A Luz de Khiva escrita por Spotplay


Capítulo 5
Capítulo 5 - A Mente Bélica




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786762/chapter/5

Logo quando retornamos à Torre, tirei meu capacete e fui a passos largos ao encontro de Ikora, pensando em tudo o que aconteceu e principalmente no que poderia acontecer. Eu precisava de mais força, mais luz. Algo que me salvasse nas horas mais difíceis, quando eu estivesse cercada de tantos inimigos que eu nem pudesse contar, ou quando estivesse sem munição, ou simplesmente ferida demais para continuar. Esse poder seria meu último golpe na batalha, para encerrá-la de uma vez por todas!

Na sala tudo parecia como antes. Cada um com os seus afazeres, centrados e silenciosos. Fui procurar minha mentora.

— Senhora. — eu não sabia exatamente como iniciar essa conversa.

— Ikora — Fantasma se pronunciou. — Encontramos a Colmeia no Cosmódromo, trancafiada pelos Decaídos. Eliminamos todos, com muita dificuldade — olhou para mim. Cayde e Zavala já prestavam atenção. — Mas acreditamos que haja outros locais. Estão vindo da Lua.

— Que beleza hein? — disse Cayde.

— Vou solicitar que mais Guardiões investiguem outras áreas. — emendou Zavala.

— Vamos lidar com isso. —concluiu Ikora. Ela ia se retirar quando chamei sua atenção.

— Preciso de treinamento. — seu olhar retornou e eu prossegui. — Eu morri lá, e sei que isso não chega nem perto do que está por vir. Preciso adquirir mais poder.

— Você já tem todo o poder que precisa, falta saber como usá-lo. — disse ela, como uma voz firme e serena. — Sei como se sente. Vai superar isso. — confesso que fiquei aliviada por ouvir. — Venha comigo, Guardiã.

Eu e Ikora andávamos lado a lado. Estávamos atravessando a Praça da Torre e indo para alguma parte interna, e inferior. Pela tensão que eu sentia em mim mesma, havia um certo silêncio.

Só que não.

— Guardiã, há uma Luz em você da qual a Treva não pode se esconder. Somente Guardiões têm o dom da Luz do Viajante: a habilidade de canalizar energias para projetar um vasto poder no mundo. Mesmo sem um esquadrão, Guardiões são máquinas radiantes de destruição. Estas habilidades são natas, mas Guardiões aperfeiçoam o poder de formas diferentes. Titãs entendem a Luz como uma força a ser aprimorada através de treino e rígida disciplina. Caçadores viajam e exploram para aprender, utilizando métodos perigosos para sobreviver ao desconhecido. Arcanos estudam a Luz e seus mecanismos, confrontando mistérios inimagináveis na busca de um poder transcendente. Neste pequeno início, deverá sentir um pequeno impulso, para que sinta e use a sua Luz a seu favor. Logo, conseguirá desenvolver suas próprias habilidades. Começa como uma granada, que seu Fantasma já deve ter te orientado.

— Eu criei a granada?

— Sim, é uma habilidade. E pra você foi tão natural usá-la que não percebeu o uso da Luz nesse meio.

Meu olhar se perdeu em vastos pensamentos. O autocontrole então determinaria o meu nível de poder?

— Existem três caminhos os quais você pode seguir. O do Andarilho do Vácuo, o do Heliomante, e o do Condutor da Tempestade. Todos distintos e altamente destrutivos. Características únicas para situações diversas. Vai depender apenas de você.

— Pode me falar um pouco sobre?

— O Viajante veio do vácuo que cerca todas as coisas. Assim, sabemos que o vácuo é cheio de poder. Então, entramos sem medo. Mentes pequenas chamarão as suas habilidades de blasfêmia. Elas lhe compararão às abomináveis Feiticeiras da Colmeia. Mas você não será contida. Dotada da Luz do Viajante e armada com os segredos da física de uma era perdida, você despedaçará a realidade. Você temerá nada, e nada não lhe temerá. Esse é o caminho do Andarilho do Vácuo.

Permaneci em silêncio, mas meus olhos se arregalavam lentamente.

