Beast Hunters escrita por HAlm


Capítulo 1
Um sabor adocicado


Notas iniciais do capítulo

Esta história está sendo feita com personagens originais de amigos meus e meus próprios personagens.



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Naquela manhã, Vael se levantou de sua cama como se nada de tão estranho pudesse ser capaz de acontecer.

Caso esteja se perguntando "quem é Vael?" eu preciso que me ouça com atenção. Ele é um guaxinim. Um animal assim como maior parte da população deste mundo onde há apenas poucas centenas de humanos. Ele anda em duas patas traseiras, patas frontais como mãos desenvolvidas com dedos e polegares, rosto e corpo peludo, cauda listrada em seu tom de pêlos cinza e preto.

Ele se esticou ainda em cima da cama demorando para acordar de fato, levou as duas mãos para o lado, esticou o máximo que podia e lentamente ergueu os dois braços com um bocejo pensando se deveria mesmo sair da cama. Fez um pouco de força para conseguir sair dela, colocar seus chinelos, vestir sua camiseta e ir ao banheiro para escovar os dentes antes de sair do quarto.

Quando saiu do quarto, a família de dentes-de-sabre o cumprimentou com um alto e animado "bom dia".

Como sempre pelas manhãs, apenas Lorena e Chris Saber estavam ali enquanto sua irmã, Liana Saber, provavelmente já estaria na academia onde trabalhava como personal trainer.

E agora a pergunta da vez é... Não, não fale nada, leitor, deixe que eu adivinhe... "Mas como um guaxinim tem uma família de dentes-de sabre?", bom, isso vamos explicar, acalme-se.

Sobre o casal dentes-de-sabre era algo incrivelmente curioso e lindo de se ver. Lorena é uma tigresa gordinha, mais baixa do que seria comum para sua espécie. Ela se sentia muitas vezes inútil e não sabia o motivo pelo qual Chris quis se casar com ela, embora ele, sempre deixou claro que a amava mais que qualquer coisa no mundo. E o tigre romântico é um que segue o físico de sua espécie. Naturalmente forte e grande, mas carrega consigo gentileza e amor.

Olhando para o relógio, Vael viu que acordou bem mais tarde que o normal. Não era algo bom, mas a parte boa daquilo tudo era aproveitar a refeição e ter tempo de fazer suas coisas.

O guaxinim foi até a cozinha onde sua família adotiva estava. Bom, sim. Adotiva. Respondi a pergunta de antes? Ótimo. Estavam sentados ao redor de uma mesa redonda na sala de jantar, Christopher lendo um jornal e tomando café enquanto comia de pouco em pouco a panqueca, prato de café da manhã padrão daquela família.

Vael adorava.

Panquecas. Vael adorava elas e não reclamaria se tivesse todos os dias.

Panquecas doces feitas pela lorena eram discos de massa grossas e adocicadas esperando pela calda do xarope de bordo, o ingrediente que o guaxinim sempre exagerava na dose sobre cinco massas empilhadas - exatamente cinco sempre. Expremia o recipiente até conseguir cobrir tudo, afinal ele sempre dizia que "se um sabor é bom, deve ser sentido".

Seus pais sempre brincavam dizendo que "as árvores de acer iriam acabar se ele continuasse assim", mas ele nunca entendia como sozinho conseguiria destruir estas árvores. Se estivessem acabando, poderia aproveitar bem antes da extinção... ao menos era como funcionava em sua cabeça.

Quando ele se serviu e sentou-se à mesa para comer, Lorena olhava para Chris e lhe dava sinais apontando para Vael. Ele não entendeu de primeira, mas logo abaixou o jornal e falou:

— Então Vael, algum plano pra hoje?

— Sim - respondeu se concentrando em enfiar um pedaço de panqueca lambusada de melaço na boca.

— E quais planos? Além da psicóloga. Poderíamos sair depois de sua consulta. No shopping talvez?

— Não, tenho outras coisas pra fazer hoje. Passar na Vienna, comprar umas coisas com ela; encontrar a Kahra, claro, toda terça me encontro com ela; passar no Ying, cortar um pouco o cabelo; ver minha irmã; encontrar com a Lully; e voltar para casa com a Liane - repetiu sua lista decorada de afazeres para o dia rapidamente para saborear mais sua panqueca.

