No sábado de manhã Nora me acordou cedo.
— Vou correr.
— Boa sorte.
— Não vai me acompanhar?
— Não mesmo.
— Um exercício as vezes é bom?
— Faço ginástica artística toda a semana. Uma ou duas horas depois da aula. Já é exercício o suficiente.
Fora as aulas extras de controle da magia e de luta.
— Ok. Até mais tarde.
— Se cuida. - Falei antes de voltar a puxar o edredom para cima do meu corpo.
Adormeci na mesma hora.
Acordei uma hora mais tarde e desisti de dormir. Levantei e fui tomar um banho.
Vesti uma camiseta lilás gola v, calça de moletom preta e calcei meu tênis Nike. Peguei um moletom cinza e desci as escadas correndo. Passei pela cozinha antes de pegar uma banana e seguir para a porta.
Dirigi até a fazenda onde estacionei na garagem para deixar mais disfarçado meu carro. Todos estavam tomando café quando me aproximei. No andar de cima estavam Patch e Ben conversando.
Me joguei em uma cadeira ao lado de Tyler e peguei uma torrada.
— Está com fome. - Tyler comentou.
— Morrendo de fome. - Respondi depois de passar geleia de morango e dar uma mordida. - Acabou o chá?
— Não sei como você gosta de tomar essa coisa. - Tyler comentou enquanto eu procurava o chá pelos armários.
— Se você tomasse seria bem menos propenso a arrumar encrenca.
— Isso me leva a crer que você deveria tomar mais então. - Gargalhei.
Depois do café nós descemos para o porão enquanto Viktor ia levar comida para os Anjos caídos no segundo andar.
No porão começamos a investigar mais sobre a magia, forçava ela a sair das minhas mãos elevando meu corpo para cima até o teto.
— Acho melhor testarmos isso na rua. - Nico comentou.
Nós subimos as escadas correndo enquanto conversávamos. Fomos para a rua e testei já me elevando para o alto.
— Isso é demais. - Falei na altura da casa chamando a atenção dos Anjos caídos no quarto.
Eles ficaram observando pela janela.
Voltei ao chão e testei de novo. Era mais fácil desta vez.
Quando voltei ao chão Tyler me atacou e nós começamos a lutar. Era um treinamento que já estávamos acostumados. Lutávamos entre si. Apesar que Tyler sempre segurava seus golpes quando lutava contra mim.
Subi as escadas em direção ao meu quarto na casa. Tirei a roupa no quarto para ir até o banheiro, mas vi algo embaixo da cama. Me abaixei ficando de quatro e me inclinei para baixo da cama tentando alcançar a caixa.
— Nossa. - Ouvi a voz de Ben no quarto e recuei sentando no chão. - Que posição. - Ele murmurou me encarando.
Primeiro fiquei com vergonha, estava somente com um top todo rendado preto e uma calcinha preta de renda também. Ela ficava perfeita no meu corpo não deixando muito a aparecer, mas o deixando extremamente sexy.
— O que você quer? - Perguntei.
— Deixa só eu ter um minuto. - Ele virou para a porta encostando a testa nela.
— Tudo bem?
— Vim aqui conversar, mas se continuar vendo você desse jeito vou fazer mais do que conversar.
Levantei e peguei a calça a colocando depois vesti a camiseta.
— Pode virar. - Falei.
— Nicolle. - Murmurou antes de vir até mim. - Não adianta.
— O que?
— Essa roupa. Nada faz frear os meus pensamentos.
— Ben...
Ele me beijou levando meu corpo em direção a parede e me prensando nela. Senti todo o seu corpo no meu. Passei meus braços por seus ombros.
— Lembro de tudo. - Falou e sorri. - Anjo, eu lembro de tudo. Estou aqui.
Sorri abertamente antes de voltar a beija-lo.
— Os Arcanjos estavam em cima de mim. - Murmurou sentando a cadeira que tinha no quarto e puxou meu corpo para sentar de lado em seu colo. - Você não sabe o quanto doía estar afastado de você. Depois de tanto tempo. Depois de finalmente tê-la comigo. Em meus braços. Eu me dobrava tentando cuidar de você e evita-los. E você só me afastava. - Sussurrou.
— Estava confusa. Não conseguia entender o que tinha acontecido. E sua ex namorada tinha voltado.
— Ela estava me ajudando.
— Mas eu estava com ciúme. - Sorriu segurando meu rosto entre as mãos.
— Nenhuma pessoa nesse mundo pode substituir um amor de um milênio. - Sorri antes de beija-lo.
— Você lembra de tudo mesmo?
— Sim. Lembro do meu julgamento.
— O que aconteceu afinal?
— Eles me levaram e julgaram por não fazer meu trabalho direito. Por me envolver com você de novo. Eles deliberaram. Estavam entre me levar ao inferno ou te matar. Mas ambos traria a fúria de Lilith. Eles a temem por que sabe que ela é poderosa. Tão poderosa quanto você. Eles sabiam que se mandassem eu para o inferno você facilmente teria acesso a ele. E se matassem você, Lilith mataria qualquer ser alado que passar pelo seu caminho. Mas teve algo que os fez mudar de ideia.
— O que?
— Sua fé. Eles escutaram você falando que tinha fé. Foi o que fizeram eles pensar melhor. Eles não querem a fúria de você ou de sua mãe. E não querem que você se torne como ela. Eu falei. Disse que você tinha compaixão e amor. Que sua alma estava se rasgando, mas eu poderia cura-la.
