Universo em conflito escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 3
Porque pode acabar se realizando


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, não deu para postar nos últimos dois dias porque tive alguns problemas. Para compensar, vou postar dois capítulos novinhos.



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Ele esperava risinhos de criança levada, ou então uma bronca monumental do seu pai ou sua mãe pelo atrevimento. Mas quando ouviu sua própria voz lhe respondendo, ele abriu os olhos rapidamente e ao ver quem tinha falado, deu um grito esganiçado, caiu da cama e ainda derrubou alguns livros que estavam em cima do criado. Os dois ficaram se encarando por um tempo que ele não soube determinar. Depois ele ouviu o barulho de alguém subindo rapidamente as escadas e batendo na porta.

— Cebola? Que barulho foi esse? Está tudo bem?

Não, não estava tudo bem. O rapaz continuava sentado no chão, pálido, tremendo e olhando totalmente em choque o estranho visitante que não era nada menos do que... ele mesmo? O que diabos estava acontecendo ali? Era a invasão dos clones malignos?

Como seu pai insistia do outro lado da porta, seu clone falou com a voz tranqüila e natural.

— Tá tudo bem, pai. Eu só deixei algumas coisas caírem no chão.

— Vê se toma cuidado, viu? E daqui a pouco sua mãe vai servir o jantar, não demora!

— Pode deixar.

Os dois ouviram passos no corredor se afastando e finalmente puderam conversar.

— Q-quem é você?

— Não é óbvio? Por favor, nós somos mais inteligentes do que isso. – O recém chegado estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar.

Cebola o olhou dos pés à cabeça ainda muito confuso. Era uma cópia exata de si mesmo, mas usando um belo e imponente uniforme verde-escuro, com um quepe combinando e uma bonita insígnia dourada que lembrava seus cabelos na infância, quando ele tinha cinco fios. Procurando encurtar a história, seu sósia foi direto às explicações.

— Eu sou você, mas vindo de um universo alternativo. Acho que você já ouviu falar sobre isso. – ele se acalmou.

— Ahhhh, bom! Eu já ouvi falar sim e até vi um através de uma tela de computador.

— Sim, foi quando a Mônica teve que ser mandada para um dos universos alternativos para resolver uma situação de desequilíbrio.

Ele arregalou os olhos.

— Peraí! Como você sabe?

— Eu sei de muitas coisas. Um líder mundial tem que estar sempre bem informado, não? – ele respondeu andando calmamente pelo quarto e pegou um livro para folhear como se não estivesse acontecendo nada de extraordinário. Cebola não conseguiu segurar a curiosidade.

— Quê? Líder mundial? Me explica esse negócio direito!

— No meu universo eu descobri uma forma de dominar o mundo. Agora sou um líder amado e respeitado.

Os olhos dele brilharam como dois faróis e até se encheram levemente de lágrimas. Era tudo o que ele queria!

— Quer dizer que você é o dono do mundo agora? Cara, isso é demais! E a Mônica?

— Ela é minha namorada e dentro de alguns anos, vamos comemorar nosso noivado e em seguida o casamento. Ela está muito feliz e lisonjeada por ser a primeira-dama do líder mundial. Calma, não vá chorar, isso é desconcertante!

A lágrima que começou a cair foi rapidamente enxugada. Cebola mal continha tanta emoção ao ver uma versão de si mesmo que tinha conquistado todos os seus sonhos apesar de ser tão jovem.

— Cara, isso é demais! E por que você tá aqui?

— Simples. De certa forma, eu sou você e você sou eu. Somos a mesma pessoa, porém nascidos em mundos diferentes.

Ele entendeu. Paradoxo também tinha falado mais ou menos a mesma coisa na nave Hoshi.

— Então se você dominar esse mundo, será como se eu o tivesse dominado. É esse o meu projeto: percorrer cada planeta ajudando nossos outros eus a dominar seus mundos.