— Então você vai ver a Lully? - sua mãe entrou na conversa e o olhou com uma cara engraçada. - Ela é uma linda coelha, não acha?

— Sim, ela é bem bonita... Quero dizer... Tá dizendo o quê? - Vael parou para pensar um segundo.

— Nada filho. Só tava pensando: você, ela, estariam sozinhos, o que mais iria rolar, hein?

— Mãe... - Vael ficou como um tomate.

— Lorena, tá deixando ele sem jeito - interviu Chris e mudou sua pose fingindo sua melhor cara de pensador. - Mas acho que outra que ele poderia estar gostando seria aquela loba cinzenta, não é? Zoey?

— Pai? - vael indagou indignado.

— Bom, acho que... - Lorena tentou pensar também. - E o Ying? Vamos, ele é uma gracinha. Aquele pandinha é fofo demais.

— Mãe! - Vael gritou e voltou a comer.

— Que foi? Não teria nada contra se você gostasse dele.

Vael comeu rapidamente suas panquecas e foi ao seu quarto para trocar as roupas. Não esboçou emoções, apenas foi se trocar.

— Eu... Falei besteira, não foi? - a tigresa perguntou triste olhando para a panqueca.

— Não, amor. Quando a Karin falou de tudo para nós, já soubemos que iríamos enfrentar um novo desafio. Sabemos que ele se sente diferente, mas está conseguindo se desenvolver bem - Levantou-se e andou até atrás de Lorena, abraçando-a. - Nós conseguimos ser bons pais, ainda mais com ele. Aprendemos muito.

— Mas... Será que ele não ficou chateado com o que dissemos?

— Não. Acho que só um pouco envergonhado.

Vael voltou para a cozinha com passos rápidos usando sua mochila nas costas e ela se levantou da cadeira quando o viu, se preparando para um abraço.

— Tô indo mãe - Ele a abraçou.

Ela aproveitou o momento como sempre aproveitava um abraço com seus filhos. Como se fosse o último.

Depois se afastou um pouco, segurou seu rosto e olhou bem em seus olhos que não conseguiam focar nos olhos de outra pessoa. Era um incômodo para ele, mas ele não ligava para quando ela fazia aquilo. Gostava de sentir alguém tocar seu rosto. Ela gostava de ver os olhos lilases do filho.

— Se cuida filho - Beijou a testa do rapaz. - Te amo.

— Também te amo, mamãe.

Quando ouviu aquilo, ela ficou emocionada e o abraçou. Ela se lembrou da primeira vez que ele a chamou assim. "Mamãe". Ficou abraçada com ele durante três horas. Ele se sentiu fortemente incomodado naquela vez, mas não disse uma palavra.

E ele. Gostava da maneira como ela o abraçava agora. Nem tão longo, nem curto. Com força e aperto. Nada suave.

Ela finalmente o soltou em poucos segundos. Ele abraçou Chris e depois saiu.

Ouviu do lado de fora eles falarem mais um pouco sobre possíveis relacionamentos e citar o nome da Vienna como possibilidade amorosa. Vael revirou os olhos e começou a andar.

Primeiro item da lista, um restaurante onde havia certa especialidade em doces e derivados de leite. Os animais que fossem intolerantes a lactose não poderiam ir lá por segurança.

Enquanto Vael caminhava, sua cabeça voava pelas nuvens da imaginação em mundos incríveis e fantásticos, cenas de ação e batalhas, romances lindos, criaturas e seres místicos e mais coisas que a imaginação de uma pessoa qualquer pudesse aguentar pelo simples fato de que sua cabeça era um gerador de turbilhões de pensamentos. Ali, teorias científicas dividiam espaço com a fantasia, as aulas de desenhos e livros sobre anatomia.

Às vezes ficava fora do ar até buzinarem e gritarem para que ele saísse da frente. Ele nunca entendeu o motivo disso acontecer de vez em quando. Talvez sua falha noção de perigo? Quem sabe...

Um carro buzinou após uma freada brusca, ciclistas apertavam seus sininhos e em vinte minutos de "mundo da lua", seus passos o levaram ao destino. Provavelmente os pés decoraram cada centímetro andado até aquele lugar. Um restaurante simples com um letreiro escrito "Restourante" e uma vaquinha azul com um balão de fala dizendo "MOO MOO".