— Há chamas que nem a Treva é capaz de extinguir. Estes são tempos negros. A humanidade está à beira da extinção. Carregaremos fogo adentro da escuridão: um farol para guiar o caminho, e uma fogueira para consumir nosso maior inimigo. A Luz nos salvou da morte e nos forjou em armas. Procuramos compreendê-la, aceitá-la, consumi-la e sermos consumidos por ela. Esperamos nos tornar radiantes. Outros Guardiões precisam de nosso poder. Nossa civilização precisa de nossa força. Essa é a responsabilidade do Heliomante.

Algum tipo de energia corria pelas minhas veias só de ouvir aquelas palavras. Era como se algo dentro de mim estivesse reagindo a tudo aquilo.

— E por fim, o Condutor da Tempestade. A harmonia interior, a tormenta exterior. Medite. Concentre-se. Invoque a estática do interior. O arco está dentro de toda forma de vida. É preciso senti-lo tomar conta e permiti-lo fluir, mas não deixá-lo lhe consumir. Você é um conduíte entre o céu e a terra, matéria e eletricidade, vida e morte. Você é uma arma. Isso também resume o quão destrutivo esse poder pode ser, para os infelizes que cruzarem o seu caminho.

Só nessa pausa percebi que minha boca estava entreaberta. Ikora sorriu quando notei minha própria infantilidade.

— Então, o que acha? Qual caminho deseja seguir?

— Todos. — não pensei para responder. Acho que nem esperei ela terminar de falar.

— É o de se esperar de uma Arcana. Tão focada em aprender tudo, sobre tudo. Não é impossível, mas quanto mais quiser aprender, mais terá de esforçar. Seu caminho de três caminhos será mais estreito do que pensa.

— Estou disposta a correr esse risco.

— Algo me diz que Lorde Shaxx verá você em breve.

— Com certeza vai.

Eu estava empolgada além da conta. Como uma sede de vingança contra quem me matou. Como já estavam mortos, essa vingança se estenderia a toda Colmeia. Por isso não notei ter desafiado a mim mesma a participar do Crisol, o massacre de Guardiões, contra Guardiões.

— Você terá uma oportunidade em sua próxima missão, já que estará sozinha, sem reforços. — Ikora se despediu às bordas da Praça, onde tinha vista de tudo lá embaixo, como se quisesse dizer que mesmo de longe estaria olhando por mim. Ereta com as mãos nas costas. Só fez um pequeno aceno com a cabeça em direção a minha nave. — Lembre-se, está em você. Você só precisa sentir, chamar, e usar. Vai precisar combater um pouco antes, para canalizar sua luz, e então expandir todo o seu poder para além dos seus inimigos. 

— Certo!

— Ela vai se sair bem. — disse Fantasma. — Vamos, Khiva. Já recebi os dados sobre nossa próxima missão.

Então retornamos a Terra, e eu estava mais determinada do que nunca. A caminho, Fantasma me atualizou sobre o nosso objetivo.

— A Vanguarda está relatando que os Decaídos estão invadindo as máquinas por todo o Cosmódromo. Estou começando a achar que não estão só pilhando o lugar. Seja lá o que estiverem procurando, temos que encontrar antes.

De volta à Estepe, Fantasma ficou alerta.

— Estou detectando muita atividade de Decaídos perto das Margens Esquecidas, mas isso é longe daqui.

— Melhor começarmos a andar então. — dei um riso falso.

— Espera! Guardiões colocaram uma grade de veículos aqui. Se sincronizarmos, podemos chamar transporte terrestre desde a nossa nave. Vamos.

— Veículo? E como se usa?

— Não se preocupe os controles são bem práticos. 

Seguimos em direção ao Cemitério das Naves, e localizamos uma daquelas garagens abandonadas.

— Aqui está a conexão para o Pardal!

Era um painel desativado com algumas telas. Fantasma saiu para escanear tudo e fazer sua mágica. Tratei de olhar em volta para não sermos pegos de surpresa.

— Codificando estados superimpostos. Entrelaçando vetores ket. Estamos conectados.

— Rápido assim?

— Rápido assim. Pronta?

— Até que estou! Vamos lá.

— Certo. Se convocar o seu Pardal, poderemos estar às Margens Esquecidas em segundos. Vamos transmaterializa-lo.

E em um instante um belo veículo surgiu a nossa frente. Talvez belo por que era o primeiro que eu reparava, e era meu.

— Esse está bom para começar não acha? Há uma infinidade de Pardais que poderá conquistar para nossas missões. São úteis em diversos momentos. Como dizem: “A distância mais curta entre dois pontos é a aceleração máxima”. Suba.