Se empolgação fosse algo físico, Cebola tinha explodido na mesma hora. Aquilo sim era genial e digno de alguém com inteligência superior!

— Eu estou aqui para ajudá-lo. Você irá dominar esse mundo e torná-lo um lugar melhor. Não é isso que você sempre quis?

— Rapaz, e como quero! Pra caramba! Mas e a Mônica? Agora ela tá namorando aquele idiota do DC e eu não tô conseguindo nada com ela.

Seu duplo não se alterou.

— Não se preocupe. Nossos outros eus já estiveram em situação dez vezes piores e conseguiram. Você conseguirá muito fácil.

— E o que eu preciso fazer?

— Vir comigo ao meu mundo. Lá você receberá rapidamente todas as instruções necessárias para se tornar líder mundial. Tudo o que você precisa saber, todo conhecimento, plano e estratégia te aguarda.

Claro que ele pretendia aceitar o convite, mas havia um inconveniente.

— Tá quase na hora da minha mãe servir a janta e vai ser um pandemônio se ela não me achar. Não pode ser depois? Minha família aqui é um tremendo saco, sabia?

— Além de poder transitar entre todos os universos, também posso me movimentar no tempo. – O outro falou orgulhosamente. – Se vier comigo, eu o trarei de volta em menos de dois minutos.

— Sério mesmo?

— Sim. Eles nunca saberão que você partiu e você voltará com todo conhecimento necessário para conquistar esse mundo e ter a Mônica de volta.

— Então o que a gente tá esperando??? Como a gente vai? De nave espacial? Tem um portal? Fala aí, cara!

Suas mãos estavam suadas, o coração acelerado e uma descarga de adrenalina corria seu corpo. Aquela era sua chance de ouro, o primeiro passo para sua vitória e ele não enxergava mais nada a sua frente. Sem mais delongas, o Cebola alternativo estendeu a mão e um portal foi aberto no meio do quarto, fazendo o queixo do original cair no chão. O portal era da sua altura e com um metro de largura. Era brilhante, faiscava ao redor e oscilava um pouco. Que tipo de tecnologia ele estava usando? Devia ser algo muito avançado e isso só confirmou que seu duplo era um vencedor. E em breve ele também seria.

Seu duplo estendeu uma mão e apontou gentilmente para o portal, falando com a voz suave e um sorriso cativante.

— Convidados de honra primeiro. Tenho certeza de que ficará maravilhado com as minhas realizações no meu mundo. E poderá fazer tudo igual no seu.

Sem esperar um segundo convite, Cebola atravessou o portal sem nem ao menos pensar no que estava fazendo. Um grande clarão o cegou por alguns segundos. Seu corpo pareceu flutuar no ar levemente e quando seus pés voltaram a tocar o chão, ele abriu os olhos com um grande sorriso no rosto que não durou nem dois segundos quando viu onde tinha ido parar.

Ele virou bruscamente para todos os lados, olhando em volta sem conseguir entender nada. Aquilo estava certo? Será que ele não tinha se perdido no meio do caminho?

Sua expectativa era de encontrar um cenário maravilhoso de uma utopia tecnológica como prédios ultramodernos, carros voadores e robôs-empregados. Mas tudo o que ele encontrou foi um quarto meio escuro, de decoração simples e o local estava silencioso. O portal tinha se fechado no instante em que ele chegou e não havia mais nada ali. Ele estava em um mundo desconhecido, em outro universo e não fazia a menor idéia de como voltar.

Após vários minutos de choque, um grito apavorado ecoou por toda a casa sendo ouvido até pelos vizinhos.

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Mundo alternativo – nove meses atrás

— Ele ofereceu alguma resistência, mas no final acabou se quebrando.

O diretor ia falando para o idoso que andava ao lado dele. Era um homem bastante velho, cabelos grisalhos e andava apoiando em uma bengala. A primeira vista parecia um velhinho inofensivo, mas seu olhar parecia cortar mais que uma katana. Eles eram seguidos por dois homens vestidos com roupa preta e expressões muito sérias.

