Beast Hunters escrita por HAlm


Capítulo 8
A mãe de todos




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Zoey levou Vael para conhecer cada canto do lugar. Dormitórios improvisados, as entradas para as torres que controlavam as barreiras anti-tempestades, a cozinha onde os cozinheiros resgatados que estivessem com a cabeça no lugar, onde sentiu-se triste por não encontrar sua velha amiga vaca.

Todos os outros que estiveram presentes no dia do ataque estavam ajudando ou sendo ajudados. Claro que nem todos puderam ser ajudados, por exemplo quando Zoey disse ao passarem por uma porta que aquele lugar estava impossível de abrir e Vael sentiu um nó na garganta e um pouco aliviado por não ter altura para poder ver o que as cordas estavam segurando do teto.

— Eu sou só um pouco mais alta que você... Mas eu vi depois do que aconteceu. Estávamos ocupados demais organizando as coisas para impedir. Não precisa saber o que teve aqui, Vael - falou a loba em tom melancólico.

— Mas eu sei... foi um suicídio coletivo, não foi? Fácil de deduzir. Tentaram impedir, mas... A porta não abre desde aquele dia? Ainda estão lá...

— Infelizmente é isso... Eles perderam tudo... Não queriam que impedissem eles, apenas... se foram - pela forma como Zoey falava, ainda não acreditava, mesmo que tenha ocorrido há três anos. - Eles não podiam aguentar ver o país tomado, o maior símbolo em chamas e o melhor dia com sangue. Você sabe... Nenhum de nós achou você.

— Acho que é porque tivemos medo. Fomos embora o quanto antes sem nos importarmos onde viver, apenas tentar sobreviver. Foi difícil se acostumar, mas era isso ou morrer.

A loba se aproximou de Vael, tocou seu ombro e olhou em seu rosto. Não esperava que o amigo fizesse o mesmo: odiava olhar as pessoas nos olhos.

— Eu entendo... Todos passamos por coisas difíceis depois de tudo começar. Não é como um livro de distopia.

— Eu sei... é estranho.

— Então venha, vamos ver o resto do lugar. - Zoey deu uma última olhada triste para a janela da porta bloqueada. Esperava nunca ter que dizer a ele o que aconteceu com sua antiga amiga.

Zoey guiou Vael pela construção, mostrando pelas janelas os caminhões que chegavam com partes das colheitas de fazendas aliadas a eles que trocavam recursos por proteção. Uma ajuda de ambas as partes já que não era apenas o exército real o perigo em certas regiões. Eles temiam a existência de predadores que não possuíssem a consciência dos animais no geral, apesar de ser um mito. 

Com o advento do leão à realeza, mitos se espalharam sobre o que era feito, sobre monstros e perigos e com mais velocidade e detalhes que eram contados nas lendas do país. Todos aqueles detalhes faziam parecer que era algo real.

No caminho, Vael ouviu algumas pessoas sentadas ao redor de mesas tremendo de medo contando suas histórias como se realmente tivessem presenciado algum mal.

— Não fique com medo das histórias. Se algum monstro o alguém estiver assustando eles, então pode ser morto.

— Tá legal...

— Bom! - A expressão dela mudou totalmente para alegre. - Tem alguém que vai adorar conhecer, Vael. Um lugar onde os filhotes são cuidados.

— Os filhotes? Então vocês conseguem ajudar bebês também?

Zoey soltou um riso e respondeu:

— É claro, Vael. Não podemos deixar ninguém de lado, ainda mais bebês. Aliás sabe como é o instinto de várias espécies né? "Sempre ter filhotes em tempos de crise para a sobrevivência da espécie", o que deixa basicamente natural que hora ou outra tenham mais filhotes... A única coisa que podemos pedir aos adultos mesmo é que controlem os instintos... Bom, controlar o quanto puderem.

