porque não podia chegar tarde em casa. Os rapazes fiaram a sós e finalmente puderam conversar. Cascão lhe contou sobre as investidas de Cascuda.

— Véi, eu não queria magoar ninguém, é sério! Mas a Cascuda foi chegando e ela ainda mexe comigo!

— Mas você também gosta da Magali.

— Gosto, pra caramba! Só que ela, sei lá, nunca demonstrou gostar de mim.

— Você sabe que a Magali ainda é meio casca grossa, não ia demonstrar assim tão fácil os sentimentos dela.

— E agora ela tá chateada pensando que vou ficar com a Cascuda...

— Você não é obrigado a ficar com ninguém só por causa de um beijo mixuruca.

Se por um lado aquilo era verdade, por outro Cascão ainda não sabia o que fazer.

— O problema é que agora a Cascuda acha que vai rolar algo entre nós.

— Paciência, ela vai ter que entender.

— Bem.. sei lá... eu... eu... de repente podia dar outra chance e... – Cebola cortou logo.

— Cara, não inventa! Você gosta da Magali e quer ficar com outra?

— Mas eu também gosto da Cascuda. Véi, por que isso é tão complicado? Agora tô sem saber o que fazer!

Cebola procurou se acalmar, pois precisava entender a situação do amigo. Era complicado seguir em frente com a ex-namorada tentando reaproximar. Ele lembrou-se de quando namorou Nadine por um tempo. Se Mônica o tivesse procurado para reatar, ele também ia ficar em sérias dificuldades. Pensando bem, ele teria rompido o namoro para ficar com ela sem pestanejar. Mas o caso do Cascão era diferente. De qualquer forma, ele tinha que respeitar a liberdade do amigo. Aconselhar sim, impor não.

— Olha, é você quem sabe da sua vida. Só acho que você devia pensar bem. Quer dizer, a Magali ficou do seu lado desde que voltou pro bairro, te apoiou, ajudou e tudo.

— Isso é...

— E a Cascuda? O que ela fez?

Aquilo o atingiu em cheio e Cebola aproveitou um pouco a situação.

— Alguma vez a Cascuda tentou se aproximar de você?

— Era por causa da Magali e...

— Depois que a Magali saiu da escola.

— Bem... não...

— Mas agora ela tá querendo voltar.

— O que tem?

Apesar de se sentir mal por falar aquilo, Cebola continuou.

— É que quando você tava numa pior, ela nem te dava bola. Agora que sua vida tá melhorando, aí ela quer chegar junto?

— Ô, peraí! A Cascuda nunca foi interesseira!

— Eu sei que não, acho que ela nem faz isso de propósito, só que... sei lá... é muito fácil querer ficar com a pessoa quando a vida dela tá melhorando. A Magali ficou do seu lado mesmo quando você tava na pindaíba. Pensa nisso. Mas enfim... a decisão é sua.

—_________________________________________________________

Cebola não foi o único com a casa reformada. Agnes também estava muito feliz com a sua casa nova. Tudo novo, moderno e bonito. Ela comprou quadros e obras de arte, havia flores nos vasos, cores alegres e vibrantes.

Mon die! Essa casa ficou magnifique! – Penha bateu palmas aprovando cada detalhe. Ela tinha ido visitar Agnes para conhecer sua casa nova e daquela vez foi sozinha, pois a amiga lhe disse que era uma ocasião especial e não queria a presença de Sofia.

— Desculpe a demora. – uma voz falou e ela arregalou os olhos, levou as duas mãos ao rosto e sua boca abriu formando um “o”.

Agnes entrou na sala com um sorriso no rosto e pose de rainha. Ela usava um vestido curto, colado no corpo, costas descobertas e com um decote em V nada discreto. A roupa era de um belo verde claro e tinha um laço delicado na cintura. Ela também usava salto alto, maquiagem leve e seus cabelos estavam soltos e loiros. Ao invés daqueles óculos horríveis, ela usava lentes de contato. Qualquer um poderia pensar que ela não tinha mais que vinte anos. Com certeza seus pais deviam estar se revirando no túmulo.

Oh La la! Tu as l'air beau (você está linda)!

Ela deu uma voltinha no meio da sala e falou orgulhosa.

— Eu estava louca para mudar meu visual. Esse vestido é a minha cara, não é?

— Com certeza! Você vai usá-lo no grande dia?