— Ele teve a chance de se dobrar e recusou.

Ele olhava para frente com um olhar decidido, andava com passos firmes apesar de usar bengala e ouvia tudo em silêncio com os lábios levemente apertados.

— Então tivemos que quebrá-lo.

A voz do diretor ecoava nas paredes do corredor tanto apertado e mal iluminado. Enquanto andavam, eles também ouviam o som de gritos, choro, pancadas e até uma risada insana. Algumas lâmpadas piscavam precisando ser trocadas e várias portas estavam fechadas.

O grupo alcançou uma porta no fim do corredor. Era de madeira reforçada com ferro e tinha apenas uma pequena janela na parte de cima. Um dos homens de preto abriu a janela e o velho deu um sorriso pela primeira vez quando viu o que tinha lá dentro.

— Eu acredito que ele já está pronto.

— Isso quem decide sou eu. – o velho falou rispidamente olhando o diretor com seu olhar cortante. – Abra a porta.

— Sim senhor. – rapidamente ele tirou o molho de chaves do bolso, se atrapalhou tentando encontrar a chave certa e finalmente abriu a fechadura.

O quarto era escuro, pequeno, sem ventilação e só tinha um colchonete e um vaso sanitário de aparência velha e decaída. A luz fraca entrou pela porta aberta iluminando o chão de cimento e parte da parede com pintura desgastada e alguns tijolos aparecendo. Na parte escura do quarto, que não foi bem iluminada pela luz que vinha do lado de fora, havia um rapaz sentado no chão com a cabeça baixa e as costas apoiadas na parede.

O velho entrou e ficou diante do rapaz, que continuava com a cabeça baixa e em silêncio. Ele colocou a ponta da bengala sob seu queixo e fez com que levantasse o rosto. Estava com um olho roxo, o nariz tinha sangrado recentemente e o lábio inferior estava com grande ferimento.

O rapaz não esboçou reação, ficou apenas olhando para o recém chegado com os olhos embaçados, sem esperança e sem vida. Aquele rapaz tinha desistido completamente. Estava quebrado por dentro. Quando viu isso, o velho voltou a apoiar a bengala no chão, virou as costas e saiu do quarto.

— Ele é perfeito. Vamos levá-lo.

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Mundo alternativo - atualmente

Suas roupas estavam sujas, assim como seu rosto e cabelos. Mas isso não tinha importância. As pessoas olhavam e pensavam que era mais um número entre as centenas de indigentes que perambulavam pela cidade. Mal sabiam elas da podridão que estava encerrada dentro daquele corpo pronta para explodir e contaminar toda a humanidade.

Em outro estado, uma pessoa muito diferente da primeira andava pelas ruas com o queixo erguido e postura confiante. As pessoas não tinham medo quando passava perto dela. Tinham raiva, ódio, vontade de matar e quebrar tudo, só não sabiam de onde vinha toda aquela energia ruim. Era outra bomba relógio prestes a explodir e levar o mundo inteiro à guerra.

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Numa cidade do interior, um pássaro ciscava entre a grama seca procurando por alguma migalha de comida, coisa cada vez mais difícil de encontrar. O pequenino sentia-se fraco por causa da fome a ponto de não conseguir mais voar com tanta facilidade.

Num último esforço, ele tentou levantar vôo para procurar outro lugar e quando estava a pouco mais de um metro do chão, acabou caindo de uma vez, se debatendo por alguns segundos antes de morrer.

Uma senhora o pegou com ambas as mãos, sentindo grande pesar.

— Pobrezinho... não vou deixá-lo caído por aí. – Nena falou e foi providenciar um enterro decente a pobre criatura. Mais um animal para ser enterrado no cemitério que ela tinha feito no quintal dos fundos, onde havia outros como gatos, cães, galinhas, pombos, pássaros e muitos filhotes que não tinham conseguido vingar. Os animais estavam cada vez mais fracos, muitos filhotes morriam pouco depois de nascer, mal dando seu primeiro suspiro. 