Pelas noites, luzes piscavam alternando entre azul e rosa e setas multicoloridas apontavam para a porta de madeira estilo velho oeste.

O guaxinim atravessou as portas e um sinete soou. Crianças curiosas olharam dos assentos onde estavam almoçando com suas famílias.

Pelo que pode ver em uma olhada eram leopardos, serpentes, linces e sergais dividindo o espaço, além de uma vaquinha gordinha de pêlos azulados correndo loucamente em sua direção com sorriso estampado no rosto gritando pelo nome de Vael e saltando para um abraço apertado no guaxinim.

— Ei! Vienna! Como vai vaquinha? - perguntou abraçando-a de volta.

— Eu tô com saudades desse guaxinim - Se afastou um pouco dele e forçou sua melhor cara de brava. - Faz muito tempo que meu amigo e top cliente não aparece aqui. Fiquei preocupada.

— Ah... De quem tá falando? - Vael coçou a cabeça sorrindo com a brincadeira.

— Deixa de gracinha! - Ela fez biquinho, continuando com a brincadeira com o amigo. - É claro que é de você, ô bocó!

A vaquinha voltou para trás do balcão e Vael se sentou no banco alto de madeira.

— Então, o que vai querer? - Se debruçou sobre o balcão apoiando o rosto com uma das mãos.

— Bom... Pra começar, quero o de sempre. Aquela coisa gostosa que só você sabe fazer.

— Aquela coisa que só eu sei fazer? Seu pedido é uma ordem, querido - Vienna pegou uma caneca das prateleiras nas paredes e a posicionou sob as roupas. - Já tá saindo, bem quentinho.

— Aliás, Vienna... Você pode me ver um daquele doce de cupcake azedinho? Que tem aquele pirulito. Quero dois dele.

— Hum? Dois dele? - perguntou enquanto olhava para a caneca enchendo. - Certo, deixa eu pegar os mais novinhos pra você...

Ela se esticou na pontinha das patas para pegar uma borrachinha porta copos e a colocou sobre o balcão antes de colocar acima dela, a caneca.

— Aliás, sobre o meu leite ser o melhor... Tá exagerando um pouco. Você adorou o leite do Bob.

— Do Bob? Mas machos não dão lei... Pera... Como?

— Hehehe - Colocou a mão sobre a boca enquanto ria e olhou para o amigo com uma feição engraçada. - Tô zuando. Mas o que importa agora é isto.

Ela pegou duas caixinhas azuis com estampinhas rosadas de doces com os bolinhos dentro e preparou uma sacola para colocá-las.

— Esse doce. Você vai ver a Lully né? Aquela coelha gosta de pirulitos. Tá gostando dela?

— Quê? Não!

— Uhum... Sei... - Seu rosto se tornou quase um desenho animado. - Eu tô surpresa que não. Ouvi dizer que ela tá solteira.

— Sério?

— Então está interessado né?

— Bom, quem sabe? Talvez eu só a veja como amiga mesmo... A questão é que amiga deve ser a melhor coisa que eu devo considerar alguém agora.

— Sobre aquele negócio que você me contou?

— Sim. - Vael olhou para a bebida na caneca de madeira. - Avancei bastante, mas identificar sentimentos ainda é uma dificuldade. Eu saberia se tivesse descoberto mais cedo, mas foi só aos dezoito anos que me disseram.

A vaquinha suspirou:

— Sim... Mas pela sua história, é natural que tenha dificuldades em se expressar. Pelo que você disse, o que você tem faz ser um pouco mais difícil, mas veja só nós dois. Com o tempo você vai se aprofundar na amizade e ficar tudo melhor pra expressar as coisas. Não precisa ter tanto medo. Os melhores amigos ajudam a definir seus sentimentos, certo?

— Eu não sei bem sobre isso...

— Okay... Bom, a hora tá passando. Vai esperar meu leite esfriar?

Vael olhou para o leite mais uma vez antes de tomá-lo, sentindo seu calor natural nas mãos. E quando tomou, sentiu em cada gole um delicioso sabor doce como chocolate.

Como sempre, o melhor.

 


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Notas finais do capítulo

Se gostarem da história, mostrem para os amigos, pessoal! Vamos compartilhar ela por aí ♥



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