— Não, eu comprei outro. O dia está chegando e você sabe disso. Nosso grupo está quase completo. Agora vamos comemorar, eu preparei algo especial para hoje!

Ao ver que tinha três taças na mesa, Penha ficou em dúvida.

— Mas nós somos duas. A não ser que... – Agnes sorriu maliciosa.

— Sim. É isso mesmo que você está pensando.

A campainha tocou fazendo seu coração bater forte. Agnes foi atender e ao abrir a porta, deu de cara com uma criatura que faria qualquer um gritar de medo, chamar a polícia ou o controle de zoonoses.

Seus cabelos estavam num estado de miséria tão grande que nem os piolhos teriam coragem de chegar perto. Seu olhar era sinistro e um sorriso perverso enfeitava seus lábios. Faixas encardidas cobriam seus braços e pernas. Trapos cobriam seu corpo, peças de roupa encontradas no lixo ao acaso. Seus pés eram escuros e tinham a pele grossa como couro, estavam descalços, enrolado com faixas, com unhas grandes e sujas que pareciam garras.

Agnes não se importou com nada daquilo. Ela abriu mais a porta e estendeu o braço convidando gentilmente como se fosse uma visita importante. E era mesmo.

— Chegou bem na hora, estávamos a sua espera. Vamos entrando, Berenice.

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De noite, deitado na sua cama, Cascão rolava de um lado para outro tentando tomar uma decisão. Não tinha jeito, alguém ia sair magoado naquela história. Ele não podia ficar com as duas, então se escolhesse uma, a outra ia se magoar. O problema era saber com qual delas ficar. Saber que Magali correspondia seus sentimentos enchia seu coração de alegria, pois era isso mesmo que ele estava querendo. Mas o fato de a Cascuda ainda gostar dele e querer reatar o namoro também o balançava.

Se ainda acreditasse que Magali não gostava dele, seria mais fácil ficar com a Cascuda. Mas agora, sabendo que era correspondido, ele não sabia o que fazer.

“Caramba, isso é complicado demais! Tem duas minas querendo ficar comigo!” aquilo sim era surreal demais para acreditar. A pouco mais de dois meses atrás, garota nenhuma olhava para ele e agora ele tinha duas para escolher. Tempos estranhos...

O rosto de cada uma foi se alternando em sua mente. Primeiro o da Cascuda. Olhos castanhos, um sorriso meio aristocrático, garota inteligente e aplicada na escola. Depois Magali. Olhos cor de mel, sorriso meigo e uma personalidade doce que se escondia sob uma casca aparentemente dura.

Ele foi repassando as qualidades e defeitos de cada uma, os prós e contras, mas no fim acabou ficando com dor de cabeça com tanta indecisão. O rapaz acabou dormindo um sono agitado, com sonhos onde ele beijava ora uma, ora a outra. Os rostos se misturavam e se confundiam na sua cabeça. De manhã, ele acordou ainda mais cansado e sem conseguir tomar uma decisão.

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Fazia muito tempo que ela não tomava bebida alcoólica. Quatro taças de vinho não pareciam muita coisa, mas agora sua cabeça doía e sua boca estava com um gosto estranho de cabo de guarda-chuva.

Berenice acordou tarde, por volta das dez da manhã. Que coisa estranha dormir numa cama limpa após anos dormindo no chão, em depósitos de lixo ou em praças públicas. Ela tinha tomado banho, estava usando uma camisola nova e as ataduras dos seus braços e pernas foram trocadas, o que trouxe certo alívio.

No criado ao lado da cama tinha um copo com água com duas aspirinas, que ela tomou rapidamente para se livrar daquela dor. Quando se sentiu melhor, vestiu um roupão e saiu do quarto.

Na sala tinha uma mulher baixinha e rechonchuda tirando o pó dos móveis.

— Ah, bom dia. A senhora deve ser a hóspede da Srta. Duister, não é? Eu já vou fazer o seu café da manhã. – Rosália cumprimentou e foi até a cozinha. Berenice a seguiu.

— Onde está Agnes?

— Ela foi trabalhar e me falou para te providenciar qualquer coisa que você precisar.

Rosália pôs a água na cafeteira e preparou a mesa com queijo, pão, frutas, geléia e bolo. Para Berenice era um verdadeiro banquete após tanto tempo comendo coisas do lixo.

— Você gosta de café puro ou com leite?