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Enquanto isso, Cebola gritava feito louco botando todo seu desespero para fora.

— Ficou doido moleque? Que gritaria é essa? Eu trabalho a semana inteira e nem posso descansar? – uma voz grossa falou rispidamente, fazendo o rapaz calar na mesma hora.

Um sujeito alto e forte tinha entrado no quarto e não parecia nem um pouco amigável. Seus cabelos pretos eram repicados de forma irregular, caíam sobre seu rosto e lhe davam um aspecto de homem das cavernas. Várias tatuagens enfeitavam seus braços, peito e nas costas havia uma bem grande em forma de dragão. 

— O que está acontecendo aqui? – uma voz irritante falou atrás de Rômulo e veio de uma mulher baixinha, bem parecida com a Dolores Umbrige e também tinha os cabelos pretos tingidos regularmente e presos no topo da cabeça por uma trança. Eles eram parentes distantes por parte de mãe e Cebola só os tinha visto poucas vezes.

— Tia Rosália? Rômulo? O que vocês estão fazendo aqui? – O sujeito respondeu.

— Tentando dormir, seu imprestável! E você agora deu pra gritar que nem doido só pra atrapalhar meu sono! Quer levar um murro na cara por acaso?

Cebola recuou alguns passos encolhendo de medo, pois seu primo era mais alto e parecia muito forte.

— Ué, cadê sua valentia? Tá com medinho, é? – Rômulo se aproximou dando socos no ar para assustá-lo mais ainda e Cebola encostou o corpo na parede visivelmente apavorado.

 Rosália também achou graça da situação.

— Olha só, eu pensei que você fosse valente e agora tá morrendo de medo?

Ao ver que o rapaz não reagia, Rômulo o segurou pelo braço e apertou com força.

— Que foi seu bundão? O gato comeu sua língua? – ele apertou o braço do rapaz com força fazendo-o gemer de dor. – Hahaha! Você não é de nada! Aposto que quebro seu braço que nem palito de dente!

— Não quebra o braço dele, filho. Ele tem que trabalhar. E você, vai lavar a louça agora mesmo ou vai ver só uma coisa!

Os dois saíram do quarto deixando-o sozinho e em estado de choque. O que estava acontecendo afinal? Por que ele tinha ido parar na casa da sua tia? E por que eles o tratavam daquela forma?  Superando o susto inicial, ele saiu do quarto e acabou tendo outra surpresa desagradável.

Seu estomago embrulhou ao se deparar com um sofá de estampa florida soterrado por almofadas feitas de retalhos coloridos. O chão era todo coberto por um tapete azul marinho e ele quase não via a parede por causa da enorme quantidade de quadros, pratos decorados, um grande relógio cuco, casinhas de madeira com bonequinhas dentro e estatuetas coloridas feitas com cerâmica.

Havia samambaias penduradas no teto, um vaso com espada de São Jorge no canto da sala e em outro um de comigo-ninguém-pode, todos de plástico.

O pior era aquele mar de bibelôs, cada um mais brega que o outro. Enfeites em forma de coruja, pavão, gato, um vaso cafona multicolorido com um pescoço de cisne em cada lado coberto por flores artificiais, um galo preto com crista bem vermelha e pintas coloridas nas asas, um elefante de porcelana e uma infinidade de outras coisas que ele mal conseguia distinguir. Tudo sobre toalhas rendadas que pareciam do tempo de sua avó.

O forro das cadeiras tinha estampa de pele de onça e sobre a mesa, junto com uma toalha rendada multicolorida, tinha um enfeite grande com um pavão de porcelana colorido de verde, amarelo e vermelho sobre uma pedra com imitação de grama verde ao redor. No lugar da cauda, tinha penas de verdade.