Uma moto de propulsão. Sentei e me posicionei. Era estranhamente confortável. Agora vinha a parte difícil. Fui testando cada controle, levemente, um por vez. Acelerador, freio, esquerda, direita…

Ok.

Num piscar de olhos já tínhamos a garagem fora de vista às nossas costas e, sinceramente, eu adorei aquela sensação.

—Uhuul! — esse foi então meu momento mais feliz em talvez séculos! Eu subia nas asas caídas dos aviões no cemitério e aumentava a distância entre mim e o chão, sentindo o frio na barriga ao cair do outro lado. Havia algo de divertido em patrulhar o universo afinal.

— Muito bom! Já vi que é uma ótima piloto! Aqui está nossa rota para as Margens. Só seguir por ali.

A estrada agora parecia uma pista de corrida, que serpenteava entre penhascos e veículos enferrujados. Em alguns trechos o Pardal deslizava sobre grandes poças de água.

— Ei! Um baú, bem ali.

Parecia uma entrada de uma caverna, e ali estava ele, como se esperando por mim. Eu o abri, e tive uma grande surpresa.

— Um lança-foguetes! Isso sem dúvida alguma será muito útil!

— Eu que o diga! — finalmente uma arma das pesadas! Peguei ele tão rápido como se ele fosse sumir de repente. Não via a hora de usá-lo. Voltei para a estrada.

— Estamos chegando às Margens. Os Decaídos estão usando algum tipo de amplificador de sinal. Vamos ver o que estão transmitindo.

Os aviões agora tinham sido substituídos por navios. Incompletos e encalhados em toda sua grandiosidade, agora tomados por saqueadores. Ali o cenário era mais amplo, dando mais espaço a visão de um lindo céu azul, ocupado por poucas nuvens.

Continuei por baixo e me aproximei pela lateral do barco. Não que isso fosse impedi-los de me ver, mas só para pilotar alguns segundos a mais. O primeiro, sem lateral e pouco teto, já estava cheio de Vândalos para nos receber. E também um Capitão. Todos alinhados, guardando um dos amplificadores. Fiquei ali mesmo, em uma escada, subindo e descendo usando a parede como barricada. Eles estavam bem resistentes. Logo depois uns três Rebaixados chegaram por dentro, atrasados para a recepção. Fui igualmente solidária.

— Só um segundo… É algum tipo de sinal distorcido. Não é Decaído. Vamos ver o outro. Naquele edifício. Chame seu Pardal.

E precisa pedir?

Dentro de segundos chegamos no meio de uma subida, a qual dava para um prédio, o como todos os outros, abandonado e com partes faltando. E claro, cheio de Decaídos. Desembarquei e comecei a subir. Alguns vinham de frente, atrevidos. Outros tentavam me surpreender pelos lados. E mais um Capitão rugindo com todos eles. Ele ficou perto do amplificador, esperando seus peões morrerem. Após o xeque-mate, tratamos logo de analisar o próximo sinal.

— É a mesma transmissão. Ambas estão vinculadas a algo no Observatório Celeste. Vamos dar uma olhada.

— Huum. Longe né?

— Com um bom Pardal, não.

Trocamos risinhos.

De volta ao Observatório, entramos por outro local, através de uma larga estrada com asfalto deformado. Uma íngreme subida até uma entrada de transportes.

— Cuidado. Muita movimentação hostil nesse lugar.

— Sempre.

Avançamos. Eu queria saber de onde saíam tantos! Conforme andávamos apareciam Rebaixados e Vândalos aos montes, escondidos atrás de pilares, máquinas. E também o terceiro Capitão do dia. O que aconteceria se tivessem dois para comandar um mesmo lugar? Qual mandaria o outro embora? Ou mataria? Não importa, eu mesma já tinha feito.

Estávamos nos aproximando do sinal. Estava em um lugar mais amplo, porém, fechado. O que me preocupou pois só havia uma saída. Não havia mais ninguém, mas o que poderia acontecer quando Fantasma mexesse naquela coisa?

— Os Decaídos estão tentando acessar as máquinas, mas algo está revidando? Não podemos destruí-lo ainda. Isso vai levar tempo.

— Sério? Tudo bem! Por quê ter pressa? — uma dose de sarcasmo para dominar meu nervosismo. Meu radar começou a enlouquecer. O computador estava bem no meio ao final da área, e de lá vi eles se aproximando, em grandes grupos, de todos os lugares!