Eles seguiram numa escadaria na torre do dedo médio e não pararam até ver uma porta bem enfeitada, sinalizando que era o quarto infantil. Zoey fez um "shh" com o dedo indicador levemente colocado sobre os lábios e entrou cuidadosamente através da porta. 

Todos os filhotes dormiam em caminhas enquanto seus ronronos ou outros sons eram emitidos tranquilamente pela sala. Atravessaram as camas olhando com amor para os bebês e crianças e atravessaram outra porta onde estava uma sergal. 

Uma sergal alta com pele branca cheia de pontinhos e pêlos verdes com mechas rosadas em seu cabelo. Lindos olhos azuis onde, um deles, exibia uma pequena cicatriz na pálpebra.

Terminou seu café e sorriu para os visitantes.

E como sempre, um mero olhar e Vael facilmente era capturado como se os olhos de um sergal fossem uma ressaca que prendia sua atenção e o puxava por completo para dentro deles como se fossem uma prisão para sua alma.

— Vael? - ele acordou quando Zoey o chamou.

— Ah! Oi?

— Esta é a cuidadora chefe - a apresentou estendendo sua mão apontando para a sergal.

— Oh, um guaxinim? Fora a namorada da chefe não conheci muitos pessoalmente... - ela estendeu sua mão para cumprimentar Vael. - Prazer, eu sou Mel Lancia.

Vael segurou a risada pelo nome engraçado. Não queria parecer rude à primeira vista.

— Tipo... um trocadilho com melancia? - brincou.

— É, quase isso. Deve ter sido isso que meus pais pensaram quando viram as cores haha - ela olhou para si mesma após responder. - E você? Como se chama, fofinho?

— Eu sou Vael.

— Vael? Então a outra guaxinim que conheci aqui é sua irmã? Ela já falou de você. - Mel o segurou e com as mãos e olhos passou a examiná-lo. Colocou alguns dedos na boca do pequeno guaxinim. - Hmm... Seus dentes estão bem cuidados. Pelo seu corpo você fez exercícios nesses últimos tempos. Magrinho e fortinho... Poderia ter mais músculos se comesse melhor. Vamos cuidar de você, Vael - ela falou sorrindo com carinho e bondade. Era quase uma mãezona de todo mundo ali.

Vael não se segurou diante daquele olhar. Daquela bondade. Aquelas palavras, apesar de não terem o propósito, aqueciam seu coração. Exatamente como se ela tivesse nascido para ser uma mãe. Ele deu um salto com um forte abraço na sergal.

A princípio ela não teve reação. Segundos depois, ela o envolveu em seus braços.

Vael se afastou um pouco e ela o tocou no rosto, acariciando sua bochecha.

— Sempre que precisar, eu vou estar aqui Vael.

— Ok Mel! - Vael sorriu para ela e saiu cuidadosamente, esperando Zoey do lado de fora das salas.

Zoey sentiu-se meio sem jeito com o amigo. Coçou o braço e olhou um tanto avermelhada para Mel.

— Ehr... foi mal por isso Mel, ele é meio... Espontâneo às vezes... acho que era essa a palavra hehe...

— Não precisa se preocupar, querida. Eu só... - O rosto da sergal ficou totalmente avermelhado. Ela cobriu as bochechas com as mãos enquanto seus olhos lacrimejavam. - Ele é tão fofo! Queria ser mãe dele! - ela deu um grito emocionado e abraçou o próprio corpo. - Poderia abraçar, beijar e fazer carinho nele o quanto quisesse! Imagina então quando ele era criança! 

— Ehr... então tá tudo bem?

— Sim, tá tudo bem!

— Tá bem então... Se cuida Mel! - Zoey acenou e atravessou a porta deixando a sergal secando as lágrimas.

***

— Meu Deus! - exclamou Vael enquanto atravessava mais corredores escuros. - Você viu ela? Ela é tão fofa e... carinhosa... Sabe? Gostei de conhecer ela. Me fez até esquecer os problemas.