E no canto da sala tinha um abajur que o fez ter vontade de chorar. Devia ter meio metro de altura e era no formato da saia de um vestido vermelho bem rodado com babados em renda preta em ziguezague ao redor da saia, uma costura preta de cima a baixo como se imitasse um espartilho e uma rosa grande também preta ao lado da costura. A haste era no formato de duas pernas femininas usando sapatos vermelhos, meia arrastão, cinta-liga e uma rosa de resina na base. Quem em sã consciência levaria aquela coisa para dentro de casa?

Mas isso não foi o pior de tudo. Por debaixo de toda aquela decoração horrenda, ele reconheceu a disposição dos cômodos e a paisagem através da janela da sala. Aquela era a SUA casa! Céus, que porcaria de mundo era aquele onde ele foi parar? Onde estavam os pais alternativos?

A casa ficou silenciosa novamente e ele resolveu dar uma olhada. O quarto de casal estava com a porta fechada e ele podia ouvir Rosália fofocando no telefone dando risadas e fazendo comentários maliciosos sobre a vida de alguma vizinha. Aquele que devia ser o quarto da sua irmã estava com a porta aberta, mas não parecia nem de longe o quarto de uma menina. Havia pôsteres de mulheres nuas por toda parte, latas de cerveja espalhadas juntamente com roupas, sapatos, meias e embalagens de salgadinhos, caixas de pizza e fast food. Na cama, Rômulo dormia como se não houvesse mais nada no mundo e Cebola saiu dali para não acordá-lo.

“O que tá acontecendo aqui?” ele pensou tentando raciocinar desesperadamente. Será que ele foi parar ali por engano? Se sim, ele esperava ser resgatado logo. Mas e se fsse um teste? Seu duplo havia falado que ia lhe passar todo conhecimento necessário para dominar o mundo e reconquistar o amor da Mônica. Aquilo podia ser um teste para saber se ele era ou não digno de receber tais conhecimentos. Se era assim, então ele precisava ser forte e enfrentar aquilo de frente para mostrar que era digno de se tornar líder mundial e ter a Mônica de volta.

— Bom, se é um teste eu tenho que dar um jeito nisso. E não vou lavar a louça nem que a vaca tussa, um líder mundial não faz esse tipo de coisa!

Determinado, ele resolveu sair para dar uma volta a fim de clarear um pouco as idéias.

— Onde você pensa que vai, seu imprestável? – ele ouviu a voz estridente da sua tia.

— Eu vou dar uma volta pra respirar ar fresco.

— Vai sair coisa nenhuma, eu te mandei lavar a louça.

— Eu não vou lavar nada, valeu? Não sou seu empregado e você é muito folgada!

— Me obedeça agora mesmo ou vou falar para a família toda que você está me desrespeitando!

— Bah, fala o que quiser que eu não tô nem aí. Quer saber? Fui!

O rosto da mulher ficou vermelho de raiva, seus olhos ficaram injetados de sangue e ela gritou a plenos pulmões.

— Rômuloooo! Venha aqui agora!

O sujeito saiu do quarto soltando fogo pelas ventas por seu sono ter sido interrompido mais uma vez.

— O que foi agora?

— Esse cretino está me respondendo mal!

— Ô seu lesado, pára de responder a minha mãe!

— Então manda ela parar de me torrar o saco! Ah, vão plantar batata vocês dois, tá legal? E dá um jeito nesse cabelo ridículo que você tá passando vergonha!

Dessa vez foi Rômulo quem ficou com raiva e partiu para cima do Cebola lhe dando vários tablefes e só parou quando Rosália interrompeu, pois não queria que o rapaz ficasse machucado.

— Chega, filho. E você, seu moleque, não adianta dar com a língua entre os dentes porque o resto da família só acredita no que eu falo! Agora vai lavar a louça! Aproveita e vai varrer o quintal porque tem muita folha seca no chão. E ai de você se não estiver tudo pronto!

Cebola ainda estava caído no chão, tremendo e a beira do choro. Aquele teste estava indo longe demais. Com muita dificuldade, ele se levantou e procurou se recompor achando melhor obedecer aquela mulher só para ganhar um pouco mais de tempo. Era preciso pensar em alguma coisa, talvez encontrar uma pista.