Eu estava cercada. Saquei o lança-foguetes e o carreguei o mais rápido que pude. Um tiro por vez. Ou eu matava vários de uma vez, ou seria meu fim até carregar novamente.

— Fantasma, agiliza!

— Aguenta firme!

Meu primeiro tiro derrubou três Rebaixados. Os outros em volta não se intimidaram e, ao invés disso parecia que estavam com ainda mais pressa de me matar.

Sentinelas apareciam ao meu lado sorrateiramente, me enfraquecendo para os que estavam chegando. Eu usava todas as armas que tinha e dançava de um lugar para outro procurando a melhor cobertura possível. Certos momentos levei tiros que pareciam ser fatais. Tudo ficava vermelho, mas eu ainda estava viva, então corria e me escondia para me recuperar pelo menos um pouco.

E esse processo se repetiu, até eu achar que tinha acabado, quando eles pararam de vir, por um momento.

— Como está indo aí? Acho que acabou.

— Está quase lá.

— Ok.

Estava observando ele trabalhar quando ouvi passos, rosnados e um som que eu não reconheceria se não olhasse. Eram dois Mechanoides com um grupo de Rebaixados. Um tipo de aura roxa circulava por eles, como se aquelas bolas robóticas estivessem fortalecendo eles, e eu nem tinha recuperado munição. Era hora do plano B.

Você já tem todo o poder que precisa, falta saber como usá-lo. Você só precisa sentir, chamar, e usar.

Eu não sabia que poder viria, mas eu precisava dele agora! Fiquei imóvel, fechei os olhos por um breve momento e olhei para dentro de mim. Cerrei os punhos e me concentrei ao máximo que pude. Senti que algo estava chegando, aumentando, tomando conta de mim. Uma sensação absoluta de segurança, e poder. Olhei para minhas mãos, e vi pequenas correntes elétricas circulando dos dedos ao meu braço. Era isso! Condutor da Tempestade!

Decidi puxar tudo! Fui um conduíte que fez um raio bater no chão, e me fez ficar centímetros do chão. Não sabia quanto tempo iria durar, então apressei-me em destruir todos aqueles Decaídos!

Minha corrente se estendia por metros, e os fazia desintegrar em linhas de arco. Alguns tentaram fugir, mas eu os alcancei. Os Mechanoides eram lentos, porém mais resistentes, e mesmo assim consegui eliminá-los. Eu me senti tão viva e implacável. Eu era a própria tempestade.

Voltei para minha posição inicial, ao lado de Fantasma e o computador o qual ele estava analisando, e minha condução cessou. Enfim, era exatamente isso que eu precisava: confiança.

— Ok. Peguei tudo que eles conseguiram roubar. Devemos destruir essa coisa. — Fantasma expôs o núcleo da máquina e eu atirei nela até que explodisse. — Eles não conseguiram muito. Ficaram dando de cara com um firewall ativo. Antiga Terra, russo. Ouça… — alguns ruídos se fizeram presentes. — As lendas são verdadeiras. Uma inteligência Bélica sobreviveu ao Colapso. Rasputin, uma IA construída para defender a Terra. Ele enfrentou a Treva e sobreviveu. E ele ainda está protegendo algo aqui no Cosmódromo. Temos que achar um jeito de chegar nele.

— Vamos chegar.

— A propósito, belo show lá. A sua Luz é forte, Guardiã.

— Espero que seja o suficiente.

— Isso foi só o começo, não se preocupe. O que acha de voltarmos à Torre e recuperarmos alguns materiais? Veja por aqui o que consegue aproveitar.

— Guardiã. — era Zavala no comunicador.

— Sim? — respondi em um salto.

— Precisamos que retorne imediatamente para que se prepare para uma nova missão. Irá em esquadrão para investigar e eliminar um covil além das ruínas do Cosmódromo, antes que seja tarde.

— Sim senhor, estamos a caminho! — respondemos.

— Para Zavala chamar assim, é realmente importante. E parabéns, você fará parte de um esquadrão. Conhecerá dois Guardiões que a acompanharão em batalha.

— Sem querer ser rude. Mas acho que prefiro trabalhar sozinha. Mal vou conhecê-los e terei de confiar minha vida a eles?

— Pense pelo lado bom: eles esperam o mesmo de você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Luz de Khiva" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.