— Prefiro com leite.

— Quente ou frio?

— Frio, não gosto quando o café fica quente demais.

Aquela mulher lhe dava arrepios, mas Rosália tentava disfarçar da melhor forma possível. Por que ela usava bandagens nos braços e pernas? E aquele olhar tão sinistro? Céus, ela tinha a clara impressão de que aquela mulher ia lhe matar a qualquer momento! Por que ela deixou Agnes lhe convencer a ficar mais tempo?

— Pronto, pode comer à vontade. Se precisar de algo, é só falar. – e saiu dali rapidamente para cuidar dos seus deveres.

Berenice a seguiu com o olhar, percebendo claramente o seu medo. Mulher tola, ela não pretendia lhe fazer nenhum mal. Pelo menos não naquele momento. O importante era aquele gostoso café da manhã e ela comeu com apetite enquanto pensava no futuro.

O dia estava chegando e ela podia sentir até nos ossos. Em breve ia chegar a hora da sua vingança e ela se deliciava ao imaginar todas as pessoas de Sococó da Ema sofrendo, ardendo e queimando. Ela queria providenciar isso pessoalmente, era parte do acordo feito quando aceitou o pacto com a serpente.

—_________________________________________________________

— Nada mal, devo dizer. Agora você terá muito mais privacidade! – Paradoxo estava sentado no sofá bastante à vontade. – Só não entendo por que você manteve aquela coisa. Aquilo é mesmo um abajur?

— Pois é, cara! Dá pra acreditar? Eu aposto que meu duplo vai querer voltar rapidinho!

— Imagino que sim.

Ele notou que o cientista parecia bem preocupado com alguma coisa.

— Algum problema?

— Hum? Algumas coisas com as quais eu mesmo tenho que lidar. – Ele se esquivou, pois não queria contar ao rapaz que as coisas não estavam indo nada bem para o seu duplo. Se continuasse assim, uma grande tragédia ia acontecer. – Não se preocupe com isso. Eu trouxe tudo o que você me pediu e mais um pouco.

Sobre a mesa de centro estava um pacote que Cebola abriu avidamente. Tinha um uniforme, sapatos, boné e um crachá com cartão magnético. Na foto, ele viu uma versão mais velha de si mesmo com cavanhaque e cara de malandro. De qual mundo alternativo o Paradoxo teria tirado aquela foto? Também havia um papel com um pequeno mapa indicando o caminho para o escritório do Sr. Malacai.

— Ele chega às seis horas em ponto, nem um segundo a mais.

— Seis horas? Eu vou ter que acordar de madrugada!

— Então acerte o seu relógio e procure fazer tudo o que precisa antes das seis. Ele quase nunca se atrasa. Quando pretende fazer isso?

— Amanhã mesmo. Tem certeza que ele trabalha até no domingo?

— Absoluta. Ele nunca tira um dia de folga.

— Credo, esse cara é doente!

Paradoxo levantou-se para ir embora.

— Espero que você encontre mesmo alguma coisa. Eu tive que pedir alguns favores para conseguir tudo o que você me pediu.

— Você não tá mesmo conseguindo fazer muita coisa nesse mundo, não é?

— Não. Só chegar até aqui já é muito desgastante.

— No dia trinta e um a barreira enfraquece, aí deve ficar mais fácil pra você.

— Veremos quando o dia chegar. Até lá, tome cuidado. É muito importante que nada de ruim te aconteça.

Ele sumiu dali deixando-o sem entender o que aquilo significava. Como tinha outras coisas mais importantes para fazer, Cebola esqueceu daquilo e foi providenciar os preparativos para a festinha que ia dar mais tarde naquele dia para comemorar a sua nova casa. Além dos amigos, ele também convidou os pais deles. Os do Cascão e da Magali já confirmaram presença. Já os da Mônica não iam poder comparecer porque sempre tinham compromissos. Ele também convidou alguns parentes para lhes mostrar que a casa estava bem cuidada e que ele ia conseguir se virar sozinho.

A casa estava limpa e arrumada e a despensa já estava cheia. Ele fez uma lista das coisas que ia precisar e saiu para fazer as compras. Felizmente os pais da Magali e do Cascão iam ajudar também, assim ele não precisava fazer tudo sozinho.

— Ah, doce liberdade! – ele murmurou antes de pegar a carteira e sair de casa.


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