— Eu sei. Ela é como se fosse a mãe de todos aqui. Ela melhorou o clima quando trouxe Vaika de volta, e tipo ele parecia que tava bem mal e podia ter sido bem pior se ela não tivesse encontrado ele. Mas essa história fica pra outra hora...

Ambos pararam na frente de um painel onde havia alguns papéis presos com destaques semanais. Zoey apontou para um bem no centro.

— Existe por aqui uma espécie de competição. Na verdade é como um treino, mas eles fazem como competição sabe? Só pra dar uma animada e o jogo de amanhã vai ser um tipo de "pegue a bandeira", com times, armas de mentira e... porrada. Bom, eles tentaram dizer umas vezes sobre ser contra as regras, mas o juiz crocodilo apanhou e também partiu pra cima... sabe como é.

— Caramba. E quem que bateu no juiz?

— Então... - Zoey juntou os dedos das mãos. - Fui eu... É, eu tava toda frenética, com adrenalina, envolvida na ação, mas aí ele tentou me parar e... foi o que rolou...

Vael assistia a performance de Zoey gesticulando com socos e chutes no ar pensando em como seria se fosse ele.

Seus olhos se fixaram no quadro cheio de pinos e agulhas prendendo papéis. Aquele treinamento era recomendado para todos os que decidissem participar de missões.

Vael suspirou, coçou os pulsos pensando nos próximos aprimoramentos de seus equipamentos de locomoção.

— Então, Zoey... O que acha de eu participar disso?

— Ehr... Vael... Não acho que seja uma boa...

— Mas eu já fazia missões... bom, pequenas missões antes de vir para cá.

Ela deu de ombros e suspirou sabendo que ele já estava decidido.

— Então não posso fazer nada, Vael. Você que decide.

— Hum... Pelo jeito deve ter alguns bem competitivos.

— Não duvide disso. Tem algumas que provavelmente pareçam que te odeiam, mas só vão ser babacas na brincadeira mesmo... de um jeito apelativo. Só toma cuidado pra não se machucar, ok?

— Me machucar tipo? - Vael olhou para o rosto da amiga.

Zoey levantou uma sobrancelha:

— Entrar em combate corpo a corpo e quebrarem você ao meio.

— Eles não fariam isso né? Deve doer.

— Alguma coisa pelo menos você pode quebrar, hehe.

— Isso é ironia? Bom, sendo ou não, tô dentro! Seria bom uma brincadeira.

— Brincadeira? Jeito otimista de ver, baixinho - uma voz ameaçadora surgiu atrás dos dois amigos. O tom da voz fez Vael querer se encolher.

— Clara? Como sempre você vai participar né? - Zoey virou-se para a bull terrier.

— É a única diversão que tenho aqui! - falou com voz sem expressão. - Prazer! Acho que a loba já disse meu nome!

— Ehr... Meu nome é Vael. - Ele se virou e encarou a enorme canina branca e barriga rosada, cheia de músculos, roupas de academia, uma toalha e claro, coberta de suor. - Vael Hoshi.

— Vael... Você é fofo. - Deu as costas para os dois. - Não vou pegar leve amanhã...

— Mas como sabe...

— Você tava falando disso agora pouco! Se quer nos ajudar tem que ser mais forte que isso! Você parece só um baixinho medroso e covarde!

As orelhas de Vael se abaixaram. Seus olhos fitaram o chão. Sua boca em silêncio.

— Ela é uma das generais... Ela vai pegar pesado com os novatos, mas por uma boa causa. Não leve isso tão a sério, Vael. - Zoey colocou a mão sobre o ombro do guaxinim.

— Isso vai ser demais...

As orelhas de Vael ficaram em pé.

— Pera... Como? - Zoey o fitou por uns segundos.

— Vai ser legal! Não vai? - Ele olhou de canto de olho para sua amiga.

— Ehr... Não...

 


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