— E eles resolveram te devolver para mim?
— Eles fizeram um teste. Iam me jogar aqui como Anjo caído sem memória e ficaria sem memória para sempre se você não me encontrasse de novo. Se fosse forte esse sentimento você me encontraria. Mas eles mandaram um aviso.
— Qual?
— É melhor ficarmos do lado certo.
— O lado certo é o deles? Defende-los do que está por vir? Uma guerra se aproxima e vou lutar ao lado do meu pai.
— Hoje vou entrar em ação. Retornarei ao meu apartamento.
— Ben...
— Eu sei que estou seguro aqui. Mas tenho que mostrar serviço.
— Nós vamos ir contra os Arcanjos de novo?
— Vou lutar por mim e por você. É a coisa mais importante que tenho que fazer. Proteger a única pessoa que não posso viver sem. Eles temem você. Só me devolveram por que querem que você continue boa.
— Eles sabem como jogar. E acham que assim eu terei uma dívida com eles.
— Sim. Um favor que eles vão vir cobrar. - Mordi o lábio o encarando.
— Não me importo com isso.
— Então com o que se importa?
— Que você está aqui. E é todo meu. - O beijei.
Ele me ergueu nos braços. Um frio na barriga me atingiu só com o pensamento de que eu o teria de novo. E desta vez por mais tempo.
Quando retornei a casa encontrei com Nora.
— Você sabia de tudo desde o começo e não me contou?
A encarei com a testa franzida. Pela sua mente vi Scott.
— Que bom que alguém contou a você. - Falei.
— É uma droga que não seja as pessoas que eu mais amava e confiava.
— Sua mãe não me deixou falar sobre Patch.
— Por quê?
— Por que ela odiava ele. - Respondi. - Simples assim. Ela não entendia que você ama ele e ele te ama.
— Se ele me ama, onde ele está?
— Eu não sei.
— Não minta para mim de novo! - Ela gritou.
Tinha vontade de usar minha magia e faze-la ver toda a verdade. Mas tinha feito uma promessa estupida de que não faria isso. E agora estava mais do que arrependida.
— Scott está de volta a cidade então?
— Então é tudo mesmo verdade?
— Sim. A mais pura verdade. Voltei a morar aqui para tentar te manter protegida. Hank te sequestrou para usar Patch. E apagou sua memória.
— Que nojo cara. - Ela falou colocando as mãos na cabeça. - E ele está todo esse tempo fingindo para a minha mãe.
— O que ele faz melhor é fingir Nora. Ele é um falso.
— Eu acho que vou vomitar. - Ela falou.
— Vamos subir.
— Você tinha que ter me contado.
— Sua mãe estava sempre na minha cola. - Resmunguei. - Sempre dizendo para não contar. Você devia gritar com ela mais que esta gritando comigo, Nora.
— Desculpe. - Murmurou.
Contei parcialmente o que podia a ela depois fomos nos deitar.
Fui acordada no meio da noite. Por Nora e Scott.
— Scott?
— É bom ver você também, Crawford.
— Não sei se posso dizer o mesmo, Parnell. Ainda mais depois das circunstâncias. - Sorriu.
— Vamos logo. - Nora respondeu.
— Afinal, onde vocês querem ir?
— Investigar alguns depósitos do Mão Negra. - Nora falou e saltei da cama rapidamente.
— Estou dentro. - Falei correndo para o armário para pegar uma roupa.
Nora puxou Scott para fora do quarto para me dar espaço.
Vesti uma calça jeans, uma camiseta azul claro, um moletom mais leve azul com estrelas e calcei meu tênis da Nike.
Nós entramos no Dodge Charger 71 de Scott.
— A Mão Negra tem espiões por toda parte. Se ele nos pega juntos...
— Eu entendo. - Nora falou.
— Eu não deveria ter levado você para a caverna. - Scott falou para Nora. - Ele faria qualquer coisa para me encontrar. Não estava pensando sobre como isso afetaria você.
— Está tudo bem. Você estava surpreso em me ver. Não estava pensando. Nem eu estava. Ainda não estou pensando. - Nora forçou uma risada. - Caso contrário não estaria bisbilhotando um de seus armazéns. O edifício está sob vigilância de vídeo?
— Não. Meu palpite é que a Mão Negra não quer qualquer evidência extra provando o que se passa lá. O vídeo pode vazar.
Scott estacionou pelo Rio Wentworth embaixo de ramos pendurados de uma árvore depois saiu. Saímos do carro e começamos a caminhar. Atravessamos a Front Street caminhando entre os armazéns.
— Este é o armazém do Mão Negra. - Scott sussurrou apontando na direção da estrutura de 4 andares com uma frágil escada de incêndio. - Foi lá dentro cinco vezes na semana passada. Ele sempre vem um pouco antes do amanhecer, quando o resto da cidade está dormindo. Estaciona entre vários blocos afastados e anda o resto do caminho a pé. Às vezes ele circula um bloco duas vezes apenas para ter certeza que não está sendo seguido. Você ainda acha que ele está armazenando carros?
— Será que vamos ser capazes de ver o interior? - Nora perguntou.
— Vamos subir um e outro bloco e descobrir.
Que belo plano, pensei.