Assim que terminou as tarefas, o que foi uma grande tortura uma vez que ele não estava acostumado a fazer esse tipo de coisa, Cebola correu para o quarto a fim de procurar por alguma pista ou instrução. Tinha que ter alguma coisa, seu duplo não ia deixá-lo totalmente desorientado num mundo estranho.

Ele procurou no armário, nas gavetas, olhou a mesa de estudos, abriu a mochila do colégio, olhou os cadernos e livros.

— Aqui não tem nada. Deixa eu ver... o computador? Pindarolas, eu devia ter olhado ele primeiro!

O computador foi ligado sem problemas e bem no centro da área de trabalho havia uma pasta chamada “INSTRUÇÕES” em letras maiúsculas. Ele clicou e viu que os arquivos estavam numerados. O que tinha o número 1 era um vídeo que ele abriu. O seu rosto apareceu. Ou melhor, o rosto do seu duplo que era idêntico a ele exceto pelos cabelos cortados no estilo militar e por um detalhe que o fez tremer e suar frio: uma cicatriz na testa que ele conhecia muito bem.

— Se você está vendo esse vídeo, então quer dizer que agora está vivendo nesse mundo. Muito bem, eu lhe darei todas as instruções necessárias para viver aqui e o colocarei a par de tudo o que aconteceu na minha vida. Você vai precisar disso.

Ele pausou o vídeo e levantou-se esfregando o rosto com as mãos nervosamente. Depois sentou-se de novo para ouvir o restante e tudo ficou claro. O cabelo estava diferente, mas ele pode ver que era mesmo o seu duplo, aquele por quem a Mônica tinha se apaixonado. Ele o enganou para fazê-lo atravessar o portal e viver naquele mundo horrível em seu lugar.

Seu duplo falou sobre a vida naquele mundo, o que tinha acontecido com sua família e Cebola ficou de coração partido ao saber que sua mãe alternativa tinha falecido. Sua tia Rosália tinha se tornado sua tutora legal e ela juntamente com Rômulo iam viver naquela casa até ele completar a maioridade. Pelo que o duplo tinha falado, o marido de Rosália morreu e deixou uma dívida enorme. Para poder pagar essa dívida, ela alugou a casa e foi morar com ele até quitar tudo.

Após dar todas as explicações necessárias, num vídeo que durou mais de uma hora, o outro Cebola falou com a voz fria.

— Seu mundo agora é meu. Sua família é minha e eu finalmente terei a Mônica. Não se preocupe, cuidarei dela muito melhor do que você jamais cuidaria. Sugiro que se adapte a esse mundo, pois viverá nele pelo resto da vida.

— Seu desgraçado, isso não é justo! Você tá roubando tudo o que é meu! – ele falou com a voz baixa e trêmula de raiva.

— Agora eu me despeço. Não me culpe. Se você está aqui, é porque foi idiota o bastante para acreditar numa farsa tão facilmente. Será que você não conhece a si mesmo o suficiente para saber que é capaz de enganar e manipular?

Seu rosto ficou vermelho de raiva e por pouco ele não quebrou o computador. Além de tê-lo enganado, mandado para aquela realidade deprimente e roubado sua vida, ele ainda tinha a coragem de tripudiar e humilhar? Céus, ele era tão canalha assim?

— Ao que parece, você não é tão inteligente quanto deveria. Sendo assim, aqui é o seu lugar. Eu mereço viver na Terra original e aproveitar tudo que sua vida tem de bom e você não deu valor. Boa sorte. Você vai precisar.

O vídeo acabou. Na pasta havia outros arquivos no formato do Word e Excel, mas ele não estava com a menor vontade de ler aquilo, pois não pretendia viver naquele mundo para sempre. Se aquele idiota achava que ele ia ficar ali chorando e lamentando sem fazer nada, então ele realmente não o conhecia tão bem. 


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